terça-feira, julho 30, 2024

ENSINO DOS SÍMBOLOS

LEI Nº 3.278, de 12 de agosto de 1997

Dispõe sobre a obrigatoriedade do ENSINO DO SIGNIFICADO DOS SÍMBOLOS

OFICIAIS DO MUNICÍPIO, bem como do CANTO E DA INTERPRETAÇÃO DA LETRA DO HINO MUNICIPAL nos Estabelecimentos de Ensino Público do Município e dá outras providências.

O Povo do Município de Itaúna, por seus representantes aprovou, e eu, em seu nome, sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º. É obrigatório o ensino do significado e valor dos símbolos oficiais do Município, bem como do canto e da interpretação da letra do Hino Municipal, em todos os estabelecimentos de ensino do Município.


Parágrafo único. São símbolos oficiais: o HINO, a BANDEIRA e o BRASÃO.

Art. 2º. O Prefeito Municipal regulamentará a presente Lei no prazo de 30 (trinta) dias.

Art. 3º. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 4º. Revogam-se as disposições em contrário.

PREFEITURA MUNICIPAL DE ITAÚNA, 12 de agosto de 1997

OSMANDO PEREIRA DA SILVA

Prefeito Municipal


BANDEIRA DE ITAÚNA  ✅

HINO DO MUNICÍPIO DE ITAÚNA ✅

BRASÃO DO MUNICÍPIO DE ITAÚNA ✅

Análise da Bandeira de Itaúna.


Organização, arte, pesquisa e roteiro: Historiador Charles Aquino

Prefeitura e Câmara Municipal de Itaúna. Lei Nº 3.278, de 12 de agosto de 1997


segunda-feira, julho 29, 2024

SONIDOS DAS FÁBRICAS

O amanhecer era sinalizado pelas sirenes estridentes emanadas das tecelagens da Cia. Industrial Itaunense e Cia. de Tecidos Santanense. Esses sonidos estridentes e duradouros não apenas despertavam toda a cidade do sono, mas também iniciavam um espetáculo diário de trabalhadores caminhando para suas respectivas tarefas. Ressoando incessantemente dia e noite, as sirenes denotavam as transições entre os turnos, orquestrando a cadência de existência tanto dos operários das fábricas quanto dos moradores do entorno.

No município de Itaúna, Minas Gerais, o cotidiano dos moradores se confundia com a cacofonia das fábricas. Os passos agitados dos trabalhadores, as conversas das pessoas, os comandos autoritários dos supervisores e os zumbidos implacáveis dos “teares mecânicos”, compunham uma sinfonia das indústrias que moldavam a paisagem auditiva da cidade. Cada som desempenhava um papel distinto: as sirenes que acenavam e se despediam dos trabalhadores, os passos rítmicos que ressoavam pelas ruas e os zumbidos incessantes das máquinas que nunca cessavam as suas atividades.

No início, a paisagem urbana era acompanhada por tranquilos ruídos rurais ou por completo silêncio. No entanto, a criação da Cia. Tecido Santanense em 1891, no período em que a região era apenas um modesto vilarejo de Sant'Ana do Rio São João Acima, bem como a fundação da Cia. Industrial Itaunense, em 1911, trouxe notáveis ​​transformações na composição econômica e demográfica. Consequentemente, surgindo o próspero município de Pedra Negra — Itaúna.

A presença das fábricas transformou a paisagem urbana, à medida que as sirenes penetrantes se tornaram uma presença auditiva avassaladora. Isso remodelou a percepção de tempo e espaço dentro da cidade. As sirenes serviam um duplo propósito – não apenas como cronometristas, mas também como instrumentos de controle, ditando os movimentos dos trabalhadores e consequentemente estabelecendo o ritmo da vida na cidade.

Os indivíduos que vivenciaram esta época em primeira mão, como narradores nas suas próprias recordações, consideraram o som das sirenes um emblema significativo e governante da sua existência quotidiana. Mesmo muito depois do fato, numerosos indivíduos afirmam que ainda conseguem ouvir “o apito da sirene nas suas mentes”, uma reverberação do passado que continua a prevalecer no presente. Estas memórias auditivas não são apenas pessoais, mas também comunitárias, construindo uma lembrança coletiva que contribui para a formação do sentido de identidade da comunidade.

Com uma precisão militar, as sirenes serviam como um rigoroso mecanismo disciplinar, monitorando meticulosamente a duração do trabalho. O toque retumbante do apito serviu como um lembrete constante aos trabalhadores, marcando o início e o fim dos seus turnos, garantindo a produção ininterrupta. Este sinal auditivo consistente estruturou eficazmente a vida dos trabalhadores, aos quais foram atribuídas responsabilidades distintas dentro das fábricas, cada uma contribuindo para a intrincada rede da produção têxtil.

Nas fábricas, indivíduos de diferentes gêneros e idades trabalhavam juntos, colaborando na fabricação ininterrupta de fios e tecidos. A sinfonia de sons produzidos por cada tarefa se fundiu, formando uma composição auditiva multifacetada que refletia a variedade de responsabilidades e trabalhadores envolvidos.

