Hoje, procuraremos
imiscuir à ideia de Política, conceitos de Cidadania e de como a EDUCAÇÃO pode
contribuir para a formação do Cidadão.
Ora, podemos pontuar
Cidadania como o exercício dos direitos e deveres civis, políticos e sociais estabelecidos pela Constituição
Federal. Os direitos e deveres de um cidadão devem andar sempre juntos,
uma vez que ao cumprirmos nossas obrigações permitimos que o outro exerça
também seus direitos.
O conceito de Cidadania
tem origem também na Grécia Antiga; sendo usado então para designar os direitos
relativos ao cidadão, ou seja, o indivíduo que vivia na cidade (civitas, em latim)
e ali participava ativamente dos negócios e das decisões políticas. Cidadania,
pressupunha, portanto, todas as implicações decorrentes de uma vida em
sociedade.
Porém, a título de
curiosidade histórica, faz-se necessário esclarecer que a Grécia não se
configurava um país como hoje o compreendemos,
mas, uma série de cidades-estados, independentes entre si, que compunham o
chamado Mundo Grego ou a Civilização Helênica; particularmente no seu Período
Clássico, do ano 500 ao ano 338 a.C., com a bipolarização do Mundo grego entre
Esparta e Atenas...E o conceito grego para Cidadania implicava alguns
privilégios, sendo certo que nem todos os indivíduos eram laureados como
cidadãos.
Ao longo da história, o conceito de cidadania evoluiu,
passando a englobar um conjunto de valores sociais que determinam o conjunto de
deveres e direitos de um cidadão "Cidadania: direito de ter direito".
A etimologia da palavra
cidadania vem do latim civitas,
cidade, tal como cidadão (ciudadano ou vecino no espanhol, ciutadan em provençal, citoyen em francês).
Neste sentido, a palavra-raiz, cidade, diz muito sobre o verbete.
O habitante da cidade no
cumprimento dos seus deveres é um sujeito da ação, em contraposição ao sujeito
de contemplação, omisso e absorvido por si e para si mesmo, ou seja, não basta
estar na cidade, mas agir na cidade.
A cidadania, neste
contexto, refere-se à qualidade de cidadão, indivíduo de ação estabelecido na
cidade moderna. A rigor, cidadania não combina com individualismo e com
omissões individuais frente aos problemas da cidade; a cidade e os problemas da
cidade dizem respeito a todos os cidadãos.
Assim colocado, percebemos
que ambas as palavras, Política e Cidadania giram em torno da ideia de cidade...(pólis
e civitas) e se complementam em seus exercícios.
A significação da
Política em nossas vidas (e sobre esta já refletimos em outra oportunidade) está
bem registrado em nosso cotidiano e em linguagens diferentes; afetando todos os
aspectos da vida de uma pessoa e dos cidadãos. E quanto mais o homem se politiza, mais humano
ele se torna...
Em termos de Brasil, em
se falando de Cidadania, e sobrevoando a nossa História, as primeiras
tentativas de cidadania surgiram no contexto mercantil-colonial, com as
chamadas rebeliões nativistas (Quilombo dos Palmares, Emboabas - aqui nas Minas-,
Mascates, Beckman, Amador Bueno, Villa Rica) e depois as emancipacionistas
(Inconfidentes, Alfaiates...), todas largamente reprimidas pelo Poder absoluto
e colonialista. Já Império, os principais movimentos de Cidadania ficaram por
conta das rebeliões regenciais, que não aceitavam os abusos do poder central e a
indefinição do Estado monárquico após a independência.
Transportando o tema em questão
para o nosso tempo; salta-nos aos olhos a incapacidade de muitos de exercer
direitos e cumprir deveres; o que caracteriza a marginalização do sujeito do
centro para a periferia da sociedade. É o deslocamento do centro para a margem
e que geram todas as formas de desajuste.
E quem não é cidadão é
marginal, ou seja, encontra-se excluído, à margem da sociedade; está deslocado
e precisa ser reconduzido ao centro referencial da Sociedade, antes que outras
forças, que não são o Estado de Direito o cooptem para seus guetos; como vemos
acontecer nas grandes metrópoles brasileiras.
Tal processo, de
reinserção do cidadão ou mesmo a construção de uma consciência política e de
pleno exercício da cidadania é essencialmente educativo e não depende somente
da disposição e da vontade individual. É preciso, na maioria dos casos, de uma
base motivadora sólida de recursos morais e materiais. Tanto a socialização
natural como a reinserção social são uma responsabilidade coletiva, uma ética
do gênero e da condição humana.
