Dispõe
sobre a obrigatoriedade do ENSINO DO SIGNIFICADO DOS SÍMBOLOS
OFICIAIS DO
MUNICÍPIO, bem como do CANTO E DA INTERPRETAÇÃO DA LETRA DO HINO MUNICIPAL nos
Estabelecimentos de Ensino Público do Município e dá outras providências.
O Povo do
Município de Itaúna, por seus representantes aprovou, e eu, em seu nome,
sanciono a seguinte Lei:
Art. 1º. É
obrigatório o ensino do significado e valor dos símbolos oficiais do Município,
bem como do canto e da interpretação da letra do Hino Municipal, em todos os
estabelecimentos de ensino do Município.
Parágrafo
único. São símbolos oficiais: o HINO, a BANDEIRA e o BRASÃO.
Art. 2º. O
Prefeito Municipal regulamentará a presente Lei no prazo de 30 (trinta) dias.
Art. 3º. Esta
Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 4º. Revogam-se
as disposições em contrário.
PREFEITURA
MUNICIPAL DE ITAÚNA, 12 de agosto de 1997
O amanhecer era
sinalizado pelas sirenes estridentes emanadas das tecelagens da Cia. Industrial
Itaunense e Cia. de Tecidos Santanense. Esses sonidos estridentes e duradouros
não apenas despertavam toda a cidade do sono, mas também iniciavam um
espetáculo diário de trabalhadores caminhando para suas respectivas tarefas.
Ressoando incessantemente dia e noite, as sirenes denotavam as transições entre
os turnos, orquestrando a cadência de existência tanto dos operários das
fábricas quanto dos moradores do entorno.
No município de
Itaúna, Minas Gerais, o cotidiano dos moradores se confundia com a cacofonia
das fábricas. Os passos agitados dos trabalhadores, as conversas das pessoas,
os comandos autoritários dos supervisores e os zumbidos implacáveis dos “teares
mecânicos”, compunham uma sinfonia das indústrias que moldavam a paisagem
auditiva da cidade. Cada som desempenhava um papel distinto: as sirenes que
acenavam e se despediam dos trabalhadores, os passos rítmicos que ressoavam
pelas ruas e os zumbidos incessantes das máquinas que nunca cessavam as suas
atividades.
No início, a
paisagem urbana era acompanhada por tranquilos ruídos rurais ou por completo
silêncio. No entanto, a criação da Cia. Tecido Santanense em 1891, no período
em que a região era apenas um modesto vilarejo de Sant'Ana do Rio São João
Acima, bem como a fundação da Cia. Industrial Itaunense, em 1911, trouxe
notáveis transformações na composição econômica e demográfica.
Consequentemente, surgindo o próspero município de Pedra Negra — Itaúna.
A presença das
fábricas transformou a paisagem urbana, à medida que as sirenes penetrantes se
tornaram uma presença auditiva avassaladora. Isso remodelou a percepção de
tempo e espaço dentro da cidade. As sirenes serviam um duplo propósito – não
apenas como cronometristas, mas também como instrumentos de controle, ditando
os movimentos dos trabalhadores e consequentemente estabelecendo o ritmo da
vida na cidade.
Os indivíduos que
vivenciaram esta época em primeira mão, como narradores nas suas próprias
recordações, consideraram o som das sirenes um emblema significativo e
governante da sua existência quotidiana. Mesmo muito depois do fato, numerosos
indivíduos afirmam que ainda conseguem ouvir “o apito da sirene nas suas
mentes”, uma reverberação do passado que continua a prevalecer no presente.
Estas memórias auditivas não são apenas pessoais, mas também comunitárias,
construindo uma lembrança coletiva que contribui para a formação do sentido de
identidade da comunidade.
Com uma precisão
militar, as sirenes serviam como um rigoroso mecanismo disciplinar, monitorando
meticulosamente a duração do trabalho. O toque retumbante do apito serviu como
um lembrete constante aos trabalhadores, marcando o início e o fim dos seus turnos,
garantindo a produção ininterrupta. Este sinal auditivo consistente estruturou
eficazmente a vida dos trabalhadores, aos quais foram atribuídas
responsabilidades distintas dentro das fábricas, cada uma contribuindo para a
intrincada rede da produção têxtil.
Nas fábricas,
indivíduos de diferentes gêneros e idades trabalhavam juntos, colaborando na
fabricação ininterrupta de fios e tecidos. A sinfonia de sons produzidos por
cada tarefa se fundiu, formando uma composição auditiva multifacetada que
refletia a variedade de responsabilidades e trabalhadores envolvidos.
As sirenes
emanadas das fábricas têxteis da Cia. Tecidos Santanense e Cia. Industrial
Itaunense serviu a um duplo propósito – não apenas como meio de controle, mas
também como elemento histórico e social na vida cotidiana dos moradores de
Itaúna. Estas sirenes ditavam a passagem do tempo e regulavam o ritmo da vida.
