sexta-feira, maio 21, 2021

O VIGÁRIO DO CÓRREGO

AO MODO DA HISTÓRIA

Foto da antiga Igreja de São Sebastião e Nossa Senhora de Lourdes do Córrego do Soldado. Construída de Pau a Pique com piso de terra batida.

Sementes de milho, pregos, formicida, compra de lenha, cimento, material de construção… Estas palavras compõem o pano de fundo para o modo como se organizava a Comunidade do Córrego do Soldado antigamente. Anotações cheias de esmero, extraídas do livro de caixa que contém informações de abertura, datado em 1º de janeiro de 1971, assinado pelo próprio vigário Pe. José Ferreira Netto e que traduz, em parte, o trabalho sério e dedicado do pastor dessa gente.

As anotações contidas neste documento registram o período de 1971 a 1985. Portanto, 14 anos de registros administrativos e históricos sujeitos a admiráveis releituras pastorais.

 Os rendimentos apresentados pelo livro de caixa ilustram receitas simples provenientes de donativos, leilões, semana santa (com o beijo do Senhor morto), esmolas, venda de velas, dízimo, venda de milho, Jubileu do Senhor do Bom Jesus, festas de São Sebastião, Nossa Senhora do Rosário (com o Reinado) e Nossa Senhora de Lourdes.

Nestes registros de fluxo financeiro, notamos como a Comunidade de fé do Córrego do Soldado se solidificou economicamente e era tal como qualquer comunidade urbana naquela época.

Acerca do Livro de Caixa, transcrevo-o tais como estão as suas anotações que relatam os empreendimentos pastorais anotados pelo Vigário a cada troca de mandato dos tesoureiros:


Encerramento de Mandato (17 de março de 1974)
“No dia 17 de março de 1974, após a Santa Missa, foram empossados os novos tesoureiros da Capela de Nossa Senhora de Lourdes do Córrego do Soldado: Senhores Antônio Antunes Filho, Eduardo Honório Militão e Manoel Antunes Moreira. Deixo aqui um voto de profunda gratidão aos tesoureiros: Ataliba Antunes Medeiros e José Antunes Nogueira, que durante (2) dois anos exerceram o seu mandato com muita diligência e boa vontade. Tudo fizeram para que a comunidade do Córrego do Soldado fosse bem servida. As obras de destaque na gestão dos dois: construções de um grande salão anexo ao velho prédio do grupo escolar cedido à comunidade pela Prefeitura, onde funciona o Centro Social Paroquial de N. Sra. de Lourdes. Construção de uma casinha abaixo da casa paroquial. Votos de gratidão às suas senhoras pelo trabalho na casa paroquial. Esperamos que os novos tesoureiros realizem grandes empreendimentos durante a sua gestão de dois anos”. O Vigário Pe. José Ferreira Netto – Córrego do Soldado, 17/3/1974.

Encerramento de Mandato (14 de março de 1976)
“Encerrando hoje o mandato de dois anos dos tesoureiros Eduardo Honório Militão e Antônio Antunes Filho. Foi celebrada a Santa Missa por intenção dos dois e suas exmas. famílias ao meio-dia. O Vigário agradeceu os relevantes trabalhos que fizeram em benefício de nossa capela e de toda comunidade. Obras que realizaram em sua gestão: construção da casa do Sr. Agenor, melhoramentos na casa paroquial – reforma do telhado, quarto de banho e sanitário. Comprou-se a imagem de N. Sr. dos Passos, reforma da torre da Capela, microfone, vasilhame  e objetos para a casa do Agenor, diversos objetos para a casa paroquial e capela. Um voto de muito agradecimento às suas senhoras que muito fizeram na cozinha e conservação da casa paroquial principalmente nas festas e Semana Santa. Que a Virgem de Lourdes recompense os dois com suas famílias”. O Vigário, Pe. José Ferreira Netto – Córrego do Soldado, 14 de março de 1976.

Encerramento de Mandato (14 de março de 1978)
 “Terminando hoje o mandato dos tesoureiros João Antunes da Fonseca e Juscelino Custódio Moreira como pleito de grande e profundo agradecimento pelo serviço que fizeram com tanta dedicação e amor às coisas da igreja, de modo muito especial ao Sr. João Antunes Fonseca, celebramos a Santa Missa em intenção deles e de suas bondosas famílias. A Comunidade do Córrego do Soldado expressa também o seu agradecimento. As obras realizadas durante o mandato dos mesmos: pintura interna e externa da capela que ficou em mais ou menos CR$ 7.000,00. Construção dos pequenos muros em frente à gruta, construção de um muro pré-fabricado em frente à casa paroquial à sua direita na medida de 117 metros – custando CR$ 8.190,00. Construção de uma casa nova para o Sr. Jesus, sob orientação do Sr. Augusto Honório Militão, esta se acha em estado de conclusão. Um agradecimento muito particular a D. (…), esposa do Sr. João A. Fonseca pela sua dedicação na parte da cozinha. Que a nossa padroeira recompense a todos dando-lhes uma grande felicidade em seus lares”. Córrego do Soldado, 14 de março de 1978 – O Vigário Pe. José Ferreira Netto.


