quarta-feira, maio 31, 2017

O MAGO DAS LENTES

ADILSON NOGUEIRA

Primeiro surgiu Louis Daguerre, depois o mundo teve Niépce e Fox Talbot, em meados do século dezenove. Itaúna foi povoada por diversos deles e já existe um interessante estudo sobre os fotógrafos itaunenses ao longo dos tempos (Abel Alexander – argentino). Recordo-me do Benevides Garcia, do Osvaldo e sua Kombi azul e do Pedro. A França deu ao mundo Daguerre; Itaúna oferece hoje Daniel Henrique (hors concours) ... Assinalo também Márcio Carvalho... e diversos outros dignos de nota na contemporaneidade.

Contudo, feitas as devidas reverências a quem de direito, discorro estas linhas sobre um outro fotógrafo. Eu o chamo de “O Mago das Lentes”. Na tardinha deste dia, eu o surpreendi – na saída do meu trabalho – e pude deleitar-me com a cena do artista em plena execução de sua obra: lá estava ele em passos lépidos – armado de sua câmera- correndo atrás de uma cena a ser registrada. Lá no horizonte, a imagem de uma revoada de pássaros rumo ao crepúsculo.

Itaúna é celeiro das artes. Itaúna tem em seu solo, o húmus fertilizador das artes – umedecido pelas águas calmas do rio São João; donde as musas (travestidas de garças) inspiram e fazem brotar artistas das mais variadas nuances. Humana e pitoresca – como afirmou Pancrácio Fidélis. Pitoresca, artística, bucólica, bela, encantadora... pelas lentes da máquina fotográfica de Adilson Nogueira.

Esse moço – pobre moço – de tantas artes e arteiro também, vem se revelando o guardião do tempo presente. Adilson fotografa, registra, eterniza, emoldura, dignifica, diviniza o bucólico. Adilson fotografa Itaúna. Adilson nos revela Itaúna. Adilson redescobre a cidade e nos dá de presente.

Aquela paisagem ali está. Em sua normalidade cotidiana. Cenas que ninguém vê, pois todos estão imersos no mundo que criaram.... Estão cegos diante do belo, pois só tem visão para aquilo que o sistema lhes permite enxergar. Adilson não. Dá as costas para o real ou o irreal do mundo acinzentado de nossos atropelos e nos oferece dia a dia a Itaúna a nossa volta.

As pessoas, admiradas, logo elogiam a arte do Mago das Lentes. Entretanto, não conseguem e jamais conseguirão ver com os seus olhos o belo do mundo. É como se vissem a foto e não a enxergassem no mundo.

A arte da fotografia é da mais místicas e mágicas. Foto não faz barulho, não tem som, não tem sabor, não tem cheiro, despidas de movimento..., no entanto, o observador ao mirá-la se lhe é dado a capacidade mística de nela mergulhar e quase num transe sentir tudo aquilo presente na realidade estática da foto. É uma viagem. E como em todas as artes, uma vez feita, já não pertence ao artista e sim àquele que a contemplar.

Não precisa de legenda. Terá um milhão de significados tantos quantos forem os seus observadores. Não sabemos que mística tem Adilson. Se é bruxo, anjo ou feiticeiro ou mago...o que sabemos é do encantamento que derrama em suas fotos. Tivemos a sorte de ser por ele fotografados... no emblemático alto do Rosário...Encantado e mistificado estamos todos. Um salve para o Mago das Lentes.   Um salve para a nossa Itaúna – humana e pitoresca...

 

