domingo, fevereiro 25, 2024

BATISMO JOÃO DORNAS

Batismo de João Dornas Filho - Paróquia Sant'Ana de Itaúna/MG
 


Referências:

Pesquisa, arte e elaboração: Charles Aquino

Fonte Livros Batismos da Paróquia de Itaúna/MG. Disponível em Family Search https://www.familysearch.org/ark:/61903/3:1:939N-DS9V-SK?i=34&wc=M5F8-6TT%3A370882003%2C369941902%2C370896201&cc=2177275


sábado, fevereiro 24, 2024

POSSE NA ACADEMIA MINEIRA

 João Dornas Filho

Discurso de recepção 1948

Pronunciado ao tomar possa na Academia Mineira de Letras (AML)

substituindo Carlindo Lelis Cadeira n°12 – Patrono: Alvarenga Peixoto


Senhores Acadêmicos.

Aqui estou para integrar-me na fortuna do vosso convívio, as mãos vazias de merecimento, mas repleta a alma do desejo de ser, entre os menores, o mais diligente dos confrades. Venho de uma geração atormentada pela insânia dos homens do meu século, e trazendo na alma o ressaibo do sofrimento e o calor da revolta. A guerra de 1914, dividindo os homens pelo ódio e destruindo as possiblidades sociais dessa geração, plantou lhe no espírito a esperança de recuperar essas possiblidades pela transformação radical dos quadros sociais políticos e estéticos que, a nosso ver, eram os responsáveis pela hecatombe.

O movimento modernista que sacudiu todas as camadas espirituais do mundo pós-guerra, tem a sua raiz nessa esperança de recuperação e ajustamento. Por ela, a minha geração se bateu com bravura e convicção sem limites. O calor da refrega e a certeza da justiça de uma causa tão bela, justificam nos moços que a lidaram o excesso em incorreram, excesso que não invalida a grandeza da sua missão e do papel que desempenhou na história espiritual desta primeira metade do século XX.

Fui um dos mais severos acusadores no julgamento da geração anterior, porque estava convencido da sua incapacidade em guardar o patrimônio mental que deveria nos ser transferido, senão aumentado, pelo menos intacto na grandeza que o século XIX lhe fundira. Daí o meu desdém — o desdém da inexperiência e da revolta contra a vossa Casa, cujo espírito, fundido pelo humanitarismo do grande século anterior, representava aos meus olhos inexpertos um estado de coisas que era urgente modificar.

Os anos, a experiência dos homens e das coisas que é o primeiro generoso dos cabelos brancos, mostraram-me afinal que fui excessivo e leviano. As causas são mais complexas, são mais profundas, são mais rebeldes à terapêutica social do que supunham a ignorância e o ódio da minha geração.

Mas, é certo também que não foi perdido o vigor que imprimimos à nossa luta. Dela nasceu uma consciência mais viva da supremacia do espírito humano —   e tão viva, que a maior revivescência medieval que já subjugou os homens em todos os séculos da História, foi esmagada implacavelmente pelas forças imponderáveis do espírito na mais sangrenta batalha que sulca de luz os caminhos da Humanidade. Só está benemerência é bastante para situar o movimento modernista, principalmente no Brasil, no mais destacado lugar da história social e política do século XX.

Feita esta ligeira explicação de penitência, proferida com a mesma sinceridade com que manejei o florete do sarcasmo contra as instituições acadêmicas da minha terra, permiti, senhores, que inicie a minha oração, cumprindo o dever estatutário de esboçar o elogio crítico do patrono da cadeira número 12, o poeta inconfidente Inácio José de Alvarenga Peixoto, que me coube ocupar pela morte de outra expressiva figura de homem de letras que foi Carlinho Lélis, seu fundador.

Quando em meados do século XVIII foram dadas à luz as duas primeiras manifestações literárias de Minas — “Triunfo Eucarístico” (1734), escrito por Simão Ferreira Machado, e “Áureo Trono Episcopal” (1749), de autor anônimo, ambas de valor literário apenas cronológico e histórico, já a conquista do nosso território havia se firmado pela criação das vilas de Sabará, Vila Rica e Mariana (1711) e o grande rush do ouro havia cunhado na cera plástica do indígena os caracteres psicológicos do negro paulista de origem lusa, fecundado o terreno de que nasceria a nossa literatura popular consubstanciada no folclore. Ê o que podemos chamar com propriedade o início da nossa criação literária, apesar de oral e tradicional como a dos rapsodos medievais.