Fotografias do  sacrário pertencente à antiga igreja de São Sebastião e Nossa Senhora de Lourdes do Córrego do Soldado:




Encerramento de Mandato (14 de março de 1980)
“Terminando hoje o mandato de nossos queridos tesoureiros João Antunes Venâncio e Iraci Antunes Moreira, aqui fica o meu profundo agradecimento pelos seus relevantes serviços. No mandato dos mesmos foi inaugurada a luz na Igreja, casa paroquial e centro social, um novo amplificador (CR$ 25.000,00). O tapume de muro pré-fabricado do lado direito, quintal da casa paroquial (CR$ 8.000,00). Agradecimentos às suas bondosas esposas que muito se dedicaram à cozinha. Deus lhes pague por tudo. Assumem: Sr. Miguel Honório Militão e Sr. João Antunes Venâncio. Córrego do Soldado 14 de março de 1980 – O Vigário Pe. José Ferreira Neto

Encerramento de Mandato (04 de março de 1982)
“Finalizando o mandato dos Senhores Tesoureiros: Miguel Honório Militão e Juversino Antunes Fonseca, quero deixar aqui os meus agradecimentos pelos serviços que prestaram à nossa Comunidade; bem assim suas senhoras. Deus lhes pague”. O Vigário Pe. José Ferreira Netto. Novos Tesoureiros: Sr. Geraldo Antunes Medeiros e Sr. Luiz Gonzaga da Fonseca.

Encerramento de Mandato (26 de fevereiro de 1984)
“Terminando o mandato dos Tesoureiros: Geraldo Antunes Medeiros e Luiz Gonzaga da Fonseca, deixo aqui os meus agradecimentos pelos seus relevantes serviços prestados à nossa Comunidade de N. Sra. de Lourdes do Córregos do Soldado, bem assim à sua senhora e irmã. Que Deus e Nossa Senhora os recompense muito”. Novos Tesoureiros: Afonso Gomes Pinheiro e Lázaro Pinto de Queiroz. Córrego do Soldado, 26 de fevereiro de 1984 – O Vigário Pe. José Ferreira Neto.

Com as coisas do campo, Padre José Netto lidava muito bem. Fazia renda com o milho que ele mesmo plantava e era muito habilidoso com a terra. Tinha atenção em relação às pragas e formigas, sabia compor uma cerca de arame e estacas no terreno e mantinha tudo organizado com a ajuda das pessoas da comunidade.


ALGUNS FATOS...

O Campanário

O Campanário da Igreja de Nossa Senhora de Lourdes abrigou um sino datado de 1898. Atualmente ele se encontra na torre da nova igreja cumprindo com a sua missão de convocar os fiéis ao culto divino. “Ó Deus, a vossa voz na aurora do mundo ressoou aos ouvidos do homem para convidá-lo à comunicação divina, ensinando-o e admoestando com doçura. (…) Os sinos estão ligados à vida do povo de Deus; o seu som marca os tempos da oração, reúne o povo para realizar ações litúrgicas, avisa os fiéis sobre os acontecimentos mais sérios, que podem significar aflições ou alegrias”. (Ritual de Bênçãos).

Foto do campanário (ou torre do sino) da antiga Igreja do Córrego do Soldado

Os antigos reconhecem a Capela como sendo primitiva, se recordam também do campanário – coisa muito diferente pra época. Os fieis mais antigos se lembram de subir as escadas da capelinha do lado para tocar o sino. (A fotografia está em um quadro no Centro da Pastoral no Córrego).


UMA CAPELA DOIS ORAGOS


A Igreja do Córrego do Soldado tem por padroeira Nossa Senhora de Lourdes, celebrada aos onze de fevereiro; contudo em algum momento da história, a pedido de alguns fazendeiros, começaram a celebrar também a Festa de São Sebastião, santo comemorado aos 20 de janeiro. Fato é que os padroeiros se confundiram… até hoje a Festa do dia onze de fevereiro é dedicada aos dois santos. Surgiu também um pormenor, a Festa do Córrego coincidia com a Festa de São Sebastião da Matriz de Sant’Ana o que gerava um empecilho pastoral.


