(1º Maio
de 1911)
*Lincoln NOGUEIRA
PRIMEIRA BIOGRAFIA
"Ontem,
à tarde, ao sol posto,
Passei
junto à tua porta,
E vi com
grande desgosto
Que minha
esp'rança era morta"
Ele
escreveu esp'rança à portuguesa e não
esperança, sonoramente à brasileira. São versos da Revista " Cigarra do
Sertão", que João Lima, Mário Matos e eu escrevemos, já la vai um punhado
de anos.
Basta o esp'rança para se descobrir que a quadra
saiu da pena lírica de João de Cerqueira Lima.
Posto que
tinha vindo bem pequeno para o Brasil, a linguagem revela desde logo a
origem. Mamou o leite materno em
Portugal, na Beira, em Castanheira de Pêra, onde viu a luz pela primeira vez,
no dia 21 de abril de 1870. Menino e não
moço ainda, levou-o o destino pra longes terras. Seus pais, Antônio de
Cerqueira Lima e Maria Júlia de Cerqueira Lima, resolveram abandonar a pátria e
emigrar, com os filhos, para o Brasil.
A
imaginação de sonhador, o espírito de aventuras, a alma de romântico, a ânsia
do desconhecido, o desejo de viagens fantásticas, a ilusão de mundos novos,
virgens e ignotos em remate, os mares de D. Afonso Henriques, a alma portuguesa
enfim, sonhadora e romântica, lírica e aventureira, insôfrega e destemerosa, irrequieta e angustiada não permitiram que
o lusitano Antônio de Cerqueira Lima envelhecesse calmamente, mansamente, no
pátria amada.
Por isso,
com a família, atravessou o Atlântico, rumo ao Brasil, isto é, ao desconhecido,
em viagem perigosa, que todas eram, naquela época. Chegado que foi ao Rio de
Janeiro mete-se com a família pelo interior, e junto com os tropeiros,
cavalgando ásperos burros de cela, afundou 600 léguas sertão bruto a dentro,
atravessando a perigosíssima serra da Mantiqueira, onde tinha seu quartel bem
organizada quadrilha de gatunos, que para roubar, matavam os viajantes
desprevenidos.
E veio
com a família terminar viagem no centro, no coração de Minas Gerais, instalando-se
na cidade de Bonfim, onde se estabeleceu com uma casa comercial. Seu filho, o
nosso João de Cerqueira Lima, contava apenas 10 anos de idade, e, para fazer a
viagem, acompanhando os pais, interrompera os estudos primários que frequentou
apenas durante 6 meses.
O menino
João de Cerqueira Lima, ajudava o pai, por todos os meios ao seu alcance, não
rejeitando serviço por duro ou pesado, indo de servente de pedreiro a caixeiro
do pai, da casa de comércio. As compras para sortimento de negócio, eram feitas
em Sant'Ana de São João Acima, na casa de comércio de Manoel Gonçalves de
Souza Moreira.
Nota-se,
de passagem, a força, o poder deste arraial de Sant'Ana, a futura cidade de
Itaúna. Era o arraial grande e poderoso empório comercial, onde havia dois
estabelecimentos notáveis, a casa de Manoel Gonçalves de Souza Moreira e a casa
de Josias Nogueira Machado. Assombroso, por numerosíssimo, era o movimento de
tropas e tropeiros, que de Sant'Ana de São João Acima partiam em todas as direções.
O pequeno e modesto arraial supria de tudo, fornecendo, qualquer mercadoria,
não só a muitos arraiais como ainda a várias cidades.
Antônio
de Cerqueira Lima, porém, não prosperou. Ou porque fosse muito bondoso ou
porque o estabelecimento não rendesse o suficiente para sustentar a família, o
certo é que fracassou o empreendimento comercial, falindo. Como consequência,
ficou devendo a Manoel Gonçalves de Souza Moreira a importância que montava a
um cento e tanto. Sempre foi o português Antônio de Cerqueira Lima homem e correto,
e, no descalabro de seu negócio, tomou as providências necessárias para saldar
todas as dívidas. Não encontrou, porém, jeito de fazer o pagamento, a Manoel
Gonçalves de Souza Moreira, e o recurso foi mandar o filho João trabalhar como
caixeiro, até que fosse feito pagamento total, aos poucos, mediante um minguado
ordenado que recebia.