As sirenes emanadas das fábricas têxteis da Cia. Tecidos Santanense e Cia. Industrial Itaunense serviu a um duplo propósito – não apenas como meio de controle, mas também como elemento histórico e social na vida cotidiana dos moradores de Itaúna. Estas sirenes ditavam a passagem do tempo e regulavam o ritmo da vida. Hoje em dia, a lembrança destes sonidos serve como um lembrete nostálgico, fazendo a ponte entre o passado e o presente, preservando a recordação de uma época em que as fábricas e as suas paisagens auditivas tinham o maior significado para inúmeros indivíduos.

Charles Aquino 

Narrativa histórica em áudio. Imperdível!

Disponível também em: Jornal Folha do Povo - Itaúna/MG ✅

domingo, julho 28, 2024

BRASÃO DE ITAÚNA

Brasão do Município de Itaúna: Símbolo de Identidade e História

O Brasão do Município de Itaúna, instituído pela Lei nº 955 de 14 de outubro de 1969, é um emblema repleto de simbolismo e significado, refletindo a rica história e as características econômicas e culturais desta cidade mineira.

Em conformidade com o Art. 1º do § 3º da Constituição Federal de 1967, que estipula a obrigatoriedade de brasões e bandeiras municipais, Itaúna adotou seu brasão dentro das normas da heráldica de domínio. Este tipo de heráldica, que também rege as armas do Estado e da Nação, emprega atributos como plantas, animais, instrumentos e paisagens para representar simbolicamente o município.

O brasão de Itaúna segue essa tradição, com destaque para a coroa mural, que simboliza a cidade. No caso dos municípios brasileiros, esta coroa pode ter quatro ou oito torres, representando a solidez e a importância do município.

As cores oficiais de Itaúna, vermelho e verde, são também as cores do brasão. Estes tons não foram escolhidos ao acaso; eles representam respectivamente o minério de ferro e as matas da região. No coração do brasão, uma roda de fiar simboliza a indústria têxtil pioneira da cidade. Esta roda é envolvida por uma engrenagem, destacando o desenvolvimento industrial que se seguiu.

De um lado do brasão, símbolos culturais destacando o ensino educacional. Por outro lado, elementos da agricultura e pecuária destacam as riquezas rurais do município. As datas do brasão — 1746 e 1901 — marcam as primeiras sesmarias da região e a elevação de Itaúna à categoria de município, respectivamente.

A forma do escudo foi cuidadosamente pesquisada para refletir o dinamismo entre retas e curvas, simbolizando a energia e o crescimento contínuo da cidade. Este crescimento, originado de uma base sólida, é uma característica marcante do povo de Itaúna. O escudo apresenta cinco torres, representando a solidez e a estrutura urbana da cidade. No centro, a roda de fiar antiga é um tributo à indústria têxtil, essencial para o progresso de Itaúna.

Ao redor da roda, engrenagens representam a indústria mecânica. O lado direito do brasão exibe o símbolo do ensino, enquanto o lado esquerdo destaca os símbolos da agricultura e pecuária. As cores vermelha e verde reforçam a ligação com os recursos naturais da região, enquanto as datas lembram os marcos históricos de Itaúna.

Instituído pela Lei nº 955, o Brasão do Município de Itaúna é mais do que um mero símbolo; ele é uma representação viva da identidade, da história e do dinamismo do município. Utilizado como timbre padrão em documentos e na identificação de bens públicos, o brasão é uma marca inconfundível da cidade, enraizada na memória e no orgulho de seus habitantes.

SAIBA MAIS EM: BRASÃO DO MUNICÍPIO DE ITAÚNA


REFERÊNCIAS:

Organização e pesquisa: Charles Aquino.







sexta-feira, julho 26, 2024

RAINHA DA IRMANDADE

"Maria da Conceição Basílio de Jesus", conhecida carinhosamente como "Dona Sãozinha", nasceu em 10 de novembro de 1925, em Divinópolis, Minas Gerais. Aos treze anos, ela foi coroada Rainha da Irmandade de "Santa Ifigênia", uma posição que a marcou como uma figura central no Reinado de Nossa Senhora do Rosário em Itaúna, Minas Gerais, uma celebração de profunda importância cultural e religiosa para a comunidade afro-brasileira local.

   Por 85 anos, Dona Sãozinha liderou a festa do Reinado, transformando sua casa no bairro Santo Antônio em um ponto de referência para as celebrações que ocorrem anualmente de 1º a 15 de agosto. Essa festa atrai milhares de participantes, incluindo políticos, artistas, congadeiros de outras cidades e pessoas da comunidade. Sua hospitalidade e liderança inquestionável fizeram de sua casa o “quartel-general” do Reinado, sede de três ternos ou “guardas” de congado: uma guarda de congo, um candombe e uma guarda de vilão.

   Dona Sãozinha era mais que uma líder; ela era a personificação viva da tradição do Reinado. Todos os anos, no dia 1º de agosto, ela tinha a responsabilidade de levantar a Bandeira de "Santa Ifigênia", sinalizando o início das festividades. Essas celebrações eram ricas em dança, música, comida e a exibição de símbolos culturais como bandeiras e foguetes. O som de tambores, caixas, reco-recos, gungas e patangomes ecoava pela cidade, enraizando ainda mais a identidade cultural afro-brasileira na comunidade de Itaúna.

