A
familia Corradi, de ascendência italiana foi a responsável pela introdução e
desenvolvimento das técnicas de fundição de ferro em Itaúna. Fizeram muito pela
cidade e creio, já estão na quarta ou quinta geração de itaunenses.
Quando
minha família chegou na urbe, presumo, estavam na segunda turma, entrando na
terceira. Nos idos de cinquenta do século passado, os Corradi tinham automóveis
Ford modelo A, à exceção de um deles que possuía um Chevrolet 1926 com rodas de
aro de madeira.
Um
deles, do qual não revelo o nome, além de especialista nas artes de fundidor,
era também pescador e bom benzedor. Foi uma vez na casa de meus pais, benzer
uma erisipela na perna do "velho", a pedido de um vizinho nosso. Meu
pai assentiu a contragosto. Católico, não acreditava em tais poderes. Concordou
para não contrariar o vizinho prestativo. Na verdade, a cura veio de uma
receita do dr. Oliveiros Rodrigues, aviada com maestria na farmácia do Seu
Alfredo.
Diziam
que o tal Corradi gostava de contar uma mentira. Nada que prejudicasse a
outros. Digamos que era apenas exagerado. Na visita em minha casa, contou a
seguinte história que passo a narrar "ipsis
verbis": Numa ocasião foi pescar traíras na Barragem Velha, abaixo da
Barragem do Benfica. Pesqueiro bom, antes de ser tomado pelos aguapés.
Estacionou o "Fordeco" numa sombra, pescou uma meia dúzia de piabas
para isca das traíras, iscou o anzol e pouco tempo depois já fisgava uma bem
taluda.
Tirou
do canivete, fez uma boa fieira com um galhinho de árvore, enfiou a traíra e
continuou na colheita. Não sem antes de pendurar num arbusto o seu relógio de
algibeira, marca Roskoff Patent, com gôndola de prata. Coisa fina, de precisão
e muita estima.
A
fieira de peixes foi de dependurada em outro arbusto. O dia estava bom pra peixe.
Em pouco tempo, já contava com mais de meia dúzia de peixes enganchados. Um
belo almoço no dia seguinte!!!!
Só
não contava com um imprevisto. A fartura de peixes atraíra uma urutu cruzeiro,
das bem grandes. A danada da cobra não conseguiu alcançar a fieira e não tendo
o que picar, atacou dois pneus do carrinho. Quando o nosso personagem deu fé, os dois
pneus dianteiros estavam inchados e ardendo de febre. Uma suadeira danada.
De
imediato, juntou as tralhas, colocou na "Furreca" e se mandou pra
cidade, rezando pros pneus aguentarem. Com muita sorte, conseguiu chegar. Em
casa, esvaziou os pneus e lavou bem com agua fria. No dia seguinte, iria enche-los.
Acontece que na pressa de voltar, esquecera o relógio dependurado no arbusto.
Não se lembrara mais de onde tinha deixado o cebolão.
Passaram-se
cinco anos. Um belo dia, resolve ir pescar no mesmo local. No silêncio da beira
d'agua, ouviu um " tic tac" Tirou o chapéu e apurou os ouvidos. Era
mesmo o barulho de um relógio. Botou os óculos e foi procurar a origem do
ruído. Enorme a agradável surpresa. O seu Roskoff Patent estava preso no alto
de uma árvore de boa altura. O arbusto crescera e levara o relógio para as
"grimpas". O vento se encarregara de dar corda no mesmo. Conferiu as
horas: estava certinho!!!!. Eta relógio bom.
*Urtigão
(desde 1943) é pseudônimo de José Silvério Vasconcelos Miranda, que viveu em
Itaúna nas décadas de 50 e 60. Causo verídico enviado especialmente para o blog
Itaúna Décadas em 08/06/2017.