Portanto, quando, ao descambar o século, surge a Escola Mineira, uma literatura popular já extinta por estes grotões auríferos, sendo aquela apenas a manifestação erudita e nem sempre vernácula da alma do nosso povo. Por este tempo já o sentido de pátria havia provocado todas as rebeliões dos mineiros como a dos Emboabas e a de Felipe dos Santos, para citar as mais significativas, e a maioria dos bardos da América Mineira já eram brasileiros ilustres pela pecúnia e pelas letras. Vila Rica, no dizer de Sílvio Romero, “era então no Brasil uma espécie de Weimar. Pequena cidade de província, reunia em si, a um só tempo, homens como Cláudio Manuel da Costa, Tomaz Antônio Gonzaga, Inácio José de Alvarenga Peixoto, Diogo Pereira de Vasconcelos, Luiz Vieira da Silva Mascarenhas, Francisco Gregório Pires Monteiro, as maiores ilustrações brasileiras da época, residentes na Colônia”.

É o velho axioma sociológico do tropismo econômico, pois nas Minas Gerais estava o centro de interesses da Coroa com o aparecimento do ouro e do diamante ... Inácio José de Alvarenga Peixoto, patrono da acadêmica que me apontou o destino, foi um dos inconfidentes e um desses espíritos da Cumiada Intelectual da Weimar brasileira [...].

Senhores acadêmicos. Já vos disse que venho de uma geração tangida pelo infortúnio do ódio e do sofrimento, e que teve a rebeldia como solução para os seus problemas morais. É isto que explica, em estética, o aparecimento do modernismo, O modernismo foi a maneira pela qual rompemos com um mundo que supúnhamos apodrecido, simplesmente porque não soubera resolver os problemas que lhe foram apresentados. Éramos muito moços e ardentes para compreendermos a complexidade desses problemas, e daí a revolta, o sarcasmo, a ironia, a impiedade — que foram o selo dessa geração torturada.

Os anos, os sofrimentos que se gravaram, uma compreensão mais justa das fraquezas e uma percepção mais humana das reservas de energia e nobreza que palpitam no fundo de todas as almas — nos deram a consciência do nosso papel no jogo de todo esse drama formidável. Não passávamos de um elo na imensa cadeia das gerações ...

Transmitimos a nossa mensagem, que não podia deixar de ser escarninha revolta e trouxemos a nossa colaboração de esperança e de fé na construção de um mundo que virá certamente — mais legal e mais justo, e, portanto, mais belo e amável ...

E a Academia Mineira de Letras, recebendo em seu seio mais de um desses rebeldes que a desdenhavam, nos dá a imorredoura lição da perenidade do espírito no tumulto das paixões e na inanidade dos punhos crispados pelo ódio ...


MEMORIAL JOÃO DORNAS 

Referências:

Pesquisa e organização para o blog: Charles Aquino

Texto: João Dornas Filho (In memoriam)

Fonte impressa: FILHO, João Dornas. Discurso de recepção (Academia Mineira de Letras), Ed. Mantiqueira, 1952, impressa oficial de Minas Gerais, BH, p.7-12,56-57.

Acervo: “Fotografia tirada na noite de 16 de novembro de 1948, ao tomar posse na cadeira de nº12 da Academia Mineira de Letras” (informações no verso da imagem). Arquivo Público Mineiro. Disponível em:  http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/modules/fotografico_docs/photo.php?lid=34008

AML -  Academia Mineira de Letras: https://academiamineiradeletras.org.br/cadeiras/


sexta-feira, fevereiro 23, 2024

MARIA INÊS MOREIRA

Denomina logradouro público. O povo do Município de Itaúna, por seus representantes decreta, e eu, em seu nome, sanciono a seguinte Lei: Art. 1 o Denominar-se-á Maria Inês Moreira a praça localizada na Zona 00, setor Centro, quadras 36 e 39 e Zona 03, setor Bairro de Lourdes, quadra 01, na confluência das ruas Péricles Gomide, Marechal Deodoro, Tiradentes e Av. Dorinato Lima. Art. 2 o Revogadas as disposições em contrário, esta lei entrará em vigor na data de sua publicação.

Prefeitura Municipal de Itaúna, 06 de setembro de 1985.

