O conto
"ALÔ, JERÔNIMO?" de Toni Ramos narra uma situação de tensão crescente
e ironia sutil. A protagonista, uma mulher ocupada com um serviço urgente, é
constantemente interrompida por um telefone insistente. Na terceira vez que o
aparelho obsoleto toca, ela atende irritada, apenas para encontrar um homem
idoso procurando por alguém chamado Jerônimo.
Apesar de suas tentativas de
explicar que ele discou o número errado, o homem persiste, compartilhando
histórias de um passado compartilhado com Jerônimo, no Tiro de Guerra. A
mulher, desesperada para voltar ao seu trabalho, que posteriormente se revela
ser um roubo, tenta encerrar a conversa.
Toni Ramos
utiliza um estilo direto e envolvente, mantendo a tensão e revelando lentamente
a verdadeira natureza da situação. A narrativa é construída de maneira a
surpreender o leitor no final, quando é revelado que Jerônimo, a pessoa
procurada pelo homem ao telefone, está amarrado e amordaçado na outra sala. A
ironia está presente na frustração da mulher com o telefonema inoportuno,
enquanto ela está envolvida em um ato criminoso.
A história
apresenta dois personagens principais: a mulher e o homem ao telefone. A mulher
é descrita como impaciente e pragmática, focada em seu objetivo criminoso. Sua
irritação com a interrupção é contrastada com a gravidade da situação em que
ela se encontra. O homem ao telefone é persistente e nostálgico, claramente com
dificuldades de aceitar que ele pode ter cometido um engano. Sua insistência e
a narrativa de seu passado oferecem uma profundidade emocional à história,
sublinhando a tragédia da situação.
A narrativa de
Ramos serve como uma crítica às suposições e às aparências enganosas. O leitor
é levado a acreditar inicialmente que a mulher está sendo apenas irritada por
um telefonema inoportuno, mas a revelação final subverte essa percepção. A
persistência do homem idoso, que poderia ser vista como um aborrecimento, acaba
por ser uma ironia amarga, pois ele estava perigosamente perto da verdade, mas
incapaz de interferir.
"ALÔ,
JERÔNIMO?" é um conto curto, mas poderoso, que utiliza ironia e suspense
para explorar temas de engano e percepção. Através de uma narrativa bem
construída e personagens convincentes, Toni Ramos consegue capturar a atenção
do leitor e proporcionar uma reviravolta surpreendente, subvertendo
expectativas de maneira eficaz.
História narrada em áudio! Imperdível!
Referências:
Texto: Historiador, escritor Toni Ramos Gonçalves. Graduando em Jornalismo e Escrita Criativa.
Irmã Benigna: O
Legado das Irmãs Auxiliares em Itaúna. Em 7 de junho de
1916, foi lançada a pedra fundamental do Hospital Casa de Caridade Manoel
Gonçalves de Souza Moreira, em Itaúna/MG. A bênção do prédio ocorreu em 14 de
novembro de 1919, presidida por Dom Silvério Gomes Pimenta. O primeiro Conselho
deliberativo se reuniu em 14 de dezembro de 1920, transformando a "Santa
Casa de Itaúna" em um importante centro médico.
O Padre João
Ferreira Álvares da Silva contratou as Irmãs Auxiliares de Nossa Senhora da
Piedade para administração interna do hospital em 21 de fevereiro de 1921. As
primeiras irmãs designadas foram: Irmã Superiora Natividade e suas auxiliares
Dolores, Inácia, Margarida e Nazareth. Uma capela foi construída em 1922, onde
as irmãs celebravam missas e ofereciam conforto espiritual.
Em 1923, a
administração passou para a Irmã Superiora Vicência e suas auxiliares Isabel,
Celeste e Inácia, seguidas por outras mudanças de liderança ao longo dos anos.
As irmãs desempenharam um papel crucial na promoção da saúde e do bem-estar da
comunidade. Em 1939, assumiram a liderança de uma escola e do internato
vinculado à Escola Normal Manoel Gonçalves de Souza Moreira, hoje Escola
Estadual de Itaúna.
Em 1942, dados
registrados mostraram que o hospital atendeu 7.409 pacientes em 21 anos, com
6.917 recuperados. As estatísticas demonstraram a eficácia do trabalho das
irmãs. Ao todo, 40 irmãs serviram na Santa Casa de Itaúna. O reverendo Padre
João Ferreira Álvares da Silva foi o primeiro capelão, desempenhando um papel
crucial no conforto espiritual.
Irmã Dolores,
falecida em 12 de dezembro de 1946, dedicou sua vida à fé e ao sacrifício,
mesmo diante de intenso sofrimento. Seu legado é um testemunho de devoção e
inspiração.
Irmã Benigna
Víctima de Jesus, uma mulher negra e pobre, enfrentou a rejeição inicial, mas
encontrou seu lugar na Congregação das Irmãs Auxiliares de Nossa Senhora da
Piedade. Em 1935, tornou-se membro e, em 1941, fez seus votos perpétuos. Como
Irmã Superiora, criou uma maternidade e liderou a Santa Casa de Itaúna,
deixando um legado duradouro de melhores serviços de saúde.
Em 1947, concluiu
seu mandato como superiora do hospital. Em 1948, completou sua missão em
Itaúna, marcando sua passagem com amor, fé e compaixão. Seu legado abrangeu
cuidados médicos e apoio espiritual, transformando o hospital em um centro de
referência.
As Irmãs
Auxiliares da Piedade deixaram um legado profundo em Itaúna, abrangendo saúde e
conforto espiritual. Com competência e dedicação, geriram o Hospital Casa de
Caridade Manoel Gonçalves de Souza Moreira, transformando-o em um centro de
excelência em saúde e educação, refletindo seu compromisso humanitário e
espiritual.
História narrada em áudio. Imperdível!
Referências:
Organização, arte e pesquisa: Charles Aquino - Historiador Registro nº 343/MG
COUTINHO. Antônio Augusto de Lima. A mésse de um decênio. Algumas observações clínico cirúrgicas em dez anos de atividades profissional. Tip. São João, Itaúna, MG, 1932, p.12-15.
