Referências:
Colaboradora: Cláudia Lage
ANÁLISE DO POEMA
O poema de Nise
Campos, escrito em 1934, reflete um lamento melancólico pela demolição da
Igreja Matriz de Itaúna, destacando-se por sua linguagem emotiva e rica em
imagens poéticas. Vamos fazer uma análise crítica deste texto, observando seus
aspectos temáticos, estilísticos e estruturais.
O poema trata da
demolição de um edifício religioso, um evento que é claramente pessoal e
emotivo para a autora. A Igreja Matriz não é apenas um prédio, mas um símbolo
de fé, história e identidade comunitária. A demolição é vista como uma perda
significativa, quase uma morte, que evoca um sentimento profundo de saudade e
abandono.
O poema é
composto por três estrofes de quatro versos cada uma (quadras), com uma métrica
e rima irregulares, que contribuem para o tom melancólico e introspectivo. A
estrutura reflete a fragmentação e a desordem que a demolição causa tanto
fisicamente quanto emocionalmente.
A igreja é personificada como "velha e abandonada", o que sugere um estado de decadência e desamparo. A ausência de elementos sacros ("santo, sino, altar") enfatiza a desolação. "Imagem viva das cousas mortas" é uma antítese poderosa que ressalta a contradição de algo que, apesar de ainda existir, perdeu sua vitalidade. O desejo de rezar no local sublinha a conexão espiritual e emocional da autora com a igreja.
As torres são descritas com uma qualidade quase onírica, "parecem dormir e querem sonhar", sugerindo que, mesmo em ruínas, há uma aspiração de transcendência. A repetição do "foram-se" para os sinos e as andorinhas simboliza a partida de elementos vitais, mas a "saudade" permanece, encapsulando o sentimento de perda irreparável.
Aqui, o poema atinge seu clímax emocional. As palavras "ruína", "tapera" e "aniquilamento" reforçam a ideia de destruição total. No entanto, a "velhice santa, que se deve amar" sugere um respeito e uma reverência pela história e pela memória do lugar. A identificação da igreja como "espelho da vida" e "imagem da minha alma" indica uma profunda conexão pessoal da autora, culminando na repetição do refrão "Sem santo, sem sino, sem altar", que reforça a sensação de vazio e perda.
Nise Campos
utiliza uma linguagem simples, mas carregada de simbolismo. O uso de antíteses
e metáforas, como "imagem viva das cousas mortas" e "espelho da
vida", confere profundidade ao poema. A repetição de palavras e frases
intensifica o sentimento de desolação e saudade.
O poema é uma
meditação melancólica sobre perda e memória, usando a demolição da Igreja
Matriz de Itaúna como símbolo de um vazio maior, tanto físico quanto
espiritual. Através de imagens vívidas e uma linguagem emotiva, Nise Campos
capta a essência da saudade e do lamento por um passado que não pode ser
recuperado. É um tributo tocante à resiliência da memória e à persistência do
sentimento humano diante da devastação.
Charles Aquino