Prefeito Municipal Francisco Ramalho da Silva Filho.

 JUSTIFICATIVA

    Nossa proposição é no intuito de preservar a memória da professora Maria Inês Moreira. Sua existência entre nós, foi dedicada à educação. Nasceu em a 7 de outubro de 1941, filha do casal Olímpio Moreira e Maria Geralda Moreira (proprietários da Fazenda Boa Vista que também pertenceu ao Padre Antônio Maximiano de Campos), tendo sido a segunda entre os seis filhos do referido casal. Contraiu o matrimônio em 2 de dezembro de 1967, na Capela da Fazenda Boa Vista, onde residia. Desse matrimônio, nasceram dois filhos: Juliano e Fabiano.

    Cursou o primário no Grupo Escolar José Gonçalves de Melo, tendo-se tornado professora primária através da Escola Estadual de Itaúna. Colou grau em Ciências e Letras pela Faculdade de Filosofia de Itaúna. Lecionou Geografia e História no Colégio Santana bem como professora primária na Escola Dr. Lincoln Nogueira Machado e no Grupo Escolar José Gonçalves de Melo.

    Cultivou grande amizades entre alunos, colegas de trabalho como na sociedade itaunense que tiveram por ela um carinho especial. Além de amiga, era uma excelente profissional, pois sempre conseguia fazer de seus alunos, os melhores da escola.

    Maria Inês era filha de fazendeiros, criada com muito amor pelos pais, adorada pelos irmãos e amigos, o que não foi suficiente para impedir a dolorosa provação de sua vida. Mesmo assim, amava a vida e sabia conservar em seu rosto um sorriso e a candura de uma criança. Faleceu no dia 25 de julho de 1984 com apenas 42 anos de idade, após suportar um sofrimento que durou um ano, deixando um grande vazio entre seus amigos e familiares, principalmente seus filhos.

    São por estes motivos, que apresentamos a essa Casa a presente proposição, que na certa, essa edilidade haverá de submetê-la a apreciação e posterior votação.

Sala das Sessões, em 2 de agosto de 1985.

Presidente da Câmara – José Coelho Neto.

PRAÇA MARIA INÊS MOREIRA

Referência:

Elaboração e arte: Charles Aquino

Adaptação do texto original para o blog: Charles Aquino

Pesquisa: Patrícia Nogueira, Charles Aquino

Câmara Municipal de Itaúna. LEI nº 1.855, de 06 de setembro de 1985 Disponível em: https://sapl.itauna.mg.leg.br/media/sapl/public/normajuridica/1985/8240/2227_texto_integral.pdf

Acervo: Câmara Municipal e Prefeitura de Itaúna/MG

Imagem meramente ilustrativa em homenagem a professora Maria Inês Moreira 

segunda-feira, fevereiro 12, 2024

OS NOSSOS PRETOS

Os portugueses nos legaram muita coisa boa, como o quindim e o amor à poesia, mas trouxeram pra cá alguns péssimos valores, como a violência contra populações frágeis, desumanizando-as. Fizeram isso com os negros e com os indígenas. Os nossos patrícios evoluíram, mas no Brasil continuamos a desrespeitar tanto os indígenas quanto os pretos.

Em Itaúna a memória indígena foi totalmente apagada e a africana, encontra-se em processo de dolorosa dilapidação: a importância da presença negra está sendo varrida da nossa história. Há alguns anos fui à cidade de Bomfim com o vereador Alexandre Campos, que estava procurando registros da migração dos negros pra cá. Chamados por suas habilidades na tecelagem, eles foram fundamentais para a viabilização dessa atividade essencial para a consolidação de Itaúna. São fatos que não podem ser esquecidos.

Com a sua história espalhada por aí, resta à comunidade negra itaunense, como grande símbolo da sua identidade, o Alto do Rosário. Entretanto, com a liberação da construção de edifícios altos, logo ali! a descaracterização daquele espaço é iminente. Se for perdido o domínio que se tem da paisagem, lembranças e vivencias importantes vão sumir. Parte desse prejuízo já aconteceu, quando foram doados terrenos em frente à caixa d’água, terrenos que permitiam visadas espetaculares do vale do Rio São João. Ainda dá tempo de impedir a continuidade da tragédia anunciada pelo Plano Diretor, entretanto, os vereadores são brancos e tradições alheias não interessam a eles.

