Quando
criança e já na adolescência, a rua Arthur Bernardes, apesar de pequena, era
para nós os jovens, uma das ruas mais importantes da cidade. Começava numa
confluência da rua Capitão Vicente com a rua Direita, que perdeu a dignidade ao
ser rebatizada de Av. Getúlio Vargas. A rua Direita, creio eu, era a mais
comprida do lugar. Cheia de curvas, ia da entrada da cidade ao Mirante. Calçada
em parte e de terra em outras. Plana. Um achado para brincar de " pique
quadrilha".
A
Capitão Vicente era curtinha. Ia da rua direita até a Silva Jardim, a principal
de Itaúna. Rua do comércio e morada de algumas famílias mais abastadas. Ficava
nela os dois bancos principais, Lavoura de Minas Gerais e Comércio Indústria.
Também moravam lá os Cerqueira Lima (exceto José) os Santiago e os Saldanha.
Também o Guarani Nogueira e o Avides Alfaiate. Abelardo Lima e seu Bazar, Leão
José e sua loja e seu sobrado. Os Perillo. Até hoje abriga o Grande Hotel.
Tinha o bar "A Petisqueira " e a casa do Zé do Zimbo. Também morava
lá o farmacêutico Ary Coutinho, que tinha farmácia por lá. A farmácia Nogueira
viria depois.
Tudo
isso para chegar na rua Arthur Bernardes, que terminava na Silva Jardim. Do
outro lado tomava o nome de João de Cerqueira Lima. A Escola Normal, depois
Colégio Oficial e Normal (já na década de sessenta), ficava na Arthur
Bernardes.
Depois
da nomeação do dr. Guaracy para diretor da Escola substituindo D. Nair
Coutinho, o vetusto educandário adquiriu vida nova. Para nós alunos de lá foi
um achado. Em toda as ruas moravam famílias que tinham filhos mais ou menos
parelhos na idade conosco, a Arthur Bernardes era o ponto de reunião. Vou
tentar enumerar as famílias e os parceiros de jogos e brincadeira.
No
começo da via, logo na esquina com a Capitão Vicente, morava Antônio Corradi.
Tinha um filho único, de nome Alnio. Era da turma. Quase em frente mora o
Manuel da "Custodia". Tinha três filhos de idade próxima a minha.
Carlos Alberto, Ricardo (da pinta) e Sérgio.
Sérgio
foi meu colega de primário. Não participava das brincadeiras. Os outros dois
eram da " patota". O dentista José Diniz tinha um filho, o Zé
Leopoldo. Era mais novo. Anos depois foi incorporado. Sua irmã era bonita.
Maria Guilhermina. Adulta, passou a pintar quadros. Amiga de minha irmã caçula.
Quase
em frente morava o dr. José Campos. Médico, paciente e boa figura. Casado com
d.Alba. Tinha dois filhos, Antônio Sérgio e Paulo (Paulista) Guilherme. Meio
" azougados ". Saíram à mãe.
Antônio Sérgio era bom de bola. Paulista estava noutra. Boa gente. Amigo de meu
irmão mais novo. Duas ou três filhas. Não sei ao certo. Vânia era um pouco mais
nova do que eu. Casou-se com o Ronaldo "Petit-pois", ex-colega meu de
quarto ginasial. Vânia recebeu um rim do irmão mais novo. Ele sobreviveu e ela
morreu. Homenageada com nome de teatro.
Abaixo
da casa dos Campos, morava o dr. Thomaz Andrade. Médico, bonitão, parecia com o
ator Anselmo Duarte, de grande sucesso no cinema nacional. Vencedor da
"Palma de Ouro " de Cannes com o "O pagador de promessas". Dr.
Thomaz tinha filhos e filhas. Thomaz Augusto (Dute) e Ronaldo (Gordo) eram bons
de bola. Thomaz era atacante. Ronaldo um excelente goleiro. Seu Moreira e d.
Artumira tinha um filho de nossa idade, ou menos. Jairo. Fazia parte dos times
de vários esportes.