No Mundo Contemporâneo
esse conceito universal – meio utópico, meio legal – de Cidadania, pelas
narrativas jurídicas liberais vêm se tornando gradualmente uma realidade social
na maioria dos países, efeito da globalização da economia e dos intensos fluxos
migratórios em todo o planeta. Surge a partir da década de 1990, com o fim da
Guerra Fria, a ideia do Cidadão do Mundo. O predomínio do poder dos Estados e
dos conglomerados financeiros cede lugar para o novo poder empresarial e
pessoal do Homem.
As principais decisões
mundiais não mais tomadas na ONU, mas no Fórum Mundial Econômico (Davos) e
também no Fórum Social Mundial, que buscam e lutam por uma cidadania plena e
pela politização dos conceitos de responsabilidade social de sustentabilidade.
Cultura plural, política
correta, economia sustentável, empresa responsável e cidadã são alguns das
principais ideias agregadas ao conceito tradicional de Cidadania.
Tudo isto posto, surge a
pergunta óbvia: como exercer então a
Cidadania?
Bem, o modo clássico do
exercício da Cidadania é através do voto. E é bom esclarecer aqui que embora
muitas vezes utilizados como sinônimos; voto, sufrágio e escrutínio possuem
significados diferentes. Sufrágio é
o direito de votar e de ser votado; voto
é a forma de exercer o direito ao sufrágio; e escrutínio é a forma como se pratica o voto, seu procedimento. Mas,
no início destas linhas, mencionamos a palavra Educação.
Como professor que sou,
eis um de nossos múltiplos desafios...
Porque precisamos educar
para formar Cidadãos sim; porém, não somente. Não exclusivamente.
No nosso país, vamos
colecionando muitos enganos nas Políticas Públicas. Educar para a Cidadania. Sim! Lógico que sim! Mas…não
se pode centralizar a Escola apenas nesta questão…é um tema transversal. E que
deve ser trabalhado em todas, repito, em todas as disciplinas da grade
curricular, que já vem pronta e acabada para ser adotada em todos os
estabelecimentos de ensino; principalmente nos públicos.
No caso em particular
deste articulista, com disciplinas como História e Sociologia é quase que
inerente à própria matéria se falar, se demonstrar, se orientar para o exercício
da Cidadania, afinal, foi através da História que todos esses direitos foram
sendo conquistados e sedimentados no seio da sociedade.
Porém, pontuamos que, a
Educação, tal qual a conhecemos, orientada para a formação técnico-profissional
de indivíduos capacitados para atuar na reprodução do modelo econômico vigente,
faz-se deficiente no que se refere à formação de cidadãos com capacidade de
atuar na transformação da realidade socioambiental.
Se o modelo educacional tradicional
valoriza a obediência, a decoreba de conteúdos, a imitação de antigos
paradigmas, a mera repetição de papéis; ele não contribui para a formação de
cidadãos críticos, autônomos, capazes de fazer suas próprias escolhas, e de
atuar em um ambiente democrático de forma ativa, assumindo seu papel de ator
social e político.
Neste ponto é fundamental
o papel do professor: contribuir de modo eficaz para a formação de excelentes
profissionais sim e igualmente de cidadãos críticos e atuantes, capazes de
transformar as realidades sociais. Educar para conseguir alcançar o íntimo do
aluno, despertando-o para o desejo e a busca do Conhecimento de si mesmo e da
Vida, e fornecer-lhe os valores (honestidade, ética, coerência, etc.) que
nortearão o seu caminho, bem como os meios necessários para que possa modelar o
seu próprio destino e contribuir para uma Sociedade mais justa e igualitária
para toda a Humanidade.
Precisamos, portanto, reitero,
de uma Educação baseada em valores universais (honestidade, respeito à
diversidade, tolerância, diálogo, democracia, ética, paz, cooperação,
solidariedade, participação...) válidos para todos, não apenas para a minha
própria nação. Estamos tratando aqui de uma Educação que contribua para uma
cidadania completa e ativa: “A educação deve contribuir para a autoformarão da
pessoa (ensinar a assumir a condição humana, ensinar a viver) e ensinar como se
tornar cidadão. ” (MORIN, Edgard). E não uma Educação destituída dos valores
que a Humanidade levou milênios para construir....
Temos, portanto, um tripé
de instrumentação civilizatória que deve e precisa se complementar: Educação,
Política e Cidadania. Através dos processos educacionais se constrói a
consciência política que será levada a efeito através do exercício pleno da
Cidadania.
* Bacharel em Direito/ Licenciado em História pela
Universidade de Itaúna
Diretor da E.E.”Profa. Gilka Drumond de
Faria”