Texto: Professor Luiz Mascarenhas

Organização: Charles Aquino 

INESQUECÍVEL RUA ARTHUR BERNARDES


Quando criança e já na adolescência, a rua Arthur Bernardes, apesar de pequena, era para nós os jovens, uma das ruas mais importantes da cidade. Começava numa confluência da rua Capitão Vicente com a rua Direita, que perdeu a dignidade ao ser rebatizada de Av. Getúlio Vargas. A rua Direita, creio eu, era a mais comprida do lugar. Cheia de curvas, ia da entrada da cidade ao Mirante. Calçada em parte e de terra em outras. Plana. Um achado para brincar de " pique quadrilha".
A Capitão Vicente era curtinha. Ia da rua direita até a Silva Jardim, a principal de Itaúna. Rua do comércio e morada de algumas famílias mais abastadas. Ficava nela os dois bancos principais, Lavoura de Minas Gerais e Comércio Indústria. Também moravam lá os Cerqueira Lima (exceto José) os Santiago e os Saldanha. Também o Guarani Nogueira e o Avides Alfaiate. Abelardo Lima e seu Bazar, Leão José e sua loja e seu sobrado. Os Perillo. Até hoje abriga o Grande Hotel. Tinha o bar "A Petisqueira " e a casa do Zé do Zimbo. Também morava lá o farmacêutico Ary Coutinho, que tinha farmácia por lá. A farmácia Nogueira viria depois.
Tudo isso para chegar na rua Arthur Bernardes, que terminava na Silva Jardim. Do outro lado tomava o nome de João de Cerqueira Lima. A Escola Normal, depois Colégio Oficial e Normal (já na década de sessenta), ficava na Arthur Bernardes.
Depois da nomeação do dr. Guaracy para diretor da Escola substituindo D. Nair Coutinho, o vetusto educandário adquiriu vida nova. Para nós alunos de lá foi um achado. Em toda as ruas moravam famílias que tinham filhos mais ou menos parelhos na idade conosco, a Arthur Bernardes era o ponto de reunião. Vou tentar enumerar as famílias e os parceiros de jogos e brincadeira.
No começo da via, logo na esquina com a Capitão Vicente, morava Antônio Corradi. Tinha um filho único, de nome Alnio. Era da turma. Quase em frente mora o Manuel da "Custodia". Tinha três filhos de idade próxima a minha. Carlos Alberto, Ricardo (da pinta) e Sérgio.
Sérgio foi meu colega de primário. Não participava das brincadeiras. Os outros dois eram da " patota". O dentista José Diniz tinha um filho, o Zé Leopoldo. Era mais novo. Anos depois foi incorporado. Sua irmã era bonita. Maria Guilhermina. Adulta, passou a pintar quadros. Amiga de minha irmã caçula.
Quase em frente morava o dr. José Campos. Médico, paciente e boa figura. Casado com d.Alba. Tinha dois filhos, Antônio Sérgio e Paulo (Paulista) Guilherme. Meio " azougados ".  Saíram à mãe. Antônio Sérgio era bom de bola. Paulista estava noutra. Boa gente. Amigo de meu irmão mais novo. Duas ou três filhas. Não sei ao certo. Vânia era um pouco mais nova do que eu. Casou-se com o Ronaldo "Petit-pois", ex-colega meu de quarto ginasial. Vânia recebeu um rim do irmão mais novo. Ele sobreviveu e ela morreu. Homenageada com nome de teatro.
Abaixo da casa dos Campos, morava o dr. Thomaz Andrade. Médico, bonitão, parecia com o ator Anselmo Duarte, de grande sucesso no cinema nacional. Vencedor da "Palma de Ouro " de Cannes com o "O pagador de promessas". Dr. Thomaz tinha filhos e filhas. Thomaz Augusto (Dute) e Ronaldo (Gordo) eram bons de bola. Thomaz era atacante. Ronaldo um excelente goleiro. Seu Moreira e d. Artumira tinha um filho de nossa idade, ou menos. Jairo. Fazia parte dos times de vários esportes.
Na esquina com uma travessa pequena, da qual não lembro o nome, morava um Marinho, que deve ser tio do atual prefeito. Dois filhos: Danilo e Fernando. Mais novos do que nós e posteriormente agregados. Do outro lado da travessa ficava a residência do dr. Lima Coutinho. Muitos filhos e verdadeira riqueza para a molecada. Um campo de futebol no quintal. Da minha convivência, somente o Helder (Tibinha) o caçula. Os outros eram mais velhos. Jairo, grande jogador de bola, Marco Elísio, (Mingue) também atacante e Juarez (Xeca) goleiro. Ainda Evandro (Pança ) Romulo e Heleno. Já estudavam fora.
Mais pra frente, morava mais um Marinho. Se não me trai a memória, tinha o nome de Derrossi . Tinha um filho de nossa idade. Não me lembro do nome. Sei que ficou em casa de castigo, por seis meses vestindo saia. Era "encapetado". A saia o impedia de sair de casa. Se saísse, vexame total. Naquele tempo não tinha " bullying". Gozação mesmo.
No fim da rua, no prédio do banco Comércio Indústria, esquina de Silva Jardim, moravam os Myrra. Ronaldo, Fernando e Roberto. Ítalo era mais velho do que nós e Carlos ainda criança. Ainda tinha um primo deles de nome Alberto. Filhos para todas as idades. Ronaldo e o primo foram colegas de meu irmão Lafaiete, Fernando, de meu irmão Antônio de Pádua e Roberto, meu colega.
A rua recebia agregados. Clenio, filho de Seu Ary Coutinho era muito educado. Excelente jogador de futebol. O Cabrito, do qual ninguém se lembra do nome, morava na casa que abrigou o Jardim de Infância "Ana Cintra". Tinha um irmão bem mais velho, de apelido "Barbatana". Duas irmãs que jogavam voleibol: Iris e Isis. Vieram para Belo Horizonte e nunca mais tive notícia. Fiquei sem saber o nome do Cabrito" . Da rua Direita, um pouco mais distante, vinham os dois filhos homens do "Neca Fiscal", Roberto e Otto Os dois foram meus colegas. Otto era um atleta nato. De uma educação ímpar.
Ainda da rua Direita vinha o Toti, filho de um Penido que cuidava do Horto Florestal. Magro e gozador. Engravidou uma namorada e dela teve um filho. Mudaram da cidade. Depois de sua saída só o vi mais uma vez. Não se casou com a itaunense. Preferiu uma japonesa.
Da rua Capitão Vicente vinha ainda o Rubens Machado, filho do major Rui. Um dos melhores amigos que tive. Morreu triste e desgostoso da vida em Mateus Leme.
Para terminar, lembro-me dos dois filhos de um juiz grande, gordo e prepotente. Tinha sobrenome Rios. Dois filhos grandes e gordos, coisa rara naqueles tempos. Antônio e Fernando. Rapidamente apelidados de tubarão e baleia. Moleirões. A gordura atrapalhava.
Descrita a "patota", cabe lembrar que a Arthur Bernardes era o local de reunião. “Bente Altas” na rua, peladas na casa do dr. Lima Coutinho e na quadra da Escola Normal. Basquetebol sob o comando de "Neca Fiscal" e voleibol por conta dos dentistas José Diniz e Ivan Perillo.
Menos para os homens e mais para as moças. À noite, sono dos justos. Éramos felizes e não sabíamos.

Uma nota: dei uma surra no filho do juiz de direito. No Fernando. O magistrado foi até a casa de meus pais me prender. Naquele tempo não se usava apreender. A molecada que se reunia na rua Arthur Bernardes ajuntou-se e foi em comitiva na casa do juiz grandalhão. Narrativa correta do acontecido, restaurando a verdade dos fatos. Em “juridiquês”, restou provado que o Fernando fez por merecer. Graças a turma, não fui colocado sob custodia do Juizado de Menores. Não morávamos na Arthur Bernardes. Éramos agregados da rua Cassiano Dornas.

*Urtigão (desde 1943) é pseudônimo de José Silvério Vasconcelos Miranda, que viveu em Itaúna nas décadas de 50 e 60. Causo verídico enviado especialmente para o blog Itaúna Décadas em 31/05/2017.


CUBÚ & MARANHÃO

Nunca soube direito o nome do Cubú. Lembrei-me dele ao ver uma foto de um time de futebol de Itaúna no blog itaunaemdecadas. Um dos atletas tem o apelido de Cubú. Não sei se o meu antigo colega era filho dele ou neto. As feições são muito parecidas. O meu conhecido, sem dúvida é seu descendente.