Os pretos precisam construir lideranças de visão, comprometidas de fato com o coletivo, lideranças que trabalhem para fortalecer a autoestima dessa parcela da população e que compreendam a amplitude da sua história, das suas tradições, que percebam a importância da manifestação concreta dessa comunidade no espaço urbano itaunense.

Diante desta ameaça ao Morro do Rosário, o historiador Charles Aquino e eu começamos a levantar subsídios para impetrar uma ação pública contra o desvario. Mas o trabalho nos reservava uma grande surpresa. Num de seus mergulhos cuidadosos, Charles esbarrou em evidências de que existiu, junto à igreja do Rosário, um cemitério. Fotos antigas também apontavam nessa direção, mas, a consistência veio da existência de um registro nominal dos cidadãos enterrados, mais de duzentos, quase todos pretos. Como não há indícios da transferência dos corpos, supomos que eles ainda estejam lá. Debaixo do asfalto. A situação precisa ser investigada e foi o que solicitamos ao Ministério Público: a Prefeitura foi notificada e há um ano se mantém em silêncio. 

Remexo nesse baú desconfortável, para lembrar que as manifestações deploráveis de racismo não estão apenas lá longe, na Espanha e nem sempre são evidentes como pendurar um boneco num viaduto: estão bem aqui, debaixo dos nossos narizes, disfarçadas de normalidade. Poucos negros têm vez na administração do município. No governo atual, nenhum secretário, nenhum diretor de departamento. Eles não são chamados de macacos, mas são tratados como inferiores. Por serem tão pouco representados, um estrangeiro poderia concluir que os pretos são menos capacitados, menos educados, menos inteligentes, o que seria um absurdo! Mas é o que os números insinuam e é o que precisamos desmentir com veemência e ações concretas.

Sugiro, como gesto inaugural, a reurbanização do Rosário e a criação de um pequeno museu, um memorial, que contasse a história da comunidade desde que os negros se estabeleceram por aqui. Seria uma demonstração do nosso reconhecimento a esses bravos pioneiros. Os dois milhões do calçamento do Bonfim poderiam ser utilizados pra isso... nem precisaria de tanto! O memorial se constituiria num símbolo evidente do nosso compromisso em mudar a atual situação de esquecimento, podendo dar início a uma série de ações de longo prazo, visando integrar efetivamente os pretos, na sociedade itaunense.

Eu sempre me embaralho quando vou chamar os descendentes africanos de pretos ou de negros. Mas na verdade, isso é irrelevante: são pessoas comuns como quaisquer outras e ponto. É como devemos considerá-los: irmãos merecedores de toda a nossa estima e respeito.


Referências:

Texto: Professor Sérgio Márcio Machado - Arquiteto, Urbanista, Professor M.Arts

Organização para o blog: Charles Aquino

Fonte digital: Redação do Jornal Folha do Povo Itaúna Disponível em: https://www.folhapovoitauna.com.br/os-nossos-pretos em 29 de maio 2023, Itaúna/MG

Acervo Ilustrativo: Alberto Henschel - Leibniz-Institut Für Länderkunde in ERMAKOFF, George. O negro na fotografia brasileira do Século XIX. Rio de Janeiro: George Ermakoff Casa Editorial, 2004. p. 182. ISBN 85-98815-01-2. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Afro-brasileiros#/media/Ficheiro:Alberto_Henschel_-_Pernambuco_4.jpg

sábado, fevereiro 10, 2024

quinta-feira, fevereiro 08, 2024

QUILOMBO DA FAMÍLIA RODRIGUES

 Segundo o itaunense e genealogista Guaracy de Castro Nogueira, na margem esquerda do rio São João, adjacente à vila da Beira do Rio, no município de Itaúna/MG, estendia-se uma significativa extensão de terreno cultivado, delimitada por um “antigo muro de pedras”. Este local abrigou a família Rodrigues, remanescente de quilombo, constituída inteiramente por afrodescendentes. As visitas a este local revelaram algo verdadeiramente extraordinário para a nossa região em meados do século XX. Neste refúgio isolado residiam várias famílias, todas unidas pelo sangue partilhado e por vestígios tênues da sua herança africana. O mais velho deles era Belmiro, que ocupava o estimado cargo de patriarca, respeitado por todos. O genealogista ressalta que o patriarca revelou várias histórias de outros antepassados ​​da mesma linhagem que outrora habitaram esta mesma terra, embora as suas identidades permanecessem envoltas em mistério.