Hoje em dia, a lembrança destes sonidos serve como um lembrete nostálgico,
fazendo a ponte entre o passado e o presente, preservando a recordação de uma
época em que as fábricas e as suas paisagens auditivas tinham o maior
significado para inúmeros indivíduos.
O Brasão do
Município de Itaúna, instituído pela Lei nº 955 de 14 de outubro de 1969, é um
emblema repleto de simbolismo e significado, refletindo a rica história e as
características econômicas e culturais desta cidade mineira.
Em conformidade
com o Art. 1º do § 3º da Constituição Federal de 1967, que estipula a
obrigatoriedade de brasões e bandeiras municipais, Itaúna adotou seu brasão
dentro das normas da heráldica de domínio. Este tipo de heráldica, que também
rege as armas do Estado e da Nação, emprega atributos como plantas, animais,
instrumentos e paisagens para representar simbolicamente o município.
O brasão de Itaúna segue essa tradição, com destaque para a coroa mural, que simboliza a
cidade. No caso dos municípios brasileiros, esta coroa pode ter quatro ou oito
torres, representando a solidez e a importância do município.
As cores oficiais
de Itaúna, vermelho e verde, são também as cores do brasão. Estes tons não
foram escolhidos ao acaso; eles representam respectivamente o minério de ferro
e as matas da região. No coração do brasão, uma roda de fiar simboliza a
indústria têxtil pioneira da cidade. Esta roda é envolvida por uma engrenagem,
destacando o desenvolvimento industrial que se seguiu.
De um lado do
brasão, símbolos culturais destacando o ensino educacional. Por outro lado,
elementos da agricultura e pecuária destacam as riquezas rurais do município.
As datas do brasão — 1746 e 1901 — marcam as primeiras sesmarias da região e a
elevação de Itaúna à categoria de município, respectivamente.
A forma do escudo
foi cuidadosamente pesquisada para refletir o dinamismo entre retas e curvas,
simbolizando a energia e o crescimento contínuo da cidade. Este crescimento,
originado de uma base sólida, é uma característica marcante do povo de Itaúna. O
escudo apresenta cinco torres, representando a solidez e a estrutura urbana da
cidade. No centro, a roda de fiar antiga é um tributo à indústria têxtil,
essencial para o progresso de Itaúna.
Ao redor da roda,
engrenagens representam a indústria mecânica. O lado direito do brasão exibe o
símbolo do ensino, enquanto o lado esquerdo destaca os símbolos da agricultura
e pecuária. As cores vermelha e verde reforçam a ligação com os recursos
naturais da região, enquanto as datas lembram os marcos históricos de Itaúna.
Instituído pela
Lei nº 955, o Brasão do Município de Itaúna é mais do que um mero símbolo; ele
é uma representação viva da identidade, da história e do dinamismo do
município. Utilizado como timbre padrão em documentos e na identificação de
bens públicos, o brasão é uma marca inconfundível da cidade, enraizada na
memória e no orgulho de seus habitantes.
"Maria da Conceição Basílio de Jesus", conhecida carinhosamente como "Dona Sãozinha", nasceu em 10 de novembro de 1925, em Divinópolis, Minas Gerais. Aos treze anos, ela foi coroada Rainha da Irmandade de "Santa Ifigênia", uma posição que a marcou como uma figura central no Reinado de Nossa Senhora do Rosário em Itaúna, Minas Gerais, uma celebração de profunda importância cultural e religiosa para a comunidade afro-brasileira local.
Por 85 anos, Dona Sãozinha liderou a festa do Reinado, transformando sua casa no bairro Santo Antônio em um ponto de referência para as celebrações que ocorrem anualmente de 1º a 15 de agosto. Essa festa atrai milhares de participantes, incluindo políticos, artistas, congadeiros de outras cidades e pessoas da comunidade. Sua hospitalidade e liderança inquestionável fizeram de sua casa o “quartel-general” do Reinado, sede de três ternos ou “guardas” de congado: uma guarda de congo, um candombe e uma guarda de vilão.
Dona Sãozinha era mais que uma líder; ela era a personificação viva da tradição do Reinado. Todos os anos, no dia 1º de agosto, ela tinha a responsabilidade de levantar a Bandeira de "Santa Ifigênia", sinalizando o início das festividades. Essas celebrações eram ricas em dança, música, comida e a exibição de símbolos culturais como bandeiras e foguetes. O som de tambores, caixas, reco-recos, gungas e patangomes ecoava pela cidade, enraizando ainda mais a identidade cultural afro-brasileira na comunidade de Itaúna.
Sua morte, aos 98 anos, em 26 de dezembro de 2023, marcou o fim de uma era. O velório de Dona Sãozinha foi um evento solene, com cada capitão de guarda prestando sua homenagem com orações e cantos. O ritual de “descoroação” foi conduzido pelo capitão-mor, Mário, acompanhado por outros capitães, num processo repleto de simbolismo e reverência. O descoroamento envolveu a retirada ritual da coroa, manto e cetro da Rainha, todos manuseados com o uso de bastões, simbolizando a passagem de sua autoridade e a reverência pela sua figura.
