domingo, julho 07, 2024

A SAGA DOS MARRA

A Saga dos Marra: Uma História de Resiliência e Cultura. Nas montanhas pitorescas de Minas Gerais, a pequena cidade de Carmo do Cajuru guarda histórias profundas, entrelaçadas com a memória e a cultura de seus habitantes. Dentre essas histórias, a saga da “família Marra”, se destaca, remontando aos séculos de perseguição, música e coragem. "Cajuru” é uma palavra indígena que significa “boca da mata”, por ter sido a entrada das grandes matas existentes nas margens do Ribeirão do Empanturrado e do Rio Pará.

A história dos “Marra” começa em Nápoles, no coração da Itália, onde, no século XV, a Inquisição Espanhola espalhava terror entre os judeus da Europa. A “família Marra”, uma “Família judia italquita”, viu-se forçada a abandonar seu lar, deixando para trás um legado de cultura e tradição. Andrea Marra, um talentoso violinista e compositor, foi um dos primeiros a migrar, encontrando refúgio e reconhecimento em Lisboa, onde serviu à Câmara e Capela Real a partir de 1750.

Jacó Marra da Silva, nasceu em 1750, na Comarca e termo da Vila de Chaves, Arcebispado de Braga em Portugal, casou-se com Narcisa Antônia Rodrigues da Silva Rosa. O Casal teve 9 filhos...  A família partiu de Cachoeira do Campo para a região de Carmo do Cajuru, Minas Gerais. Ele trazia consigo a força de seus antepassados e o desejo de construir um novo legado. Jacó se estabeleceu como o primeiro “Marra” na região, criando raízes profundas e passando seus valores e tradições para as gerações futuras.

Jacó Marra da Silva faleceu em 1815, em Carmo do Cajuru, deixando um inventário rico em histórias, guardado no Arquivo Judiciário de Pitangui. Sua descendência seguiu forte e determinada, com cada geração enfrentando seus próprios desafios e triunfos...

As mulheres "Marra", através da sua resiliência e determinação inabaláveis, personificam a verdadeira essência e o significado do nome da família.

Francisca Marra da Silva: Trineta de Jacó, que manteve viva a tradição musical da família, ensinando violino para seus filhos e netos.

Balbina Marra da Silva, filha de Cristino Marra da Silva, Tetraneta de Jacó, casou-se com Josias Batista Gomes, descendente de Manoel Gomes Pinheiro, fundador de Carmo do Cajuru. Com descendência igualmente em Itaúna dos Sousa Moreira Gonçalves.

Gení Batista Quadros: Pentaneta de Jacó Marra, Mãe de Maria de Fátima, conhecida por sua generosidade e dedicação à comunidade.

Maria de Fátima Batista Quadros, sexta-neta de Jacó Marra, cresceu ouvindo as histórias de seus ancestrais. Inspirada pela coragem de Jacó e pelo talento musical de Andrea, ela decidiu investigar profundamente suas raízes, revelando um tesouro de documentos e relatos. Seu trabalho culminou na descoberta do inventário de Jacó e na ligação da “Família Marra” com os judeus italquitas (judeus da Itália) e sefaraditas (Judeus Portugal/Espanha).

Muitos membros da “Família Marra” também se destacaram na política, por exemplo, somente em Carmo do Cajuru, Minas Gerais, tivemos quatro prefeitos: José Marra da Silva; Jadir Marra da Silva; Geraldo César da Silva. E na vizinha cidade de Cláudio, Benjamin Teixeira Marra.

Igualmente, graças ao seu “tino para o comércio”, grande parte da família sobressaiu com grande sucesso. Muitos “Marras” estão engajados no ramo do comércio atacadista, empresas, indústrias diversas, além de redes de supermercados, entre outros, como por exemplo, a conceituada Rede de "Supermercados Rena" que tiveram início em Itaúna.

Destacam-se também alguns membros da “família Marra” e um amigo do grande escritor Guimarães Rosa, da cidade de Itaguara, Minas Gerais, é personagem de algumas obras do autor. Inclusive citado no Discurso Inaugural da Academia Brasileira de Letras, da cadeira de número 2 de Mário Palmério, proferido em 22 de novembro de 1968.

“Seu Marra - o bondoso “seu Marrinha”, feitor real, de carne e osso, do grupo de picareteiros a que pertence o maneiroso Lalino - nem o nome dele, a condição de fiscal na construção da rodageira, tampouco a paixão por teatrinhos e pantominas Guimarães Rosa deixou de utilizar. “Seu Marrinha”, que mora hoje em dia em Belo Horizonte - o nome completo é José Benjamin Marra - relata como o doutor ia, em horas livres, assistir ao vaivém das carrocinhas de burro do aterro e puxar conversa com os braçais da estrada. A tentação é muito forte para que se possa a ela resistir; ouçamos Guimarães Rosa...”

O Instituto Cultural Maria de Castro Nogueira, em Itaúna, e o Instituto Histórico de Pitangui, guarda os registros dessa família, lembrando a todos da importância de conhecer e honrar suas raízes. A expressão "na Marra" ressoa com um novo significado, simbolizando não apenas a força e a determinação, mas também a rica tapeçaria de culturas e histórias que compõem a identidade dos Marra.

A história dos Marra é um testemunho do poder da resiliência e da importância de manter viva a memória de nossos ancestrais. Cada membro da família contribuiu com sua própria nota para a sinfonia de sua linhagem, criando uma melodia que ressoa através dos séculos.

 História narrada em áudio! Imperdível!


Referência:

Organização, roteiro e arte: Historiador Charles Aquino

Texto e pesquisa: Poeta e pesquisadora  Maria de Fátima Batista Quadros