Ata da Casa de Caridade Manoel Gonçalves de Souza Moreira — Itaúna/MG. Registrado sob nº 16.539 às fls 272 vº do Livro A-XI, p.5-15.
Jornal Correio Paulistano, 15 de junho de 1941, Ed. 26.158, p.25. Hemeroteca Digital.
Jornal Correio Paulistano, 02 de fevereiro de 1941, Ed. 26.047, p.11. Hemeroteca Digital.
Jornal A Noite, Rio de Janeiro, 16 de outubro de 1925, Ed.4.994, p.7. Hemeroteca Digital.
Jornal Lar Católico, Minas Gerais, 30 de julho de 1944, Ed.31, p. 11. Hemeroteca Digital.
Jornal O Apostolo, Rio de Janeiro, 6 de dezembro, 1895, Ed.139, p.3. Hemeroteca Digital.
Livro Tombo I: Paróquia de Sant’Ana de Itaúna — 1902 a 1947, p. 94.
No texto
"Rua do Cascalho", Maria Lúcia Mendes oferece uma visão rica e
detalhada da vida cotidiana em uma comunidade simples, mas vibrante. Desde o
amanhecer, as casinhas sem reboque começam a liberar o cheiro do café e da
lenha queimando, criando uma atmosfera acolhedora e familiar. As mulheres
surgem como figuras centrais, cuidando das tarefas domésticas com alegria e
interagindo umas com as outras, trazendo vida e energia à rua.
As descrições
poéticas de Mendes capturam a beleza nas pequenas coisas: as plantas que
adornam os arredores das casas, os sons das aves e o cantarolar de Aninha da
Capela enquanto costura. Esses detalhes constroem um cenário nostálgico e
encantador, refletindo a pureza e a autenticidade da vida na Rua do Cascalho.
O padeiro
Vadinho, com seu enorme balaio e seus chamados matinais, representa a
continuidade e a tradição em meio à mudança. Sua interação bem-humorada com os
moradores, que reclamam do tamanho do pão, ilustra a convivência comunitária e
a aceitação das imperfeições cotidianas.
À medida que o
dia avança, a rua ganha vida com moradores descendo em direção à torneira
comum, compartilhando receitas de remédios caseiros e histórias. A imagem das
latas d’água equilibradas na subida do morro serve como uma metáfora para a
resistência e a habilidade dos moradores em manter o equilíbrio, mesmo nas
condições mais desafiadoras.
Mendes, através
de sua narrativa sensível e detalhada, consegue não apenas descrever uma manhã
típica na Rua do Cascalho, mas também capturar a essência de uma comunidade que
valoriza a simplicidade, a interação humana e a continuidade das tradições. A nostalgia
que permeia o texto é reforçada pela voz narrativa que relembra a própria
infância na rua, adicionando uma camada pessoal à observação da vida cotidiana.
"Rua do
Cascalho" é um tributo à resiliência, à beleza nas pequenas coisas e à
pureza das relações humanas. Cada detalhe contribui para um retrato vibrante e
memorável de uma comunidade que, apesar de simples, é rica em cultura e
humanidade.
O vídeo que narra o texto de
Vicentina Brant, "Amor em Pedra Negra", é uma comovente narrativa
familiar que abrange três gerações de uma família mineira, destacando suas
origens, desafios e resiliência. A autora inicia detalhando a genealogia de sua
família, situando-os no Retiro dos Pinto, uma localidade histórica com
significados profundos e conexões ancestrais.
A narrativa é
centrada em Maria Martins Vilaça, mãe da autora, que, aos 17 anos, casa-se com
Mário de Queiróz. A felicidade inicial do casal é abruptamente interrompida
quando Mário falece tragicamente após uma picada de cobra, deixando Maria viúva
aos 19 anos com dois filhos pequenos. A jovem viúva, com o apoio do pai,
Ulisses, e da mãe, Verônica, enfrenta as adversidades, incluindo a doença
terminal do pai.
Em meio às
dificuldades, Maria conhece Antônio Vilaça, um cabeleireiro que, tocado pela
tristeza de Maria, se empenha em encontrá-la e oferecer seu amor e suporte.
Este encontro marca um ponto de virada na vida de Maria, culminando em um
casamento que não apenas solidifica a estabilidade emocional e financeira da
família, mas também proporciona a Maria uma nova profissão.
A história é rica
em detalhes sobre a vida rural e urbana, as relações familiares e a luta
constante contra as adversidades. A narrativa de Brant é entremeada por
descrições vívidas de lugares e personagens, criando uma atmosfera de nostalgia
e reverência pelas raízes familiares.
A história apresentada é um tributo ao poder do amor e da resiliência diante das
dificuldades. A forma como Brant tece a história demonstra não apenas a
importância das conexões familiares, mas também a capacidade de superação e
adaptação às mudanças. "Amor em
Pedra Negra" permanece uma tocante celebração da vida e da perseverança
humana.
Era inverno do
mês de agosto, nas barrancas de Santana do Rio São João Acima, hoje Itaúna, e a
região dos Coelhos estava em um "rebuliço só". Farofa, um senhor magro, forte e
de uma fé inabalável, era conhecido por seu estilo impecável: roupas sociais
sempre bem engomadas, um verdadeiro brinco! Mas a tranquilidade da fazenda foi
perturbada por uma história que se espalhava como fogo em palha seca.
Os moradores da região dos
Coelhos juravam que tinham visto vultos misteriosos à noite: quatro homens de
terno carregando um caixão. Essa aparição macabra acontecia duas a três vezes
por semana, deixando todos apavorados. Farofa, no entanto, não se intimidava
com essas histórias de fantasmas e decidiu que desvendaria o mistério. — Essa
semana estarei de vigia todas as noites! — declarou Farofa com firmeza,
desconsiderando os conselhos temerosos dos vizinhos.