 Cubú, para quem não sabe, é uma espécie de pamonha rústica, assada nas brasas do fogão a lenha, enrolada em folha de bananeira. Quando vivi em Itaúna, tinha o nome de "João Deitado".

Saindo das digressões, vamos à história. Maranhão era gerente do Banco do Brasil em Itaúna. Os servidores do banco estatal formavam uma casta a parte. Em todas as cidades. Tinham clube exclusivo e moravam em boas casas. Em Itaúna, praticamente inauguraram o bairro Cerqueira Lima.

Quando chegaram na cidade, o lugar estava loteado. Abrigava somente a Praça de Esportes. Maranhão bebia muito. Pilotava um Chevrolet Bel Air, ano 1951, de cor preta. Em uma noite de farra (nossa), vendeu o carro para o Rameh, no bar do Zé da Ramira.

Cubú ficou sabendo que o Banco do Brasil faria concurso para admitir funcionários. Telefonou para o BB, para obter informações. Foi informado que só poderia obter informações corretas com o gerente - o Maranhão, que não estava disponível. Ligasse em outra hora.

No dia seguinte voltou a ligar para o BB. Ao ser atendido pediu para falar com o Maranhão. Do outro lado da linha, Maranhão lhe respondeu: " é o próprio”; ao que o Cubú rapidamente falou: "Senhor próprio, por favor, me chame o Maranhão!"

Lembro-me que durante anos, ao ouvir na roda de amigos o nome do Maranhão ou a palavra próprio, Cubú ficava uma "arara"



*Urtigão (desde 1943) é pseudônimo de José Silvério Vasconcelos Miranda, que viveu em Itaúna nas décadas de 50 e 60. Causo verídico enviado especialmente para o blog Itaúna Décadas em 30/05/2017.

Acervo: Shorpy / fotografia meramente ilustrativa.

Organização: Charles Aquino

sexta-feira, maio 26, 2017

PASTELEIRO DE ITAÚNA

Conheci o Antônio Silvino só de vista. Eu era criança e cruzava com ele na rua Arthur Bernardes, no açougue do Juca. Cabia a mim, buscar a carne nossa de cada dia. Antônio Silvino comprava sempre músculos. Naqueles idos de 1950 e poucos, tal corte bovino era desprezado. Era uma carne barata e livre de gorduras.

Sempre soube que ele era pasteleiro. Morava bem ao lado do Grupo Escolar "Augusto Gonçalves”, em um sobrado revestido de pó de pedra", em frente a agência dos Correios e Telégrafos (naquele tempo havia telégrafo). Criou, salvo melhor juízo, dois filhos adotivos. Uma garota que pouco conheci e um garoto de nome José Luiz. Antônio Silvino era músico. Tocava banjo e bandolim.

Muitos anos depois, fiquei amigo do Zé Luiz. Coube a ele herdar o ofício paterno. Herdou também a receita. Sobretudo da massa. Era imbatível. Podia-se guardar os pasteis na vitrine do botequim, dois a três dias e ele não endurecia a capa. Sempre macia, com "pururuca" e crocante. Segredo de estado.

Itaunenses de dinheiro, em uma ocasião, levaram Zé Luiz para Brasília. Sócio de uma pastelaria modelar, na rodoviária do Plano Piloto, com caldo de cana e movimento seguro. Durou pouco. Brasília, na minha opinião de quem já morou por lá nos anos setenta era e continua sendo um lugar detestável. Basta dizer que é uma cidade sem esquinas, sem espaço para " prosear".

Zé Luiz também não se adaptou. Em pouco tempo estava de volta a Itaúna. Nunca passou, que eu saiba, a receita da massa para outros.

No tocante ao recheio, sempre de carne, a nossa amizade deu-me a chance de aprende-la e passo a relata-la abaixo:

Receita de carne para pastel do Antônio Silvino
(Quantidade a gosto e de acordo com a necessidade)
“Limpe o músculo bovino de todas as pelancas e tendões e corte em pedaços de 100 gramas; fervente em água, somente com sal sem cozinhar; deixe esfriar e depois de frio, retire todas as cartilagens com uma boa faca ; depois de bem limpo, moer toda a carne em um moedor, com lamina para carne (naquela época, eram manuais, fabricados em Itaúna); esquente bem a panela de alumínio, coloque o óleo ( uma colher de sopa ) para um quilo de carne; faça um bom tempero com sal, alho, pimenta comari e uma pitada de cominho; coloque o tempero no óleo quente, sem deixar queimar e frite bem a carne até ficar bem sequinha. Pouco óleo é essencial para não encharcar. Acerte o sal na panela. Está pronta a carne para o recheio”.

Zé Luiz fazia toda a massa em segredo. Sua cozinha era no quintal de casa e muitas vezes estive lá. Vi a massa sendo aberta em cilindro manual, muitas vezes. Colocava de "olho " a quantidade igual sobre a massa aberta, em montinhos. Depois cortava os pastéis, também no "olho ", com uma carretilha manual. Fechava os pastéis e decorava as bordas com uma ponta de garfo. Tudo bem artesanal.

Por último: fritava os pastéis em óleo bem quente em fogareiros feitos de latas de óleo de vinte litros. O combustível era serragem de pau, refugo de serrarias e marcenarias. Preço da serragem: 0800. Só dava o trabalho de buscar na fonte.

A nossa amizade era tão sincera que ele me deu de presente um banjo que foi de seu Pai. Estava estragado. Mandei para conserto na Oficina dos Marcato, na Lagoinha/BH. Ficou lindo. Emprestei para uma namorada, minha colega de Faculdade. Por culpa minha, fiquei sem o instrumento. Porém, essa é outra história.



*Urtigão (desde 1943) é pseudônimo de José Silvério Vasconcelos Miranda, que viveu em Itaúna nas décadas de 50 e 60. Causo verídico com a participação do narrador, enviado especialmente para o blog Itaúna Décadas em 22/05/2017. Urtigão também é culinária.