E João de
Cerqueira Lima, quando veio para Sant'Ana de São João Acima, trabalhar para
pagar a dívida paterna, contava apenas 11 anos. Uma criança que precisava de
brinquedos, ia lutar duramente, com a grave responsabilidade de saldar a dívida
contraída pelo progenitor. Deixou o pai amado, e a mãe idolatrada, os irmãos
queridos e, montado num burrico qualquer, partiu para o arraial bravo, cheio de
lutas e ambições, de gente aventureira, que surgia de todas as bandas, sem
freios e nem policiada, onde todas as noites havia rixas e desavenças, tiros e
facadas, feridos e mortos.
Partiu
com 11 anos de idade, mal sabendo ler e fazer contas para trabalhar para um
patrão severo e rigoroso. Conseguiu com paciência e tenacidade pagar a dívida,
tendo mais resignação que o Jacó da Bíblia, pois levou 11 anos trabalhando para
pagar tudo. Entrou para a casa com 11 anos de idade e a deixou com 22 anos, recebendo,
após o acerto de contas, a importância de uma pataca.
Bendita a
hora, em que chegou a Sant'Ana de São João Acima o menino João de Cerqueira
Lima! Bendita dívida, que obrigou o menino João de Cerqueira Lima a permanecer
em Sant'Ana.
Por que João
de Cerqueira lima veio a ser um dos maiores vultos de Itaúna? Porque foi ele
quem consolidou a Fábrica de Tecidos Santanense, na iminência de um geral
fracasso. Porque foi ele que ergueu, junto com Dr. Augusto Gonçalves de Souza a
Cia. Industrial Itaunense, de que foi a alma. Porque Itaúna deve a João de
Cerqueira Lima a riqueza que possui, a grandeza que ostenta, o progresso que
causa admiração, a força industrial que a anima.
Sim,
porque, se não fossem criadas as duas poderosas as duas poderosas indústrias de
tecidos, que se devem em última análise, a João de Cerqueira Lima, Itaúna
estaria hoje modorrando ao sol, como cidade morta. Mas, continuemos a seguir a vida do lutador.
O
trabalho de caixeiro lhe dava poucas horas de folga, que era, porém bem
aproveitadas pela criança inteligente e séria. E só podia dispor desses raros
momentos de fazer, pois aos domingos e dias santos. O trabalho era dobrado. Em
geral, as populações das roças, fazendeiros e lavradores, preferiam os domingos
e dias santificados para as compras. Vinham à missa, passavam e faziam compras
necessárias. Havia, assim, nos dias destinados ao descanso, desusado movimento,
verdadeira azafama, que punham os pobres caixeiros numa roda viva.
O menino,
cujo caráter a dureza da vida amoldara rijamente, nas horas vagas, ao invés de
brincar ou passear, tratava de estudar, procurando compreender consigo mesmo o
que não pode fazer na escola, por a ter frequentado somente seis meses.
Formoso
exemplo de autodidata. E não foi o único que apareceu em Sant'Anna. Mais dois
pelos menos merecem ser citados e foram Aureliano Nogueira Machado, cujo
diploma de farmacêutico trazia a assinatura de D. Pedro II e Joaquim Marra da Silva,
o jornalista de linguagem correta e castiça, foram mais ou menos
contemporâneos, ainda que João de Cerqueira Lima fosse bem mais moço.
O fato
exato é que João de Cerqueira Lima, em pouco tempo, sem professor e sem guia,
fazia a escrita da cassa, com perícia e perfeição como competente contabilista,
isto, aos 16 anos de idade, isto é, cinco anos depois que bons ventos o
trouxeram para Sant’Anna. Quando contava 20 anos, teve que assumir a direção da
casa, porque Manoel Gonçalves de Souza adoecera de reumatismo e ficara preso ao
leito, entrevado, durante quase 2 anos.
