Projeto
de Lei 1510/80 - CEP: 35680-177
Denomina
logradouro público: Rua Pe. Ubaldo / Conjunto Habitacional Victor Gonç. De Sousa
PADRE
UBALDO: PASSAGEM EM ITAÚNA
Desde 1933, Padre Ubaldo Anselmo da
Silveira, capelão da Santa Casa “Manoel Gonçalves”, município de Itaúna,
dirigiu com zelo e carinho o serviço espiritual desta capela do Sagrado Coração
de Jesus, povoado de Santanense, até em 1937. Padre Ubaldo, dedicado e bondoso
para com as crianças, procurou organizar com muito êxito a missa dialogada das
crianças.
Em março de 1937, foi nomeado auxiliar do
vigário de Itaúna, o Revmo. Padre Everaldo Molengraaff, o qual logo se interessou
muito por Santanense. Introduziu uma missa aos domingos e organizou o catecismo
para as crianças. Floresceu com muita alegria o catecismo.
Pe. Ubaldo faleceu na cidade de Itaúna,
com 82 anos de idade, no dia 17 de maio de 1951 e foi enterrado no cemitério
central. Em nota, o Pe. José Ferreira Netto registra no livro do tombo da
paróquia — Em substituição ao Revmo. Pe. Ubaldo Anselmo da Silveira, que a mais
de quinze anos vinha sendo capelão da Santa Casa de Itaúna, foi provisionado
para este cargo o Revmo. Pe. Waldemar Antônio de Pádua Teixeira que exercia o
cargo de Vigário dos distritos de Maravilhas e Papagaios, pertencentes a
Pitangui.
PADRE
UBALDO: NOTAS HISTÓRICAS
Padre Ubaldo Anselmo da Silveira foi, sem
dúvida, o maior vulto histórico da localidade ao lado do maestro e notável
compositor, seu contemporâneo, o professor Antônio Batista Gonçalves Sampaio.
Ubaldo nasceu em 21/04/1869, em Piedade do
Paraopeba, e foi batizado na igreja matriz desta mesma localidade em
01/06/1869. Era filho legítimo de Joaquim José da Silveira e Maria Emilia do
Amaral. A avó paterna era Josefa Justa da Silveira, filha de Francisco José da
Silveira Frade e de Ana Rosa de Oliveira.
Francisco tornou-se padre depois de enviuvar-se pela segunda vez (casou-se, em segundas núpcias, com a irmã da sua primeira esposa). Josefa era também a mãe de Pe. Domingos Cândido da Silveira, que se encarregou da formação do sobrinho Ubaldo de teve sobre ele grande influência.
Francisco tornou-se padre depois de enviuvar-se pela segunda vez (casou-se, em segundas núpcias, com a irmã da sua primeira esposa). Josefa era também a mãe de Pe. Domingos Cândido da Silveira, que se encarregou da formação do sobrinho Ubaldo de teve sobre ele grande influência.
O bisavô de Pe. Ubaldo, o Pe. Francisco
José da Silveira Frade, era natural e batizado na freguesia de N. S. da
Conceição de Raposos, do Bispado de Mariana. Francisco era filho legítimo do Capitão
José Bernardo da Silveira Frade e de D. Ignácia Cleta Maciel de São José. Seus
avós paternos eram Matheus da Silveira Frade e Joana Maria Vandergrat, da
freguesia de São Cristóvão, ambos da cidade de Lisboa. Seus avós maternos eram
o Capitão Manuel Nunes Velho, natural da freguesia de São Pedro Fin...(?) de Ferreira, arcebispado de
Braga, e Agostinha Cleta Maciel, natural da freguesia de Raposos,
bispado de Mariana. Agostinha Cleta era filha do Capitão João Álvares (Alves)
Maciel, natural de Portugal, e de Teodora Francisca, parda.
A avó materna de Ubaldo era Anna Gonçalves
Netta. Foram seus padrinhos de batismo: José Baptista Gonçalves Sampaio (o Juca
Baptista, irmão do maestro e compositor Antônio Baptista) e Josefa Justa da
Silveira, avó de Ubaldo. As informações sobre o batizado, o nascimento e a ascendência
foram dadas pelo Pe. Domingos Cândido da Silveira, em 26/09/1888. Diz ele
constarem elas de "assento" que fez em Capela Nova de Betim. Ubaldo
foi crismado em 1870 ou 1871[1].
Seu processo de habilitação como sacerdote iniciou-se em 15/01/1891. Ordenado,
passou a fazer parte da Ordem dos Agostinianos[2].