O cortejo fúnebre de Dona Sãozinha percorreu locais significativos, incluindo sua casa, a capela da Irmandade das Sete Guardas e o cemitério central. Mesmo em meio à dor da perda, a comunidade celebrou sua vida e legado através de cânticos e homenagens, ressaltando sua importância como patrimônio cultural e religioso de Itaúna.
Dona Sãozinha deixou um legado profundo, não só em termos de liderança cultural e religiosa, mas também como uma guardiã das tradições afro-brasileiras. Sua missão agora passará para suas filhas e netas, que terão a responsabilidade de continuar as festividades do Reinado de Nossa Senhora do Rosário. A resistência cultural evidenciada pela construção da capela da Irmandade das Sete Guardas, após a proibição de entrada dos congadeiros na igreja pelo bispo D. Cabral na década de 1940, demonstra a resiliência e a determinação da comunidade em manter viva sua fé e suas tradições.
Em suma, Dona Sãozinha foi uma verdadeira matriarca que, através de sua vida, fé, trabalho e resiliência assegurou que as tradições e a cultura afro-brasileira continuassem a prosperar em Itaúna. Sua memória e influência perdurarão, assegurando que as futuras gerações compreendam e valorizem o rico patrimônio cultural, tangível e intangível, que a Rainha Perpétua de "Santa Ifigênia", do tradicional Reinado de Nossa Senhora do Rosário de Itaúna, tanto se esforçou para preservar.
Referências:
Pesquisa e elaboração: Charles Aquino
Imagem: Adilson Nogueira
Acervo Matrimonial: Paróquia de Sant'Ana de Itaúna
O hino do município de Itaúna reflete profundamente o orgulho e a identidade local, destacando elementos históricos, culturais e econômicos que moldaram a cidade. Itaúna, situada em Minas Gerais, é apresentada como uma comunidade de fé, trabalho e progresso, atributos frequentemente exaltados em hinos municipais para fortalecer o sentimento de pertencimento e unidade entre os cidadãos. A menção a Sant'Ana, padroeira da cidade, sublinha a importância da fé religiosa na formação da identidade local.
O hino é composto por três estrofes e um estribilho. A estrutura rítmica e métrica facilita a musicalidade e a memorização, características essenciais para hinos, que são frequentemente cantados em eventos cívicos e escolares. Cada estrofe aborda um aspecto diferente da cidade: sua fundação, seu crescimento e seu desenvolvimento econômico.
A primeira estrofe destaca a fundação da cidade, mencionando "um sonho de fé e grandeza". Os primeiros habitantes, descritos como "boa gente", escolheram Itaúna pela segurança e pela "certeza de um bom pouso". A referência à "pedra bem preta" pode simbolizar a firmeza e a durabilidade do assentamento inicial. A menção a Sant'Ana de São João Acima destaca a conexão religiosa e o início da formação comunitária, refletindo a importância da fé e da proteção divina na história da cidade.
A segunda estrofe celebra o crescimento de Itaúna, ressaltando o esforço dos ancestrais. A cidade é descrita como uma "comuna brilhante", destacando seu desenvolvimento contínuo e a contribuição significativa de sua população. A frase "peleja constante" indica a luta diária e o trabalho árduo dos itaunenses para fazer a cidade prosperar. Este crescimento é visto como um esforço coletivo, onde a comunidade trabalha unida para alcançar um objetivo comum.
A terceira estrofe foca no progresso econômico de Itaúna, destacando a importância da mineração e da indústria. O "ferro que corre em fusão" simboliza a riqueza mineral da região, enquanto "dar movimento às turbinas" sugere o uso eficiente dos recursos naturais para gerar energia. Itaúna é apresentada como um "centro de grande labor", com atividades industriais diversas, incluindo tecelagem, siderurgia e oficinas. Este progresso industrial é visto como um reflexo direto do valor e do trabalho árduo da população local.
A linguagem utilizada no hino é poética e rica em simbolismos. Expressões como "boa gente", "pedra bem preta" e "dorso rochoso" evocam imagens vívidas da história e da geografia locais. A menção ao "tear, alto forno e oficinas" ilustra a diversidade das atividades econômicas que sustentam a cidade. A escolha de palavras reflete uma conexão profunda com a terra e a história de Itaúna, criando uma narrativa que celebra tanto os recursos naturais quanto a determinação dos moradores.
O estribilho serve como um refrão que une todos os habitantes em um sentimento comum de orgulho e esperança. A repetição de "Itaúna, comuna brilhante" e "tua gente te sente crescer" reforça a ideia de crescimento e progresso contínuo. A expressão "deseja, em peleja constante, com anseio, em teu seio viver" destaca o desejo de fazer parte do desenvolvimento da cidade e viver em um lugar que está em constante evolução. Este sentimento de unidade é essencial para fortalecer a coesão social e o orgulho cívico.
O hino de Itaúna é eficaz em cumprir seu propósito de instilar orgulho e identidade cívica. No entanto, uma análise crítica também deve considerar a idealização presente na narrativa. O hino enfatiza as virtudes e realizações da cidade.
