Manoel José de Souza Moreira, em
particular, destaca-se como o pioneiro da macro industrialização em Sant’Ana do
Rio São João Acima, hoje município de Itaúna, Minas Gerais. Sua visão
empreendedora impulsionou a transformação do arraial, especialmente com a
fundação da Companhia de Tecidos Santanense em 1891. Esta empresa foi um marco
significativo, sinalizando a transição de uma economia baseada na agricultura e
na mão-de-obra escrava para uma economia industrial e comercial. A firma "MOREIRA
& FILHOS" de Manoel José de Souza Moreira também desempenhou um papel
crucial, consolidando-se como o principal empório comercial da região e
proporcionando uma "escola de comércio" para futuros empresários
locais.
O "Gonçalvismo" foi um movimento que gradualmente transformou o perfil do município de Sant'Ana, impulsionado pela família Gonçalves, que chegaram ao arraial de Sant’Ana com capital e novas ideias, o que lhes permitiu adquirir as melhores terras e fazendas, estabelecendo-se como líderes econômicos e políticos. A riqueza e o poder adquiridos por meio do comércio e da indústria permitiram-lhes influenciar significativamente o desenvolvimento da infraestrutura local, como a introdução da estrada de ferro e a iluminação pública. Esta influência se estendeu à esfera educacional, com dois de seus descendentes se formando como os primeiros doutores de Sant'Ana, indicando um investimento na educação e cultura que perpetuaria sua hegemonia por décadas - advogado dr. José Gonçalves de Souza Moreira e o médico dr. Augusto Gonçalves de Souza Moreira, prefeito por 5 mandatos.
O legado dos Gonçalves de Souza
Moreira é evidente na literatura histórica regional, como ilustrado pelos
trabalhos de Miguel Augusto Gonçalves de Souza e Sílvio Gabriel Diniz. Estes
textos registram a saga familiar e seu impacto duradouro tanto em Itaúna quanto
em Pitangui. A família não apenas estabeleceu as bases da industrialização, mas
também cultivou uma elite cultural e política que dominaria a região. Dr. José
Gonçalves de Souza foi uma figura central nesse processo. Como advogado, ele
organizou a estrutura da Companhia Tecidos Santanense junto com seu primo
Manoel Gonçalves de Souza Moreira, conhecido como Manoelzinho do Hospital, que
era um empresário e comerciante de destaque. A criação dessa empresa têxtil não
só impulsionou a economia local, mas também estabeleceu um modelo de
organização empresarial que influenciaria outras iniciativas na região.
O "Gonçalvismo"
pode ser visto como um exemplo de como uma família pode usar suas vantagens
econômicas e educacionais para consolidar poder e influenciar profundamente a
trajetória de uma comunidade. A aquisição de terras e o investimento em
infraestrutura foram estratégias chave que transformaram a economia local e
estabeleceram as bases para o desenvolvimento industrial. No entanto, a
concentração de poder político e econômico em uma única família também levanta
questões sobre a equidade e a distribuição de recursos na sociedade. A
centralização do poder pode ter limitado a participação de outros grupos na
tomada de decisões e na distribuição dos benefícios do desenvolvimento.
O "Gonçalvismo" em Itaúna representa um exemplo paradigmático de como famílias influentes podem moldar o destino de um município. A união estratégica entre os Gonçalves de Souza Moreira e os Gonçalves Cançado foi fundamental para a consolidação de um poder econômico e político que transformou o pacato arraial de Sant’Ana em um polo industrial. Manoel José de Souza Moreira, com sua visão pioneira, é merecidamente reconhecido como o arquiteto desta transformação, liderando uma era de progresso que mudou para sempre o curso da história de Itaúna.
Esta análise evidencia a importância de estudar a história local não apenas através dos eventos, mas também pelas influências familiares que moldam as estruturas sociais e econômicas. O legado dos Gonçalves de Souza Moreira ou "Gonçalvismo" em Itaúna permanece um testemunho da capacidade de indivíduos e famílias em promover mudanças significativas e duradouras em suas comunidades.
Organização,
arte e pesquisa: Chales Aquino
Acervo: Instituto
Cultural Maria Castro Nogueira
SOUZA, Miguel
Augusto Gonçalves de: Itaúna: sua trajetória política, social, religiosa,
econômica e cultural, desde a criação do Arraial de Santana do São João Acima,
em 14 de outubro de 1765, até a data do centenário de instalação do município:
1765-2002. BH, Santa Clara, 2002, p.74-76.
NOGUEIRA, Guaracy de Castro. In Enciclopédia Ilustrada de Pesquisa: Itaúna em detalhes. Ed. Jornal Folha do Povo, 2003, fascículo 09.