   Sua morte, aos 98 anos, em 26 de dezembro de 2023, marcou o fim de uma era. O velório de Dona Sãozinha foi um evento solene, com cada capitão de guarda prestando sua homenagem com orações e cantos. O ritual de “descoroação” foi conduzido pelo capitão-mor, Mário, acompanhado por outros capitães, num processo repleto de simbolismo e reverência. O descoroamento envolveu a retirada ritual da coroa, manto e cetro da Rainha, todos manuseados com o uso de bastões, simbolizando a passagem de sua autoridade e a reverência pela sua figura.

  O cortejo fúnebre de Dona Sãozinha percorreu locais significativos, incluindo sua casa, a capela da Irmandade das Sete Guardas e o cemitério central. Mesmo em meio à dor da perda, a comunidade celebrou sua vida e legado através de cânticos e homenagens, ressaltando sua importância como patrimônio cultural e religioso de Itaúna. 

   Dona Sãozinha deixou um legado profundo, não só em termos de liderança cultural e religiosa, mas também como uma guardiã das tradições afro-brasileiras. Sua missão agora passará para suas filhas e netas, que terão a responsabilidade de continuar as festividades do Reinado de Nossa Senhora do Rosário. A resistência cultural evidenciada pela construção da capela da Irmandade das Sete Guardas, após a proibição de entrada dos congadeiros na igreja pelo bispo D. Cabral na década de 1940, demonstra a resiliência e a determinação da comunidade em manter viva sua fé e suas tradições. 

   Em suma, Dona Sãozinha foi uma verdadeira matriarca que, através de sua vida, fé, trabalho e resiliência assegurou que as tradições e a cultura afro-brasileira continuassem a prosperar em Itaúna. Sua memória e influência perdurarão, assegurando que as futuras gerações compreendam e valorizem o rico patrimônio cultural, tangível e intangível, que a Rainha Perpétua de "Santa Ifigênia", do tradicional Reinado de Nossa Senhora do Rosário de Itaúna, tanto se esforçou para preservar.


Referências:

Pesquisa e elaboração: Charles Aquino

Imagem: Adilson Nogueira

Acervo Matrimonial: Paróquia de Sant'Ana de Itaúna



terça-feira, julho 23, 2024

HINO DE ITAÚNA

Hino do Município de Itaúna, Minas Gerais

O hino do município de Itaúna reflete profundamente o orgulho e a identidade local, destacando elementos históricos, culturais e econômicos que moldaram a cidade. Itaúna, situada em Minas Gerais, é apresentada como uma comunidade de fé, trabalho e progresso, atributos frequentemente exaltados em hinos municipais para fortalecer o sentimento de pertencimento e unidade entre os cidadãos. A menção a Sant'Ana, padroeira da cidade, sublinha a importância da fé religiosa na formação da identidade local.

O hino é composto por três estrofes e um estribilho. A estrutura rítmica e métrica facilita a musicalidade e a memorização, características essenciais para hinos, que são frequentemente cantados em eventos cívicos e escolares. Cada estrofe aborda um aspecto diferente da cidade: sua fundação, seu crescimento e seu desenvolvimento econômico.

A primeira estrofe destaca a fundação da cidade, mencionando "um sonho de fé e grandeza". Os primeiros habitantes, descritos como "boa gente", escolheram Itaúna pela segurança e pela "certeza de um bom pouso". A referência à "pedra bem preta" pode simbolizar a firmeza e a durabilidade do assentamento inicial. A menção a Sant'Ana de São João Acima destaca a conexão religiosa e o início da formação comunitária, refletindo a importância da fé e da proteção divina na história da cidade.

A segunda estrofe celebra o crescimento de Itaúna, ressaltando o esforço dos ancestrais. A cidade é descrita como uma "comuna brilhante", destacando seu desenvolvimento contínuo e a contribuição significativa de sua população. A frase "peleja constante" indica a luta diária e o trabalho árduo dos itaunenses para fazer a cidade prosperar. Este crescimento é visto como um esforço coletivo, onde a comunidade trabalha unida para alcançar um objetivo comum.

A terceira estrofe foca no progresso econômico de Itaúna, destacando a importância da mineração e da indústria. O "ferro que corre em fusão" simboliza a riqueza mineral da região, enquanto "dar movimento às turbinas" sugere o uso eficiente dos recursos naturais para gerar energia. Itaúna é apresentada como um "centro de grande labor", com atividades industriais diversas, incluindo tecelagem, siderurgia e oficinas. Este progresso industrial é visto como um reflexo direto do valor e do trabalho árduo da população local.

A linguagem utilizada no hino é poética e rica em simbolismos. Expressões como "boa gente", "pedra bem preta" e "dorso rochoso" evocam imagens vívidas da história e da geografia locais. A menção ao "tear, alto forno e oficinas" ilustra a diversidade das atividades econômicas que sustentam a cidade. A escolha de palavras reflete uma conexão profunda com a terra e a história de Itaúna, criando uma narrativa que celebra tanto os recursos naturais quanto a determinação dos moradores.

O estribilho serve como um refrão que une todos os habitantes em um sentimento comum de orgulho e esperança. A repetição de "Itaúna, comuna brilhante" e "tua gente te sente crescer" reforça a ideia de crescimento e progresso contínuo. A expressão "deseja, em peleja constante, com anseio, em teu seio viver" destaca o desejo de fazer parte do desenvolvimento da cidade e viver em um lugar que está em constante evolução. Este sentimento de unidade é essencial para fortalecer a coesão social e o orgulho cívico.