Entreou o povo de Sant'Anna a
murmurar que o negócio iria por água abaixo, porque o jovem João de Cerqueira
Lima não daria conta do recado, e, faltando o chefe, que sempre esteve à
frente, tudo iria mal. E muita gente boa antegozava o fracasso do negócio, numa
satisfação mal dissimulada. A fim de estimular o rapaz e dar-lhes mais ânimo.
Manoel Gonçalves de Souza Moreira prometeu-lhe dez por cento sobre os lucros,
se os houvesse.
Curado o
patrão, tornou a assumir a direção de seu estabelecimento comercial, e, foi
quando houve a desavença, que os separou. A casa dera mais lucros sob a direção
do moço do que antes. Parece que o patrão não gostou, e, no acerto de contas,
houve atrito e discussão, e, como resultado, o moço João de Cerqueira Lima
deixou a casa, onde trabalhou 11 anos seguidamente.
Por esse
tempo já andava de namoro com a senhorita Ana, na intimidade Aninha, filha do
Coronel Manoel José de Souza Moreira. Na igreja, que foi mais tarde demolida, situada
no largo da Matriz, durante a missa, é que ele via a namorava o brotinho
Aninha. Como a semana demorava a passar, para que chegasse o abençoado domingo!
E era um instante apenas, pois tão pouco lhe parecia a meia hora da missa,
finda a qual corria para o balcão, a atender o povo das roças, que queria fazer
compras.
A moça Ana ficou verdadeiramente apaixonada
pelo rapaz, que era elegante, de boas falas e já perito na metrificação. Com
certeza, compôs lhe muitos madrigais apaixonados, poeta que era, mas possível
não foi obter sequer uma poesia a esse respeito. Manoel José de Souza Moreira, via o namoro
com bons olhos, pois adivinhava no moço, honesto, sério e trabalhador, um homem
de futuro. Não pensava, assim, o filho
de Manoel Gonçalves de Souza Moreira, o Manoelzinho ou o Moreira, como era
chamado.
Com o
amparo do pai e do irmão da jovem, Jovino Gonçalves de Souza, o namoro
progredia, para em breve chegar ao noivado. Dizem que Manoel Gonçalves de Souza
Moreira, o Manoelzinho, fizera grande oposição, chegando a ponto de oferecer à
mana a quantidade de cem contos de reis, fortuna imensa naquele tempo, para que
ela abandonasse o João Lima, não se casando com ele. Parece lenda, porque a
importância é mesmo fabulosa.
O fato é que a menina Aninha não quis saber do dinheiro, porque estava doidinha para se casar com o João. Pelo menos diz, um antigo jornalzinho, que se publicou em Itaúna:
O fato é que a menina Aninha não quis saber do dinheiro, porque estava doidinha para se casar com o João. Pelo menos diz, um antigo jornalzinho, que se publicou em Itaúna:
- "A menina Aninha queria porque queria
casar com o João, e, quando escutava o sino da Matriz, era assim que o sino
falava: Casa com o João que o João é bom! Casa com o João que o João é bom!
Ouviu o conselho do sino e casou mesmo com o João".
Já nesse
tempo de namoro, negociava João de Cerqueira Lima de sociedade com Jovino
Gonçalves de Souza, seu futuro cunhado, de quem era muito amigo. O casamento de
João de Cerqueira Lima e Ana Gonçalves de Souza foi celebrado no ano de 1894,
na mesma Matriz, onde começaram o namoro.
Tratava-se
por esse tempo, da construção da Fábrica de Tecidos Santanense, empresa
gigantesca para aqueles tempos remotos. Manoel José de Souza Moreira com seus
irmãos José Gonçalves de Souza, Francisco Gonçalves de Souza e Vicente
Gonçalves de Souza, e, também, seu filho Manoel Gonçalves de Souza Moreira
estavam edificando ou construindo a Fábrica, cujo capital inicial era de
seiscentos contos, um capital muito elevado, considerada para a época.