Organização: Charles Aquino



quinta-feira, maio 25, 2017

ESCOLA DE CRIANÇA FELIZ


"ANA CINTRA"
*Vicentina BRANT

Fui aluna da primeira turma do Jardim de Infância Ana Cintra, uma escola de fazer criança feliz...

A diretora da época e primeira delas - Graciana Coura de Miranda - era um amor de pessoa! Graciosa e zelosa com seus alunos, ela era presente e atuante em todas as nossas atividades. As minhas queridas professoras Noêmia Delgado (filha do Sr. Abelardo) e Terezinha Lara eram outros amores de pessoas, às quais sou eternamente grata pelos desafios. O Sr. Jaime, impecável, nos recepcionava todos os dias, com alegria e prontidão. A equipe administrativa garantia o funcionamento perfeito da escola, parecia uma extensão da nossa casa.

Logo nos primeiros dias de aula, ao voltar para casa cantando várias “cantigas de roda”, a minha mãe - saudosa Poetisa Maria Martins Vilaça - percebeu que a filha estava cantando corretamente e bem afinada, e se encantou! Sabe-se como são as mães: encantam-se com os seus filhos. Muito breve, ela soube que estrearia na ZYZ4 -  Rádio Clube de Itaúna, o Programa “Garotas em Desfile”, tendo como produtor o grandioso (e agora saudoso) Cosme Silva. Foi quando então, aos meus 05 anos de idade, ela inscreveu-me para a primeira apresentação de estreia desse Programa.

Lembro-me que, no primeiro ano no Jardim, ganhei lá numa rifa, uma linda boneca da Estrela, oferecida pela loja “A Princesinha”.  Dona Graciana, carinhosamente, sugeriu fazer o batizado. Pela equipe foi escolhido o padre e por mim, os 04 padrinhos (batismo, representação e consagração). A organização da festa foi por conta da “vovó da boneca” (minha mãe, na época com 21 anos de idade) que soube cuidar de tudo com primazia e muito amor! Tenho um grande sonho de descobrir e rever o padre e essas minhas comadres/compadre, rsrs...

No Jardim nenhum evento, datas nobres e comemorações oficiais, passava despercebido aos olhos de D. Graciana. Tudo era motivo de comemoração a rigor, ora na Escola, ora no Automóvel Clube. Festas tão elegantes quanto ela e a sua equipe. A presença das famílias era um critério. A boneca recebeu o nome de Elizabeth, nome com o qual eu seria registrada. Porém, a avó materna pediu à sua filha (minha mãe) que meu nome fosse Vicentina, no que foi prontamente atendida.

Acredito que D. Graciana, com a sua sabedoria e expertise na educação e no estreito relacionamento com as famílias e o Município, foi capaz de formar bons frutos para o país e o mundo.



*Vicentina Brant estudou no Jardim de Infância Ana Cintra, nos anos de 1956 e 1957. Trabalhou na CFLMG e depois foi transferida para a CEMIG, onde trabalhou no Serviço Social até aposentar-se por tempo de serviço. Não teve a oportunidade de prosseguir na música, mas nunca a abandonou. Cantou por todas as escolas que passou e entre amigos da música.
Para a sua mãe, sempre cantou músicas de recordações dela e de ambas. Era uma questão de honra, pelo carinho e apreço de uma para com a outra, afagando assim, o sonho de cantar... Sonho que foi realizado com a gravação do CD: “Que Bem me Faz - Um sonho de menina”, lançado na Matriz de Itaúna em 15/09/2016, à véspera do aniversário desta Cidade.

Fez na UFMG um ano e meio de Canto e hoje faz aulas com Eladio Pérez, profissional do Canto, um talento paraguaio, de 90 anos de idade. Nos ensaios, gravações, apresentações e no violão, está sob a maestria do professor, compositor, instrumentista e criador do Grupo “Quinto do Choro”, André Oliveira.

Organização: Charles Aquino

JOSÉ LUIZ GONÇALVES GUIMARÃES

          
Notável professor e brilhante Advogado itaunense

Nascido em Itaúna a 26 de abril de 1920, filho de José Lima Guimarães e de dª Isaura Gonçalves Guimarães, tem no sangue a herança lusitana da cidadela onde nasceu Portugal (Guimarães), caldeado nas paragens mineiras de seu ilustre parente escritor Guimarães Rosa, das bandas de Cordisburgo. Também a herança dos barranqueiros do Douro, lá do Porto, em Penafiel, de onde vieram os Souzas Moreiras que encontraram os Gonçalves Cançado, das bandas da Velha Serrana, onde se forjou, na têmpera das lutas forenses e no choque das pelejas políticas, o valoroso líder dr. José Gonçalves de Souza, seu avô, dos mais notáveis desta família que comandou, por anos e anos, os destinos de Pitangui e Itaúna.

         Casou-se com a escritora, jornalista e poeta Carmen Schneider Guimarães e o casal tem cinco filhos. Completou o curso primário nos grupos escolares “dr. Augusto Gonçalves” de Itaúna e “Francisco Botelho” de Pitangui. No secundário, passou pelos colégios Arnaldo e Arquidiocesano, este de Ouro Preto, no qual foi um dos fundadores do Grêmio “Tristão de Athayde”, seu primeiro secretário e orador. Terminou o ginásio no Colégio Santo Agostinho, em 1 940, como orador da turma. Durante dois anos, esteve no curso prejurídico da Faculdade de Direito da UFMG, tendo sido aprovado no vestibular. Em 1947, bacharelou-se na mesma Faculdade como um de seus melhores alunos.

         Em 1941, ingressou no CPOR de onde saiu em 1943 como Aspirante a Oficial do Exército Brasileiro. Foi incorporado ao 3.º Batalhão de Caçadores do 1.º Exército, em Vila Velha, aí conquistou sua esposa em terras capixabas. Cumpriu missões de vigilância no litoral brasileiro, durante a 2.ª Grande Guerra Mundial, pelo que foi considerado ex-combatente pelo Ministério do Exército. Em 1947 foi promovido a 2.º Tenente da Arma de Infantaria.

