quinta-feira, novembro 16, 2017

UNIVERSIDADE ITAÚNA


Se não me falha a memória, a Universidade de Itaúna foi criada em 1965. O governador era Magalhães Pinto e a influência de Miguel Augusto Gonçalves de Souza, pesou muito. Criou logo uma universidade, não se contentando com uma ou duas faculdades. Logo cinco de uma vez.
Naquela época era muito difícil fazer curso superior. Poucas universidades e algumas faculdades esparsas. Divinópolis tinha um curso de Direito, salvo engano, com aulas só nos finais de semana.
Eu cursava Letras em Belo Horizonte. Meus dois amigos, Imar e Dinarte estudavam Agronomia em Viçosa. Partiu deles a ideia de montarmos um "Cursinho" pré-vestibular, com vistas aos futuros alunos da Universidade recém fundada.
Minha mãe, professora do Curso Normal, conseguiu com dr. Guaracy, duas salas no velho educandário para darmos as aulas. Imar ficou com as cadeiras de Química e Biologia, Dinarte iria lecionar Matemática e Física. Eu fiquei com Português, Inglês e Francês.
Arranjamos uma meia dúzia de alunos. Eu tinha mais do que isso, em virtude dos cursos de Direito, Letras e Pedagogia. Exatas, Química e Biologia, nos cursos de Odontologia e Engenharia.
Começamos com pompa e circunstância. Compramos caixas de giz e apagadores na papelaria do Carmelo. Imar queria usar guarda-pó. Achamos meio muito e o dissuadimos da ideia.
A primeira aula coube a ele. Sempre foi competente. Deu uma bela aula de química. Assunto: moléculas. O básico do básico, para iniciantes. Esmerou-se nas explicações, nos exemplos e em desenhos no quadro negro. Estava entusiasmado. Dinarte e eu assistíamos a tudo. A aula seguinte seria Biologia. Minha lida, só no dia seguinte.
Imar terminou a aula e se colocou à disposição para perguntas. Um dos alunos, já entrado em anos, e figura de respeito na cidade, formulou a pergunta sem pestanejar:  " professor, creio que entendi tudo. Só tenho uma dúvida. Onde é que podemos encontrar as tais moléculas?
Imar ficou vermelho e por pouco não esganou o aluno. De chofre respondeu: " elas, como eu disse estão por toda parte. Mas, não adianta procurar. São tão miúdas que um montão de dois metros ninguém enxerga"!!!!!
Dito isso, resolvemos os três, de comum acordo encerrar o nosso Cursinho. Pelo nível da pergunta desistimos da tarefa. Nos dedicamos à Topografia. Isso é outra história.
(Devido as provas do ENEN, tão alardeadas, resolvi escrever sobre os vestibulares) A história é verídica. Tenho testemunhas.


Texto: Urtigão (desde 1943) é pseudônimo de José Silvério Vasconcelos Miranda, que viveu em Itaúna nas décadas de 50 e 60. Causo verídico enviado especialmente para o blog Itaúna Décadas em 05/11/2017.
Acervo: Shorpy


HIDELBRANDO CANABRAVA RODRIGUES


CÂMARA MUNICIPAL DE ITAÚNA
DECRETO LEGISLATIVO/PROJETO DE LEI Nº 1/73
A mesa da Câmara Municipal de Itaúna, usando de atribuições legais, faz saber que a Câmara Municipal aprovou e promulga o seguinte:
·        Art. 1º Fica concedido o título de CIDADÃO HONORÁRIO DE ITAÚNA, ao Exmº Sr. Dr. Hidelbrando Canabrava Rodrigues pelos relevantes serviços prestados à comunidade itaunense.
·        Ar. 2º Revogadas as disposições em contrário este decreto legislativo entrará em vigor na data de sua publicação.