A própria terra ostentava solo fértil e água abundante, resultando em colheitas variadas. Sob a sábia liderança do velho Belmiro, as provisões eram distribuídas de acordo com as necessidades individuais de cada membro da comunidade, garantindo a sua sobrevivência coletiva. Os habitantes desta comunidade tinham interação mínima com a cidade; eles eram quase totalmente autossuficientes. Envolvidos em atividades como agricultura, colheita e tecelagem, não tinham interesse em documentos de propriedade ou dinheiro. Em vez disso, o seu desejo era encontrar uma nova terra onde pudessem manter o seu modo de vida atual.

Guaracy, em seu caráter informativo, revela que obteve com sucesso autorização de diversas empresas e procedeu à compra do restante da Fazenda do João Alves de Morais (vulgo João do Aarão). Neste terreno foram construídas seis casas, cada uma com sua área cercada e escritura oficial. Além disso, foi proporcionado a eles acesso à água, garantindo que tivessem tudo o que desejavam. Como gesto de compensação, cada casal também recebeu Cr$ 10.0000,00 (dez mil cruzeiros) em 26 de janeiro de 1956.

Em certas ocasiões, o historiador atravessava o lago de barco, acompanhado de alguns amigos, e comemorava com “foguetes, bebidas e biscoitos” junto com os quilombolas.  Estas confraternizações festivas prolongavam-se até altas horas da manhã, com danças animadas no terreiro ao ritmo da cabecinha de égua, acompanhadas pelos sons melodiosos dos oito contrabaixos de Vicente Ventura. Os indivíduos expressaram profunda gratidão, no entanto, constataram de que a terra em si não era tão fértil como esperavam. Consequentemente, tomaram a decisão de vender suas propriedades. Inicialmente, aqueles que procuravam um retiro à beira do lago eram os principais compradores. Infelizmente, a cidade não se mostrou benéfica para muitos deles e apenas alguns fizeram algum progresso significativo.

Às vezes, ainda segundo Guaracy, recebia mensagens solicitando transporte de barco para levar Belmiro ao hospital, pois foi um amigo fiel até sua morte. A companheira de Belmiro, Dona Conceição, também faleceu na cidade após viver uma vida marcante e longa ao lado do patriarca. O historiador ainda ressalta que as histórias de todos aqueles habitantes permaneceram intacta em suas memórias, incluindo Joaquim Rodrigues (viúvo), João Rodrigues casado com Mercês Maria Rodrigues; Marinho Rodrigues c/c Maria Severina de Jesus; Francisco Rodrigues c/c Vicentina Rodrigues de Paula; José Rodrigues c/c Maria Alves Rodrigues; Divino Rodrigues c/c Raimunda Vieira Rodrigues, bem como outros indivíduos ainda menores de idade. Destaca que se tratava de pessoas de bom caráter, honrados, humildes, indiferentes às agruras da vida, exemplificando a natureza pacífica e vida dinâmica daqueles verdadeiros quilombolas.

Hipótese

Após realizar uma breve investigação sobre o líder quilombola Belmiro, estou confiante de que as informações que encontrei estão alinhadas com as conclusões do pesquisador Guaracy. Para verificar ainda mais a veracidade, seria necessário o acesso às escrituras de terra daquela época. Com base nos documentos que examinei posso fornecer os seguintes dados: o nome completo do patriarca era Belmiro Severino Rodrigues, natural de Itaúna. Faleceu em 17 de abril de 1968, aos 78 anos, no dia seguinte foi sepultado no Cemitério Central do município de Itaúna. O registro de óbito o categoriza como filho de Carlota de tal, o que é bastante intrigante. Vale ressaltar que o nascimento de Belmiro ocorreu por volta de 1890, período pós-abolição. A partir disto, pode-se razoavelmente presumir que a sua mãe provavelmente tinha sido escravizada antes deste ato significativo de mobilização.



Referências:

Pesquisa e organização: Charles Aquino - Historiador Registro Profissional nº 343/MG

Fonte Impressa:  NOGUEIRA, Guaracy de Castro. In Enciclopédia Ilustrada de Pesquisa: Itaúna em detalhes. Ed. Jornal Folha do Povo, 2003, fascículo 34.