         Em 1942, com o diploma de Proficiência em Língua Inglesa, obtido com distinção, conferido após a provação no curso de Literatura Inglesa, tornou-se professor dessa língua em colégios de Belo Horizonte e, posteriormente, de Itaúna. Aqui, por concurso, ingressou no magistério do Colégio Estadual, tendo lecionado nos cursos ginasial e científico. Lecionou Português, História Geral no Colégio Santana. Em sua Academia de Comércio, Prática Jurídico-Comercial e Economia Política.

         Fez na Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da UFMG o curso de Línguas Anglo-Saxônicas. Ele tem sido, ao longo de sua vida, notável advogado e professor. Foi, no exercício da profissão liberal, consultor jurídico das Companhias Tecidos Santanense e Industrial Itaunense, bem como da Prefeitura de Itaúna, nos mandatos dos prefeitos Vítor Gonçalves, Milton Penido, Jadir Marinho e Antônio Dornas. Prestou relevantes serviços à Fundição Corradi e à extinta Aços Laminados-Alaíta. Consultor-Chefe do Serviço Jurídico do Banco do Estado de Minas Gerais, e posteriormente, Chefe da Consultoria Jurídica da mesma Instituição Financeira até aposentar-se em dezembro de 1996.

         Fundou a Companhia Telefônica de Itaúna e foi seu Diretor Presidente de 1956 a 1975, tendo exercido o cargo de Diretor Secretário da Empresa Telecomunicações do Centro do Brasil – TELECENTRO.

         Com a criação da Universidade de Itaúna, nela prestou os mais valiosos serviços, tendo sido o grande articulador para a compra do primeiro prédio e seu terreno, onde se instalou a Faculdade de Direito. Trabalhou, no início, dois anos em cargos executivos sem receber qualquer remuneração. Vice-diretor da Faculdade de Direito, professor titular da Cadeira de Direito Penal, Diretor da Faculdade em dois períodos, por 13 anos. Conseqüentemente membro efetivo do Conselho Universitário da Universidade.

         Participou da vida pública municipal, integrando os quadros do PSD e da ARENA. Disputou em 1966 uma cadeira de deputado só não se elegendo porque outro candidato local, seu parente, de outro escritório de advocacia, participou da disputa, não se elegendo, mas tirando-lhe preciosos votos. Tornou-se Suplente de Deputado Estadual. Teve ativa participação em todas as atividades comunitárias e sociais de Itaúna.

Nomeado Diretor do Ensino Superior da Secretaria de Educação do Estado de Minas Gerais, integrou o Grupo de Trabalho para a elaboração do Plano Mineiro de Educação e, por ordem do Secretário, Dr. Eugênio Klein Dutra, elaborou o Projeto de Fundação da Universidade Estadual de Minas Gerais. Foi Assessor Jurídico da mesma Secretaria, em 1979.

Conselheiro Auxiliar da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção de Minas Gerais, participou da Comissão de Estudos do Anteprojeto do Código Penal, na parte relativa à Liberdade Condicional e Unificação da Pena.

         É oportuno salientar que de outubro de 1949 a dezembro de 1975, com escritório em Itaúna, exerceu a advocacia nas Comarcas de Itaúna, Divinópolis, Belo Horizonte, Bom Despacho, Carmo do Cajuru, Itaguara, Cláudio, Formiga, Lavras, Oliveira, Santo Antônio do Monte, Mateus Leme, Betim, Pará de Minas, Abaeté, Dores do Indaiá, Passos, Patos de Minas, Pitangui, Lagoa da Prata e outras comarcas do interior do Estado.

 De 1975 a 1997, como advogado de causas em Belo Horizonte, São Paulo, Campinas, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Santos, Salvador e outras comarcas a serviço do Banco de Estado de Minas Gerais. Por contratos particulares, em Montes Claros, Sete Lagoas, Nanuque, Governador Valadares, Teófilo Otoni e outras.

         Defendeu perante a Assembléia Legislativa de Minas Gerais, com grande repercussão política, o Deputado Jorge Orlando Flores Carone, em processo de cassação de mandato, logrando pleno êxito.

         Em 1991, recebeu, como ato de inteira justiça, o título de “Professor Emérito” da Faculdade de Direito da Universidade de Itaúna, em sessão solene, pela distinção e proficiência com que sempre se houve no exercício do Magistério Superior. Dr. José Luiz Gonçalves Guimarães não se cansa de repetir que este honroso título é o de que mais se orgulha, dentre todos que logrou com seu trabalho.

         Este brilhante orador, principalmente no júri popular e nas tribunas políticas é um colecionador de dezenas de certificados e diplomas. Jornalista, enriqueceu os jornais itaunenses com saborosas e notáveis crônicas. É autor de vários contos publicados em revistas culturais. Notável seu livro “Canto da Amazônia – Vida e Morte da Floresta”, lançado com enorme sucesso na Academia Mineira de Letras. Em fase de revisão há um livro “14 contos”; outro, “Poesia” e no prelo: “A Lei do Transplante e o Avanço da Ciência e da Medicina”.

         Esta, em linhas gerais, de forma sucinta, a vida do ilustre itaunense, notável professor e brilhante advogado!



Texto: Guaracy de Castro NOGUEIRA (In Memoriam)
Pesquisa e Organização: Charles Aquino
Acervo Fotográfico: Escola Estadual Ana Cintra.

quarta-feira, maio 24, 2017

FESTA DE ARROMBA NA CARVOEIRA


Em 1963, o ambiente político era bastante tumultuado. Falava-se incessantemente em uma reforma agrária. Os proprietários de terra se precaviam da forma que podiam. Na maioria das vezes, se tinham glebas grandes e improdutivas, apressavam em dividi-los entre os herdeiros. Em pedaços menores, ficariam fora dos parâmetros do governo para divisão.