O hino do município de Itaúna é uma peça cultural significativa que celebra a fé, o trabalho e o progresso da cidade. Com uma linguagem poética e rica em simbolismos, ele reflete a identidade local e fortalece o sentimento de pertencimento dos itaunenses. A análise crítica revela tanto as virtudes exaltadas quanto as idealizações inerentes ao gênero, oferecendo uma visão abrangente do valor e do impacto desse hino para a comunidade. Ao reconhecer tanto os aspectos positivos quanto os desafios, podemos apreciar a complexidade e a riqueza da história de Itaúna.
HINO DE ITAÚNA
Por um sonho de fé e grandeza
Por aqui boa gente aportou
E na pedra bem preta a certeza
De um bom pouso, sem medo, marcou.
Foi Sant'Ana de São João Acima
Desta forma criada em Gerais.
Dentro em pouco subia na estima
Pelo esforço de seus ancestrais.
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Itaúna, comuna brilhante,
Tua gente te sente crescer
E deseja, em peleja constante, (Estribilho)
Com anseio, em teu seio viver!
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Sem perder de Sant'Ana bondosa
A certeira e feliz proteção,
Itaúna, surgiste grandiosa
E criaste em trabalho um padrão.
Hoje te ergues no Estado de Minas
Como um centro de grande labor.
No tear, no alto forno e oficinas
O teu povo te exalta o valor.
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Do teu dorso rochoso em colinas
Vem o ferro que corre em fusão.
Para dar movimento às turbinas
Em teu solo caminha o São João.
Com amor, Progressista Itaúna,
O teu povo jamais te faltou.
Pode, pois, te orgulhar da fortuna
Que na História teus passos guiou.
Referências:
Organização, arte e roteiro: Charles Aquino
Acervo: Prefeitura e Câmara Municipal de Itaúna...
Letra do Hino Oficial do Município : Dr. José Valeriano Rodrigues
Música: Professor Jesus Ferreira
Realizado no inverno de 2024
Santana do Rio São João Acima, hoje Itaúna, Minas Gerais - Pedra Negra
O testamento de
Manoel Gonçalves de Sousa Moreira, redigido em 1920, oferece um vislumbre
significativo da vida e dos valores de um empresário que não apenas acumulou
riqueza, mas também sentiu uma profunda responsabilidade de retribuir à
comunidade que o acolheu.
Este documento não é apenas uma declaração de última
vontade, mas um testemunho do compromisso com a caridade, amor pela cidade de
Itaúna e sobre os valores e as preocupações de uma figura proeminente da
sociedade mineira no início do século XX.
A análise deste testamento permite compreender aspectos importantes de
sua vida, suas relações familiares e sociais, bem como a sua visão de
filantropia e de preservação de sua memória.
O testamento de
Manoel Gonçalves é um documento rico que oferece reflexão sobre seus atos em
vida, valores e visão de mundo. Através de suas disposições, é possível
perceber um homem preocupado com o bem-estar de sua família, comprometido com a
caridade e a ajuda aos necessitados, e atento à preservação de sua memória e
legado. A análise crítica deste testamento revela um planejamento cuidadoso e
uma visão de longo prazo, refletindo uma vida marcada pela responsabilidade,
generosidade e devoção.
“Em nome de
Deus, Amém. É este o meu testamento e disposição de minha última vontade.
Declaro que sou natural da cidade de Itaúna, Estado de Minas Gerais, comarca da
cidade do Pará; que sou filho legítimo de Manoel José de Sousa Moreira e dona
Joaquina de Jesus, já falecidos; que sou casado com Maria Gonçalves de Sousa
Moreira, não havendo filhos de nosso casal; que os nossos bens se ligam; que
por este revogo "in totum" (no todo) o meu testamento anterior a
este, aprovado pelo Tabelião Doutor Plínio de Mendonça; e que nada devo a
pessoa alguma”.
Manoel Gonçalves
de Sousa Moreira inicia o testamento declarando sua origem e estado civil,
apontando para a ausência de descendentes diretos. Esta ausência faz com que
parte de sua herança seja direcionada à sua esposa, Maria Gonçalves de Sousa
Moreira, mais conhecida por Dona Cota, evidenciando a confiança e o desejo de
garantir seu conforto e estabilidade após sua morte. A ênfase no usufruto
vitalício da residência e de apólices federais sublinha a preocupação em prover
uma fonte de renda contínua e segura para Maria, além de uma moradia digna e
confortável.
A escolha de
distribuir bens significativos para sobrinhos e outros parentes próximos indica
uma preocupação com o bem-estar da família extensa, bem como uma tentativa de
assegurar que a riqueza familiar permaneça dentro do círculo familiar. A
estipulação de que as ações da Companhia Tecidos Santanense não podem ser
alienadas até os beneficiários atingirem 30 anos de idade revela uma intenção
clara de proteger esses ativos e garantir que os legatários amadureçam antes de
terem controle total sobre eles. Este aspecto do testamento demonstra um senso
de responsabilidade e uma tentativa de proteger os jovens herdeiros de decisões
financeiras imprudentes.
