Nise Campos
1961
Nesses toscos versos essa confissão vos faço
E, nessas
pobres rimas, penitenciar-me venho!
Pois, se
alma peca em sentir inveja,
Esse
pecado, Senhor, esse pecado eu tenho!
Invejo a
simplicidade do ranchinho humilde
E a lirial
beleza da criança...
Invejo os
que trazem a alegria n’alma
E o
conforto da fé e da esperança!
Invejo a
paz que reina na aldeiazinha pobre,
Onde, cristalina,
flui a água das fontes,
Invejo as
caravanas que atravessam os areais desertos,
Os que
transpõem os mares, os que galgam montes!
Invejo as
mãos que espalham benção
Na leveza
do carinho e do perdão...
Aos que
distribuem a luz da graça,
Na messe do
amor, na fartura do pão!
Invejo os
velhinhos de cabeças brancas
Que, cansados,
percorrem a grande estrada...
A esses que
sofreram amargos desenganos
E que
chegando vão ao fim da encruzilhada!
Invejo a trêfega
andorinha
Que, em
graciosos bandos, o espaço cobre...
Invejo a
flor, a selva, o mar, o sol, as errantes nuvens!
Invejo tudo
o que é simples, tudo o que é belo,
Tudo o que
é nobre!
Perdoai-me,
Senhor, porque a vós, contrita, brado:
Pois, se a
alma peca em sentir inveja,
Eu tenho,
meu Deus, esse pecado.
Referências:
Organização: Charles Aquino
Fonte: Itaúna Humana e Pitoresca.
Coletânea de
itaunenses
natos e adotivos. Org.Luís Gonzaga Fonseca.
“Se Inveja
é Pecado”, Nise Campos, 1961, p.93.
Texto: Nise Álvares da Silva Campos (In Memoriam)
Acervo: Shorpy
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