Sem
desdouro para as demais, a Casa Saldanha era uma das melhores de Itaúna. Na rua
Silva Jardim, ao lado da Farmácia do Ary Coutinho, quase na praça principal. Pertencia
a Heli Saldanha.
Numa
segunda feira, não sei precisar o ano, a cidade ficou estarrecida. A Casa
Saldanha tinha sido roubada no fim de semana.
Notícia
na Rádio Clube, entrevista ao vivo com o dono, entrevista com o delegado. Roubo
profissional. Entraram pelo telhado e desceram pelo alçapão do forro de
madeira. Usaram uma escada de corda de sisal. Sem bagunça, sem arrombamento.
Sem barulho e sem sujeira. Naqueles tempos, até os ladrões eram educados.
A
população ocorreu em massa para ver a cena do crime. A mando do delegado, o
singular "Tiao Secreta", tudo foi preservado intacto. Os peritos
criminais chegariam de Belo Horizonte para recolher digitais (se houvessem) ,
pistas, a escada de corda e tudo mais que pudesse levar ao destino dos larápios.
Heli
Saldanha, gordinho e avermelhado, não se cansava de lamentar as perdas.
Roubaram joias, relógios e aparelhos de rádio. Relógio era muito caro e radio
idem. Joias nem se fala.
A
porta da loja, fechada para vendas, mais parecia romaria na igrejinha do Bonfim
no mês de maio. A entrada dos ladrões se dera por um alçapão bem na frente da
casa de comércio. O forro aberto, a escada de corda de bacalhau dependurada e
um cordão de isolamento em meia altura, isolando a entrada de curiosos.
A
cena ficou em exposição dois ou três dias. Veio gente da roça para ver o inusitado.
Venda recorde de pães doce e picolés de groselha. Feita a perícia, a cidade foi
voltando ao normal. O roubo serviu de estratégia de marketing para a Casa Saldanha.
Quem podia, corria para fazer compras na loja que fora roubada. Afinal, era
primeira vez que algo tão importante ocorria em Itaúna. Comprar num lugar
escolhido a dedo por ladrões refinados era sinônimo de bom gosto.
Em
tempo: ainda não se em marketing. Usava-se falar propaganda. Uma evolução: anos
antes era " reclame".
*Urtigão
(desde 1943) é pseudônimo de José Silvério Vasconcelos Miranda, que viveu em
Itaúna nas décadas de 50 e 60. Causo verídico enviado especialmente para o blog
Itaúna Décadas em 05/06/2017.
Acervo: Shorpy
Acervo: Shorpy