Seus irmãos eram: Conceição Maria da
Silveira, Joaquim Cândido da Silveira, Ubaldina Nila da Silveira, Anselmo
Silveira, Leão Treze da Silveira (Tenente), Saturno da Silveira e Maria Josefa
da Silveira.
Pe. Ubaldo possuía uma casa em Piedade
onde hoje (2013) é a residência do autor deste Caderno e de sua esposa, Ângela
Maia[3].
Padre Ubaldo – então com 26 anos de idade
– assumiu a paróquia em 1895, sucedendo o Padre José Joaquim de Mello Alvim,
falecido em 23/4/1893. Já nos primeiros dias após sua posse, instituiu o ensino
do catecismo e a seguir, no primeiro domingo de seu exercício como vigário,
durante a missa, falou sobre a devoção ao Sagrado Coração de Jesus e iniciou
uma subscrição para obter recursos para adquirir uma “imagem de vulto” do
Sagrado Coração. O valor necessário foi arrecadado em poucas horas. Continuando
seu trabalho apostólico, organizou o Apostolado da Oração na forma de um grupo
masculino e outro feminino; divergências que surgiram no grupo feminino fez com
que Pe. Ubaldo o unisse ao masculino, “cortando o mal pela raiz”. Organizou
ainda a comunhão na primeira sexta-feira do mês, que passou a ser como “um dia
de festa religiosa na Piedade”, tal era o número de pessoas que iam comungar
neste dia. Para tanto, ele iniciava as confissões na terça-feira precedente e
passava horas no confessionário, até nove horas da noite, para atender, um a
um, uma grande quantidade de fiéis[4].
No mesmo ano em que se tornou vigário,
iniciou também a construção das duas torres da Igreja Matriz, contratando, para
isso, Eduardo Frias de Oliveira, que era natural da cidade de Ouro Fino, José
Bernardes Rodrigues, português que aqui residiu, faleceu e foi sepultado e
alguns portugueses de
Itabira do Campo (atual Itabirito).
Ao assumir o cargo Pe. Ubaldo
encontrou vários problemas e enfrentou dificuldades e opositores, como
infelizmente tem ocorrido com vários de seus sucessores. De temperamento
enérgico e destemido, tomou as providências que julgou necessárias e conseguiu
implantar práticas que pensava ser as corretas. Ele mesmo, em suas
“Reminiscências” diz que “cortou, de raiz, todos os abusos introduzidos e fez
respeitado o templo de Deus. Tal foi então o respeito na casa de Deus que não
se ouvia dentro e nem fora a menor palavra durante os atos religiosos e se
alguém entendesse de saudar “intra
templum” algum conhecido, parente ou amigo, fazia-o apenas com uma simples
inclinação da cabeça. Disse um venerando e experimentado Missionário
Redentorista que em Minas ainda não vira um lugar em que houvesse completo e
absoluto silêncio como na igreja matriz da Piedade”[5].
Padre Ubaldo foi vigário de
Piedade até 1912, período em que fez muitos melhoramentos e em que criou o
Jubileu de N. Sa. da Piedade (1907).
O motivo pelo qual Padre Ubaldo deixou a
paróquia de sua terra natal não é bem claro. De acordo com depoimentos de alguns
moradores antigos, retransmitidos ao autor deste Caderno pelo Sr. Daniel da
Silveira Ataíde, a causa da renúncia ao cargo teria sido uma acusação que lhe
fizeram de envolvimento com uma professora do curso primário da localidade, calúnia
esta que teria lhe causado profundo desgosto e motivado a sua saída da
localidade.
Todavia, outro pode ter sido o motivo: no
último parágrafo do último capítulo que encontramos, o de número XX, Pe. Ubaldo
faz alusão a uma disputa pelo cargo de vigário e se refere a si mesmo como se
falasse de outro, artifício que utilizou em outras passagens, certamente para
manter o anonimato que o pseudônimo “Uasil”, por ele adotado, encobria. Diz ele
no capítulo XX, publicado em 1935: “há vinte e três anos que o vigário
empossado em 1895[6] deixou
aquela freguesia, ambicionada por outro que não logrou possuí-la, como ardente
e apaixonadamente desejava. Altos desígnios de Deus! ”.
De acordo com outra versão, também
provinda do Sr. Daniel Ataíde, o padre que ambicionava a paróquia era o Pe. Xisto
José da Silveira, cujo papel no estabelecimento do Jubileu de N. Sa. da Piedade
já elucidamos no Caderno II. De fato, o então Major Xisto, tendo ficado viúvo
em 1911, ingressou no seminário em Mariana e lá se ordenou padre no dia 10 de Maio de 19 14.