Com seu fiel cachorro Caramelo e
uma mochila cheia de comida, Farofa foi para o mato adentro da fazenda. Nas
primeiras duas noites, a única coisa que ele ouviu foram os sons dos sapos,
pererecas e grilos. Mas na terceira noite, ao pé do morro, ele avistou algo que
fez seu coração pular uma batida.
— Será que são eles? — murmurou
Farofa, esfregando os olhos para ter certeza do que via. Quatro homens de
terno, carregando um caixão, vinham em sua direção. Pela primeira vez, Farofa
sentiu um frio na espinha. Seria a morte enviando seus emissários para levar
alguém da fazenda? Ele se manteve paralisado, observando a cena. De repente, um
dos homens tropeçou e soltou um pavoroso palavrão.
— Diacho! Esses fantasmas estão é “muito
pecadores”, falando desse jeito! — pensou Farofa, agora mais confuso do que
assustado. O fiel e atento Caramelo percebendo que havia algo errado, avançou
no grupo. Um dos homens, apavorado, saiu correndo mato adentro,
desestabilizando os outros. Em um instante, todos largaram o caixão e correram
para salvar suas peles. Farofa, ainda meio atordoado, deixou o cachorro
perseguir os homens e se aproximou do caixão. Ao abri-lo, o que viu o deixou
boquiaberto.
— Misericórdia! — Misericórdia! Cambada
de safados! — gritou Farofa. Em vez de um corpo, o caixão ... era café! Isso
mesmo! O caixão tinha uma alma se quer — estava cheio de grãos de café. Farofa descobriu
que os supostos “fantasmas” eram, na verdade, ladrões roubando o café da
fazenda.
O alvoroço na fazenda rapidamente
se transformou em risos e piadas sobre os "fantasmas pecadores". E
Farofa, o homem de muita fé que não tinha medo de nada, tornou-se ainda mais
respeitado, agora não apenas por sua coragem, mas também por seu inusitado
senso de humor diante do inexplicável.
E assim, na pequena comunidade da
região dos Coelhos, essa história tornou-se lendária. Até hoje, os moradores
mais antigos lembram dos passos dos homens de terno e do vulto do caixão, mesmo
que toda a história tenha sido esclarecida. Entre risos e recordações, a
verdade se mistura com a lenda, perpetuando o causo do caixão cheio de café
como uma prova de que, às vezes, a realidade pode ser mais cômica e
surpreendente do que qualquer mera imaginação.
Opaaaa!! ... esperaí
!! ... pensaram que iria esquecer do corajoso e fiel Caramelo? Pois bem ... Caramelo depois de espantar os
ladrões, se tornou também um respeitável herói e mais querido ainda pelos
moradores dos Coelhos...
A poeta Vera Alice dos Santos, em
seu relato poético sobre seu pai, Jesus Taveira dos Santos, traça um retrato
afetuoso e reverente de um homem que, apesar das dificuldades e simplicidade da
vida, deixou um legado marcante tanto no âmbito do trabalho quanto no universo
musical. Conhecido carinhosamente como "Jesus do banjo" ou "Figo",
foi um trabalhador dedicado e um músico talentoso, cuja presença trazia alegria
a todos ao seu redor.
Jesus Taveira exerceu sua função
nas décadas de 1950 e 1960 na Cia. Industrial Itaunense. A poeta recorda com
carinho que ele trabalhava descalço, “não gostava de sapatos ou botinas”, uma
escolha que reflete uma autenticidade e ligação profunda com suas raízes e a
realidade de seu tempo. Esse detalhe aparentemente simples, destacado por Vera
Alice, poderia simbolizar uma resistência silenciosa à padronização e uma
conexão visceral com o chão que pisava, reforçando a imagem de um homem genuíno
e resiliente.
Além de sua vida laboral, Jesus
Taveira era conhecido por seu talento musical. Durante os dias da semana, à
noitinha, ele entoava canções com uma voz mansa e suave, criando momentos de
comunhão e alegria familiar, onde todos faziam coro. Esses momentos eram
pequenas celebrações diárias, onde a música servia como um laço de união e
felicidade.
“Jesus do banjo” transformava-se
no músico vibrante que dedilhava com destreza as cordas de seu banjo. Suas
apresentações nas festas juninas, serenatas e encontros dos amantes da música
eram aguardadas com expectativa, pois ele conseguia, através de seu talento,
criar uma atmosfera de alegria e celebração que encantava a todos.
Através das memórias da poeta
Vera Alice, emerge a figura de um homem que, apesar das limitações e
dificuldades da vida, encontrou na música uma forma de expressão e um meio de
alegrar aqueles ao seu redor. Sua dedicação tanto ao trabalho quanto à música é
um testemunho de sua força e paixão pela vida. O legado de Jesus Taveira,
portanto, não é apenas de um trabalhador esforçado, mas também de um artista
cuja música continua a ressoar nas memórias e corações daqueles que tiveram a
sorte de ouvi-lo.
Vera Alice dos Santos, com sua
narrativa poética, consegue capturar a essência de seu pai, oferecendo ao
leitor uma visão íntima e tocante de um homem cuja simplicidade e talento
deixaram uma marca inesquecível na vida de sua família e comunidade itaunense.
Veja o incrível: Acróstico - Jesus do Banjo
Referências:
Arte, pesquisa
e organização: Charles Aquino
História oral, escrita e acervo: Poeta Vera Alice dos Santos em 2016 (In Memoriam)
SANTOS. Vera
Alice do. Essências. 1ª Coletânea do Grupo de Escritores itaunenses. Ed.
Vide, 2015, p. 119.
Era uma tarde
quente de abril em Itaúna, e a cidade fervilhava com os preparativos para a
Semana Santa. No coração desse fervor estava Jair Debique, um comerciante e
eterno brincalhão que havia transformado a venda de velas em um verdadeiro
espetáculo. Tudo começou quando ele, em uma de suas viagens, observou meninos
vendendo velas em Guaranésia, Goiás. Inspirado, decidiu trazer a ideia para sua
terra natal, e o que se seguiu foi uma série de eventos cômicos que se tornaram
lendas locais.