Disposições
Religiosas e Memoriais
As instruções
detalhadas sobre a celebração de missas por sua alma, bem como pela alma de
seus parentes próximos, mostram a importância da religião e da tradição
católica em sua vida. A ênfase nas missas anuais demonstra um desejo de
perpetuar a memória e a devoção familiar, reforçando os laços espirituais e
comunitários.
“Declaro que o
meu testamenteiro ou testamenteira, mandará celebrar cinquenta missas por minha
alma, além da do sétimo, trigésimo e quinquagésimo dia do meu falecimento, dez
por alma de meus parentes, dez por alma de minha mulher, dez por alma de meus
pais; que a administração da Casa de Caridade mandará celebrar anualmente,
enquanto ela existir, oito missas, sendo duas por minha alma, duas por alma de
minha mulher, duas por alma de meu pai e duas por alma de minha mãe”.
A construção de
um mausoléu de mármore e a preocupação com a sua conservação destacam um desejo
claro de garantir que sua memória seja preservada de forma digna e respeitosa —
“Deixo oito contos de réis para se erigir um mausoléu de mármore em meu jazigo
perpétuo, ficando a sua conservação, zelo e limpeza a cargo da administração da
"Casa de Caridade Manoel Gonçalves de Sousa Moreira", que o
conservará sempre limpo e bem cuidado”. Esta disposição é um reflexo do status
social e da importância atribuída à aparência e à manutenção de um legado
visível e respeitado.
Testamenteiros
e Cumprimento das Disposições
A nomeação de
múltiplos testamenteiros, incluindo sua esposa, afilhado e irmãos, com uma
clara ordem de sucessão, demonstra uma abordagem meticulosa e organizada. A
promessa de recompensa na forma de ações da Companhia Tecidos Santanense para o
testamenteiro que cumprir todas as disposições no prazo estipulado revela um
entendimento do valor do trabalho e do esforço necessários para administrar um
testamento complexo como este. A escolha de testamenteiros próximos e
confiáveis indica a confiança de Manoel em sua capacidade de executar suas
últimas vontades de forma eficiente e fiel.
Filantropia
e Legado Duradouro
Uma das partes
mais significativas do testamento é a criação da Casa de Caridade "Manoel
Gonçalves de Sousa Moreira". A instituição desta casa reflete não apenas a
generosidade e a preocupação de Manoel com os desfavorecidos, mas também a sua
intenção de deixar um legado duradouro para a comunidade de Itaúna. A
construção da casa em terreno comprado por ele e a garantia de fundos para sua
manutenção através de apólices e ações mostram um planejamento cuidadoso e uma
visão de longo prazo.
Manoel também
especifica que a administração da Casa de Caridade pode ser realizada pela
Câmara Municipal de Itaúna ou, na ausência desta, pela diretoria da Companhia
Tecidos Santanense. Esta escolha revela um entendimento pragmático das
estruturas de poder e uma tentativa de garantir que a instituição seja bem
administrada, independentemente das circunstâncias.
O aspecto mais
notável do testamento de Manoel é a sua decisão de deixar a maior parte de sua
fortuna para a construção da Casa de Caridade "Manoel Gonçalves de Sousa
Moreira" —
“Instituo a Casa de Caridade Manoel Gonçalves de Sousa
Moreira, herdeira do remanescente de todos os meus bens, valores e haveres,
deduzida a importância de todos os legados, de todas as minhas disposições e
despesas de funeral que será de primeira classe”.
Este ato de
generosidade não apenas reflete sua preocupação com os necessitados, mas também
sua intenção de criar um legado duradouro que perpetuasse seu nome e suas ações
benevolentes na comunidade de Itaúna.
A criação da Casa
de Caridade é um marco significativo. Manoel não apenas destinou fundos
substanciais para sua construção, mas também garantiu a manutenção da
instituição através de apólices federais e estaduais, além de ações da
Companhia Industrial Belo Horizonte e da Companhia Tecidos Santanense. Ele
cuidadosamente planejou para que a casa de caridade fosse sustentada pelos
juros e dividendos desses investimentos, assegurando sua viabilidade financeira
a longo prazo.
Compromisso
com a Comunidade
Manoel demonstrou
um profundo amor pela cidade de Itaúna e um compromisso inabalável em melhorar
a vida de seus habitantes. Ao especificar que a administração da Casa de
Caridade fosse conduzida pela Câmara Municipal de Itaúna, ou na falta desta,
pela diretoria da Companhia Tecidos Santanense, ele mostrou uma compreensão
clara das dinâmicas locais e garantiu que a instituição seria bem gerida. Esta
escolha de administração também evidencia sua confiança nas instituições locais
e sua crença na capacidade delas de perpetuar sua visão filantrópica.
O testamento de
Manoel Gonçalves de Sousa Moreira revela um empresário que, além de acumular
riqueza, dedicou-se a usar seus recursos para o bem-estar de sua comunidade.
