quinta-feira, abril 04, 2019

MOMENTO DE CRIAÇÃO

Eis como se resume meu momento de criação:

O absoluto e o relativo.
O efêmero e o duradouro.
O improviso.
O riso da criança.
O pranto do velhinho.
O estado afetivo da alma.
A natureza.
A beleza do Evangelho.



Análise do Texto "MOMENTO DE CRIAÇÃO"

O título "MOMENTO DE CRIAÇÃO" sugere um instante específico em que ocorre um processo criativo. É um título evocativo que aponta para uma experiência única e pessoal do ato de criar. O texto é composto por uma série de frases curtas, quase aforísticas, que descrevem o que compõe o "momento de criação" da autora. Essa estrutura fragmentada e livre reflete a natureza multifacetada e espontânea do processo criativo.

O absoluto e o relativo — Esta frase sugere que o momento de criação abrange tanto verdades universais (absoluto) quanto percepções individuais (relativo). Isso indica que a criação é um ato que conecta o macro (o todo, o universal) ao micro (o individual, o particular).  A dualidade apresentada aqui é fundamental para entender a complexidade do processo criativo. A autora reconhece que criar é um ato que transita entre o objetivo e o subjetivo, o eterno e o transitório.

O efêmero e o duradouro — Novamente, há uma oposição entre dois conceitos, agora entre o passageiro (efêmero) e o permanente (duradouro).  Isso sugere que o ato de criação lida com elementos que podem ser momentâneos, mas também tem potencial para deixar um impacto duradouro. A criação é, portanto, uma forma de capturar a essência do momento e transformá-la em algo que perdura.

O improviso — A palavra "improviso" indica espontaneidade e liberdade na criação. O improviso é essencial no processo criativo, permitindo que a intuição e a inspiração fluam sem restrições. Aqui, a autora celebra a flexibilidade e a originalidade que o improviso traz.

O riso da criança — Simboliza pureza, alegria e espontaneidade. Este elemento sugere que o processo criativo é alimentado por uma fonte de energia pura e inocente. A criatividade, assim como o riso de uma criança, é genuína e não contaminada por preocupações externas.

O pranto do velhinho — Em contraste com o riso da criança, o pranto do velhinho representa a sabedoria, a experiência e talvez a melancolia.  Este contraste aponta para a profundidade emocional do processo criativo, que abarca tanto a leveza da infância quanto a gravidade da velhice. A criação é, portanto, um reflexo de toda a gama de emoções humanas. 

O estado afetivo da alma — Esta frase sugere que o processo criativo é profundamente influenciado pelo estado emocional e espiritual do indivíduo. O estado afetivo da alma é central para a criação, indicando que a autenticidade e a expressividade do trabalho criativo vêm do fundo do ser do artista.

A natureza — É uma fonte de inspiração e um modelo de beleza e harmonia. A conexão com a natureza sugere que a criação busca imitar ou dialogar com a perfeição e a complexidade do mundo natural. A natureza é tanto uma inspiração quanto um guia para o processo criativo.

A beleza do Evangelho — Aqui, o Evangelho é visto como uma fonte de beleza e talvez de moralidade ou espiritualidade. A inclusão do Evangelho indica que o processo criativo também tem uma dimensão espiritual ou transcendente. A beleza encontrada nos ensinamentos do Evangelho serve como inspiração e elevação do espírito.

O texto "MOMENTO DE CRIAÇÃO" de Nise Campos é uma reflexão poética sobre o processo criativo, destacando sua complexidade e riqueza. Através de uma série de oposições e imagens evocativas, a autora descreve o ato de criação como um fenômeno que integra elementos contraditórios e complementares, desde a espontaneidade do improviso até a profundidade das emoções humanas, passando pela inspiração na natureza e pela espiritualidade. Esta abordagem holística sublinha a ideia de que a criação é uma expressão multifacetada da experiência humana, que conecta o efêmero ao duradouro, o individual ao universal, e o terreno ao espiritual.

 

 Referências:

Organização, pesquisa e análise: Charles Aquino
Fonte/Texto: Antologia dos Poetas Itaunenses. – BH – Lemi;/Itaúna Diretoria de Pesquisa e Extensão da Fundação Universidade de Itaúna, Nise Álvares da Silva Campos, 1990, p.102.
Acervo: Shorpy