O hino de Itaúna é eficaz em cumprir seu propósito de instilar orgulho e identidade cívica. No entanto, uma análise crítica também deve considerar a idealização presente na narrativa. O hino enfatiza as virtudes e realizações da cidade.

O hino do município de Itaúna é uma peça cultural significativa que celebra a fé, o trabalho e o progresso da cidade. Com uma linguagem poética e rica em simbolismos, ele reflete a identidade local e fortalece o sentimento de pertencimento dos itaunenses. A análise crítica revela tanto as virtudes exaltadas quanto as idealizações inerentes ao gênero, oferecendo uma visão abrangente do valor e do impacto desse hino para a comunidade. Ao reconhecer tanto os aspectos positivos quanto os desafios, podemos apreciar a complexidade e a riqueza da história de Itaúna.



 HINO DE ITAÚNA


Por um sonho de fé e grandeza

Por aqui boa gente aportou

E na pedra bem preta a certeza

De um bom pouso, sem medo, marcou.

Foi Sant'Ana de São João Acima

Desta forma criada em Gerais.

Dentro em pouco subia na estima

Pelo esforço de seus ancestrais.

 -----

Itaúna, comuna brilhante,

Tua gente te sente crescer

E deseja, em peleja constante, (Estribilho)

Com anseio, em teu seio viver!

----- 

Sem perder de Sant'Ana bondosa

A certeira e feliz proteção,

Itaúna, surgiste grandiosa

E criaste em trabalho um padrão.

Hoje te ergues no Estado de Minas

Como um centro de grande labor.

No tear, no alto forno e oficinas

O teu povo te exalta o valor.

----- 

Do teu dorso rochoso em colinas

Vem o ferro que corre em fusão.

Para dar movimento às turbinas

Em teu solo caminha o São João.

Com amor, Progressista Itaúna,

O teu povo jamais te faltou.

Pode, pois, te orgulhar da fortuna

Que na História teus passos guiou.

Referências:

Organização, arte e roteiro: Charles Aquino

Acervo: Prefeitura e Câmara Municipal de Itaúna...

Letra do Hino Oficial  do Município : Dr. José Valeriano Rodrigues 

Música: Professor Jesus Ferreira

Realizado no inverno de 2024 

Santana do Rio São João Acima, hoje Itaúna, Minas Gerais - Pedra Negra


sábado, julho 20, 2024

TESTAMENTO MANOEL

O testamento de Manoel Gonçalves de Sousa Moreira, redigido em 1920, oferece um vislumbre significativo da vida e dos valores de um empresário que não apenas acumulou riqueza, mas também sentiu uma profunda responsabilidade de retribuir à comunidade que o acolheu.

Este documento não é apenas uma declaração de última vontade, mas um testemunho do compromisso com a caridade, amor pela cidade de Itaúna e sobre os valores e as preocupações de uma figura proeminente da sociedade mineira no início do século XX.

A análise deste testamento permite compreender aspectos importantes de sua vida, suas relações familiares e sociais, bem como a sua visão de filantropia e de preservação de sua memória.

O testamento de Manoel Gonçalves é um documento rico que oferece reflexão sobre seus atos em vida, valores e visão de mundo. Através de suas disposições, é possível perceber um homem preocupado com o bem-estar de sua família, comprometido com a caridade e a ajuda aos necessitados, e atento à preservação de sua memória e legado. A análise crítica deste testamento revela um planejamento cuidadoso e uma visão de longo prazo, refletindo uma vida marcada pela responsabilidade, generosidade e devoção.

“Em nome de Deus, Amém. É este o meu testamento e disposição de minha última vontade. Declaro que sou natural da cidade de Itaúna, Estado de Minas Gerais, comarca da cidade do Pará; que sou filho legítimo de Manoel José de Sousa Moreira e dona Joaquina de Jesus, já falecidos; que sou casado com Maria Gonçalves de Sousa Moreira, não havendo filhos de nosso casal; que os nossos bens se ligam; que por este revogo "in totum" (no todo) o meu testamento anterior a este, aprovado pelo Tabelião Doutor Plínio de Mendonça; e que nada devo a pessoa alguma”.

Manoel Gonçalves de Sousa Moreira inicia o testamento declarando sua origem e estado civil, apontando para a ausência de descendentes diretos. Esta ausência faz com que parte de sua herança seja direcionada à sua esposa, Maria Gonçalves de Sousa Moreira, mais conhecida por Dona Cota, evidenciando a confiança e o desejo de garantir seu conforto e estabilidade após sua morte. A ênfase no usufruto vitalício da residência e de apólices federais sublinha a preocupação em prover uma fonte de renda contínua e segura para Maria, além de uma moradia digna e confortável.

A escolha de distribuir bens significativos para sobrinhos e outros parentes próximos indica uma preocupação com o bem-estar da família extensa, bem como uma tentativa de assegurar que a riqueza familiar permaneça dentro do círculo familiar. A estipulação de que as ações da Companhia Tecidos Santanense não podem ser alienadas até os beneficiários atingirem 30 anos de idade revela uma intenção clara de proteger esses ativos e garantir que os legatários amadureçam antes de terem controle total sobre eles. Este aspecto do testamento demonstra um senso de responsabilidade e uma tentativa de proteger os jovens herdeiros de decisões financeiras imprudentes.