Seu ato de deixar a maior parte de sua fortuna para a construção da Casa de
Caridade "Manoel Gonçalves de Sousa Moreira" não é apenas um exemplo
de filantropia, mas um símbolo de seu amor e compromisso com Itaúna. Através
deste gesto, Manoel não apenas garantiu que sua memória fosse perpetuada, mas
também que sua cidade natal continuasse a prosperar e a cuidar dos seus
necessitados. Este testamento é um tributo duradouro à generosidade e à visão
de um homem cuja influência positiva será sentida por muitas gerações.
Hoje, que você completa
nove anos, gostaria muito de eternizar este dia e parar a corrida do tempo para
conservá-la sempre criança.
Vendo-a tão
meiga, flor que desabrocha, você é, filha amada, minha esperança, menina —
ternura, amor em forma de paz.
Hoje, tenho
vontade de contar-lhe que casinha de brinquedos, cacos de vidro, colo de árvore
baixa e enxurrada deveriam ser o seu mundo.
Que eu brincava
assim com meus irmãos, no inesquecível quintal de minha avó.
Que
castanha-do-pará, caída do pé, num estalinho gostoso, é prato de festa em
batizado de bonecas.
Que sobre os
muros lodados, há um, mundo de ovos dourados de borboletas azuis, vermelhas e
amarelas...
Que à noite há
fadas de longos vestidos brancos, chapéu em cone e varinha de condão ...
E há cogumelos
redondos e encantados onde vivem joaninhas e anões.
Que a bruxa de
nariz com verruga, vestida de preto, voa todas as noites sobre o telhado,
rodando o sono das crianças.
Mas não vou
dizer-lhe nada. Não tenho o direito de penetrar neste seu mundo encantado, hoje
bem diferente da meninice que vivi. Vou retratar apenas dentro de minha alma,
este seu rostinho tão lindo, este cabelo encaracolado a roçar-lhe os ombros,
esta vivacidade que me encanta.
E, perpetuando
este momento, você será sempre menina para mim. Sua vida, esta ventura, este
milagre de ter apenas nove anos.
Sua mãe, aos
dezoito de janeiro de mil novecentos e setenta e nove... Santana do Rio São
João Acima, hoje Itaúna, Minas Gerais - Pedra Negra
"Minha
Menina"
O texto
"Minha Menina" é uma tocante declaração de amor de uma mãe para sua
filha em seu nono aniversário. Através de uma narrativa nostálgica e poética, a
autora expressa o desejo de eternizar a infância da filha, relembrando a
simplicidade e a magia de sua própria meninice. O texto é escrito em um tom
pessoal e íntimo, com uma linguagem que mistura simplicidade e lirismo. A
estrutura é composta por frases curtas e parágrafos que refletem uma conversa
direta com a filha. A mãe descreve suas memórias de infância com detalhes
vívidos e poéticos, criando uma atmosfera encantadora e quase mágica.
A linguagem do
texto é altamente evocativa, utilizando metáforas e imagens para pintar um
quadro vívido da infância. Frases como "flor que desabrocha" e
"minha esperança, menina — ternura, amor em forma de paz" demonstram
a habilidade da autora em capturar emoções profundas e complexas em palavras
simples. A riqueza das descrições sensoriais, como o "estalinho
gostoso" da castanha-do-pará, transporta o leitor para o mundo descrito.
Há uma reflexão
melancólica sobre o passar do tempo e a impossibilidade de deter o crescimento
da filha. A mãe reconhece que não tem o direito de "penetrar neste seu
mundo encantado", aceitando que a infância da filha é distinta da sua.
Este reconhecimento adiciona uma camada de resignação ao texto, equilibrando a
nostalgia com a aceitação.
"Minha
Menina" é uma carta que ressoa com amor, nostalgia e a beleza efêmera da
infância. Através de uma narrativa poética e envolvente, a autora captura o
desejo universal de preservar momentos preciosos e a inevitável aceitação da
passagem do tempo. O texto é um tributo à inocência e à magia da infância,
celebrando a alegria simples e a imaginação vívida que caracterizam essa fase
da vida. Em suma, o texto é um exemplo comovente de como a literatura pode
eternizar sentimentos e momentos, oferecendo ao leitor uma janela para as
profundezas das emoções humanas.
Referência:
Organização, arte e análise: Charles Aquino
OLIVEIRA. Maria Lúcia Mendes. Recado (em pedra e pétalas). Luciana Menina, p.49-50.
Professora Celuta das Neves: uma
Vida Dedicada à Educação e Humanidade.
Nascida em 12 de novembro de
1885, na bucólica Passagem de Mariana, um distrito do município de Mariana,
Minas Gerais, Celuta das Neves tinha o destino marcado pela dedicação ao ensino
e pela paixão por ajudar o próximo. Filha de Augusto de Faria Neves e
Sebastiana Neves, desde cedo demonstrou uma inclinação para a educação, que a
acompanharia por toda a vida.