Sadi Nogueira Machado naquela época, partilhou suas terras entre os filhos. Eram seis, incluindo Rameh. Terras de Cerrado, à época, sem muita serventia para cultivo. A cultura em tais terrenos só iria aparecer nas últimas décadas do século. Crédito para a Embrapa que com suas pesquisas aprendeu a fazer do Cerrado uma das terras mais produtivas do Brasil.

Rameh, tendo em vista a dificuldade de cultivo, resolveu explorar a sua parte cozinhando carvão. Naqueles tempos, Itaúna era grande produtora de ferro gusa e o carvão vegetal o combustível para tocar os altos-fornos. Montou uma carvoeira. Coisa bem feita, com fornos "iglu". Montou também uma venda em suas terras e contratou pessoal para a sua carvoeira. Negócio de preceito, com disposição para produzir muito carvão e bom faturamento. Sabia viver e sabia gastar. Era forte, divertido e trabalhador. Estava entusiasmado.

Quando tudo já estava em ponto de bala, aproveitou uma estada minha na cidade e levou-me de jipe para ver a sua obra. Tencionava dar a partida nos fornos em grande estilo. Gostei do que vi e mais ainda da venda. Sobre o balcão, um ancorote de madeira para vinte litros de boa pinga. Segundo ele, nos dias de pagamento da peãozada, ao entregar o dinheiro, daria a cada um uma boa talagada de cachaça e brindava com cada um deles.

Na sua teoria de administrar recursos humanos, seria um bom incentivo. O duro seria brindar com quinze, um gole a cada um pagamento. No fechar das contas, teria de beber quinze doses da "branquinha" a cada sábado. Pediu-me auxílio para a inauguração. Ele gostava de farras e eu também.

As bebidas da época eram cuba libre ( run com coca-cola e limão) hi-fi ( vodka com crush) e gin tônica ( gin com água tônica).  Na cidade, compramos as bebidas no depósito dos irmãos Hélio e Jairo Batista e encomendamos no Bar e Restaurante "Automóvel Clube" do Zé da Ramira, as carnes já temperadas para o churrasco.

Dia de sábado pela manhã , rumamos para a carvoeira que ficava na estrada para Divinópolis. Rameh queria festejar a sua conquista com estilo. Na festa, nada de pinga, coisa corriqueira. Bebidas finas e carne de primeira. Só se esqueceu de uma coisa. Gente acostumada com cachaça, na quarta ou quinta dose já não quer mais.

A pinga revira o estômago e faz o bebedor moderar no copo. Bebidas misturadas com refrigerante, acomodam mais fácil no " bucho". Quando o indivíduo se dá conta, já está "ferrado".

Para melhorar a festa, contratou um sanfoneiro. Segundo ele, o instrumentista era " velhaco nos dedos". Festa das melhores. Não deu outra. A "homada " bebeu a mais não poder. Em pouco tempo, gente escornada, e outros atropelos. Três peões obraram e urinaram nas calças. Dois deles deram para valentões e passaram a riscar o chão com as facas. Entrevero dos bravos, difícil de apartar.

Resultado: passamos o resto do dia a "baldear " homens bêbados, apagados e alguns cagados pra casa. Os brigões tiveram de ser levados em viagens separadas. O jipe ficou empesteado com a as calças borradas.  Segunda-feira, dia de começar a produção, ninguém apareceu no serviço. Ressacas das bravas, que só passou na terça.

Rameh ficou desolado. Prometeu nunca mais dar festa para os carvoeiros. Somente uma lambada de pinga no sábado. Bebida fina, nunca mais.

*Urtigão (desde 1943) é pseudônimo de José Silvério Vasconcelos Miranda, que viveu em Itaúna nas décadas de 50 e 60. Causo verídico com a participação do narrador, enviado especialmente para o blog Itaúna Décadas em 22/05/2017.

Acervo: Shorpy

Organização: Charles Aquino

terça-feira, maio 23, 2017

HISTÓRIA ODONTOLOGIA ITAÚNA

A nossa cidade não poderia fugir ao processo evolutivo que caracteriza a história do exercício das chamadas profissões, nunca correspondeu aos princípios rígidos de postulados ou documentações científicas, senão à manifestação interior do princípio de solidariedade humana guiado por uma espécie de intuição, quando não desbancava para exploração dos menos cultos e incautos.

Existem centenas de municípios brasileiros onde assistência dentária é ainda prestada por práticos licenciados — direito que outrora delegava à Saúde Pública — em vista de pequeno número de cirurgiões dentistas que se diplomavam e que somente se identificavam com as grandes cidades. Houve época em Itaúna, quando da sua elevação a município, que só exerciam suas atividades os práticos licenciados, homens que deixaram para a posteridade filhos não menos dignos de seus pais. Então é por aqui que inicio a “História da Odontologia” em Itaúna.

Viajando pelos caminhos que nos conduz aos primeiros vagidos de uma Itaúna autônoma, vamos encontrar FRANCISCO ASSUNÇÃO DRUMOND, trabalhando na Rua Direita onde reside atualmente o senhor J. Pereira.

Em seguida vamos encontrar o Sr. ANTÔNIO JOSE DOS SANTOS, conhecido na intimidade por Tonho do Bá, tendo praticado com o antecessor com quem trabalhou alguns anos. Progenitor do Sr. Talles, José, Augusto, Elvira, Dorvina, Maria Santos.

Mais ou menos na mesma ocasião trabalhava também o Sr. MIGUEL ALVES DE SOUZA, no bairro do Serrado, fazendo dentaduras. Progenitor dos Srs. Augusto, Alfredo, Elpídio, Dui Nicosina e Maria Alves.