Segundo o Sr. Daniel, o Major Xisto teria comunicado ao Pe. Ubaldo, antes mesmo
de ir para Mariana, sua intenção de tornar-se vigário e teria jogado duro, na
intenção de removê-lo do cargo o quanto antes. Talvez a calúnia acima referida
tenha sido originada do Major Xisto ou de seus amigos ou parentes, hipótese que
não pode ser descartada devido ao fato de que Piedade sempre foi marcada,
infelizmente, por rivalidades, às vezes bem fortes, entre alguns grupos e
famílias – rivalidades que apenas há poucos anos vêm diminuindo. Tendo
conseguido a renúncia de Pe. Ubaldo, o Major e seminarista Xisto conseguiu, por
meio de seus contatos, que fosse indicado para o cargo de vigário de Piedade um
padre de Ouro Preto, o Monsenhor Cândido Veloso, com quem Xisto teria feito um
trato: logo que ele, Xisto, fosse ordenado, Monsenhor Cândido renunciaria ao
cargo e Xisto o assumiria.
Após ordenar-se Xisto tentou ocupar o cargo,
mas o Monsenhor, apoiado pela grande maioria da população, não o deixou. Conforme
informamos no Caderno II, Monsenhor Veloso era pessoa calma, inteligente e
grande protetor dos pobres. Com seu carisma, logo conquistou todos os fiéis.
Xisto, que sempre vivera em Piedade, era voluntarioso, exercera a política com
entusiasmo e, durante sua vida no arraial como farmacêutico, tomara partido de
alguns grupos contra outros, criando inimizades e oposições. Diziam os antigos
que Monsenhor Veloso, com voz mansa, ponderou com Xisto as razões pelas quais
não deixaria o cargo e aconselhou-o a permanecer em Piedade como seu auxiliar.
Xisto, sem opções, assim o fez até o fim da vida. Alguns que o conheceram bem
de perto diziam que ele costumava rezar missa com seu revólver debaixo da
batina, preso ao cinto, mantendo o costume dos seus tempos de Major e sempre
preparado para os possíveis ataques de seus inimigos.
Qualquer que tenha sido a causa, em 1912,
quando contava com 43 anos de idade, Pe. Ubaldo deixou a terra que amava e à
qual tanto se dedicou, a terra de seus antepassados e dos seus grandes amigos.
Em 1913 assumiu a paróquia de Prados - MG, cargo que exerceu por cerca de 8
meses. Retornou a Piedade somente 38 anos depois de sua saída, em setembro de
1950, com 81 anos de idade, para presidir o 43º Jubileu. Mais tarde,
estabeleceu-se em Itaúna.
REFERÊNCIAS:
Texto Padre Ubaldo Passagem em
Itaúna: Livro da Paróquia do Coração de Jesus de Santanense:
Histórico da Paróquia de Santanense, pag.26 e Livros do Tombo II da Paróquia de
Sant’Anna de Itaúna, 1951, p.14.
Texto Padre Ubaldo Notas Históricas:
Engenheiro Euler de Carvalho Cruz - Cadernos de História do
Distrito de Piedade do Paraopeba.
Pesquisa:
Charles Aquino
Organização e Fotografia:
Charles Aquino
Acervo:
Professor Marco Elísio Chaves Coutinho
Consulta do Requerimento de Sepultamento: Prefeitura Municipal de Itaúna
Consulta do Requerimento de Sepultamento: Prefeitura Municipal de Itaúna
Projeto de Lei dos Logradouros:
Prefeitura Municipal de Itaúna
[1] (Processo "De genere et
moribus", Arquivo da Cúria de Mariana, Armário 16, Pasta 1371, ano 1891).
[2] A Ordem dos Agostinianos Recoletos
(OAR) é uma ordem religiosa católica, da família agostiniana, seguidora do
pensamento de Santo Agostinho. Nasceu na Espanha, em 1588, em plena Reforma
Católica, a partir da renovação da Província Agostiniana de Castela. No Brasil
possui três províncias: Província de Santa Rita de Cássia (região
centro-oeste), Província de Santo Tomás de Villanueva (região centro-oeste e
região sul) e Província de São Nicolau Tolentino (região norte e região
nordeste). Trabalham em paróquias, missões colégios e seminários.
[3] Após a morte de Pe. Ubaldo, sua
irmã Ubaldina vendeu a casa para José Luiz, esposo de Ana Pinto. Este, colocou
para morar na casa, como caseiro, o Sr. Valdomiro que para lá se mudou com sua
esposa Tereza e filhos. José Luiz vendeu a casa e o terreno a Antônio Caldeira
e a sua esposa D. Geruza. Esta, viúva, vendeu a propriedade a Euler Cruz em
1982.
[5] Informações
retiradas do Capítulo XVII das “Reminiscências”.