O texto fornecido
oferece um relato histórico detalhado da Revolução de 1930 sob a perspectiva
dos habitantes de Itaúna, Minas Gerais. Ele destaca como a cidade, na época com
cerca de 5 mil habitantes, foi impactada por eventos nacionais, especialmente pela
mobilização das forças locais em apoio à revolução, ainda que com conhecimento
limitado sobre o contexto geral do país. A narrativa é construída a partir de
testemunhos orais de moradores e figuras importantes da cidade, como Benevides
Garcia e o padre Waldemar, e revela tanto o envolvimento popular quanto a visão
crítica sobre as promessas não cumpridas pela Revolução de 1930.
O texto enfatiza
como a falta de comunicação eficaz na época deixava a população de Itaúna
alheia aos eventos maiores do país. Notícias chegavam com atraso, e a população
dependia, em grande parte, do que se transmitia localmente. Isso reflete a
realidade de muitas cidades do interior naquela época, onde a comunicação
limitada condicionava a percepção dos fatos.
A formação dos "Bate-Paus", grupo
civil liderado por Arthur Vilaça, é um elemento principal que ilustra a
improvisação local frente à ausência de forças policiais regulares. O uso de
porretes em vez de armas de fogo indica a precariedade dos recursos
disponíveis, e o nome dado ao grupo reflete a criatividade e a adaptabilidade
dos moradores. Esse destacamento improvisado mostra o espírito comunitário e a
necessidade de autodefesa em tempos de instabilidade.
Os relatos de
pessoas como Benevides Garcia e Cirilo José Gomes trazem uma perspectiva
pessoal e emocional sobre os eventos. A menção ao temor e à resistência em
participar, como a relutância de Cirilo em usar o lenço vermelho que
simbolizava o apoio à Revolução, revela a complexidade das lealdades políticas
na época. Esses depoimentos fornecem uma visão intimista e concreta da
experiência vivida pelos itaunenses durante a Revolução.
A Revolução de 1930, embora vista com esperança por alguns, como expressa pela Dona Nair ao rezar pelo sucesso do movimento, foi posteriormente vista com ceticismo e até decepção. A dissolução da Câmara Municipal e a nomeação de um conselho consultivo pelo Governo estadual destacam as mudanças políticas locais, mas o sentimento geral, como resumido pelo Dr. Coutinho e o padre Waldemar, é de que a Revolução falhou em cumprir suas promessas.
O texto termina
com uma comparação interessante entre a Revolução de 1930 e a de 1964,
sugerindo que a primeira teve mais participação popular, enquanto a segunda foi
imposta de maneira mais autoritária. Ambas, no entanto, são vistas como
movimentos que, no final, não realizaram as reformas esperadas.
O texto é uma
rica fonte de história oral, capturando as memórias e sentimentos de pessoas
que viveram um momento crucial na história do Brasil, mas que o vivenciaram de
uma maneira muito particular em uma pequena cidade do interior. A obra
contribui para uma compreensão mais ampla de como a Revolução de 1930 foi
experimentada em diferentes partes do país, longe dos grandes centros urbanos.
Além disso, oferece uma crítica implícita às promessas não cumpridas das
revoluções, o que se conecta a uma reflexão sobre a eficácia das mudanças
políticas na vida das pessoas comuns.
Padre Waldemar, que na época estudava no seminário em Belo Horizonte, conta que às cinco horas da manhã do dia 4 acordou com sinos da igreja batendo e logo depois ouviu os primeiros tiros. “Eu estava no último ano do seminário e o colégio ficava a 3 km do quartel do 12. Não tive medo do que poderia acontecer. Deus queria assim ...”
Os “Bate-Paus” não tiveram muito trabalho para prender os bêbados que viviam aprontando arruaça pela cidade, até apareceu por aqui um bandido muito temido na redondeza. Um tal de Domingos Boca –de-Fogo. “ Até a polícia tinha medo dele”, conta Cirilo. Eu, o Benevides e o Gérson conseguimos prendê-lo. Era noite clara e ele se escondeu numa fazenda no caminho da Várzea da Olaria. A gente estava numa baratinha e ele a cavalo. Quando nós chegamos, ele já estava debaixo de uma árvore. O Benevides saltou e deu voz de prisão, eu entrei pelo lado esquerdo, bati a mão no arreio do cavalo e a outra no braço dele. Se o homem desce para o lado esquerdo como nós todos do lado direito, ele sapecava fogo e matava todo mundo “
As reformas trazidas pela revolução não chegaram a modificar a situação. Para o doutor Coutinho “eles propunham muito e acabaram não fazendo nada. Para a época algumas coisas foram resolvidas, mas a situação ficou na mesma. No entanto, a Revolução de 30 teve mais participação popular, enquanto essa de 64 não teve nenhuma. Nenhuma das duas, porém, cumpriram os seus propósitos”.