Sala das sessões em 21 de agosto de 1972
Wanda Nogueira Neto -  Vereadora


JUSTIFICATIVA
Hidelbrando Canabrava Rodrigues é filho de Humberto Rodrigues da Silva e de Dona Iracema Canabrava Rodrigues, nasceu e Curvelo (MG), em 2 de janeiro de 1935, onde permaneceu até a idade de 5 anos.
Mudou-se para Belo Horizonte tendo feito o pré-primário no Jardim de Infância Bueno Brandão e o primário no Grupo Escolar Barão do Rio Branco. Fez o Curso de Admissão ao Ginásio e o primeiro ano ginasial no Colégio Arnaldo. Os três últimos anos ginasiais estudou interno na cidade do Serro, no Ginásio Ministro Edmundo Lins, sendo o curo científico realizado no Colégio Afonso Celso e no Ginásio Anchieta, em Belo Horizonte, curo noturno.
Frequentou o curso vestibular na Escola de Engenharia de Minas Gerais, não tendo continuado os seus estudos por falta de tempo e recursos financeiros. Trabalhou em Belo Horizonte desde a idade de 14 anos nos seguintes lugares: Casa Arthur Hass, pelo período de 6 anos, tendo sido admitido como contínuo e seguidamente como auxiliar de escritório, sub-chefe d e contadoria da casa, sub-gerente do departamento de peças da matriz e gerente do departamento de pneumática, cargo onde saiu da Casa Arthur Hass e assumiu o cargo de inspetor da Pirelli S/A em Minas.
       No período de trabalho em Belo Horizonte, fez dois cursos de vendas e relações públicas, sendo um no Rio de Janeiro (GB), na Glabin S/A e o outro em São Paulo, na Pirelli. No ano de 1956 mudou-se para Itaúna como comerciante no ramo de bebidas. Posteriormente foi trabalhar no Cartório de 2º ofício desta Comarca, como escrevente juramentado. Após três ou quatro anos de trabalho no Cartório, fez concurso para o Banco do Brasil, tendo sido aprovado e admitido na Agência desta cidade. No Banco trabalhou por aproximadamente três anos tendo saído para ocupar o carto de titular do Cartório de Registro de Imóveis desta Comarca.
Radicado na cidade há mais de 17 anos, casou-se com Dona Vera Santiago Rodrigues, filha do Sr. José Edwars Santiago e Aurora Moreira Santiago, tendo quatro filhos: Vera Maria, Gláucia Maria, Tereza Cristina e José Humberto Santiago Rodrigues -  todos itaunenses.
Tem dado seu apoio a quase todas as modalidades esportivas e filantrópicas da cidade. Foi Presidente do Conselho Deliberativo do esporte Clube de Itaúna e Presidente do Imperial Futebol Clube. Sócio Fundador do Lions Club de Itaúna, tendo sido por suas vezes secretário e posteriormente Presidente. Foi Presidente do Orfanato São Vicente de Paulo e Secretário do Lactário (Fundação de Proteção à Maternidade e Infância de Itaúna).
Foi Presidente do Serviço de Obras Sociais de Itaúna. Fez o abaixo assinado pedindo ao Dr. Miguel Augusto Gonçalves de Sousa a instalação de uma Escola de Economia nesta cidade e que germinou a Universidade de Itaúna. Se formou Bacharel pela Faculdade de Direito da Universidade de Itaúna, onde foi um dos primeiros alunos matriculados e que atuou também para sua instalação.
Professor registrado de matemática para o segundo ciclo, tendo lecionado no Ginásio Sant'Ana durante muito tempo. Lecionou também por um ano no primeiro ano Científico da Escola Normal – Colégio Estadual de Itaúna.
Pelos seus méritos de jovem dinâmico, trabalhador e sua disposição para trabalho, foi escolhido pela Convenção da Aliança Renovadora Nacional (ARENA), para candidato a Prefeito Municipal de Itaúna.
Testada a opinião pública, em 15 de novembro de 1972, Dr. Hidelbrando Canabrava Rodrigues, teve confirmada a simpatia que lhe depositava a população, com a expressiva votação que lhe conferiu a vitória sobre o seu adversário, também da ARENA e de grandes raízes políticas no município. Dos 12.741 votos aproveitados nas urnas de 15 de novembro passado 9.101 votos foram conferidos ao Dr. Hidelbrando Canabrava Rodrigues e proposto para Cidadão itaunense, o que atesta o reconhecimento do povo aos relevantes serviços prestados.
Por estes títulos e serviços prestados à nossa comunidade, merece ser agraciado com o diploma de CIDADÃO HONORÁRIO DE ITAÚNA.
Sala das Sessões, 21 de agosto de 1972
Wanda Nogueira Neto – Vereadora
Comissão de Justiça
Sala das Sessões 22 de agosto de 1972
O Projeto tem seu aspecto legal e merece a nossa aprovação.

Obs.: No ano de 1973 no dia 13 de dezembro, o vereador Nelson Ferreira da Silva entrou com o mesmo pedido, o qual, a Comissão de Justiça na Sala de Sessões registrou: “ O assunto é da competência da Câmara. De acordo legal manifesto. Existe projeto idêntico em tramitação na Casa, pelo que solicitamos do Presidente a aplicação do artigo 49, Parágrafo Único da Resolução Regimental nº1. ” 



REFERÊNCIAS:

Organização: Charles Aquino.
Pesquisa: Charles Aquino
Acervo Documental e logo: Câmara Municipal de Itaúna.
Acervo Fotográfico: Prof. Marco Elísio Coutinho.