Na
esquina com uma travessa pequena, da qual não lembro o nome, morava um Marinho,
que deve ser tio do atual prefeito. Dois filhos: Danilo e Fernando. Mais novos
do que nós e posteriormente agregados. Do outro lado da travessa ficava a
residência do dr. Lima Coutinho. Muitos filhos e verdadeira riqueza para a
molecada. Um campo de futebol no quintal. Da minha convivência, somente o
Helder (Tibinha) o caçula. Os outros eram mais velhos. Jairo, grande jogador de
bola, Marco Elísio, (Mingue) também atacante e Juarez (Xeca) goleiro. Ainda
Evandro (Pança ) Romulo e Heleno. Já estudavam fora.
Mais
pra frente, morava mais um Marinho. Se não me trai a memória, tinha o nome de
Derrossi . Tinha um filho de nossa idade. Não me lembro do nome. Sei que ficou
em casa de castigo, por seis meses vestindo saia. Era "encapetado". A
saia o impedia de sair de casa. Se saísse, vexame total. Naquele tempo não
tinha " bullying". Gozação mesmo.
No
fim da rua, no prédio do banco Comércio Indústria, esquina de Silva Jardim,
moravam os Myrra. Ronaldo, Fernando e Roberto. Ítalo era mais velho do que nós
e Carlos ainda criança. Ainda tinha um primo deles de nome Alberto. Filhos para
todas as idades. Ronaldo e o primo foram colegas de meu irmão Lafaiete,
Fernando, de meu irmão Antônio de Pádua e Roberto, meu colega.
A
rua recebia agregados. Clenio, filho de Seu Ary Coutinho era muito educado.
Excelente jogador de futebol. O Cabrito, do qual ninguém se lembra do nome,
morava na casa que abrigou o Jardim de Infância "Ana Cintra". Tinha
um irmão bem mais velho, de apelido "Barbatana". Duas irmãs que
jogavam voleibol: Iris e Isis. Vieram para Belo Horizonte e nunca mais tive
notícia. Fiquei sem saber o nome do Cabrito" . Da rua Direita, um pouco
mais distante, vinham os dois filhos homens do "Neca Fiscal", Roberto
e Otto Os dois foram meus colegas. Otto era um atleta nato. De uma educação
ímpar.
Ainda
da rua Direita vinha o Toti, filho de um Penido que cuidava do Horto Florestal.
Magro e gozador. Engravidou uma namorada e dela teve um filho. Mudaram da
cidade. Depois de sua saída só o vi mais uma vez. Não se casou com a itaunense.
Preferiu uma japonesa.
Da
rua Capitão Vicente vinha ainda o Rubens Machado, filho do major Rui. Um dos
melhores amigos que tive. Morreu triste e desgostoso da vida em Mateus Leme.
Para
terminar, lembro-me dos dois filhos de um juiz grande, gordo e prepotente.
Tinha sobrenome Rios. Dois filhos grandes e gordos, coisa rara naqueles tempos.
Antônio e Fernando. Rapidamente apelidados de tubarão e baleia. Moleirões. A
gordura atrapalhava.
Descrita
a "patota", cabe lembrar que a Arthur Bernardes era o local de
reunião. “Bente Altas” na rua, peladas na casa do dr. Lima Coutinho e na quadra
da Escola Normal. Basquetebol sob o comando de "Neca Fiscal" e
voleibol por conta dos dentistas José Diniz e Ivan Perillo.
Menos
para os homens e mais para as moças. À noite, sono dos justos. Éramos felizes e
não sabíamos.
Uma nota:
dei uma surra no filho do juiz de direito. No Fernando. O magistrado foi até a casa
de meus pais me prender. Naquele tempo não se usava apreender. A molecada que
se reunia na rua Arthur Bernardes ajuntou-se e foi em comitiva na casa do juiz
grandalhão. Narrativa correta do acontecido, restaurando a verdade dos fatos.
Em “juridiquês”, restou provado que o
Fernando fez por merecer. Graças a turma, não fui colocado sob custodia do
Juizado de Menores. Não morávamos na Arthur Bernardes. Éramos agregados da rua
Cassiano Dornas.
*Urtigão
(desde 1943) é pseudônimo de José Silvério Vasconcelos Miranda, que viveu em
Itaúna nas décadas de 50 e 60. Causo verídico enviado especialmente para o blog
Itaúna Décadas em 31/05/2017.