Quando
me mudei para a Rua Godofredo Gonçalves, tinha oito anos, a rua ainda se
chamava São José, ainda calçada com pedras retangulares, com seus postes
antigos (quadrados) e sua iluminação precária com lâmpadas sob “pratos”. Era a
Itaúna dos anos 70, mais precisamente em 1972 mudamos para aquela rua, vindo da
rua Sesóstres Milagres (a famosa e especial rua da Gruta) no bairro de Lourdes.
Eu com oito anos, e meu irmão Joel
(Dóse) com sete, fomos estudar no Grupo Dr. Augusto Gonçalves, onde aprendemos
a ler e escrever. Mais tarde nosso irmão mais novo Marco se iniciou também
naquela escola. Quando mudamos para a rua São José não conhecíamos ninguém, e
ainda por cima morávamos na casa mais modesta da rua. Mas posteriormente, vimos
saber que meu pai tinha vários amigos por ali, como o Neca do Correio, o
Cabeça, o Pedro Miguelão, a Neguita e o Euber, o Zú, o Geraldo Bernardes, o Mineirinho,
o Joaquim Penido (nosso vizinho de lado), a Alicinha (nossa outra vizinha de
lado, esposa do falecido Clóvis), o Sr. Galdino (nosso vizinho de fundo), Dª
Margarida, o Sr. Miranda, o Zé da Iara e vários outros, todos, ótimas pessoas.
Assim fomos aos poucos conhecendo os
filhos dos amigos de nosso pai, e criando verdadeiros laços de amizade com
estas pessoas. Muitas foram as aventuras vividas nos quarteirões próximos à rua
Godofredo Gonçalves, e de diversas formas, diga-se de passagem. Mas antes de entrar
nas aventuras, gostaria de lembrar o quanto esta rua era bucólica, e o quanto
eu aprendi ali, com aquela gente.
Morávamos
num meio que predominava a classe média (quando esta ainda existia), e como tal
tínhamos os costumes padrões da época: anualmente havia festa de quadrilha na
rua, então era rua toda enfeitada, vizinhos em festa, ensaios da quadrilha no
pátio da Rádio. Todos os meninos torcendo para fazer par com uma menina bonita!
Eu sempre dava azar... Os Natais vividos ali também foram inesquecíveis, uma
verdadeira comunhão de brinquedos, era o que se podia dizer do que fazíamos
após o dia 24 de dezembro. Juntava-se toda a turma: Os meninos do Zé da Iara
(Zé Márcio, Ricardo, Rodrigo, Fernando e Rogério), seus primos Joacy e Bráulio;
Sérgio Henrique (Môl), seu irmão Marco Antônio, meus irmãos Marco Antônio e
Joel (Dóse), Maurício e Hildelzinho da Neguita, Emanuel (Déo), Nilinho, Chinês,
Buzão, Poti e outros.
Após o Natal era renovado o ânimo da
moçada: bolas novas, jogos de botões novos, e ainda, brinquedos de toda
natureza! Nos tempos de Natal era feita também a Novena de Natal, época em que
os vizinhos se reuniam diariamente, indo a cada dia rezar em uma casa da rua.
Meu
pai era caminhoneiro, tinha um Fenemê verde, conhecido na cidade inteira. Às
vezes passava dias viajando, mas, quando a gente ouvia o barulho daquele Fênêmê
de longe, tudo era festa! Ele chegava e parava o caminhão em frente à nossa
casa. Nós corríamos para abraçá-lo, barbado e suado, mas como era bom senti-lo,
após dias de ausência! Meu pai, o Zezito Chaves, trazia em sua mala vários
presentes para nós, uma vez ele trouxe a minha primeira bola de couro, um
grande sonho de todo menino, acostumado com bolas de plástico.
Era a época em que a Rede Globo começou
a sintonizar por aqui, época do “Cavalo de Aço”, “O Bem-Amado”, de “Vila
Sésamo”, e de marcantes novelas que mais tarde seriam a galinha dos ovos de
ouro da emissora.
Texto:
Pepe Chaves — Desenhista, pesquisador, ufólogo, músico, documentarista e
jornalista.
Digitação:
Ana G. Gontijo e Ícaro N. Chaves
Organização:
Charles Aquino, Historiador
Acervo: Shorpy
Acervo: Shorpy