 Disposições Religiosas e Memoriais

As instruções detalhadas sobre a celebração de missas por sua alma, bem como pela alma de seus parentes próximos, mostram a importância da religião e da tradição católica em sua vida. A ênfase nas missas anuais demonstra um desejo de perpetuar a memória e a devoção familiar, reforçando os laços espirituais e comunitários.

“Declaro que o meu testamenteiro ou testamenteira, mandará celebrar cinquenta missas por minha alma, além da do sétimo, trigésimo e quinquagésimo dia do meu falecimento, dez por alma de meus parentes, dez por alma de minha mulher, dez por alma de meus pais; que a administração da Casa de Caridade mandará celebrar anualmente, enquanto ela existir, oito missas, sendo duas por minha alma, duas por alma de minha mulher, duas por alma de meu pai e duas por alma de minha mãe”.

A construção de um mausoléu de mármore e a preocupação com a sua conservação destacam um desejo claro de garantir que sua memória seja preservada de forma digna e respeitosa — “Deixo oito contos de réis para se erigir um mausoléu de mármore em meu jazigo perpétuo, ficando a sua conservação, zelo e limpeza a cargo da administração da "Casa de Caridade Manoel Gonçalves de Sousa Moreira", que o conservará sempre limpo e bem cuidado”. Esta disposição é um reflexo do status social e da importância atribuída à aparência e à manutenção de um legado visível e respeitado.


 Testamenteiros e Cumprimento das Disposições

A nomeação de múltiplos testamenteiros, incluindo sua esposa, afilhado e irmãos, com uma clara ordem de sucessão, demonstra uma abordagem meticulosa e organizada. A promessa de recompensa na forma de ações da Companhia Tecidos Santanense para o testamenteiro que cumprir todas as disposições no prazo estipulado revela um entendimento do valor do trabalho e do esforço necessários para administrar um testamento complexo como este. A escolha de testamenteiros próximos e confiáveis indica a confiança de Manoel em sua capacidade de executar suas últimas vontades de forma eficiente e fiel.

 Filantropia e Legado Duradouro

 Uma das partes mais significativas do testamento é a criação da Casa de Caridade "Manoel Gonçalves de Sousa Moreira". A instituição desta casa reflete não apenas a generosidade e a preocupação de Manoel com os desfavorecidos, mas também a sua intenção de deixar um legado duradouro para a comunidade de Itaúna. A construção da casa em terreno comprado por ele e a garantia de fundos para sua manutenção através de apólices e ações mostram um planejamento cuidadoso e uma visão de longo prazo.

Manoel também especifica que a administração da Casa de Caridade pode ser realizada pela Câmara Municipal de Itaúna ou, na ausência desta, pela diretoria da Companhia Tecidos Santanense. Esta escolha revela um entendimento pragmático das estruturas de poder e uma tentativa de garantir que a instituição seja bem administrada, independentemente das circunstâncias.

O aspecto mais notável do testamento de Manoel é a sua decisão de deixar a maior parte de sua fortuna para a construção da Casa de Caridade "Manoel Gonçalves de Sousa Moreira" — 

“Instituo a Casa de Caridade Manoel Gonçalves de Sousa Moreira, herdeira do remanescente de todos os meus bens, valores e haveres, deduzida a importância de todos os legados, de todas as minhas disposições e despesas de funeral que será de primeira classe”.

Este ato de generosidade não apenas reflete sua preocupação com os necessitados, mas também sua intenção de criar um legado duradouro que perpetuasse seu nome e suas ações benevolentes na comunidade de Itaúna.

A criação da Casa de Caridade é um marco significativo. Manoel não apenas destinou fundos substanciais para sua construção, mas também garantiu a manutenção da instituição através de apólices federais e estaduais, além de ações da Companhia Industrial Belo Horizonte e da Companhia Tecidos Santanense. Ele cuidadosamente planejou para que a casa de caridade fosse sustentada pelos juros e dividendos desses investimentos, assegurando sua viabilidade financeira a longo prazo.

 Compromisso com a Comunidade

Manoel demonstrou um profundo amor pela cidade de Itaúna e um compromisso inabalável em melhorar a vida de seus habitantes. Ao especificar que a administração da Casa de Caridade fosse conduzida pela Câmara Municipal de Itaúna, ou na falta desta, pela diretoria da Companhia Tecidos Santanense, ele mostrou uma compreensão clara das dinâmicas locais e garantiu que a instituição seria bem gerida. Esta escolha de administração também evidencia sua confiança nas instituições locais e sua crença na capacidade delas de perpetuar sua visão filantrópica.

O testamento de Manoel Gonçalves de Sousa Moreira revela um empresário que, além de acumular riqueza, dedicou-se a usar seus recursos para o bem-estar de sua comunidade. Seu ato de deixar a maior parte de sua fortuna para a construção da Casa de Caridade "Manoel Gonçalves de Sousa Moreira" não é apenas um exemplo de filantropia, mas um símbolo de seu amor e compromisso com Itaúna. Através deste gesto, Manoel não apenas garantiu que sua memória fosse perpetuada, mas também que sua cidade natal continuasse a prosperar e a cuidar dos seus necessitados. Este testamento é um tributo duradouro à generosidade e à visão de um homem cuja influência positiva será sentida por muitas gerações.

