sexta-feira, abril 05, 2019

AGONIA DAS ROSAS

Nise Campos


Na mansuetude das tardes frias,
Sem gemido, sem dor e sem lamento,
Vejo que se desfolham, lentamente, as rosas,
Numa beatitude de sonho e de renúncia...

Longe. Longe, lá no céu distante,
Há nuvens cor das rosas que morreram...
E a voz das coisas que, no silêncio falam,
Têm pena das rosas que nasceram...

Rosas, que desabrochais ao raiar das alvoradas!
Rosas, que recebeis do sol beijo ardente!
A nossa vida, que só dura um instante,
É um poema que o vento canta e que a gente escuta...

Vejo-as se desfolharem à luz do acaso triste...
E as pétalas soltas, com perfume ainda,
Vão rolando, rolando, levadas pela brisa...
Cansaram-se de viver e, só viveram um dia,
Uma vida de amor e de beleza!

Eu descubro em vós, rosas em agonia,
Uma alma da mulher, chorando uma ilusão! ...
Eu sei que o último perfume, que no jardim deixais,
É uma prece de carinho e de perdão! ...





Referências:
Organização: Charles Aquino
Fonte: Antologia dos Poetas Itaunenses. – BH – Lemi;/Itaúna Diretoria de Pesquisa e Extensão da Fundação Universidade de Itaúna, Nise Álvares da Silva Campos, 1990, p.103.
Acervo: Shorpy


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