Em 1900, Celuta formou-se
normalista pelo Colégio Providência de Mariana, um feito notável para a época,
especialmente para uma mulher jovem em uma sociedade predominantemente
patriarcal. De 1901 a 1907, ela lecionou francês com maestria, deixando uma marca
inapagável em seus alunos. Em janeiro de 1908, uma nova fase começou quando foi
nomeada professora primária em Pequi, Minas Gerais, pelo então governador João
Pinheiro da Silva. Em Pequi, Celuta lecionou até 1919, antes de ser transferida
para Itaúna, Minas Gerais, onde continuaria sua missão educacional até sua
aposentadoria em 1942.
Itaúna tornou-se não apenas seu
local de trabalho, mas também sua casa e a comunidade onde fez contribuições
inestimáveis. No Grupo Escolar Dr. Augusto Gonçalves, além de ensinar, ela
ocupou o cargo de vice-diretora, influenciando decisivamente a vida de inúmeros
alunos. Mesmo após a aposentadoria, Celuta continuou a dar aulas particulares,
dedicando-se a ensinar até a véspera de sua morte.
Celuta casou-se em 17 de agosto
de 1913, em Pequi, com José Lopes de Oliveira. Juntos, tiveram cinco filhos,
cada um deles refletindo a dedicação e os valores que Celuta inspirou. A vida
familiar, no entanto, não foi isenta de tragédias. Suas Filhas, Dora Alice e Eni
de Oliveira faleceram no mesmo dia, em 10 de maio de 1927, uma de pneumonia e a
outra atropelada enquanto se dirigia à igreja, vestida de anjo para coroar
Nossa Senhora. Essas perdas profundas marcaram a vida de Celuta, mas não
diminuíram seu espírito indomável e sua dedicação à educação.
Reconhecida por sua contribuição
extraordinária, Celuta recebeu o título de Cidadã Honorária de Itaúna em 1965.
Após sua morte em 5 de junho de 1968, sua memória continuou viva. Em 1974, uma
escola no bairro de Lourdes foi nomeada em sua homenagem, perpetuando seu
legado de amor pela educação e compromisso com a comunidade. Em 1994, essa
escola foi municipalizada, reafirmando a importância de Celuta das Neves na
história educacional de Itaúna.
Celuta das Neves não foi apenas
professora; ela foi um anjo da guarda e amiga de seus alunos. Sua figura
afrodescendente foi um farol de sabedoria e resiliência. Muitos jovens, de
diferentes origens sociais, procuraram as suas aulas particulares, encontrando
nela não só uma educadora, mas também uma fonte de inspiração e apoio. Suas
aulas de português, matemática e datilografia eram mais do que aulas
acadêmicas; foram momentos de formação de caráter e preparação para o futuro.
Sua influência ultrapassou as paredes da sala de aula, moldando o caráter e as
ambições de seus alunos.
Caros alunos e comunidade da
Escola Municipal Professora Celuta das Neves, hoje, nos reunimos para honrar e
celebrar o legado de uma mulher extraordinária, cuja vida e trabalho deixaram
marcas resistentes em nossa história. Celuta das Neves, cuja dedicação à
educação e ao bem-estar de seus alunos continua a inspirar-nos, é um exemplo
brilhante de como uma pessoa pode transformar vidas e comunidades através do
ensino.
Celuta das Neves foi uma exímia
educadora em sua época, deixando um legado que transcende gerações. Sua vida é
um testemunho do poder transformador da educação e do impacto duradouro que um
professor dedicado pode ter na vida de seus alunos e na comunidade em geral.
Sua memória continua a ser uma inspiração, lembrando-nos da importância de
dedicar-se ao bem-estar e ao desenvolvimento dos outros. Seu trabalho
incansável e sua paixão pelo ensino criaram um ambiente de aprendizado e
crescimento que beneficiou gerações de estudantes.
Que seu legado nos lembre
diariamente da importância de buscarmos o conhecimento com entusiasmo, de
apoiarmos uns aos outros com generosidade e de trabalharmos com dedicação para
construir um futuro melhor para todos. Como alunos desta escola, vocês são os
herdeiros dessa grande história, e cabe a vocês continuar a honrar a memória de
Celuta das Neves, mantendo vivos os valores que ela tanto prezava. Que sua
jornada de aprendizado aqui na Escola Municipal Professora Celuta das Neves
seja sempre guiada pelo espírito de excelência, compaixão e determinação que
ela exemplificou em sua vida.
História narrada em áudio! Imperdível!
Organização,
arte e pesquisa: Historiador Charles Aquino, ex-aluno da escola Celuta das
Neves.
Colaboradores:
Direção e professores da Escola Celuta das neves, Professor Luiz Otávio Rabelo
e Prefeitura Municipal de Itaúna.
Realizado em Sant'Ana
do Rio São João Acima, hoje Itaúna/MG — Pedra Negra!
Esta pesquisa inédita inclui a biografia da professora Dolores Nogueira Penido, elaborada por Agostinho Nogueira Araújo em 1982. Inclui também um conciso estudo genealógico de sua linhagem familiar, bem como a imortalização através do projeto de lei que nomeia uma escola municipal em homenagem a sua contribuição e o sincero agradecimento que lhe é demonstrado pelos moradores do "Povoado de Pedra", ou São José de Pedras, no município de Itaúna/MG. Boa leitura.