História narrada em áudio! Imperdível!

TESTAMENTO 1º PARTE

TESTAMENTO 2ª PARTE


Arte, pesquisa e roteiro: Historiador Charles Aquino ...

Fonte: Enciclopédia Ilustrada de Pesquisa: Itaúna em Detalhes...

Fascículo número 37, Ano 2003.

Acervo: Instituto Cultural Maria de Castro e Itaúna Décadas 

 

terça-feira, julho 16, 2024

MINHA MENINA

MINHA MENINA ... 

Hoje, que você completa nove anos, gostaria muito de eternizar este dia e parar a corrida do tempo para conservá-la sempre criança.

Vendo-a tão meiga, flor que desabrocha, você é, filha amada, minha esperança, menina — ternura, amor em forma de paz.

Hoje, tenho vontade de contar-lhe que casinha de brinquedos, cacos de vidro, colo de árvore baixa e enxurrada deveriam ser o seu mundo.

Que eu brincava assim com meus irmãos, no inesquecível quintal de minha avó.

Que castanha-do-pará, caída do pé, num estalinho gostoso, é prato de festa em batizado de bonecas.

Que sobre os muros lodados, há um, mundo de ovos dourados de borboletas azuis, vermelhas e amarelas...

Que à noite há fadas de longos vestidos brancos, chapéu em cone e varinha de condão ...

E há cogumelos redondos e encantados onde vivem joaninhas e anões.

Que a bruxa de nariz com verruga, vestida de preto, voa todas as noites sobre o telhado, rodando o sono das crianças.

Mas não vou dizer-lhe nada. Não tenho o direito de penetrar neste seu mundo encantado, hoje bem diferente da meninice que vivi. Vou retratar apenas dentro de minha alma, este seu rostinho tão lindo, este cabelo encaracolado a roçar-lhe os ombros, esta vivacidade que me encanta.

E, perpetuando este momento, você será sempre menina para mim. Sua vida, esta ventura, este milagre de ter apenas nove anos.

Sua mãe, aos dezoito de janeiro de mil novecentos e setenta e nove... Santana do Rio São João Acima, hoje Itaúna, Minas Gerais - Pedra Negra 


"Minha Menina"

O texto "Minha Menina" é uma tocante declaração de amor de uma mãe para sua filha em seu nono aniversário. Através de uma narrativa nostálgica e poética, a autora expressa o desejo de eternizar a infância da filha, relembrando a simplicidade e a magia de sua própria meninice. O texto é escrito em um tom pessoal e íntimo, com uma linguagem que mistura simplicidade e lirismo. A estrutura é composta por frases curtas e parágrafos que refletem uma conversa direta com a filha. A mãe descreve suas memórias de infância com detalhes vívidos e poéticos, criando uma atmosfera encantadora e quase mágica.

A linguagem do texto é altamente evocativa, utilizando metáforas e imagens para pintar um quadro vívido da infância. Frases como "flor que desabrocha" e "minha esperança, menina — ternura, amor em forma de paz" demonstram a habilidade da autora em capturar emoções profundas e complexas em palavras simples. A riqueza das descrições sensoriais, como o "estalinho gostoso" da castanha-do-pará, transporta o leitor para o mundo descrito.

Há uma reflexão melancólica sobre o passar do tempo e a impossibilidade de deter o crescimento da filha. A mãe reconhece que não tem o direito de "penetrar neste seu mundo encantado", aceitando que a infância da filha é distinta da sua. Este reconhecimento adiciona uma camada de resignação ao texto, equilibrando a nostalgia com a aceitação.

"Minha Menina" é uma carta que ressoa com amor, nostalgia e a beleza efêmera da infância. Através de uma narrativa poética e envolvente, a autora captura o desejo universal de preservar momentos preciosos e a inevitável aceitação da passagem do tempo. O texto é um tributo à inocência e à magia da infância, celebrando a alegria simples e a imaginação vívida que caracterizam essa fase da vida. Em suma, o texto é um exemplo comovente de como a literatura pode eternizar sentimentos e momentos, oferecendo ao leitor uma janela para as profundezas das emoções humanas.



Referência:

Organização, arte e análise: Charles Aquino 

OLIVEIRA. Maria Lúcia Mendes. Recado (em pedra e pétalas). Luciana Menina, p.49-50.

domingo, julho 14, 2024

PROFESSORA CELUTA

Professora Celuta das Neves: uma Vida Dedicada à Educação e Humanidade.

Nascida em 12 de novembro de 1885, na bucólica Passagem de Mariana, um distrito do município de Mariana, Minas Gerais, Celuta das Neves tinha o destino marcado pela dedicação ao ensino e pela paixão por ajudar o próximo. Filha de Augusto de Faria Neves e Sebastiana Neves, desde cedo demonstrou uma inclinação para a educação, que a acompanharia por toda a vida.

