No
meu tempo de ginásio, na segunda metade dos anos cinquenta, começávamos a
aprender inglês na segunda série. Um ano depois do francês.
Naqueles
tempos, ainda vivíamos sob forte influência dos francófonos. O professor de inglês
era o advogado José Luiz Gonçalves Guimarães. Excelente penalista, imbatível em
um Júri de Fato e ótimo advogado em outras vertentes do direito. Era um craque.
Gostava
da língua de Shakespeare. Declamava trechos do grande poeta e dramaturgo inglês
na sala de aula. Lembro-me dele dizendo com pompa e circunstância, versos de
“Romeu e Julieta”, Hamlet, e a Morte de César. Gostava também de Oscar Wilde.
Não me esqueço de uma defesa que fez de um cidadão que tentou matar a mulher.
Na defesa, começou recitando "A Balada do cárcere de Reading" do
genial irlandês. Para convencer os jurados que o homem corrompido, pelo ciúme,
mata aquilo que ama.
Aprender
inglês era um luxo. Afinal, era a língua de John Waine, de Gary Cooper, de Alan
Ladd e outros menos cotados. Sem contar que desde crianças, venerávamos Rock
Lane e seu cavalo "Blackjack", Roy Rogers montado no
"Silver" e o cowboy Hopalong Cassidy. Grandes matinês de domingo no
" poleiro" do Cine Rex.
Um
colega meu, de quem não digo o nome, ficou entusiasmado com a nova língua.
Aprendeu que a preposição " entre" em inglês, se traduzia por
between. Gravou bem para não esquecer. Dias
depois, o professor José Luiz foi a sua casa, a procura de seu pai, com quem
mantinha negócios. Meu colega, ao ver o mestre apertar a campainha, correu
solícito para porta e com reverência caprichou na pronúncia: " between
teacher!!!!!"
Desnecessário
dizer que se fosse em dia de prova, receberia um redondo zero.
*Urtigão
(desde 1943) é pseudônimo de José Silvério Vasconcelos Miranda, que viveu em
Itaúna nas décadas de 50 e 60. Causo enviado especialmente para o blog Itaúna
Décadas em 04/06/2017.