segunda-feira, maio 22, 2017

ITAÚNA: MÁQUINA VOADORA

Ademar Pereira de Barros foi um dos políticos mais influentes do Brasil, a partir de 1930. Médico, poliglota e filho de pais ricos e influentes, Ademar era influente em São Paulo e fora de seu Estado. Influente, folclórico, com fama de corrupto. Dizem que a ele pertence o "slogan: rouba, mas faz."

Homem polêmico, de muitas realizações e muitas histórias. Cassado três vezes. A última em 1966, pelos militares da Revolução de 1964, movimento que ele apoiou.
Foi duas vezes candidato a presidente da República. Na eleição de Juscelino, ficou em terceiro lugar. Novamente candidato em 1960, em disputa contra Jânio Quadros e Henrique Teixeira Lott, ficou novamente na terceira posição.

Era um homem arrojado. Entre outras habilidades, era também aviador. Na sua campanha em sessenta, Ademar de Barros visitou Itaúna a bordo de um helicóptero. O aparelho baixou no campo de futebol do Ginásio Sant'Ana. Num dia de semana, por volta de duas horas da tarde.

Um alvoroço na cidade. Gente vindo de toda parte, correndo aos magotes para ver de perto a novidade. Se nem avião "teco teco" aparecia em Itaúna, helicóptero era mais novidade ainda. Juntou gente de toda parte, inclusive eu, que nunca tinha visto o tal aparelho na vida. Coisa rara. Oportunidade única de observar de perto a tal máquina voadora.

Ninguém se preocupava com o candidato. Um homem grande e volumoso, de bochechas rosadas. Bonachão, com ampla barriga e calças de linho branco sustentadas por cinto e suspensório.

Fez um rápido discurso, distribuiu apertos de mão e "santinhos" de campanha. O povo admirava o helicóptero. Amontoava ao seu redor, extasiado com a maravilha. Visita rápida. Em pouco tempo o piloto e os assessores do político pediam aos embasbacados itaunenses para se afastarem da aeronave que ia levantar voo. Com muito custo o povaréu atendeu o pedido.

Motor ligado e a enorme hélice girando cada vez mais forte. O campo de futebol do Ginásio não tinha grama. Chão de terra batida. O rotor da geringonça espalhou poeira e pedrinhas a mais não poder. Um bando de gente com os olhos e as roupas cheias de pó. Um outro alvoroço. E lá se foi o candidato a buscar outros votos. Para os que presenciaram a cena, apesar da poeira e os ciscos nos olhos, valeu a pena. Para o candidato, nem tanto. Teve magros votos na terra da Pedra Negra.

Em tempo: Ademar Pereira de Barros tinha um colega de Escola de Medicina em Itaúna. O doutor Oliveiros Rodrigues, natural de Itaguara foi colega do paulista no Rio de Janeiro. Quanto a isso, posso afirmar com toda certeza. Na mesa de trabalho do dr. Oliveiros, tinha um quadro de formatura. Entre os médicos, estava Ademar.



*Urtigão (desde 1943) é pseudônimo de José Silvério Vasconcelos Miranda, que viveu em Itaúna nas décadas de 50 e 60. Causo verídico enviado especialmente para o blog Itaúna Décadas em 10/05/2017. 

Organização: Charles Aquino

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