Imagem Ilustrativa: Autor Johann Moritz Rugendas, Escravidão, Habitation de négres, 1827. Brasiliana Iconográfica, Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo, Brasil. Coleção Brasiliana/Fundação Estudar. Doação da Fundação Estudar, 2007. Disponível em: https://www.brasilianaiconografica.art.br/obras/19497/habitation-de-negres

Cemitérios Municipais: Prefeitura Municipal de Itaúna. Registro de óbito. Disponível em: https://www.itauna.mg.gov.br/portal/cemiterios/7207/

Certidão de óbito MG Cidadão: Disponível em:  https://cidadao.mg.gov.br/#/login 

sexta-feira, fevereiro 02, 2024

LUZIA GONÇALVES NOGUEIRA

 Lei Municipal 2.122/88— CEP: 35680-488

Denomina logradouro público: Rua Luzia Gonçalves Nogueira / Eldorado (Atual)

LEI Nº 2.122, de 11 de maio de 1988 — Denomina logradouro público.

O povo do Município de Itaúna, por seus representantes decreta, e eu, em
Seu nome, sanciono a seguinte lei:
Art. 1 — Denominar-se-á Rua Luzia Gonçalves Nogueira, o logradouro público que tem seu início na Av. Brasília, passando pelas quadras 13, 19, 15, 21, 17, e 23 e terminando na Rua Noé A. Prado, no Bairro Universitário.

Art. — 2 A Prefeitura Municipal providenciará a colocação de placas indicativas, bem como a comunicação à Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos.

Art. 3 — Revogadas as disposições em contrário, esta lei entrará em vigor na data de sua publicação.

Prefeitura Municipal de Itaúna, 11 de maio de 1988
Francisco Ramalho da Silva Filho
Prefeito Municipal

Autoria do projeto de Lei 33/86: Pedro Paulo Pinto – Vereador

COMISSÕES:
JUSTIÇA E REDAÇÃO
FINANÇAS E ORÇAMENTO
JUSTIÇA E REDAÇÃO
Aprovado em 1ª discussão — 03/05/1988
Aprovado em 2ª discussão — 10/05/1988
Aprovado em 3ª discussão — 22/04/1988


LUZIA GONÇALVES NOGUEIRA

Luzia Gonçalves Nogueira, filha de Edgard Gonçalves de Sousa e Francisca Gonçalves Cardoso, nasceu no dia 29 de março de 1940, em Guaçuí, no Espírito Santo. Aos quatro anos veio residir em Itaúna, pois seu pai resolvera voltar para junto de seus familiares.

Luzia fez o primário no Grupo Escolar Dr. Augusto Gonçalves. Cursou o Ginasial e o Magistério na Escola Normal de Itaúna, recebendo no ano de 1958 o Diploma de Professora Primária.

No ano seguinte iniciou sua vida profissional dando aulas na Granja escola São José. Após o ato de nomeação, passou a trabalhar no Grupo Escolar João Dornas Filho.

Em 1964, casou-se com o industrial Jacy Diniz Nogueira e teve três filhos: Jacy Diniz Nogueira Filho, Cristiane Gonçalves Nogueira, Leonardo Gonçalves Nogueira.

Em 1974 parou de trabalhar como professora pois, na condição de esposa e mãe carinhosa, decidiu que seria melhor dedicar mais tempo à sua família e também prestar serviços a entidades dedicadas a obras sociais.

Luzia possuía enorme círculo de amizade em Itaúna, cidade que ela considerava como sua terra natal. Foi figura de destaque na sociedade local e representou várias vezes a beleza e simpatia da mulher itaunense.

Vítima de um acidente que deixou abalada e triste a nossa cidade, faleceu juntamente com seus filhos Leonardo e Cristiane no dia 25 de junho de 1981.



REFERÊNCIAS:
Organização e Elaboração: Charles Aquino.
Pesquisa: Charles Aquino, Patrícia Gonçalves Nogueira.
Autoria do projeto de Lei 33/86: Pedro Paulo Pinto – Vereador
Acervo e Projetos de Leis dos Logradouros: Câmara Municipal de Itaúna/MG Leis e Resoluções – Lei Nº 2.122, disponível em    http://camaraitauna.no-ip.net:8090/sapl/sapl_documentos/norma_juridica/1284_texto_integral

quinta-feira, fevereiro 01, 2024