No município de
Itaúna, Minas Gerais, o cotidiano dos moradores se confundia com a cacofonia
das fábricas. Os passos agitados dos trabalhadores, as conversas das pessoas,
os comandos autoritários dos supervisores e os zumbidos implacáveis dos “teares
mecânicos”, compunham uma sinfonia das indústrias que moldavam a paisagem
auditiva da cidade. Cada som desempenhava um papel distinto: as sirenes que
acenavam e se despediam dos trabalhadores, os passos rítmicos que ressoavam
pelas ruas e os zumbidos incessantes das máquinas que nunca cessavam as suas
atividades.
No início, a
paisagem urbana era acompanhada por tranquilos ruídos rurais ou por completo
silêncio. No entanto, a criação da Cia. Tecido Santanense em 1891, no período
em que a região era apenas um modesto vilarejo de Sant'Ana do Rio São João
Acima, bem como a fundação da Cia. Industrial Itaunense, em 1911, trouxe
notáveis transformações na composição econômica e demográfica.
Consequentemente, surgindo o próspero município de Pedra Negra — Itaúna.
A presença das
fábricas transformou a paisagem urbana, à medida que as sirenes penetrantes se
tornaram uma presença auditiva avassaladora. Isso remodelou a percepção de
tempo e espaço dentro da cidade. As sirenes serviam um duplo propósito – não
apenas como cronometristas, mas também como instrumentos de controle, ditando
os movimentos dos trabalhadores e consequentemente estabelecendo o ritmo da
vida na cidade.
Os indivíduos que
vivenciaram esta época em primeira mão, como narradores nas suas próprias
recordações, consideraram o som das sirenes um emblema significativo e
governante da sua existência quotidiana. Mesmo muito depois do fato, numerosos
indivíduos afirmam que ainda conseguem ouvir “o apito da sirene nas suas
mentes”, uma reverberação do passado que continua a prevalecer no presente.
Estas memórias auditivas não são apenas pessoais, mas também comunitárias,
construindo uma lembrança coletiva que contribui para a formação do sentido de
identidade da comunidade.
Com uma precisão
militar, as sirenes serviam como um rigoroso mecanismo disciplinar, monitorando
meticulosamente a duração do trabalho. O toque retumbante do apito serviu como
um lembrete constante aos trabalhadores, marcando o início e o fim dos seus turnos,
garantindo a produção ininterrupta. Este sinal auditivo consistente estruturou
eficazmente a vida dos trabalhadores, aos quais foram atribuídas
responsabilidades distintas dentro das fábricas, cada uma contribuindo para a
intrincada rede da produção têxtil.
Nas fábricas,
indivíduos de diferentes gêneros e idades trabalhavam juntos, colaborando na
fabricação ininterrupta de fios e tecidos. A sinfonia de sons produzidos por
cada tarefa se fundiu, formando uma composição auditiva multifacetada que
refletia a variedade de responsabilidades e trabalhadores envolvidos.
As sirenes
emanadas das fábricas têxteis da Cia. Tecidos Santanense e Cia. Industrial
Itaunense serviu a um duplo propósito – não apenas como meio de controle, mas
também como elemento histórico e social na vida cotidiana dos moradores de
Itaúna. Estas sirenes ditavam a passagem do tempo e regulavam o ritmo da vida.
Hoje em dia, a lembrança destes sonidos serve como um lembrete nostálgico,
fazendo a ponte entre o passado e o presente, preservando a recordação de uma
época em que as fábricas e as suas paisagens auditivas tinham o maior
significado para inúmeros indivíduos.
Charles
Aquino
Narrativa histórica em áudio. Imperdível!
Disponível também em: Jornal Folha do Povo - Itaúna/MG ✅