Veja incrível história completa ... agora narrada em áudio:
História narrada pelo Barranqueiro Nardoni , escrita por um Historiador Barranqueiro
“Apenas posso
lamentar...História virando pó...cegueira e ignorância...não quero congelar a
cidade no Tempo... o espaço sempre muda, sempre se altera…, porém, algumas
belas edificações da Itaúna da Década de 20 e outras, virando poeira...porque
mesmo??? As Gerações do Futuro hão de condenar-nos e com muita razão…em outros
lugares, mais cultos e instruídos, o futuro sempre chegou e respeitando o
passado...nossa Identidade! Ser Nobre é ter Memória! E ter Memória é ter
Identidade!”
“Nossa cidade
não tem como característica, nem mesmo vocação, ser uma cidade histórica, ou
melhor, patrimônio da humanidade como Ouro Preto. É claro que está aberta ao
desenvolvimento, à modernização, e, por isso se transforma. Isso não significa
que o velho não pode conviver com o novo. O grande problema não está em demolir
casarões centenários... é o que fazer no lugar... deixar lote vazio está sendo
a opção... (na maioria das vezes, e apenas para inflacionar os imóveis do
centro). A pergunta que faço é: não existe um Estatuto da Cidade? Uma
propriedade urbana não tem que exercer uma função social? E qual a função
social dos terrenos baldios que hoje estão sendo criados no centro da cidade?
Responder que é para criar mato não vale!!!!”
Os textos dos professores barranqueiros Luiz
Mascarenhas e Geraldo Phonte Boa, aproximadamente escritos há 12 anos, revelam
uma preocupação profunda com o patrimônio histórico e o desenvolvimento urbano
da cidade de Pedra Negra — Itaúna, Minas Gerais. Ambos os professores
registraram perspectivas complementares sobre as mudanças que a cidade tem
enfrentado e as implicações dessas transformações.
Em seu texto, Mascarenhas lamenta
a perda de edificações históricas, destacando que a destruição dessas
construções resulta em um empobrecimento cultural e histórico da cidade. Ele
enfatiza que a memória e a identidade de Itaúna estão sendo comprometidas pela
falta de preservação, e critica a cegueira e a ignorância das gerações atuais
em relação à importância do passado. Mascarenhas defende que ser nobre é ter
memória, e que essa memória constitui a identidade da cidade.
Por outro lado, Phonte Boa
reconhece que Itaúna não possui a vocação para ser um patrimônio da humanidade
como de Vila Rica — Ouro Preto, mas critica a demolição de casarões centenários
sem um plano adequado para o uso dos terrenos resultantes. Ele aponta que
muitos terrenos no centro da cidade são deixados vazios, contribuindo para a
especulação imobiliária ao invés de exercerem uma função social. Phonte Boa
questiona a existência e a aplicação do Estatuto da Cidade, que deveria
garantir que propriedades urbanas cumpram uma função social, criticando a
transformação dos espaços em terrenos baldios que não beneficiam a comunidade.
Passados 12 anos desde que os
professores barranqueiros escreveram seus textos, a situação de Itaúna parece não ter
melhorado significativamente. Provavelmente as interrogações levantadas pelos
professores sobre o futuro da cidade e o respeito ao seu passado continuam sem
respostas concretas. A destruição de edificações antigas e a falta de um
planejamento urbano que considere o patrimônio histórico ainda são problemas
prementes.
Estariam ainda os problemas mencionados
por Phonte Boa, continuando a proliferar, refletindo uma ausência de políticas
eficazes que integrem desenvolvimento e preservação? As gerações futuras,
conforme predito por Mascarenhas, podem de fato condenar a atual geração por
sua incapacidade de equilibrar a modernização com a conservação da identidade
cultural de Itaúna?
A crítica central dos professores
aponta para uma falha coletiva em reconhecer e valorizar a história local.
Apesar das mudanças inevitáveis que o espaço urbano sofre, a preservação de
elementos históricos não deve ser negligenciada. Acredito que a cidade de Itaúna
necessita de uma abordagem mais consciente e equilibrada que respeite seu
passado enquanto promove um desenvolvimento sustentável e socialmente
responsável. A cidade ainda tem a oportunidade de reverter essa tendência e
mostrar que modernização e memória podem coexistir harmoniosamente, evitando
que a história se torne apenas pó.
Só para relembrar ... perguntei
um amigo barranqueiro sobre a biblioteca da cidade que certamente é também nosso patrimônio histórico e cultural... ele informou que ainda continua
fechada!!! Em todos sentidos!!! ... aproximadamente mais de 1 ano !!!😴
A família
Gonçalves de Souza Moreira, ou "Gonçalvismo" em Itaúna, revela
uma narrativa profundamente entrelaçada com o desenvolvimento econômico e
social do município. Originários de Bonfim, Minas Gerais, os irmãos Francisco Gonçalves de Souza
Moreira, Manoel José de Souza Moreira, Joaquim Gonçalves de Souza Moreira, Vicente Gonçalves de Souza e José Gonçalves de
Souza Moreira, filhos do major Antônio José de Souza Moreira e Maria Sabina do
Nascimento, marcaram a transição de um arraial rural para um centro industrial
emergente.
Essa transição se iniciou em 1850 com o casamento dos cinco irmãos
bonfinenses com as cinco irmãs da família Gonçalves Cançado, demonstrando a
importância das alianças familiares na estruturação social e econômica da
época - todos primos.
Manoel José de Souza Moreira, em
particular, destaca-se como o pioneiro da macro industrialização em Sant’Ana do
Rio São João Acima, hoje município de Itaúna, Minas Gerais. Sua visão
empreendedora impulsionou a transformação do arraial, especialmente com a
fundação da Companhia de Tecidos Santanense em 1891. Esta empresa foi um marco
significativo, sinalizando a transição de uma economia baseada na agricultura e
na mão-de-obra escrava para uma economia industrial e comercial. A firma "MOREIRA
& FILHOS" de Manoel José de Souza Moreira também desempenhou um papel
crucial, consolidando-se como o principal empório comercial da região e
proporcionando uma "escola de comércio" para futuros empresários
locais.