Escola Rural do “Povoado de Pedra” do Município de Itaúna.
A Escola Rural do povoado de Pedra, deste Município de Itaúna, vem funcionado há longos anos, prestando inestimáveis serviços à comunidade. Os registros revelam que centenas de pessoas nascidas e criadas nas imediações, tiveram a alfabetização realizada naquela Escola. Principalmente no princípio, quando a dificuldade de comunicação era imensa, quando as famílias se fixavam no local com os seus componentes, a Escola exercia uma função muito importante.
O Testamento de
João Lopes da Silva, datado de 26 de setembro de 1848, é um documento em que o
testador, gravemente enfermo, estabelece suas últimas vontades e distribui seus
bens. João Lopes da Silva, natural da Freguesia de Santa Anna do Rio São João Acima,
do povoado do Córrego do Soldado, filho de Salvador Lopes Rodrigues e Maria
Fernandes da Silva... declara que sempre se manteve solteiro e não possui
herdeiros diretos.
João nomeia seus
irmãos Alexandre Lopes da Silva e Manoel Lopes da Silva como seus
testamenteiros, dando prioridade ao primeiro. Ele premia Alexandre com os bens
das casas da Fazenda da Cachoeira, exceto os trastes, além de seis alqueires de
terras de cultura na Cachoeira. A Manoel, João deixa um par de esporas de prata
e um garrote lavrado de dois anos.
Como irmão
terceiro da Senhora do Carmo, João solicita que seu testamenteiro pague
qualquer dívida à Irmandade. Ele especifica que seu corpo seja acompanhado por
dois clérigos no enterro e que sejam celebradas 140 missas para sua alma,
incluindo dois oitavários, e mais 40 missas, divididas igualmente entre as
almas de seus falecidos pais.
João também deixa
uma novilha de um ano para cada um de seus três afilhados: Antônio, filho de
seu irmão Antônio; José, filho de seu irmão Manoel; e Manoel, filho de seu
irmão José. Adicionalmente, determina que um carro de milho seja distribuído
aos pobres.
O restante de
seus bens é legado a Rita, filha de Manoel Lopes Rodrigues, morador desta
Freguesia. Alexandre, como testamenteiro, é encarregado de administrar os bens
de Rita até que ela esteja habilitada ou incapaz de fazê-lo, atuando também
como seu tutor.
O testamento foi
redigido pelo tabelião Quintiliano José Pinto, a pedido de João, e assinado
pelo testador. Foi aberto em 11 de outubro de 1848 em Santa Anna pelo juiz de
Paz João Nogueira Coelho Duarte, com Alexandre Lopes da Silva aceitando seu
papel de testamenteiro.
Narrativa em áudio! Imperdível!
Referências:
Pesquisa e Paleografia: Dr. Alan Penido.
Elaboração, arte e roteiro: Charles Aquino.
Fonte: Acervo Testamentário do IHP – Instituto Histórico de Pitangui – Minas Gerais
Nesse período, a cidade contou com um fornecimento limitado de energia elétrica fornecida pela Companhia Industrial Itaunense. A escassez de eletricidade, especialmente no período de seca, exigiu encerramentos noturnos periódicos. Diante disso, Dr. Coutinho despachou um mensageiro à empresa, solicitando que não cortassem a energia naquela tarde devido ao procedimento cirúrgico agendado. A cirurgia começou no final da noite, por volta das 18h30.
Maria Xavier Ferreira, a devotada esposa de Eduardo, permanecia ansiosa no corredor do hospital, aguardando ansiosamente as novidades. De repente, uma queda de energia mergulhou toda a instalação na escuridão. Em meio à escuridão, um som fraco de uma porta se abrindo ressoou, chamando a atenção de Maria. Para seu espanto, o Dr. Coutinho saiu da sala de cirurgia segurando uma vela. Tomada de preocupação, Maria, com a voz cheia de tristeza e lágrimas nos olhos, perguntou se Eduardo havia falecido. Sem hesitar, o Dr. Coutinho a tranquilizou, afirmando que Eduardo ainda estava vivo.
Ele então solicitou a Maria que o acompanhasse até a sala de cirurgia, entregando-lhe a vela e disse: acompanhe-me e preste-me sua ajuda dentro do bloco operatório. Por favor, segure esta vela, pois estamos prestes a iniciar a operação e nosso tempo é de extremo valor. O tempo era essencial e não havia espaço para atrasos. Dr. Coutinho realizou habilmente a cirurgia à luz bruxuleante da vela, resultando em um retumbante triunfo. Após ser operado aos 46 anos, o Sr. Eduardo Ferreira Amaral teve a sorte de desfrutar mais 47 anos de vida alegre e plena com seus entes queridos, até falecer pacificamente em 2001.
Fonte Oral: Professor Marco Elísio Chaves Coutinho & Dª Vera Coutinho