domingo, junho 04, 2017

RUA PADRE UBALDO


Projeto de Lei 1510/80 - CEP: 35680-177
Denomina logradouro público: Rua Pe. Ubaldo / Conjunto Habitacional Victor Gonç. De Sousa

PADRE UBALDO: PASSAGEM EM ITAÚNA
Desde 1933, Padre Ubaldo Anselmo da Silveira, capelão da Santa Casa “Manoel Gonçalves”, município de Itaúna, dirigiu com zelo e carinho o serviço espiritual desta capela do Sagrado Coração de Jesus, povoado de Santanense, até em 1937. Padre Ubaldo, dedicado e bondoso para com as crianças, procurou organizar com muito êxito a missa dialogada das crianças.
Em março de 1937, foi nomeado auxiliar do vigário de Itaúna, o Revmo. Padre Everaldo Molengraaff, o qual logo se interessou muito por Santanense. Introduziu uma missa aos domingos e organizou o catecismo para as crianças. Floresceu com muita alegria o catecismo.
Pe. Ubaldo faleceu na cidade de Itaúna, com 82 anos de idade, no dia 17 de maio de 1951 e foi enterrado no cemitério central. Em nota, o Pe. José Ferreira Netto registra no livro do tombo da paróquia — Em substituição ao Revmo. Pe. Ubaldo Anselmo da Silveira, que a mais de quinze anos vinha sendo capelão da Santa Casa de Itaúna, foi provisionado para este cargo o Revmo. Pe. Waldemar Antônio de Pádua Teixeira que exercia o cargo de Vigário dos distritos de Maravilhas e Papagaios, pertencentes a Pitangui.


