Cosme Silva e o mágico Baratinha
A
ZYZ-4, Rádio Clube de Itaúna, salvo engano, ainda pertence aos Cerqueira Lima. Antes
da mudança para a rua Godofredo Gonçalves, a emissora, funcionava na União
Operária, sede velha, bem próximo do Grupo Escolar José de Melo. Rádio
competente, tinha programas de auditório, música e a "Tarde Sertaneja",
sob o comando do Mineiro e do Mineirinho.
Um
dos baluartes da Rádio era o Cosme Silva. Entusiasmado, era locutor, animador, contra-regra, operador de equipamentos e
tudo mais que fosse necessário. Um coringa. Naqueles tempos, o forte do rádio
brasileiro eram as novelas. Emissora que se prezasse tinha de ter rádio-novela.
Tempos de "O Direito de Nascer", Jerônimo, o herói do sertão,
Presídio de Mulheres e muitas outras.
Cosme
Silva, dentro de seu pioneirismo, resolveu montar um " cast" de
rádio-novela na ZYZ-4. A emissora tinha contratado um locutor novo, vindo de
Divinópolis. Voz de comendador, boa entonação e boa fluência. Seu nome:
Luziario Pinto de Andrade.
Escolhido
o enredo da novela, cast montado e contra-regra
a postos, o folhetim ia de vento em popa. Num dos capítulos, o vilão teria de
matar o mocinho a tiros. O contra-regra,
devidamente equipado com um saco de papel do Armazém Assis, deveria assoprar a
capanga e estoura-la próxima do microfone. Tal igual um tirambaco de
cartucheira.
Cena
montada, o vilão Luziario brada com seu vozeirão: " vou acabar com você no
tiro de espingarda!!!!
O
contra-regra ao tentar estourar o
saco, foi um fiasco. A capanga estava furada e o ar fez puffffff.
Nova
capanga, nova tentativa. Mais um fiasco. Luziario esbravejava: " não é
possível, mexeram na minha arma. Ela nunca me negou fogo!!!
Terceira
tentativa e novo insucesso. Os sacos de papel não davam no couro. O matador não
se fez de rogado. Chutou uma cadeira para o barulho simular a queda do trabuco.
Ao fazê-lo, esbravejou:
"Sai
fora porcaria, negar fogo três vezes é de amargar. Mas nem por isso você me
escapa!!!!Vai de faca mesmo!!!!!
Cosme
Silva, " mortalmente ferido" no peito gemia a mais não poder. O
restante vai para outro capítulo...
Uma nota:
Luziario Pinto de Andrade, casou-se em Itaúna, com a filha de um alfaiate.
Bonita, ela. Depois de deixar a cidade, veio para Belo Horizonte trabalhar na
Rádio Inconfidência. Encontrava sempre com ele.
Paulo
Gonçalves, também de Itaúna, veio para Belo Horizonte e também trabalhou na
Inconfidência. Ótimo locutor.
Aos
contra-regras compete simular em
estúdio, os diversos sons a serem transmitidos. Exemplos: tiro: estouro de saco
de papel; trovoada: manuseio correto de uma folha de zinco; tropel de cavalos:
bater dois tacos na mesa, em compasso.
*Urtigão (desde 1943) é pseudônimo de José Silvério Vasconcelos Miranda, que viveu em Itaúna nas décadas de 50 e 60. Causo enviado especialmente para o blog Itaúna Décadas em 04/06/2017.
Acervo: Giovanni Vinícios (filho de Cosme Silva)
Obs.:
A palavra contrarregra está em vigor, desde janeiro 2009 com o Novo
Acordo Ortográfico. O substantivo masculino contrarregra se refere ao técnico
que trabalha nos bastidores de peças teatrais, filmes, programas de rádio ou
televisão, responsável pela entrada dos atores em cena e pelos diversos
acessórios necessários nos cenários, bem como pela seleção e aplicação dos
efeitos sonoros, sendo sinônimo de sonoplasta. Todavia, neste causo acima, a palavra contra-regra
foi escrita nos moldes da década de 50 para que o leitor desfrute da leitura de
uma época de ouro!