segunda-feira, junho 05, 2017

ROUBO NA CASA SALDANHA


Sem desdouro para as demais, a Casa Saldanha era uma das melhores de Itaúna. Na rua Silva Jardim, ao lado da Farmácia do Ary Coutinho, quase na praça principal. Pertencia a Heli Saldanha.
Numa segunda feira, não sei precisar o ano, a cidade ficou estarrecida. A Casa Saldanha tinha sido roubada no fim de semana.
Notícia na Rádio Clube, entrevista ao vivo com o dono, entrevista com o delegado. Roubo profissional. Entraram pelo telhado e desceram pelo alçapão do forro de madeira. Usaram uma escada de corda de sisal. Sem bagunça, sem arrombamento. Sem barulho e sem sujeira. Naqueles tempos, até os ladrões eram educados.
A população ocorreu em massa para ver a cena do crime. A mando do delegado, o singular "Tiao Secreta", tudo foi preservado intacto. Os peritos criminais chegariam de Belo Horizonte para recolher digitais (se houvessem) , pistas, a escada de corda e tudo mais que pudesse levar ao destino dos larápios.
Heli Saldanha, gordinho e avermelhado, não se cansava de lamentar as perdas. Roubaram joias, relógios e aparelhos de rádio. Relógio era muito caro e radio idem. Joias nem se fala.
A porta da loja, fechada para vendas, mais parecia romaria na igrejinha do Bonfim no mês de maio. A entrada dos ladrões se dera por um alçapão bem na frente da casa de comércio. O forro aberto, a escada de corda de bacalhau dependurada e um cordão de isolamento em meia altura, isolando a entrada de curiosos.
A cena ficou em exposição dois ou três dias. Veio gente da roça para ver o inusitado. Venda recorde de pães doce e picolés de groselha. Feita a perícia, a cidade foi voltando ao normal. O roubo serviu de estratégia de marketing para a Casa Saldanha. Quem podia, corria para fazer compras na loja que fora roubada. Afinal, era primeira vez que algo tão importante ocorria em Itaúna. Comprar num lugar escolhido a dedo por ladrões refinados era sinônimo de bom gosto.
Em tempo: ainda não se em marketing. Usava-se falar propaganda. Uma evolução: anos antes era " reclame".

*Urtigão (desde 1943) é pseudônimo de José Silvério Vasconcelos Miranda, que viveu em Itaúna nas décadas de 50 e 60. Causo verídico enviado especialmente para o blog Itaúna Décadas em 05/06/2017.
Acervo: Shorpy


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