Banda de Música
Aos 14 de março de 1980 consta no Livro de Caixa da Comunidade do Córrego do Soldado a despesa para com Banda de Música na Festa de São Sebastião incluindo a sua condução. Para abrilhantar a Festa de São Sebastião e Nossa Senhora de Lourdes o Padre José fez vir de Itaúna a Banda de Música para acompanhar a procissão. O Vigário não era músico, mas tinha uma boa inclinação musical, ele pessoalmente se ocupou em ensinar um repertório para ser cantado nas missas.



O Mês de Maria
O nosso povo tem um carinho muito especial com o Mês de Maio. D. Landina e D. Luzia organizavam as coroações, orações e a Ladainha de Nossa Senhora em latim. As festividades do mês de maio se estendiam até a trezena de Santo Antônio, também com as suas orações e cânticos apropriados. Eram 44 dias de orações ininterruptas. Tudo isso por iniciativa das próprias pessoas da comunidade. As receitas anotadas pelo Pe. José Netto, referentes ao mês de maio, eram consideráveis

Sancta Maria, ora pro nobis!

Sancta Dei Génitrix, Virgo Virgininum, Mater Christi…

Festa de Santa Cruz
De acordo com o calendário antigo do Rito de S. Pio V, aos 3 de Maio celebrava-se a Festa de Santa Cruz. A Comunidade do Córrego se ajuntava para rezar aos pés do cruzeiro com a guarda de “Festa de Cruz”. O costume de celebrar esta festa em tal data se manteve por muitos anos. A cruz é o sinal de Cristo Salvador. A cruz que hoje se encontra no altar de Igreja de Nossa Senhora de Lourdes foi entronizada aos 26 de agosto de 1977.

“O meu Coração é só de Jesus, a minha alegria é a Santa Cruz”.

Festividades de São João Batista e São Pedro
Nas noites gélidas dos meses de junho e julho o Sr. José Otacílio Trigueiro e sua família organizavam as festas São João Batista e São Pedro. Rezavam o terço por volta da meia noite. Levantavam bandeiras. Servia-se canjica, pipoca, quentão… A fogueira era acesa e algumas pessoas se aventuravam andando sobre brasas. Lá eram feitos os Batismos de fogueira. Uma forma carinhosa de convidar uma pessoa querida para ficar mais próxima tornando-a “padrinho ou madrinha de fogueira”.







Energia Elétrica
Antes das instalações elétricas do Córrego do Soldado a Igreja era iluminada por lampiões a gás. No Livro de Caixa são citadas diversas vezes as despesas com gás para a Igreja e Salão Pastoral. A Energia elétrica chegou ao Córrego do Soldado por volta de 1980. Inicialmente havia luz na rua principal e na Igreja, depois a rede elétrica foi expandida pela região.



Cercado por um muro de pedra, construído muito provavelmente por mão de obra escrava; entre as suas sepulturas encontra-se uma datada de 1921 – a mais antiga que se pode observar. O Cemitério esteve aos cuidados da Paróquia de Sant’Ana até as décadas de 1970/1980, quando passou aos cuidados da prefeitura. A Comunidade de N. Sra. de Lourdes guarda um arquivo dos sepultamentos realizados nos anos de 1960 e 1970.





Hóstia Santa Imaculada

REFERÊNCIAS:

Pesquisa e Texto: Padre Rodrigo Botelho Moreira Júnior.

Revisão: Delaine Marques

Organização:  Charles Galvão Aquino

Acervo Documental e Fotográfico:  Paróquia Nossa Senhora Aparecida – Itaúna da diocese de Divinópolis

Acervo Fotográfico Padre José Ferreira Netto: Cleide Diniz H. de Souza

Fotografias Sacrário / Cemitério Córrego do Soldado: Charles Galvão Aquino

Fotografia Ilustrativa N.N.Lourdes : Alexandria Católica – Blog

Fotografia São Sebastião: Fineart America. 

segunda-feira, maio 10, 2021

CENSO ITAÚNA 1920





FONTE:

 

Nºde chamada:058.7:631(815.1) -R382r Complemento 1: OR ISBN: Obra rara. ID:16312

Título: Relação dos proprietarios dos estabelecimentos ruraes recenseados no Estado de Minas Geraes / Ministerio da Agricultura, Industria e Commercio, Directoria Geral de Estatistica. Local: Rio de Janeiro. Editor: Typ. da Estatística. Ano: 1924. Descrição física: 3v. Notas: GE00004913-8.

Resumo: Coletânea de resultados do censo de 1920, contendo número de estabelecimentos, nome do proprietário e do estabelecimento, por município. Obra em quatro volumes, a Biblioteca possui os volumes 1, 2 e 3. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id=216312


Pesquisa: Charles Galvão Aquino