As dificuldades eram imensas, basta lembrar que, desde o Rio de Janeiro até Sant'Ana de São João Acima, todas as máquinas, e muitas eram pesadíssimas, tiveram que ser transportadas nos lombos dos burros ou em carros de bois, numa viagem lenta que durava meses.
As dificuldades eram imensas, basta lembrar que, desde o Rio de Janeiro até Sant'Ana de São João Acima, todas as máquinas, e muitas eram pesadíssimas, tiveram que ser transportadas nos lombos dos burros ou em carros de bois, numa viagem lenta que durava meses.
E as
dificuldades foram sempre subindo de ponto, de tal jeito que a turma desanimou
e estava resolvida a liquidar a incipiente Fábrica. A turma, não. É preciso
explicar bem. Manoel José de Souza Moreira não desanimou nem concordou ou
consentiu que se liquidasse a empresa.
Desanimado, o filho Manoel não quis mais continuar à frente do empreendimento. Nesse ponto, foi lembrado João de Cerqueira Lima e o sogro o levou para a direção da Fábrica. Deixou assim, o comércio, no ano de 1895, para assumir a gerência da Fábrica de Tecidos Santanense.
Desanimado, o filho Manoel não quis mais continuar à frente do empreendimento. Nesse ponto, foi lembrado João de Cerqueira Lima e o sogro o levou para a direção da Fábrica. Deixou assim, o comércio, no ano de 1895, para assumir a gerência da Fábrica de Tecidos Santanense.
Em pouco tempo,
reergueu a empresa, evitando que se perdesse tanto esforço e tanto capital. Não
pode, porém, continuar muito tempo, pois houve grave atrito e desavença com o
cunhado Manoel Gonçalves de Souza Moreira, que, afinal, voltou a dirigir a
indústria de tecidos.
João Lima
retornou ao comércio, estabelecendo-se com nova casa comercial, à rua Silva
Jardim, esquina com Artur Bernardes, onde hoje está a casa de seu filho João de
Cerqueira Lima Júnior. A primeira casa comercial de sociedade com Jovino Gonçalves
de Souza estava situada na mesma rua, porém, mais abaixo, mais ou menos onde
está hoje a casa do Sr. Francisco Guimarães, à praça Luiz Ribeiro.
Ali na
rua Silva Jardim, negociou até o ano de 1911 quando se deram dois fatos
auspiciosos para Itaúna: - A chegada da Estrada Oeste de Minas e a Fundação da
Companhia Industrial Itaunense.
João Lima
vendeu a casa comercial e foi ser diretor gerente da Cia. Industrial Itaunense,
que dirigiu, administrando, com muito tino e argúcia, até o ano de 1938, em que
já doente passou a cargo a seu filho José de Cerqueira Lima, que é o atual
diretor gerente. Itaunense notável entre os mais notáveis, ainda que nascido em
Portugal, João de Cerqueira Lima passou toda a vida em Itaúna, desde a infância
à velhice, dedicou toda a existência a este torrão bendito de Sant'Ana de São
João Acima.
Por esta
terra lutou, empenhando todas as forças e recursos em todos os setores, quer no
social e político que no econômico ou industrial. Não se indigita cometimento
de vulto em Itaúna que não traga a marca do lutador resoluto, não há fato de
importância que não ostente algum sinal de sua presença.
Entretanto,
não quis o destino que, assim como não nascesse em Sant’Anna, viesse, também, a
falecer na cidade que ajudara eficientemente a edificar e amava tanto. Grave
enfermidade o levara ao Rio de Janeiro, na intenção não só de lhe minorar os
padecimentos, como, e principalmente, de prolongar a existência.
Nascera
esse grande itaunense (seja -se permitido dizer assim, que fora sempre, como os
maiores, de toda a alma e coração) em Portugal e falecera, no Rio de Janeiro.
Caprichos do destino. Falecido na Capital Federal, a 11 de setembro de 1942,
foi o corpo conduzido para Itaúna, em cujo cemitério municipal, foi inumado no
dia 12.