Em seguida vamos encontrar o PÉRICLES GOMIDE, que aqui iniciou os seus trabalhos, tendo praticado inicialmente com o Sr. Antônio José dos Santos e Miguel Alves, em viagens que os mesmos realizavam com percursos grandes. Nestas viagens trabalhou durante nove meses em Araxá, quando regressou, em 1902 instalou definitivamente o seu gabinete dentário em Itaúna. Desde este período até o ano de 1944, trabalhou praticando a clínica e prótese, atendendo sempre na atual residência à Rua Antônio de Matos. Foi ajudante de Promotor de Justiça do termo de Itaúna, até ser instalada a Comarca. Ingressou como agente do Correio no ano de 1910 permanecendo até 1946, quando foi aposentado.

Foi também diretor de diversas corporações musicais que existiram naquela época, professor de música, compositor, tendo sido presidente do “Teatro Mário Matos” quando foi levada a revista “A Cigarra do Sertão”. Durante muitos anos foi ensaiador de peças teatrais. Compôs os seguintes dobrados: Dengoso, Gafanhoto, Itaúna. E as seguintes valsas: Eponina, 23 de Agosto, Sorriso, muito popular em Itaúna.

Casado com D. Eponina Nogueira Gomide, tendo os seguintes filhos: Orlando Gomide, Sinésio, Sebastião, Péricles, Elza, Maria do Carmo e José.  Tem em sua casa um diploma da Universidade Escolar Internacional, concedendo o direito de trabalhar como dentista, datada no Rio de Janeiro em 1º de março de 1913. Posteriormente foi concedida uma licença pelo Departamento Estadual de Saúde como prático licenciado.

Encontramos em seguida o Sr. EDUARDO CAMPOS que aqui se estabeleceu nos primórdios do município, onde se casou com Dona Leaudujour Nogueira. Foi um dos oradores mais fluentes por ocasião da instalação do município. Morou algum tempo na atual residência de propriedade do Sr. Leão José. Foi também secretário da Câmara Municipal. Transferiu residência para Belo Horizonte, posteriormente, para Juiz de Fora onde oficializou os seus conhecimentos no Grambery.   Atualmente reside no Rio de Janeiro e é inspetor do Ensino escolar e ainda trabalha como dentista.

LASDILAU GUSTAVO DE MATOS, que aqui instalou gabinete depois de ter praticado com Eduardo Campos. Trabalhava no Serrado, em residência fronteiriça ao Dr. Augusto Gonçalves. Posteriormente transferiu sua residência para onde é atualmente propriedade do Sr. José Rosa. Seu irmão Sílvio de Matos ainda mora em Itaúna, sendo aposentado da Prefeitura Municipal.

ETELBERTO FRANZEM DE LIMA, cirurgião-dentista diplomado em Belo Horizonte que aqui esteve algum tempo, transferindo para Belo Horizonte onde se diplomou se diplomou em advocacia e ali fixando residência.

JOSÉ ALVES DE SOUZA, que como prático licenciado aqui trabalhou durante muitos anos, sendo filho de Sr. Miguel Alves. Figura estimada por todos os itaunenses pelo seu bom humor e honestidade, teve a vida roubada tragicamente no desempenho das suas atividades como dentista, causando na ocasião viva consternação na família itaunense. Deixou viúva Dona Biscota e dois filhos, Célio e Lucíola esposa do sr. Dalmo Paula, fiscal da Prefeitura.

AUGUSTO ALVES DE SOUZA, filho do Sr. Miguel Alves, também dentista licenciado, que até hoje dedica suas atividades como dentista licenciado, realizando unicamente trabalhos de prótese. É o nosso muito conhecido e estimado Dui, tradicionalmente falado pelas suas célebres pescadas e sempre bem-humoradas anedotas. Casado com Dona Elisa Nogueira, tendo os seguintes filhos: Dirceu, farmacêutico prático, José que tem se dedicado à prótese dentária, Marília, Leite, Messe, sendo todos casados; e Mário que atualmente cursa o terceiro ano científico do Colégio Marconi.

JOÃO GABRIEL trabalhou em Itaúna, oficializando, posteriormente seus conhecimentos na Escola de Odontologia de Alfenas. Regressando a Itaúna aqui trabalhou durante muitos anos.

JOÃO BELISÁRIO VIANA, VITOR DRUMOND MANOEL GUIMARÃES, aqui em Itaúna trabalharam durante anos, dando os melhores dos seus esforços para as atividades profissionais, deixando um largo círculo de relações na família itaunense. Os dois primeiros residem atualmente em Belo Horizonte, sendo que o Sr. João Belizário Viana, é o chefe dos serviços de prótese no Ambulatório Central do SESI. Manuel Guimarães transferiu residência para Belo Horizonte, voltando em 1947 para Itaúna, aqui residindo até 1940, quando transferiu para Itabira. Deixou um vasto círculo de relações, pelas suas qualidades morais e profissionais.

Dr. William Leão: Cirurgião-Dentista. Oficial da Reserva e Jornalista




REFERÊNCIAS:
Texto: Prof. William Leão (In Memoriam)
Revista Acaiaca: História da Odontologia no município de Itaúna. p. 146,147,148,149. Ano: 1954, Org. Celso Brant, Belo Horizonte/MG.
Pesquisa: Charles Aquino,
Acervo: Shorpy
Organização: Charles Aquino


“ANA CINTRA”: GANGORRAS TOCAVAM O CÉU


*Angélica de AQUINO

Estudei no Ana Cintra quando ainda era na Getúlio Vargas. Um casarão enorme, algumas salas pareciam ser num porão. Me lembro do pátio de recreio onde tinham gangorras, que pareciam tão altas que se tinha a impressão de que quando balançávamos íamos tocar o céu. Eram feitas de corda de bacalhau bem grossas pra não correrem o risco de arrebentarem.

Não existia "massinha de modelar “   era argila mesmo e criávamos os bichinhos, as casinhas, etc, e deixávamos secar. Só depois é que pintávamos usando tintas de uma aquarela. Pra mim era a melhor parte. A diretora era D.Graciana Coura de Miranda e sua filha Maria do Carmo era minha professora.

A Prof. Angélica de Aquino estudou no Jardim de Infância Ana Cintra no período de 1968.
Acervo: Palhacinhos na Gangorra, Portinari - 1957.