O "Gonçalvismo"
foi um movimento que gradualmente transformou o perfil do município de
Sant'Ana, impulsionado pela família Gonçalves, que chegaram ao arraial de Sant’Ana
com capital e novas ideias, o que lhes permitiu adquirir as melhores terras e
fazendas, estabelecendo-se como líderes econômicos e políticos. A riqueza e o
poder adquiridos por meio do comércio e da indústria permitiram-lhes
influenciar significativamente o desenvolvimento da infraestrutura local, como
a introdução da estrada de ferro e a iluminação pública. Esta influência se
estendeu à esfera educacional, com dois de seus descendentes se formando como
os primeiros doutores de Sant'Ana, indicando um investimento na educação e
cultura que perpetuaria sua hegemonia por décadas - advogado dr. José Gonçalves de Souza Moreira e o médico dr. Augusto Gonçalves de Souza Moreira, prefeito por 5 mandatos.
O legado dos Gonçalves de Souza
Moreira é evidente na literatura histórica regional, como ilustrado pelos
trabalhos de Miguel Augusto Gonçalves de Souza e Sílvio Gabriel Diniz. Estes
textos registram a saga familiar e seu impacto duradouro tanto em Itaúna quanto
em Pitangui. A família não apenas estabeleceu as bases da industrialização, mas
também cultivou uma elite cultural e política que dominaria a região. Dr. José
Gonçalves de Souza foi uma figura central nesse processo. Como advogado, ele
organizou a estrutura da Companhia Tecidos Santanense junto com seu primo
Manoel Gonçalves de Souza Moreira, conhecido como Manoelzinho do Hospital, que
era um empresário e comerciante de destaque. A criação dessa empresa têxtil não
só impulsionou a economia local, mas também estabeleceu um modelo de
organização empresarial que influenciaria outras iniciativas na região.
O "Gonçalvismo"
pode ser visto como um exemplo de como uma família pode usar suas vantagens
econômicas e educacionais para consolidar poder e influenciar profundamente a
trajetória de uma comunidade. A aquisição de terras e o investimento em
infraestrutura foram estratégias chave que transformaram a economia local e
estabeleceram as bases para o desenvolvimento industrial. No entanto, a
concentração de poder político e econômico em uma única família também levanta
questões sobre a equidade e a distribuição de recursos na sociedade. A
centralização do poder pode ter limitado a participação de outros grupos na
tomada de decisões e na distribuição dos benefícios do desenvolvimento.
O "Gonçalvismo"
em Itaúna representa um exemplo paradigmático de como famílias influentes podem
moldar o destino de um município. A união estratégica entre os Gonçalves de
Souza Moreira e os Gonçalves Cançado foi fundamental para a consolidação de um
poder econômico e político que transformou o pacato arraial de Sant’Ana em um
polo industrial. Manoel José de Souza Moreira, com sua visão pioneira, é
merecidamente reconhecido como o arquiteto desta transformação, liderando uma
era de progresso que mudou para sempre o curso da história de Itaúna.
Esta análise evidencia a
importância de estudar a história local não apenas através dos eventos, mas
também pelas influências familiares que moldam as estruturas sociais e
econômicas. O legado dos Gonçalves de Souza Moreira ou "Gonçalvismo" em Itaúna permanece um testemunho da
capacidade de indivíduos e famílias em promover mudanças significativas e
duradouras em suas comunidades.
SOUZA, Miguel
Augusto Gonçalves de: Itaúna: sua trajetória política, social, religiosa,
econômica e cultural, desde a criação do Arraial de Santana do São João Acima,
em 14 de outubro de 1765, até a data do centenário de instalação do município:
1765-2002. BH, Santa Clara, 2002, p.74-76.
NOGUEIRA, Guaracy
de Castro. In Enciclopédia Ilustrada de Pesquisa: Itaúna em detalhes.
Ed. Jornal Folha do Povo, 2003, fascículo 09.
A escritora e
memorialista Iracema Fernandes dá significativa contribuição ao preservar e
detalhar a história dos “Nossos Cemitérios” em sua obra “Itaúna através dos
tempos”. Com uma escrita de fácil compreensão, mas repleta de preciosidades,
ela captura a essência e os aspectos mais íntimos do cotidiano da cidade. No
texto, a autora faz uma comparação entre “o cemitério velho e o novo” de
Itaúna, destacando aspectos históricos, arquitetônicos e sociais.
Em seu relato
sobre os cemitérios do município, Fernandes pinta um quadro vívido do antigo
cemitério, comumente chamado de “cemitério velho”, localizado
próximo à Praça da Matriz (sendo este a segunda necrópole construída depois de 1853), onde cessaram os sepultamentos no primeiro cemitério, que se localizava no Adro da Capela no alto do Morro do Rosário. Através de suas palavras, somos transportados para
um tempo em que o “cemitério velho” era rodeado por um sólido muro de
pedras e marcado pela presença austera dos frades franciscanos capuchinhos — “barbôneos”.
Eles não apenas
pregavam e construíam cemitérios, mas também exerciam uma disciplina rígida — “Esses
padres eram muitos severos para pregar. Se o pecado contado em confissão fosse
pesado, eles batiam no penitente com o crucifixo que traziam, no peito”.
Fernandes
descreve com minúcia a “capela arredondada de piso de terra solta” (Capela de
São Miguel e Almas), os poucos mausoléus, e as separações dentro do cemitério,
onde pagãos e suicidas eram enterrados, como o Sr. Plácido Coutinho, um renomado
professor que cometeu suicídio dentro do cemitério em 1899 (grifo nosso — o
motivo deste ato, segundo “pareceristas” da época, foi pelo fato do professor ser
adepto do kardecismo organizando reuniões espíritas em sua residência). Protestantes
não eram enterrados ali, pois era “propriedade da igreja católica”, submetido
ao poder eclesiástico.