Em 1900, Celuta formou-se normalista pelo Colégio Providência de Mariana, um feito notável para a época, especialmente para uma mulher jovem em uma sociedade predominantemente patriarcal. De 1901 a 1907, ela lecionou francês com maestria, deixando uma marca inapagável em seus alunos. Em janeiro de 1908, uma nova fase começou quando foi nomeada professora primária em Pequi, Minas Gerais, pelo então governador João Pinheiro da Silva. Em Pequi, Celuta lecionou até 1919, antes de ser transferida para Itaúna, Minas Gerais, onde continuaria sua missão educacional até sua aposentadoria em 1942.

Itaúna tornou-se não apenas seu local de trabalho, mas também sua casa e a comunidade onde fez contribuições inestimáveis. No Grupo Escolar Dr. Augusto Gonçalves, além de ensinar, ela ocupou o cargo de vice-diretora, influenciando decisivamente a vida de inúmeros alunos. Mesmo após a aposentadoria, Celuta continuou a dar aulas particulares, dedicando-se a ensinar até a véspera de sua morte.

Celuta casou-se em 17 de agosto de 1913, em Pequi, com José Lopes de Oliveira. Juntos, tiveram cinco filhos, cada um deles refletindo a dedicação e os valores que Celuta inspirou. A vida familiar, no entanto, não foi isenta de tragédias. Suas Filhas, Dora Alice e Eni de Oliveira faleceram no mesmo dia, em 10 de maio de 1927, uma de pneumonia e a outra atropelada enquanto se dirigia à igreja, vestida de anjo para coroar Nossa Senhora. Essas perdas profundas marcaram a vida de Celuta, mas não diminuíram seu espírito indomável e sua dedicação à educação.

Reconhecida por sua contribuição extraordinária, Celuta recebeu o título de Cidadã Honorária de Itaúna em 1965. Após sua morte em 5 de junho de 1968, sua memória continuou viva. Em 1974, uma escola no bairro de Lourdes foi nomeada em sua homenagem, perpetuando seu legado de amor pela educação e compromisso com a comunidade. Em 1994, essa escola foi municipalizada, reafirmando a importância de Celuta das Neves na história educacional de Itaúna.

Celuta das Neves não foi apenas professora; ela foi um anjo da guarda e amiga de seus alunos. Sua figura afrodescendente foi um farol de sabedoria e resiliência. Muitos jovens, de diferentes origens sociais, procuraram as suas aulas particulares, encontrando nela não só uma educadora, mas também uma fonte de inspiração e apoio. Suas aulas de português, matemática e datilografia eram mais do que aulas acadêmicas; foram momentos de formação de caráter e preparação para o futuro. Sua influência ultrapassou as paredes da sala de aula, moldando o caráter e as ambições de seus alunos.

Caros alunos e comunidade da Escola Municipal Professora Celuta das Neves, hoje, nos reunimos para honrar e celebrar o legado de uma mulher extraordinária, cuja vida e trabalho deixaram marcas resistentes em nossa história. Celuta das Neves, cuja dedicação à educação e ao bem-estar de seus alunos continua a inspirar-nos, é um exemplo brilhante de como uma pessoa pode transformar vidas e comunidades através do ensino.

Celuta das Neves foi uma exímia educadora em sua época, deixando um legado que transcende gerações. Sua vida é um testemunho do poder transformador da educação e do impacto duradouro que um professor dedicado pode ter na vida de seus alunos e na comunidade em geral. Sua memória continua a ser uma inspiração, lembrando-nos da importância de dedicar-se ao bem-estar e ao desenvolvimento dos outros. Seu trabalho incansável e sua paixão pelo ensino criaram um ambiente de aprendizado e crescimento que beneficiou gerações de estudantes.

Que seu legado nos lembre diariamente da importância de buscarmos o conhecimento com entusiasmo, de apoiarmos uns aos outros com generosidade e de trabalharmos com dedicação para construir um futuro melhor para todos. Como alunos desta escola, vocês são os herdeiros dessa grande história, e cabe a vocês continuar a honrar a memória de Celuta das Neves, mantendo vivos os valores que ela tanto prezava. Que sua jornada de aprendizado aqui na Escola Municipal Professora Celuta das Neves seja sempre guiada pelo espírito de excelência, compaixão e determinação que ela exemplificou em sua vida.

 
 História narrada em áudio! Imperdível!

Organização, arte e pesquisa: Historiador Charles Aquino, ex-aluno da escola Celuta das Neves.

Colaboradores: Direção e professores da Escola Celuta das neves, Professor Luiz Otávio Rabelo e Prefeitura Municipal de Itaúna.

Realizado em Sant'Ana do Rio São João Acima, hoje Itaúna/MG — Pedra Negra!

sábado, julho 13, 2024

PROFESSORA DOLORES

Esta pesquisa inédita inclui a biografia da professora Dolores Nogueira Penido, elaborada por Agostinho Nogueira Araújo em 1982. Inclui também um conciso estudo genealógico de sua linhagem familiar, bem como a imortalização através do projeto de lei que nomeia uma escola municipal em homenagem a sua contribuição e o sincero agradecimento que lhe é demonstrado pelos moradores do "Povoado de Pedra", ou São José de Pedras, no município de Itaúna/MG. Boa leitura.

Escola Rural do “Povoado de Pedra” do Município de Itaúna.

