Quando
eu e o Dóse meu irmão mudamos para a Godofredo, antes de fazer amizade com a
rapaziada, inventamos de soltar papagaios. Mas não tínhamos técnica nenhuma
para fazer papagaios, o que fomos aprender mais tarde. Mas nessa época, nas
férias, acordávamos cedinho para aprumar nossos papagaios. Costumava dizer que
acordávamos antes do vento, pois quase sempre às 6 da manhã não ventava (não
sei porque!). A gente comprava folha de seda na Papelaria “Novo Mundo”, na rua
Antônio de Matos e arrumávamos bambus e fazíamos os papagaios.
Uma vez, apareceu um papagaio para a
gente “laçar”, era de um dos nossos vizinhos, o Marco Antônio Bernardes (Marco
Tija), que m ainda não conhecíamos. Nesta época não existia cerol, e ele tinha
uma manivela superpotente, muito melhor que a nossa. Os papagaios se
aproximaram e enroscaram a linha, os dois puxando a manivela, mas o vento
estava para o nosso lado... e ganhamos a laçada com nossa manivelinha. Só que
depois, minha mãe vendo nossa comemoração, quis saber do que se tratava.
Explicamos, e para nossa tristeza, ela nos fez devolver o papagaio, devolvemos
e ganhamos novos amigos: o Marco e o Môl, seu irmão.
Certa vez, a gente já era maior – já
sabíamos fazer os melhores papagaios – apareceu um rapaz de B.H. com uma pipa
na rua. Pipa era raro por aqui, e a gente via “papagaio estranho” logo já
queríamos laçá-lo. O cara aprumou a pipa em frente à minha casa, eu bati o olho
em sua linha: era verde. Eu me fingindo de bobo, lhe perguntei: - Que linha é
essa? Ele bem mais velho que eu, respondeu: - É linha de retrós! Tava no papo!
Linha de retrós arrebentava atoa, não era páreo para o meu barbantinho, vou
laçá-lo – pensei! Aprumei meu surucão e me coloquei na posição para a laçada,
investi nele! Ele parecia estar com medo, tentava fugir. Aproximei e dei o golpe
fatal na manivela: para minha surpresa a linha do meu papagaio se rompeu ao
tocar a sua e eu fiquei sem entender! Minutos depois o rapaz arrebentava a
linha de todos que tentavam laçá-lo. Por fim ele virou o terror, e enquanto
permanecei na área impediu a todos de aprumar papagaios! Foi a primeira vez que
ouvimos falar em cerol, uma mistura de vidro moído e cola, que se passa na
linha. Cortava qualquer outra linha que lhe encostasse. O sujeito estava de
férias em Itaúna, nos outros dias, era só ele aprumar sua pipa, que todos
desciam seus papagaios. A partir destas férias a moçada começou a usar cerol
nas linhas. Acredito que foi este rapaz de Belo Horizonte quem “trouxe” o cerol
para Itaúna.
Texto:
Pepe Chaves — Desenhista, pesquisador, ufólogo, músico, documentarista e
jornalista.
Digitação:
Ana G. Gontijo e Ícaro N. Chaves
Organização:
Charles Aquino
Acervo:
Agência da Boa Notícia