Fernandes
descreve ainda os encontros de famílias vizinhas nas escadas do cruzamento
principal, onde o humor e a devoção se entrelaçavam. A chegada de Donana,
esposa do Coronel Zacarias Ribeiro, com suas fervorosas orações, transformou
esses encontros em momentos de profunda espiritualidade e respeito. Donana
depois das orações do “Angelus e ladainha”, tirava o rosário para
invocar a Virgem da Conceição por todos seus familiares — “debulhava as 150
jaculatórias do rosário”.
Um detalhe
marcante era a sepultura do filho de Sidney Drumond, decorada com um retrato do
menino sorrindo e uma quadrinha gravada na lousa. Uma árvore de jurubeba
cresceu ao lado dessa sepultura, cujas flores lilás foram deixadas por serem
consideradas poéticas pelo saudoso pai.
Ao tratar do novo
cemitério (terceira necrópole do município), inaugurado em 1922, a escritora
destaca as mudanças na infraestrutura e nos costumes funerários. A primeira
pessoa enterrada, Anita Soares Nogueira, esposa do Dr. Lincoln Nogueira
Machado, chegou a Itaúna após um difícil traslado de Vitória, Espírito Santo,
em meio às celebrações pela visita do Rei Alberto da Bélgica.
É importante
destacar que a construção do novo cemitério em Itaúna marcou um passo
significativo na evolução social e religiosa da cidade, corrigindo práticas
anteriores de intolerância religiosa e promovendo um espaço mais inclusivo para
todos os cidadãos, independentemente de suas crenças.
Registra-se desde a Constituição
de 1891 que os cemitérios seriam de caráter secular. Esta disposição, apesar de
várias alterações e revogações até 1988, manteve-se inalterada e previa que os
cemitérios deveriam ter carácter laico e estar sob a administração da autoridade municipal. Também permitiu que grupos religiosos praticassem livremente
os seus rituais, desde que não violassem a moral e as leis públicas. A
implementação da Constituição Republicana apenas acentuou a situação já
desafiadora.
Os enterros eram
limitados às instalações da Igreja Católica, resultando na exclusão de
não-católicos, incluindo protestantes, pagãos e indivíduos que morriam por
suicídio. Esta prática era indicativa de um período caracterizado por uma
discriminação religiosa rigorosa, em que a ausência de atividades públicas e de
um cemitério adequado para indivíduos de diferentes religiões poderia ser
percebida como uma clara demonstração de intolerância e dominação naquela
época.
Com a construção
do novo cemitério, a situação mudou significativamente. Este novo espaço,
concebido como uma necrópole, permitiu que o poder público municipal assumisse
um papel mais ativo na gestão dos sepultamentos, assegurando que o local fosse
democraticamente laico. Este cemitério tornou-se um símbolo de progresso e
modernidade, proporcionando um local de descanso final digno e respeitoso para
todos os membros da comunidade, independentemente de suas afiliações
religiosas.
Iracema Fernandes
retrata habilmente esta mudança com descrições vívidas e comoventes,
sublinhando o significado desta transformação do ponto de vista cultural e
histórico. No seu retrato do intrincado processo de realocação da esposa do
prefeito, que se tornou a pessoa inaugural sepultada no recém-criado cemitério,
Fernandes dá grande ênfase ao novo significado deste espaço acessível e
inclusivo, simbolizando as mudanças sociais e políticas que foram ocorridos
naquela época.
A construção do
novo cemitério de Itaúna foi um marco crucial na democratização e laicização
dos espaços de sepultamento na cidade. Este avanço permitiu uma convivência
mais harmoniosa entre diferentes crenças e reafirmou o compromisso da
comunidade com a igualdade e o respeito a todos os seus membros. A obra de
Iracema Fernandes é uma janela para o passado, oferecendo uma compreensão rica
e detalhada da história local. Sua habilidade de capturar a simplicidade e a
profundidade dos eventos cotidianos faz de sua escrita uma fonte valiosa para
quem deseja conhecer a verdadeira essência dos habitantes do município.
A inclusão desde
os simples túmulos até os luxuosos mausoléus, simbolizando a contínua devoção
dos moradores, agora, todas as famílias, independentemente de suas crenças,
poderiam enterrar seus entes queridos com a dignidade que mereciam — “é lindo
ver tantas flores, tantas orações subindo, como incenso suave até Deus”. Em suma,
a escritora destaca a transformação dos costumes funerários e a evolução dos
cemitérios do arraial de Sant’Ana do Rio São João Acima, hoje Itaúna, Minas Gerais,
sublinhando aspectos religiosos e culturais que marcaram a memória da cidade e
nos apresenta o novo cemitério que poderia ser justamente chamado "cidade dos mortos".
Fotografia:
Tirada do mausoléu do Cemitério Central de Itaúna em 20/03/2019
Acervo imagem: Instituto
Cultural Maria de Castro Nogueira
Bibliografia: SOUSA, Iracema Fernandes de. Itaúna
através dos tempos, Ed. LEMI S.A., BH, 1984, págs. 32-33.
MOREIRA, Lúcio
Aparecido. As fontes do medo na educação: estudo de caso de uma Escola
construída onde existiu um cemitério. Belo Horizonte, 2013, p.23-26
FONSECA, Luís
Gonzaga, org.: Itaúna humana e pitoresca, 1961, p.83, 84.
Em meio ao movimentado coração da cidade de Itaúna, comumente chamada de Praça da Matriz, sob o sol escaldante de uma terça-feira típica de verão da década de 1970, um “rapaz latino-americano” expressou seu desinteresse pelas ideias teóricas paralelas em torno de uma existência predeterminada que ocupavam a mente de muitos — “no escritório em que eu trabalho e fico rico, quanto mais eu multiplico, diminui o meu amor.” Em vez disso, a sua aspiração era abraçar os aspectos da vida quotidiana e mergulhar em experiências genuínas.
Os intensos raios do sol pareciam liquefazer o pavimento sob seus passos apressados, como se ele estivesse correndo em direção a um destino desconhecido, apesar de ter plena consciência de que não havia um ponto final específico à frente. No caminho, ele se deparou com o Cine Rex, vizinho a um botequim que parecia ser acolhedor por nome “Bar Azul” com todas as paredes internas realmente adornadas com tom azul. Entrou e se acomodou em um dos bancos altos.