A Escola Rural do povoado de Pedra, deste Município de Itaúna, vem funcionado há longos anos, prestando inestimáveis serviços à comunidade. Os registros revelam que centenas de pessoas nascidas e criadas nas imediações, tiveram a alfabetização realizada naquela Escola. Principalmente no princípio, quando a dificuldade de comunicação era imensa, quando as famílias se fixavam no local com os seus componentes, a Escola exercia uma função muito importante.

Biografia narrada em áudio! Imperdível!

 Organização, arte e pesquisa: Charles Aquino

sexta-feira, julho 12, 2024

TESTAMENTO JOÃO LOPES

O Testamento de João Lopes da Silva, datado de 26 de setembro de 1848, é um documento em que o testador, gravemente enfermo, estabelece suas últimas vontades e distribui seus bens. João Lopes da Silva, natural da Freguesia de Santa Anna do Rio São João Acima, do povoado do Córrego do Soldado, filho de Salvador Lopes Rodrigues e Maria Fernandes da Silva... declara que sempre se manteve solteiro e não possui herdeiros diretos.

João nomeia seus irmãos Alexandre Lopes da Silva e Manoel Lopes da Silva como seus testamenteiros, dando prioridade ao primeiro. Ele premia Alexandre com os bens das casas da Fazenda da Cachoeira, exceto os trastes, além de seis alqueires de terras de cultura na Cachoeira. A Manoel, João deixa um par de esporas de prata e um garrote lavrado de dois anos.

Como irmão terceiro da Senhora do Carmo, João solicita que seu testamenteiro pague qualquer dívida à Irmandade. Ele especifica que seu corpo seja acompanhado por dois clérigos no enterro e que sejam celebradas 140 missas para sua alma, incluindo dois oitavários, e mais 40 missas, divididas igualmente entre as almas de seus falecidos pais.

João também deixa uma novilha de um ano para cada um de seus três afilhados: Antônio, filho de seu irmão Antônio; José, filho de seu irmão Manoel; e Manoel, filho de seu irmão José. Adicionalmente, determina que um carro de milho seja distribuído aos pobres.

O restante de seus bens é legado a Rita, filha de Manoel Lopes Rodrigues, morador desta Freguesia. Alexandre, como testamenteiro, é encarregado de administrar os bens de Rita até que ela esteja habilitada ou incapaz de fazê-lo, atuando também como seu tutor.

O testamento foi redigido pelo tabelião Quintiliano José Pinto, a pedido de João, e assinado pelo testador. Foi aberto em 11 de outubro de 1848 em Santa Anna pelo juiz de Paz João Nogueira Coelho Duarte, com Alexandre Lopes da Silva aceitando seu papel de testamenteiro.

Narrativa em áudio! Imperdível!

Referências:

Pesquisa e Paleografia: Dr. Alan Penido.

Elaboração, arte e roteiro: Charles Aquino.

Fonte: Acervo Testamentário do IHP – Instituto Histórico de Pitangui – Minas Gerais

Transcrição do documento disponível em: Resgate da História

 

quinta-feira, julho 11, 2024

CASA DE CARIDADE

Eduardo Ferreira Amaral encontrou-se na Casa de Caridade Manoel Gonçalves de Souza Moreira no ano de 1954, localizada na cidade de Itaúna, devido a intenso desconforto abdominal. O Dr. Antônio Augusto de Lima Coutinho examinou-o prontamente e constatou que seu quadro era "APENDICITE SUPURADA", necessitando de intervenção cirúrgica imediata.

Nesse período, a cidade contou com um fornecimento limitado de energia elétrica fornecida pela Companhia Industrial Itaunense. A escassez de eletricidade, especialmente no período de seca, exigiu encerramentos noturnos periódicos. Diante disso, Dr. Coutinho despachou um mensageiro à empresa, solicitando que não cortassem a energia naquela tarde devido ao procedimento cirúrgico agendado.  A cirurgia começou no final da noite, por volta das 18h30.

Maria Xavier Ferreira, a devotada esposa de Eduardo, permanecia ansiosa no corredor do hospital, aguardando ansiosamente as novidades. De repente, uma queda de energia mergulhou toda a instalação na escuridão. Em meio à escuridão, um som fraco de uma porta se abrindo ressoou, chamando a atenção de Maria. Para seu espanto, o Dr. Coutinho saiu da sala de cirurgia segurando uma vela. Tomada de preocupação, Maria, com a voz cheia de tristeza e lágrimas nos olhos, perguntou se Eduardo havia falecido. Sem hesitar, o Dr. Coutinho a tranquilizou, afirmando que Eduardo ainda estava vivo.

 Ele então solicitou a Maria que o acompanhasse até a sala de cirurgia, entregando-lhe a vela e disse: acompanhe-me e preste-me sua ajuda dentro do bloco operatório. Por favor, segure esta vela, pois estamos prestes a iniciar a operação e nosso tempo é de extremo valor. O tempo era essencial e não havia espaço para atrasos. Dr. Coutinho realizou habilmente a cirurgia à luz bruxuleante da vela, resultando em um retumbante triunfo. Após ser operado aos 46 anos, o Sr. Eduardo Ferreira Amaral teve a sorte de desfrutar mais 47 anos de vida alegre e plena com seus entes queridos, até falecer pacificamente em 2001.

Fonte Oral:  Professor Marco Elísio Chaves Coutinho & Dª Vera Coutinho

Organização, arte e pesquisa: Charles Aquino