sexta-feira, abril 05, 2019

AGONIA DAS ROSAS

Nise Campos

Na mansuetude das tardes frias,
Sem gemido, sem dor e sem lamento,
Vejo que se desfolham, lentamente, as rosas,
Numa beatitude de sonho e de renúncia...

Longe. Longe, lá no céu distante,
Há nuvens cor das rosas que morreram...
E a voz das coisas que, no silêncio falam,
Têm pena das rosas que nasceram...

Rosas, que desabrochais ao raiar das alvoradas!
Rosas, que recebeis do sol beijo ardente!
A nossa vida, que só dura um instante,
É um poema que o vento canta e que a gente escuta...

Vejo-as se desfolharem à luz do acaso triste...
E as pétalas soltas, com perfume ainda,
Vão rolando, rolando, levadas pela brisa...
Cansaram-se de viver e, só viveram um dia,
Uma vida de amor e de beleza!

Eu descubro em vós, rosas em agonia,
Uma alma da mulher, chorando uma ilusão! ...
Eu sei que o último perfume, que no jardim deixais,
É uma prece de carinho e de perdão! ...


Análise do poema  -  Agonia das rosas

O poema "Agonia das Rosas" de Nise Campos, presente na obra "Antologia dos Poetas Itaunenses" de 1990, revela uma profunda reflexão sobre a efemeridade da vida e a beleza transitória das experiências humanas. O título, "Agonia das Rosas", evoca imediatamente uma imagem de fragilidade e decadência, sugerindo que as rosas estão sofrendo de alguma forma. Isso prepara o leitor para uma exploração mais profunda das metáforas e temas presentes no poema.

A primeira estrofe estabelece uma atmosfera de quietude e resignação, com as "tardes frias" evocando uma sensação de melancolia e contemplação. A descrição das rosas se desfolhando lentamente sugere não apenas um processo natural, mas também uma aceitação pacífica desse destino inevitável.

A segunda estrofe amplia a perspectiva, conectando a imagem das nuvens cor-de-rosa ao destino das rosas. As nuvens, associadas ao céu distante, assumem uma tonalidade semelhante às rosas que já morreram, implicando uma continuidade entre o ciclo da vida e a passagem do tempo.

A terceira estrofe introduz uma reflexão sobre a brevidade da existência humana, comparando-a a um poema que é recitado pelo vento. Essa analogia sugere que a vida é efêmera e transitória, mas também carrega uma beleza intrínseca que merece ser apreciada.

Na quarta estrofe, o poema retorna ao tema das rosas, agora personificadas como seres vivos que experimentam uma "agonia". Essa personificação destaca a empatia do eu lírico em relação ao sofrimento das rosas, e sugere uma identificação entre a fragilidade das flores e a fragilidade da experiência humana.

A conclusão do poema enfatiza a ideia de perdão e redenção, sugerindo que o último perfume deixado pelas rosas é uma expressão de amor e reconciliação. Isso implica uma visão positiva da mortalidade e da passagem do tempo, sugerindo que mesmo na morte há espaço para a beleza e o perdão. No geral, "Agonia das Rosas" é um poema que transcende a mera observação da natureza para explorar questões mais profundas sobre a vida, a morte e a beleza efêmera. Através de metáforas poderosas e uma linguagem evocativa, Nise Campos convida o leitor a contemplar a fragilidade e a beleza do mundo ao seu redor.


Referências:

Organização, pesquisa e análise: Charles Aquino

Fonte: Antologia dos Poetas Itaunenses. – BH – Lemi;/Itaúna Diretoria de Pesquisa e Extensão da Fundação Universidade de Itaúna, Nise Álvares da Silva Campos, 1990, p.103.

Acervo: Shorpy



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