quinta-feira, novembro 02, 2017

APELIDOS ITAUNENSE


No meu tempo em Itaúna na década de 50 não existia "bulling". Quem não se adaptasse com as gozações, ficava riscado do convívio na turma. Era pegar ou largar. Sem apelação.
Eu mesmo fui recordista de apelidos. Muito branco, quase leite, com uma pinta no queixo. Fui chamado de Zé Branco, Pinta Roxa e Zé Pampa. Dos sete aos onze anos carreguei os apelidos citados. Quando entrei no ginásio, me deram o apelido de Camelo. Hoje, com mais de setenta, ainda tem gente que me trata de Camelo. Nunca soube a razão de tal " apodo". Sempre soube o autor da façanha. Foi o Zé Dias, filho do Tenente Virgílio, ele mesmo apelidado de "Veio da Cuspida". Enquanto viveu na cidade, carregou tal apelido. Eu nunca liguei e se ligasse era pior.
Tempos depois, já estudante em Belo Horizonte, fui premiado com a alcunha de "Pinduca". O motivo é óbvio. Minha cabeça é igual a um antigo personagem de histórias em quadrinho.
Itaúna era pródiga em apelidos. O Gasolina, trabalhava no posto do Bossuet Guimarães. Boa figura. Tinha o Pataca, meio bobalhão, que sofria nas nossas mãos nas filas de marcação de mesas nos bailes do Automóvel Clube.
O delegado substituto era o Tião Secreta. Tinha ainda o Tião da Farmácia de apelido um tanto proibido para um blog de respeito. Todos os tipos populares, imortalizados nas fotos do Oswaldo, em memorável coleção tinham apelido.
A Cutinha, se dizia milionária e culpava os ricos da cidade de roubarem a sua grana. O Só Bicho, andava pelas ruas zuando tal qual um besouro. Apelido lógico. Entre os tipos, a Doneta, baixinha e raquítica, sorria pra todo mundo com seus dentes amarelos. O Doutor da Mula Ruça, de óculos, paletó surrado e gravata encardida, dava aulas de cultura inútil, para qualquer um que o interpelasse. Uma enciclopédia às avessas.
Outros não gostavam do apelido. O Zé Boneco, vendedor de pirulitos de mel, espetados numa tábua, tinha horror da alcunha. Alegria da molecada que gritava o apelido para vê-lo gritar impropérios. Terminando, lembro-me de um senhor gordo que trabalhava no Banco do Brasil. Apelidado de Mixirica, detestava ser chamado assim. Alegria da rapaziada, que fazia questão de desconhecer seu nome de batismo. Acho que era Genésio.
Em tempo: Urtigão era apelido de meu irmão. Com a idade, fiquei muito ranzinza. Adotei o pseudônimo.


Texto: Urtigão (desde 1943) é pseudônimo de José Silvério Vasconcelos Miranda, que viveu em Itaúna nas décadas de 50 e 60. Causo verídico enviado especialmente para o blog Itaúna Décadas em 30/10/2017.
Acervo: Shorpy



VACA ESTOURADA



 Nos anos cinquenta do século passado, o matadouro municipal não existia. Havia sim, algo muito precário, bem na entrada da cidade, onde hoje existe uma ponte que cruza o rio São João, um pouco antes da passagem de nível e do começo da rua Silva Jardim.
Ali se matavam as reses destinadas aos açougues. As tripas e outras partes dos bovinos que não eram comerciais, eram jogadas na correnteza e o rio se encarregava de levar. Uma festa para os urubus e para nós, pré-adolescentes.
Era lá que buscávamos a bexigas. Ótimas bolas para o futebol.  Matava-se indiscriminadamente, tanto bois quanto vacas. Se as fêmeas fossem ruins de leite, o que acontecia com frequência, em virtude de gado " pé duro", faca nelas. Sem perdão.
Além das bexigas citadas, a localização do matadouro (sic) era uma benção. Tirante o gado proveniente daquelas area, a maioria vinha de outras bandas. Tocadas pelos vaqueiros, as reses tinham de atravessar a cidade. Diversão certa para a molecada. Diversão maior, quando uma vaca " estourava". Fora do controle dos vaqueiros, disparava pelas ruas, apavoradas com um ou outro carro ou caminhão e até mesmo com a presença de pedestres.
E toca a peãozada a correr atrás dos bichos, a cavalo ou a pé, com a cachorrada ajudando a campear as reses fugitivas. E junto, a molecada.
O aviso de " vaca estourada" corria cidade afora, tal qual rastilho de pólvora. Meninada saindo das casas e correndo para não perder o espetáculo. Com o alarido, os pobres bichos se assustavam mais. Raiva para os vaqueiros e alegria da molecada. Cachorrada a latir, mulheres a correr e o tropel dos cavalos no encalço das fugitivas. Quando alcançadas, às vezes extenuadas, empacavam e nada as fazia mover.
Os cachorros, treinados para tal, latiam em redor, mordiam as orelhas e o rabo do boi ou da vaca, até que se levantassem. Estocadas de ferrão era dada pelos peões e os bichos por fim pegavam a rota. Para os vaqueiros, apenas um aborrecimento a mais na lida diária. Para a cachorrada, parte do serviço de campear gado. Para a meninada, diversão grátis, sem gastar dinheiro. Não tínhamos pena dos pobres animais. Tudo aquilo fazia parte do nosso mundo e fomos acostumados assim. Não sabíamos avaliar o mau trato aos animais e os adultos nem ligavam. Muita coisa mudou daqueles tempos pra cá. Neste caso, para melhor.


Texto: Urtigão (desde 1943) é pseudônimo de José Silvério Vasconcelos Miranda, que viveu em Itaúna nas décadas de 50 e 60. Causo verídico enviado especialmente para o blog Itaúna Décadas em 26/10/2017.
Acervo: Shorpy