O dono do bar, um senhor de cabelos brancos e sorriso fácil, serviu-lhe um gole de conhaque pensando que poderia trazer algum alívio. Em tom abafado, ele murmurou para si mesmo, tentando convencer sua própria mente de que não sucumbia mais ao nervosismo. O “toque do cetim” da sua camisa contra a pele suada era um dos poucos confortos que sentia naquele momento.
Enquanto tomava pequenos goles de conhaque, uma melodia emanou da vitrola do “Bar Azul” naquele momento dizendo que "tudo é lindo, tudo é maravilhoso." A música, que antes era um pano de fundo para ocasiões alegres, agora parecia zombar dele com sua amarga ironia. No entanto, ele compreendeu o fluxo e refluxo da vida, reconhecendo que ela estava repleta de altos e baixos, e que a existência muitas vezes poderia ser muito mais desafiadora do que o previsto.
A entrada de uma mulher no bar fez com que ele experimentasse um nível de surpresa e angústia comparável ao “de um goleiro na hora do gol” e, naquele momento, o mundo pareceu congelar. Foi como se o próprio tempo lhes tivesse concedido um cessar-fogo temporário. Sem pronunciar uma única palavra, ela se aproximou e sentou-se ao lado dele. A fragrância inebriante de seu perfume misturou-se ao poderoso aroma de conhaque no ar. "Posso tomar uma cerveja?" ela pediu ao dono do bar, que prontamente a serviu com sua eficiência habitual.
A mera presença dela ao lado dele dizia muito, mesmo sem palavras trocadas. Embora estivesse ansioso para abraçar as aventuras da vida, naquele momento específico, tudo o que ansiava era simplesmente estar ali. Quando olhou nos olhos dela, percebeu uma compreensão que refletia a sua. Talvez ela possuísse a capacidade de compreender a natureza tumultuada da existência, a busca incansável pela vida e o abandono constante da certeza.
Assim, empurrando seu banco para mais perto da moça sussurrou rapaz: “meu bem, talvez você possa compreender, o meu som e a minha fúria e essa pressa de viver e esse jeito de deixar sempre de lado a certeza e arriscar tudo de novo com paixão”. Um sorriso enfeitou seus lábios quando ela abraçou sua oferta, e unidos eles avançaram, ousadamente aventurando-se mais uma vez com fervor, desviando-se do caminho convencional apenas pelo puro prazer vibrante de existir.
À medida que a escuridão descia, uma brisa refrescante chegou, aliviando o calor persistente do dia. Saindo do pitoresco bar de paredes azuis, eles vagaram pelas ruas iluminadas, banhados pelo brilho dos postes de luz. O “rapaz latino-americano e sem dinheiro no banco”, tinha uma sede insaciável de “viver a divina comédia humana onde nada é eterno”. Ele persistiu em compartilhar suas histórias, reconhecendo que “amar e mudar as coisas” interessava muito mais.
Texto e adaptação à semelhança do homem fictício de dentro de trechos das canções do cantor e compositor Belchior: Alucinação, Divina Comédia Humana, Coração Selvagem, Apenas um rapaz latino-americano, Paralelas.
Imagem meramente ilustrativa: Disponível em: musique - se
O impacto de
Aristides de Aquino como profissional e como pai é caracterizado por uma
mistura de proficiência, comprometimento e perseverança. Seus filhos
herdaram não apenas um nome, mas também uma coleção de princípios e modelos. A
influência de Aristides é evidente na conduta, na ética de trabalho e na
resiliência demonstradas pelos seus descendentes ao enfrentarem as provações da
vida, garantindo que o espírito e os ensinamentos do seu patriarca perduram.
Inspirando-se
em São Tomás de Aquino, a decisão de adotar o sobrenome Aquino significa um
vínculo profundo com a fé e a espiritualidade. Sem dúvida, esta devoção
desempenhou um papel fundamental na formação do desenvolvimento moral e ético
dos seus filhos, estabelecendo uma base sólida de princípios e promovendo um
sentido de unidade dentro da família. Aristides de Aquino, como profissional e
pai, deixou um legado indelével, impactando profundamente a educação e os
valores incutidos nos seus filhos.
Aristides
dedicou parte significativa de sua vida à Rede Ferroviária, cumprindo a função
de guarda-fios. Esta posição específica desempenhou um papel vital na
preservação da integridade das linhas telegráficas e telefónicas, que foram de
extrema importância numa época em que a tecnologia ainda estava na sua fase
inicial. O excepcional nível de responsabilidade e proficiência demonstrado por
Aristides no desempenho das suas funções serve como um exemplo brilhante de
dedicação e profissionalismo inabaláveis.
A capacidade de
Aristides de se ajustar e enfrentar diversas situações e obstáculos é
exemplificada pela escolha de residir em um vagão conectado a um trem,
garantindo movimento constante ao lado de sua família. Apesar dos desafios,
este modo de vida nômade mostra a sua adaptabilidade e a sua disponibilidade
para fazer sacrifícios em prol do bem-estar da sua família e das suas
obrigações profissionais.
Aristides e sua
esposa, Dona Puruca, criaram com sucesso um total de quatorze filhos (dois dos quais morreram na infância) e até
ampliaram a família adotando um. Eles não apenas proporcionaram um lar amoroso
para seus filhos, mas também incutiram neles uma base sólida de valores. A vida
itinerante que levaram, deslocando-se de cidade em cidade, proporcionou, sem
dúvida, aos seus filhos uma educação única e diversificada, mergulhando-os em
diversas culturas e expondo-os a diferentes perspectivas de vida.
A influência da
dedicação inabalável de Aristides ao seu trabalho e do seu papel como pai
atencioso teve um efeito profundo e duradouro nos seus filhos. Eles colheram
lições valiosas sobre a importância da diligência, da responsabilidade e da
resiliência. Esses princípios são fundamentais para formar indivíduos que sejam
firmes na busca de aspirações pessoais e no cumprimento de responsabilidades.
