UMA NOITE MEMORÁVEL
*Urtigão
Como
bem lembrou minha querida colega de ginásio, a escritora Maria Lúcia Mendes, vários
cantores passaram pelo palco do Cine Rex.
Dentre
eles, a apresentação de Nelson Gonçalves foi uma apoteose. Não só pela presença
do eterno boêmio, mas por fatos que antecederam a sua chegada. Cantores daquela
época tinham gogo. Nelson Gonçalves tinha um vozeirão inconfundível.
O
cantor preferido dos " puteiros". Dez entre dez mulheres da chamada
" vida fácil" eram fãs incondicionais do cantor de "Dolores
Sierra". A canção narrava a desdita de uma prostituta de Barcelona.
Imaginação fértil de Evaldo Gouveia e Jair Amorim.
Ao contrário dos cantores atuais, que demandam uma parafernália de equipamentos de som, iluminação e dançarinas que rebolam e fazem "play back", cantar naqueles tempos demandava somente competência, potência de voz e um violão para acompanhar. Era o suficiente.
Ao contrário dos cantores atuais, que demandam uma parafernália de equipamentos de som, iluminação e dançarinas que rebolam e fazem "play back", cantar naqueles tempos demandava somente competência, potência de voz e um violão para acompanhar. Era o suficiente.
O
Cine Rex estava apinhado e era um dia de semana. As duas primeiras fileiras
totalmente ocupadas pelas " moças da rua do Rosário".
Ver
Nelson Gonçalves cantar era um privilégio. A sala de exibições, impregnada de
perfume Royal Briar. Perfume enjoativo, agarrava no corpo da gente, denunciando
para as mães zelosas o paradeiro do filho na noite anterior. Detalhes!!!
Na
plateia, um dos mais entusiasmados era o Rameh. Fã inconteste do Nelson,
aguardava irrequieto a noitada de cantoria. De repente, andando apressado,
aparece o Ricardo, filho mais novo do Crispim do Rex. Confabula com o pai e do
palco anunciam no microfone: Nelson Gonçalves estava atrasado. Chegaria com
certeza, mas somente dali a uma hora. Como na letra de "Normalista", sucesso
na voz do interprete aguardado, " o remédio é esperar".
Foi
aí que houve a intervenção do Rameh. Subiu no palco, tomou o microfone e
convocou a presença do "Jura Mi", filho do "Cabra", lustrador
de móveis e boêmio inveterado. Fiel escudeiro de serenatas e seresteiros. Iriam
cantar as músicas do Nelson e entreter a plateia até a chegada do astro. Dito e feito.
As " moças da rua do Rosário" aplaudiram de pé. A dupla era muita querida na parte mais íngreme da rua Gonçalves da Guia. Sucesso absoluto. A espera foi uma festa. O astro chegou, cantou e encantou. Carregado em triunfo.
As " moças da rua do Rosário" aplaudiram de pé. A dupla era muita querida na parte mais íngreme da rua Gonçalves da Guia. Sucesso absoluto. A espera foi uma festa. O astro chegou, cantou e encantou. Carregado em triunfo.
Junto
com ele, Rameh Gonçalves Machado que quando cantava adotava o apelido de
"Emerson Devagar".
Nelson Gonçalves
Duas
notas:
Sem querer polemizar, informo ao
Prof. Rabelo que Casablanca, filme estrelado por Ingrid Bergman e Humphrey
Bogart, não foi exibido no Rex. Foi projetado em Itaúna, em 1956, no Cine
Sant'Ana. Assisti na época, fazendo companhia a minha mãe e a D. Marta de
Oliveira Guimarães, diretora do Grupo Augusto Gonçalves.
Nunca soube o nome do Jura mi, que
depois passou a ser conhecido apenas por Jura. A origem do apelido veio de uma
canção que fez sucesso na voz de Frei Jose de Guadalupe Mojica, que tinha o
seguinte refrão: "jura mi, por un beso enamorado......"O Jura
adorava. (Cultura inútil)
*Urtigão
(desde 1943) é pseudônimo de José Silvério Vasconcelos Miranda, que viveu em
Itaúna nas décadas de 50 e 60. História enviada especialmente para o blog
Itaúna Décadas em 29/06/2017
Acervo: Instituto Cultural Maria Castro Nogueira.
Acervo Lilian Gonçalves
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Jornal Folha do Oeste - Itaúna
Organização: Charles Aquino
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