Organização: Charles Aquino

MEU JARDIM DE INFÂNCIA “ANA CINTRA”

“Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida
Da minha infância querida
Que os anos não trazem, mais!”
Casimiro de Abreu


Prof. Luiz MASCARENHAS*

         Das brumas de minhas memórias me vem à mente a rua XV de novembro. Ali eu residi em um sobrado (que ainda existe) e que na parte de baixo funcionava o bar do seu Olavo Mandabrasa.  Bem próximo, a Praça “Pe. João Ferreira”; que foi a pracinha da minha infância...de correr, de rolar na grama, de jogar bola, de jogar “amarelinha”, de soltar pipa, de brincar de pique –esconde e de aprender a andar de bicicleta com meu pai.

Enfim, uma infância feliz (arteira e suja); solto na rua como tantos outros meninos da minha idade (uma pena que a infância de hoje não sabe mais o que é isto – logicamente todo o contexto social era bem outro...o perigo que havia era quebrar um braço ou coisas assim...porque, por exemplo, automóvel era de vez em quando que passava algum...). O seu Natalino, seu Heleno Amaral, seu Bráz, seu João “Ruela”, as Corradi (dona Euláia...) eram vizinhos que ainda tenho vaga lembrança.

         Pelo ano de 1978 eu estudava no JARDIM DE INFÂNCIA “ANA CINTRA”, que ficava na rua Professor Francisco Santiago, em um velho e elegante casarão neogótico (um dos tantos que salpicavam pela cidade naquele tempo e que também já virou pó). 

      Depois da escola, serviu o local para a Delegacia de Polícia. Anos mais tarde, na adolescência cheguei a frequentar novamente o velho casarão; pois foi um “barzinho” legal e agitado.

         Para ir para o “Ana Cintra”, minha mãe me levava todos os dias a pé.  Havia um pequeno e gracioso portão de ferro, com duas abas e uma escadaria que levava a um alpendre de onde a diretora costumava falar aos alunos perfilados em alguma data cívica. Eu estudava em uma das salas no grande porão. O piso de “vermelhão” sempre muito bem encerado e toda a escola muito limpa.

         Minha primeira professora foi a dona Ignês Nogueira (viúva do Roque Nogueira; da Casa Nogueirinha – aliás o Roque Júnior foi meu colega de sala, anos depois no Colégio Sant’ana, quando ali fiz parte do antigo curso “científico” ou o atual segundo grau.

         Tudo é muito grande aos olhos de uma criança e assim eu percebia aquele espaçoso e vetusto casarão...Um largo pátio na frente, onde havia uma frondosa mangueira e logo abaixo os costumeiros brinquedos...a caixa de areia, o escorregador, os balanços e etc...

         Gostava muito do cheiro dos “trabalhinhos”, porque eram rodados no mimeógrafo a álcool e eles permaneciam com esse cheiro misturado com uma tinta azulada...Nunca foi muito bom em trabalhos manuais. Mas a professora- que no meu tempo eram “donas” pois as “tias” vieram muito depois; sempre colocava um pequeno carimbo de uma carinha sorridente e escrevia que estava tudo muito lindo (eu mesmo achava tudo muito mal feito...).

         Também recordo da fila para o lavatório, com a saboneteira e a toalha nos braços...E gostava muito de brincar com as massinhas de moldar ou aquelas peças de madeira com as quais construía pequenas vilas e colocava a imaginação para funcionar; porque diferente de hoje, era preciso inventar e criar os brinquedos e diversões.

         Certa manhã, para minha surpresa, a dona Ignês não entrou na sala. Entrou uma outra “dona”...estranha para mim. Não tive dúvidas!  Eu estava ali sozinho, sem a minha querida professora, à mercê de uma estranha?! O que fazer? Bem, olhei de relance para o pátio e vi o portão aberto...Corri o olho na tal dona e – num ímpeto- dei no pé...Fui dali parar em minha casa! Larguei todo o meu material para trás! Na esquina, aonde hoje existe um grande edifício, ficava um mercadinho; era do seu Carlos.

Pois bem, o seu Carlos me ajudou a atravessar a rua, não me lembro que mentira contei para ele. Ao chegar em casa, portão fechado, gritei por minha mãe... Que brava ela ficou! Trancou a casa rapidamente e voltamos para o Jardim de Infância. Bem, meu plano não era esse...

         Chegando de volta na escola, veio uma das donas dizer para minha mãe que eu não poderia entrar pois estava atrasado! Contudo, dona Déia (minha mamis) informou a dona dizendo que eu já havia ali estado e deixaram-me fugir! Passado o reboliço, naquele dia voltei mais cedo para casa, com minha mãe e em casa...bem...a pontaria dela com o chinelo era tremenda!

         De outra vez, levei para casa um passarinho. Um pardal que havia caído sei lá de onde e estava meio atordoado. Coloquei-o em um saquinho de papel e fui todo feliz para casa, com o meu passarinho.... Entretanto, ele morreu logo depois.... Que decepção. E como eu chorei ao vê-lo morto.... Queria tanto que vivesse novamente e voasse para longe dali...

         Hoje já não mais me comovo com os pássaros mortos. Pena. O tempo me fez chorar por causas tão maiores e a vida menor não me dói mais. Porém tudo é vida. E na verdade, foi a Vida que endureceu meu coração e secou minhas lágrimas para os passarinhos...





*Bacharel em Direito / Licenciado em História pela UNIVERSIDADE DE ITAÚNA   Historiador/ Escritor/ 1º Secretário da ACADEMIA ITAUNENSE DE LETRAS/ Autor de “Crônicas Barranqueiras” e coautor de “Essências” e “Olhares Múltiplos”/ Diretor da E.E. “Prof. Gilka Drumond de Faria”/ Cidadão Honorário de Itaúna Prof. Luiz Mascarenhas estudou no Jardim de Infância Ana Cintra no período de 1978;

Organização: Charles Aquino