quarta-feira, maio 31, 2017

O MAGO DAS LENTES

ADILSON NOGUEIRA

Primeiro surgiu Louis Daguerre, depois o mundo teve Niépce e Fox Talbot, em meados do século dezenove. Itaúna foi povoada por diversos deles e já existe um interessante estudo sobre os fotógrafos itaunenses ao longo dos tempos (Abel Alexander – argentino). Recordo-me do Benevides Garcia, do Osvaldo e sua Kombi azul e do Pedro. A França deu ao mundo Daguerre; Itaúna oferece hoje Daniel Henrique (hors concours) ... Assinalo também Márcio Carvalho... e diversos outros dignos de nota na contemporaneidade.

Contudo, feitas as devidas reverências a quem de direito, discorro estas linhas sobre um outro fotógrafo. Eu o chamo de “O Mago das Lentes”. Na tardinha deste dia, eu o surpreendi – na saída do meu trabalho – e pude deleitar-me com a cena do artista em plena execução de sua obra: lá estava ele em passos lépidos – armado de sua câmera- correndo atrás de uma cena a ser registrada. Lá no horizonte, a imagem de uma revoada de pássaros rumo ao crepúsculo.

Itaúna é celeiro das artes. Itaúna tem em seu solo, o húmus fertilizador das artes – umedecido pelas águas calmas do rio São João; donde as musas (travestidas de garças) inspiram e fazem brotar artistas das mais variadas nuances. Humana e pitoresca – como afirmou Pancrácio Fidélis. Pitoresca, artística, bucólica, bela, encantadora... pelas lentes da máquina fotográfica de Adilson Nogueira.

Esse moço – pobre moço – de tantas artes e arteiro também, vem se revelando o guardião do tempo presente. Adilson fotografa, registra, eterniza, emoldura, dignifica, diviniza o bucólico. Adilson fotografa Itaúna. Adilson nos revela Itaúna. Adilson redescobre a cidade e nos dá de presente.

Aquela paisagem ali está. Em sua normalidade cotidiana. Cenas que ninguém vê, pois todos estão imersos no mundo que criaram.... Estão cegos diante do belo, pois só tem visão para aquilo que o sistema lhes permite enxergar. Adilson não. Dá as costas para o real ou o irreal do mundo acinzentado de nossos atropelos e nos oferece dia a dia a Itaúna a nossa volta.

As pessoas, admiradas, logo elogiam a arte do Mago das Lentes. Entretanto, não conseguem e jamais conseguirão ver com os seus olhos o belo do mundo. É como se vissem a foto e não a enxergassem no mundo.

A arte da fotografia é da mais místicas e mágicas. Foto não faz barulho, não tem som, não tem sabor, não tem cheiro, despidas de movimento..., no entanto, o observador ao mirá-la se lhe é dado a capacidade mística de nela mergulhar e quase num transe sentir tudo aquilo presente na realidade estática da foto. É uma viagem. E como em todas as artes, uma vez feita, já não pertence ao artista e sim àquele que a contemplar.

Não precisa de legenda. Terá um milhão de significados tantos quantos forem os seus observadores. Não sabemos que mística tem Adilson. Se é bruxo, anjo ou feiticeiro ou mago...o que sabemos é do encantamento que derrama em suas fotos. Tivemos a sorte de ser por ele fotografados... no emblemático alto do Rosário...Encantado e mistificado estamos todos. Um salve para o Mago das Lentes.   Um salve para a nossa Itaúna – humana e pitoresca...

 

Texto: Professor Luiz Mascarenhas

Organização: Charles Aquino