Aristides não
só tinha uma forte ética de trabalho, mas também encontrava alegria no futebol
e na música. Esta mistura harmoniosa de trabalho e lazer provavelmente incutiu
nas crianças o valor de perseguir paixões pessoais e de abraçar as alegrias da
vida fora do trabalho. Além disso, o seu humor contagiante e o seu moustache distinto serviam como símbolos exteriores da sua personalidade viva, o que sem
dúvida fomentava uma atmosfera calorosa e convidativa no seio da sua família.
ORIGEM DA FAMÍLIA AQUINO
No arraial mineiro do Morro de Matheus Leme, hoje cidade de Mateus Leme, no ano de 1912 nascia Aristides de Aquino – patriarca da Família Aquino. Funcionário da Rede Ferroviária por vários anos, exerceu a função de guarda-fios (profissional que fiscalizava a linha telegráfica ou telefônica; que trabalhava nas montagens de postes de madeira que eram colocados os fios e efetuando reparos de emergências quando necessário). O guarda-fios casou em 27 de janeiro de 1940 com Maria Nazaré Castanheira (Dona Puruca) e juntos percorreram trabalhando e residindo em várias cidades de minas gerais, tendo como moradia um carro-vagão que era engatado a um trem.
Desta união alguns filhos nasceram em distintas cidades mineiras – José Maria de Aquino, nascido em Passa Quatro, Maria Aparecida de Aquino, nascida em Alfenas, Leonardo Custódio de Aquino, nascido em Araxá, Lucília Castanheira de Aquino, nascida em Belo Horizonte, Luiz Gonzaga de Aquino, Geraldo Benedito de Aquino, Maria Lúcia de Aquino, Maria de Fátima de Aquino, Aristides Antônio de Aquino, Natália de Aquino, Maria Márcia de Aquino e Maria Angélica de Aquino nascidos em Itaúna. Uma criança foi adotada pelo casal, Weber de Oliveira, nascido também em Itaúna.
No ano de 1936, o presidente Getúlio Vargas, assinava a Lei de número 252 de 26 de setembro, que prorrogava o prazo para o registro civil de nascimentos: Art. 1º Os nascimentos ocorridos no território nacional desde 1 de janeiro de 1879, que não foram registrados no tempo próprio, devem ser levados a registro dentro do prazo de um ano, mediante: 1º Petição e despacho do juiz do cível do lugar do nascimento se o registrando tiver doze anos de idade, ou mais.
Aos 19 de outubro do ano de 1937, Aristides com idade de 25 anos, compareceu ao Cartório de Mateus Leme com a presença de testemunhas, exibindo uma petição despachada pelo Juiz de Direito para registrar o seu nascimento em virtude da Lei de 1936 e declarou:
Que ele declarante ARISTIDES DE AQUINO, do sexo masculino, de cor morena, nasceu neste arraial, à rua do cemitério, no dia sete de março de mil novecentos e doze, às dezesseis horas, que é filho de JOÃO CAMILLO DA SILVA, brasileiro, já falecido e de dona MARIA ADRIANA DA SILVA, brasileira, ambos naturais deste distrito, (…), que são seus avós: pelo lado paterno CAMILLO MOREIRA DA SILVA E MARIA LUCAS DA SILVA, ambos já falecidos e pelo lado materno FRANCISCA MARIA DE JESUS, já falecida; finalmente que não tem outros irmãos com o mesmo prenome. Do que faço constar, faço este termo em que comigo assinaram o declarante e as testemunhas MANOEL BRAZ OBELHEIRO, comerciante e JOSÉ MENDES, padeiro, residentes neste distrito, depois de ser lido por mim e achado tudo conforme. Eu Francisco de Abreu Vasconcellos, oficial do Registro, o escrevi e assino. O referido é verdade, do que dou fé, Mateus Leme – MG, 1937.
Além de exercer com competência e amor sua profissão de guarda-fios, Tico – Tico, assim chamado pelos seus amigos e familiares, Aristides de Aquino, apreciava o futebol e uma boa música. Com um senso de humor apurado, esse cultivado até hoje pelos seus descendentes. Sua casa em Itaúna, era situada à rua Santo Agostinho, nº 67 – Graças.
Verificando a documentação no cartório da cidade de Mateus Leme, percebi que o sobrenome AQUINO teria sido escolhido pelo próprio declarante Aristides, cujo seus pais não possuíam. Descobriu-se também, uma interessante informação sobre o monge dominicano, professor filósofo e teólogo São Tomásde Aquino(morreu em 7 de março de 1274) e Aristides de Aquino(nasceu em 7 de março de 1912), queambos tinham o mesmo dia e mês em comum. Conversando com familiares, fui informado que meu avô Aristides de Aquino era devoto do monge, no qual, certamente em sua homenagem, adotou o seu sobrenome dando origem a família AQUINO.
O título “Santanense: Estórias
Quase Avacalhadas” convoca um conjunto vívido de estórias e causos que aos poucos foram
se enraizando no imaginário dos moradores do bairro Santanense. Estas
narrativas, transmitidas através dos tempos, retratam um elenco multifacetado
de personagens intrinsecamente entrelaçados no tecido cultural dos habitantes.
O título sugere uma mistura de humor e nostalgia, refletindo como essas
histórias se fundiram perfeitamente com a identidade e o legado intangível.
No bairro, segundo um artista local, destaca que existe uma colaboração cósmica
constante: "aqui, o universo sempre está
conspirando a favor, resultando no surgimento espontâneo de
diferentes estórias". Os
habitantes santanenses possuem uma identidade única, definida por uma ligação
profunda e uma riqueza de tradições culturais, ainda reforçada pelas narrativas
apaixonantes que moldam a essência vibrante e quase lendária do bairro.
Estas estórias e causos cativantes, impregnadas no delicioso “humor dos
santanenses”, já estão acessíveis, salvaguardando a essência da
cultura local e garantindo a sua apreciação duradoura pelas gerações vindouras.Organização, arte e roteiro: Charles Aquino