Os moradores da região dos
Coelhos juravam que tinham visto vultos misteriosos à noite: quatro homens de
terno carregando um caixão. Essa aparição macabra acontecia duas a três vezes
por semana, deixando todos apavorados. Farofa, no entanto, não se intimidava
com essas histórias de fantasmas e decidiu que desvendaria o mistério. — Essa
semana estarei de vigia todas as noites! — declarou Farofa com firmeza,
desconsiderando os conselhos temerosos dos vizinhos.
Com seu fiel cachorro Caramelo e
uma mochila cheia de comida, Farofa foi para o mato adentro da fazenda. Nas
primeiras duas noites, a única coisa que ele ouviu foram os sons dos sapos,
pererecas e grilos. Mas na terceira noite, ao pé do morro, ele avistou algo que
fez seu coração pular uma batida.
— Será que são eles? — murmurou
Farofa, esfregando os olhos para ter certeza do que via. Quatro homens de
terno, carregando um caixão, vinham em sua direção. Pela primeira vez, Farofa
sentiu um frio na espinha. Seria a morte enviando seus emissários para levar
alguém da fazenda? Ele se manteve paralisado, observando a cena. De repente, um
dos homens tropeçou e soltou um pavoroso palavrão.
— Diacho! Esses fantasmas estão é “muito
pecadores”, falando desse jeito! — pensou Farofa, agora mais confuso do que
assustado. O fiel e atento Caramelo percebendo que havia algo errado, avançou
no grupo. Um dos homens, apavorado, saiu correndo mato adentro,
desestabilizando os outros. Em um instante, todos largaram o caixão e correram
para salvar suas peles. Farofa, ainda meio atordoado, deixou o cachorro
perseguir os homens e se aproximou do caixão. Ao abri-lo, o que viu o deixou
boquiaberto.
— Misericórdia! — Misericórdia! Cambada
de safados! — gritou Farofa. Em vez de um corpo, o caixão ... era café! Isso
mesmo! O caixão tinha uma alma se quer — estava cheio de grãos de café. Farofa descobriu
que os supostos “fantasmas” eram, na verdade, ladrões roubando o café da
fazenda.
O alvoroço na fazenda rapidamente
se transformou em risos e piadas sobre os "fantasmas pecadores". E
Farofa, o homem de muita fé que não tinha medo de nada, tornou-se ainda mais
respeitado, agora não apenas por sua coragem, mas também por seu inusitado
senso de humor diante do inexplicável.
E assim, na pequena comunidade da
região dos Coelhos, essa história tornou-se lendária. Até hoje, os moradores
mais antigos lembram dos passos dos homens de terno e do vulto do caixão, mesmo
que toda a história tenha sido esclarecida. Entre risos e recordações, a
verdade se mistura com a lenda, perpetuando o causo do caixão cheio de café
como uma prova de que, às vezes, a realidade pode ser mais cômica e
surpreendente do que qualquer mera imaginação.
Opaaaa!! ... esperaí
!! ... pensaram que iria esquecer do corajoso e fiel Caramelo? Pois bem ... Caramelo depois de espantar os
ladrões, se tornou também um respeitável herói e mais querido ainda pelos
moradores dos Coelhos...
Veja o "Causo" narrado em áudio! Imperdível !
Referências:
Arte,
organização: Barranqueiro — Charles
Aquino
Causo: Barranqueiro Borges