PADRE UBALDO: NOTAS HISTÓRICAS
Padre Ubaldo Anselmo da Silveira foi, sem dúvida, o maior vulto histórico da localidade ao lado do maestro e notável compositor, seu contemporâneo, o professor Antônio Batista Gonçalves Sampaio.
Ubaldo nasceu em 21/04/1869, em Piedade do Paraopeba, e foi batizado na igreja matriz desta mesma localidade em 01/06/1869. Era filho legítimo de Joaquim José da Silveira e Maria Emilia do Amaral. A avó paterna era Josefa Justa da Silveira, filha de Francisco José da Silveira Frade e de Ana Rosa de Oliveira.
Francisco tornou-se padre depois de enviuvar-se pela segunda vez (casou-se, em segundas núpcias, com a irmã da sua primeira esposa). Josefa era também a mãe de Pe. Domingos Cândido da Silveira, que se encarregou da formação do sobrinho Ubaldo de teve sobre ele grande influência.
O bisavô de Pe. Ubaldo, o Pe. Francisco José da Silveira Frade, era natural e batizado na freguesia de N. S. da Conceição de Raposos, do Bispado de Mariana. Francisco era filho legítimo do Capitão José Bernardo da Silveira Frade e de D. Ignácia Cleta Maciel de São José. Seus avós paternos eram Matheus da Silveira Frade e Joana Maria Vandergrat, da freguesia de São Cristóvão, ambos da cidade de Lisboa. Seus avós maternos eram o Capitão Manuel Nunes Velho, natural da freguesia de São Pedro Fin...(?) de Ferreira, arcebispado de Braga, e Agostinha Cleta Maciel, natural da freguesia de Raposos, bispado de Mariana. Agostinha Cleta era filha do Capitão João Álvares (Alves) Maciel, natural de Portugal, e de Teodora Francisca, parda.
A avó materna de Ubaldo era Anna Gonçalves Netta. Foram seus padrinhos de batismo: José Baptista Gonçalves Sampaio (o Juca Baptista, irmão do maestro e compositor Antônio Baptista) e Josefa Justa da Silveira, avó de Ubaldo. As informações sobre o batizado, o nascimento e a ascendência foram dadas pelo Pe. Domingos Cândido da Silveira, em 26/09/1888. Diz ele constarem elas de "assento" que fez em Capela Nova de Betim. Ubaldo foi crismado em 1870 ou 1871[1]. Seu processo de habilitação como sacerdote iniciou-se em 15/01/1891. Ordenado, passou a fazer parte da Ordem dos Agostinianos[2].
Seus irmãos eram: Conceição Maria da Silveira, Joaquim Cândido da Silveira, Ubaldina Nila da Silveira, Anselmo Silveira, Leão Treze da Silveira (Tenente), Saturno da Silveira e Maria Josefa da Silveira.
Pe. Ubaldo possuía uma casa em Piedade onde hoje (2013) é a residência do autor deste Caderno e de sua esposa, Ângela Maia[3].
Padre Ubaldo – então com 26 anos de idade – assumiu a paróquia em 1895, sucedendo o Padre José Joaquim de Mello Alvim, falecido em 23/4/1893. Já nos primeiros dias após sua posse, instituiu o ensino do catecismo e a seguir, no primeiro domingo de seu exercício como vigário, durante a missa, falou sobre a devoção ao Sagrado Coração de Jesus e iniciou uma subscrição para obter recursos para adquirir uma “imagem de vulto” do Sagrado Coração. O valor necessário foi arrecadado em poucas horas. Continuando seu trabalho apostólico, organizou o Apostolado da Oração na forma de um grupo masculino e outro feminino; divergências que surgiram no grupo feminino fez com que Pe. Ubaldo o unisse ao masculino, “cortando o mal pela raiz”. Organizou ainda a comunhão na primeira sexta-feira do mês, que passou a ser como “um dia de festa religiosa na Piedade”, tal era o número de pessoas que iam comungar neste dia. Para tanto, ele iniciava as confissões na terça-feira precedente e passava horas no confessionário, até nove horas da noite, para atender, um a um, uma grande quantidade de fiéis[4].
No mesmo ano em que se tornou vigário, iniciou também a construção das duas torres da Igreja Matriz, contratando, para isso, Eduardo Frias de Oliveira, que era natural da cidade de Ouro Fino, José Bernardes Rodrigues, português que aqui residiu, faleceu e foi sepultado e alguns portugueses de Itabira do Campo (atual Itabirito).
Ao assumir o cargo Pe. Ubaldo encontrou vários problemas e enfrentou dificuldades e opositores, como infelizmente tem ocorrido com vários de seus sucessores. De temperamento enérgico e destemido, tomou as providências que julgou necessárias e conseguiu implantar práticas que pensava ser as corretas. Ele mesmo, em suas “Reminiscências” diz que “cortou, de raiz, todos os abusos introduzidos e fez respeitado o templo de Deus. Tal foi então o respeito na casa de Deus que não se ouvia dentro e nem fora a menor palavra durante os atos religiosos e se alguém entendesse de saudar “intra templum” algum conhecido, parente ou amigo, fazia-o apenas com uma simples inclinação da cabeça. Disse um venerando e experimentado Missionário Redentorista que em Minas ainda não vira um lugar em que houvesse completo e absoluto silêncio como na igreja matriz da Piedade”[5].
Padre Ubaldo foi vigário de Piedade até 1912, período em que fez muitos melhoramentos e em que criou o Jubileu de N. Sa. da Piedade (1907).
O motivo pelo qual Padre Ubaldo deixou a paróquia de sua terra natal não é bem claro. De acordo com depoimentos de alguns moradores antigos, retransmitidos ao autor deste Caderno pelo Sr. Daniel da Silveira Ataíde, a causa da renúncia ao cargo teria sido uma acusação que lhe fizeram de envolvimento com uma professora do curso primário da localidade, calúnia esta que teria lhe causado profundo desgosto e motivado a sua saída da localidade.
Todavia, outro pode ter sido o motivo: no último parágrafo do último capítulo que encontramos, o de número XX, Pe. Ubaldo faz alusão a uma disputa pelo cargo de vigário e se refere a si mesmo como se falasse de outro, artifício que utilizou em outras passagens, certamente para manter o anonimato que o pseudônimo “Uasil”, por ele adotado, encobria. Diz ele no capítulo XX, publicado em 1935: “há vinte e três anos que o vigário empossado em 1895[6] deixou aquela freguesia, ambicionada por outro que não logrou possuí-la, como ardente e apaixonadamente desejava. Altos desígnios de Deus! ”.
De acordo com outra versão, também provinda do Sr. Daniel Ataíde, o padre que ambicionava a paróquia era o Pe. Xisto José da Silveira, cujo papel no estabelecimento do Jubileu de N. Sa. da Piedade já elucidamos no Caderno II. De fato, o então Major Xisto, tendo ficado viúvo em 1911, ingressou no seminário em Mariana e lá se ordenou padre no dia 10 de Maio de 1914. Segundo o Sr. Daniel, o Major Xisto teria comunicado ao Pe. Ubaldo, antes mesmo de ir para Mariana, sua intenção de tornar-se vigário e teria jogado duro, na intenção de removê-lo do cargo o quanto antes. Talvez a calúnia acima referida tenha sido originada do Major Xisto ou de seus amigos ou parentes, hipótese que não pode ser descartada devido ao fato de que Piedade sempre foi marcada, infelizmente, por rivalidades, às vezes bem fortes, entre alguns grupos e famílias – rivalidades que apenas há poucos anos vêm diminuindo. Tendo conseguido a renúncia de Pe. Ubaldo, o Major e seminarista Xisto conseguiu, por meio de seus contatos, que fosse indicado para o cargo de vigário de Piedade um padre de Ouro Preto, o Monsenhor Cândido Veloso, com quem Xisto teria feito um trato: logo que ele, Xisto, fosse ordenado, Monsenhor Cândido renunciaria ao cargo e Xisto o assumiria.
Após ordenar-se Xisto tentou ocupar o cargo, mas o Monsenhor, apoiado pela grande maioria da população, não o deixou. Conforme informamos no Caderno II, Monsenhor Veloso era pessoa calma, inteligente e grande protetor dos pobres. Com seu carisma, logo conquistou todos os fiéis. Xisto, que sempre vivera em Piedade, era voluntarioso, exercera a política com entusiasmo e, durante sua vida no arraial como farmacêutico, tomara partido de alguns grupos contra outros, criando inimizades e oposições. Diziam os antigos que Monsenhor Veloso, com voz mansa, ponderou com Xisto as razões pelas quais não deixaria o cargo e aconselhou-o a permanecer em Piedade como seu auxiliar. Xisto, sem opções, assim o fez até o fim da vida. Alguns que o conheceram bem de perto diziam que ele costumava rezar missa com seu revólver debaixo da batina, preso ao cinto, mantendo o costume dos seus tempos de Major e sempre preparado para os possíveis ataques de seus inimigos.
Qualquer que tenha sido a causa, em 1912, quando contava com 43 anos de idade, Pe. Ubaldo deixou a terra que amava e à qual tanto se dedicou, a terra de seus antepassados e dos seus grandes amigos. Em 1913 assumiu a paróquia de Prados - MG, cargo que exerceu por cerca de 8 meses. Retornou a Piedade somente 38 anos depois de sua saída, em setembro de 1950, com 81 anos de idade, para presidir o 43º Jubileu. Mais tarde, estabeleceu-se em Itaúna.