No dia da
chegada do corpo em Itaúna, imensa multidão encheu o largo da Matriz, havendo
encomendação assistida por toda a população, que contrita, ou em prantos ou em
preces fervorosas, assim homenageava o grande homem, tão estimado de todos, já
dos ricos, a quem, sempre, amparou ou antes ajudou a enriquecer, já dos pobres
e da engrandecida mole de operários, a quem amenizou a dureza da existência,
oferecendo trabalho, propiciando meios dignos de subsistência.
Itaúna
precisava de render uma homenagem de relevo ao grande filho, não só num preito
de gratidão, mas principalmente num elegante gesto de justiça. É verdade que a
rua onde se localizou a Fábrica de Tecidos que fundou, consolidou e dirigiu,
com competência, brilho e dignidade, recebeu seu nome, conforme decreto do
Prefeito de então.
Além da
rua João de Cerqueira Lima, que lembra o nome do imorredouro itaunense, há
necessidade outra homenagem maior, de imponência e de culto condizentes com a
grandeza rebrilhante do homenageado.
Deixou os
seguintes filhos, que seguem o exemplo paterno, na honradez, no trabalho, na
dignidade e na inteligência: José, João, Afonso, Manoel Maria e Alice. Havia o sétimo,
Ana moça prendada, que adoecendo de gripe pulmonar, no Colégio de Mariana, onde
estudava como aluna interna, partiu ainda gravemente enferma para Itaúna, onde
veio a falecer poucos dias depois. Morrera na flor da idade, quando contava 18
anos.
Além
desses filhos, houve mais três, que faleceram, quando pequenos: O 1º José, a 1ª
Ana, a 1ª Maria. Houve, pois, dois
filhos com os nomes José, Ana e Maria. Em
memória, aqui ficam estas palavras, como singela homenagem de Itaúna agradecida
a João de Cerqueira Lima.
Célebre
personagem que se fez dentro de nossa terra e que aqui chegara aos 10 anos de idade,
vindo antes das Plagas Lusitanas, natural de Castanheira de Pêra bem ao pé de
Coimbra, onde nascera a 21 de abril de 1870, filho de Antônio de Cerqueira Lima
e de Maria Júlia Baeta Neves. Já então Maria Júlia de Cerqueira Lima, nome
registrado em Portugal de conformidade com a herança matrimonial, era irmã do
velho Caetano Baeta neves, de muitos anos antes, radicado em nossa vizinha
cidade de Bonfim.
Em 1879
Antônio de Cerqueira Lima viera ao Brasil preparar ambiente de trabalho para
trazer mais tarde sua família, que havia deixado em Portugal. Dirigiu-se logo que chegou a Minas, para a
cidade de Bonfim, onde exercera a função de pedreiro, trabalhando na construção
da Igreja daquela localidade.
Um ano depois,
fim de 1880, voltou a Portugal para buscar a família. João de Cerqueira Lima
que já trabalhava em Portugal como auxiliar de pedreiro caiu certo dia de um
pinheiro e esteve prestes a amputar sua perna esquerda, mas, o destino reservou-lhe
a cura do ferimento e viu-se livre de perder a perna.
Quando a
família, pressurosa leu no jornal os nomes de passageiros do navio que levava
de regresso Antônio de Cerqueira Lima, sentiu-se feliz, porém já lhe falecido
sua filha menor Maria Guilhermina, que falecera em terna idade. Seus filhos até
então restantes eram: João de Cerqueira Lima, Cristina de Cerqueira Lima e
Fortunata de Cerqueira Lima, os quais foram aos cais do porto, assistir ao
desembarque de seu pai Antônio de Cerqueira Lima.
Assim que
viram surgir um senhor de fisionomia atraente e de barbas negras, correram-lhe
ao encontro e perguntaram-lhe: É o senhor, nosso pai Antônio de Cerqueira Lima?
Acolhidos pelo papai, seguiram juntos.
Indescritível a euforia de todos em sua residência. Desde então,
prepararam a mudança e em janeiro de 1881 vieram para o Brasil.