  
REFERÊNCIAS:
Texto Padre Ubaldo Passagem em Itaúna: Livro da Paróquia do Coração de Jesus de Santanense: Histórico da Paróquia de Santanense, pag.26 e Livros do Tombo II da Paróquia de Sant’Anna de Itaúna, 1951, p.14.
Texto Padre Ubaldo Notas Históricas: Engenheiro Euler de Carvalho Cruz - Cadernos de História do Distrito de Piedade do Paraopeba.
Pesquisa: Charles Aquino
Organização e Fotografia: Charles Aquino
Acervo: Professor Marco Elísio Chaves Coutinho
Consulta do Requerimento de Sepultamento: Prefeitura Municipal de Itaúna
Projeto de Lei dos Logradouros: Prefeitura Municipal de Itaúna 


[1] (Processo "De genere et moribus", Arquivo da Cúria de Mariana, Armário 16, Pasta 1371, ano 1891).

[2] A Ordem dos Agostinianos Recoletos (OAR) é uma ordem religiosa católica, da família agostiniana, seguidora do pensamento de Santo Agostinho. Nasceu na Espanha, em 1588, em plena Reforma Católica, a partir da renovação da Província Agostiniana de Castela. No Brasil possui três províncias: Província de Santa Rita de Cássia (região centro-oeste), Província de Santo Tomás de Villanueva (região centro-oeste e região sul) e Província de São Nicolau Tolentino (região norte e região nordeste). Trabalham em paróquias, missões colégios e seminários.

[3] Após a morte de Pe. Ubaldo, sua irmã Ubaldina vendeu a casa para José Luiz, esposo de Ana Pinto. Este, colocou para morar na casa, como caseiro, o Sr. Valdomiro que para lá se mudou com sua esposa Tereza e filhos. José Luiz vendeu a casa e o terreno a Antônio Caldeira e a sua esposa D. Geruza. Esta, viúva, vendeu a propriedade a Euler Cruz em 1982.
[4] Informações retiradas do Capítulo XX das “Reminiscências”.
[5] Informações retiradas do Capítulo XVII das “Reminiscências”.
[6] Na verdade, foi em 1986.