Chegados
ao Rio de Janeiro em fevereiro de 1881, logo que obtiveram a devida licença
para o desembarque, foram para a quinta dos Irmãos Bebiano, fortes comerciantes
de secos e molhados, estabelecidos na rua 1º de março, no Rio de Janeiro, e
primos de Maria Júlia de Cerqueira Lima, onde permaneceram durante cinco dias e
dali se transportaram com destino a minas seguindo diretamente para a cidade de
Bonfim, onde passaram a residir.
Quatro
anos depois, em 1885 resolveu Antônio de Cerqueira Lima seguir com a família
para o povoado de Papagaios de Pitangui, onde passaria a comerciar. Foi nessa
ocasião que João de Cerqueira Lima que havia ficado em Itaúna, para trabalhar
como caixeiro junto à Firma Comercial Moreira e Filhos, assumir aos seus quinze
anos de idade responsabilidade do pagamento de um débito de seu pai de trinta
contos de reis (30:000$000) dinheiro que havia obtido por empréstimo, para
abrir casa comercial em Papagaios MG.
E foi com
a máxima pontualidade que o filho lhe cobriu o débito. Tais foram os dotes de atividade, horandez e inteligência do menor João de
Cerqueira Lima, que três anos depois, aos seus dezoito anos de idade,
elevava-se ao cargo de Guarda-Livros da firma e dois anos depois, aos vinte de idade,
ao cargo de gerente da mesma firma. Na qualidade de gerente da firma, casou-se
com Dona Ana Gonçalves de Souza Moreira que passou a assinar Ana Gonçalves Lima
e estabeleceu-se por conta própria com uma pequena casa de comércio que lhe dera
possibilidade de vencer.
Capacitado
para o comércio e para a indústria, foi escolhido para gerente da Companhia de
tecidos Santanense, que na ocasião estava em grande dificuldade. Ao lado de seu
cunhado Dr. Augusto Gonçalves de Souza e de seu cunhado Cel. Antônio Pereira de
Matos, fundou em 1911 a Companhia Industrial Itaunense, que foi uma de suas
maiores vitórias e como prêmio de seu alto espírito moral e empreendedor. Basta
dizer que em 1912 a referida empresa esteve quase a abrir falência, tal era seu
excesso de produção, sem a satisfatória procura da mercadoria fabricada, em seu
ainda restrito mercado de consumo.
Entretanto,
sorria-lhe o destino, pois, em 1914 explodiu a Primeira Guerra Mundial todo o
estoque fabricado com o máximo de procura, foi rapidamente vendido. E daí para
diante, vemos à nossa frente a grande realização de João de Cerqueira Lima.
Além de
tudo isto, era João de Cerqueira Lima exímio poeta e escritor, porem só
escrevia e manifestava suas produções literárias a amigos íntimos, pois, sua
modéstia jamais permitiu que ele publicasse o que escrevia. Chegou a colaborar
com Mário Matos e Lincoln Nogueira Machado em várias revistas, sendo que, na
última delas, fez trabalhar como protagonistas, seu filho José de Cerqueira
Lima e sua nora Adalgisa Matos.
Mais
tarde impossibilitado de continuar em Itaúna por motivo de falta de saúde
transferiu-se com sua família para o Rio de Janeiro, onde faleceu a 11 de
setembro de 1942 aos setenta e dois anos de idade e recebeu sepultura nesta
cidade de Itaúna.
Década 60
Referências:
*Primeira Biografia de Dr.Lincoln Nogueira: Revista
Acaiaca (Celso Brant / Ano:1954)
**Segunda Biografia de Torres do Vale: Arquivo
Dr. Antônio Augusto de Lima Coutinho. Professor Marco Elísio Chaves Coutinho.
Revisão Biográfica: Afonso
Henrique da Silva Lima
Textos
digitados conforme originais
Pesquisa e Organização: Charles
Aquino, graduado em História pela Universidade do Estado de Minas Gerais / UEMG
- Divinópolis/MG.
Acervo fotográfico: Prof.
Marco Elísio Chaves Coutinho.