Velhos
tempos de um Bar Azul
...”Ao
longo do tempo, "Bar" acabou se tornando uma referência para um lugar
de bate papo, encontros profissionais, momentos de descontração e lazer. E foi
em meados da década de 40, no balcão do bar do Sr. José Gonçalves de Araújo,
mais conhecido popularmente como "Zé da Ramira", que vários
itaunenses compartilharam momentos únicos.
Zé
da Ramira, deu início à sua vida de comerciante com 19 anos, logo após sair do
tiro de guerra. Hoje com 86 anos de idade, é um dos mais antigos no seguimento
de bares em Itaúna.
Durante
sua trajetória, ele foi o idealizador do Tropicália, Bar do União, Bar do
Automóvel Clube, Escondidinho, dentre outros. Zé da Ramira nunca escolheu os
nomes de seus bares, essa tarefa ficava para os próprios clientes. Ele foi
também o fundador do famoso "Bar Azul", tema constante do nosso
artigo. O bar ficava na praça Dr. Augusto Gonçalves - considerado o ponto mais
nobre da cidade naquela época. O museu de Itaúna exibe fotos centenárias, um
acervo de fotografias de pessoas populares, que mostram também o antigo prédio
do bar.
Mas por que o nome BAR AZUL?
Simplesmente porque o imóvel era azul, dizem
os saudosistas. Toda cidade pequena possui sempre grandes momentos, repassados
a todas as gerações. Falar do Bar Azul é resgatar um passado cheio de histórias
marcantes. O aposentado Carmo Lúcio de 72 anos, ainda lembra das brincadeiras
de carnaval. Ele conta que as moças andavam num automóvel pela cidade
fantasiadas, depois iam dançar nos Clubes. Naquele tempo havia Serestas e
quando um rapaz queria namorar uma moça, tomava a iniciativa nos parques que
apareciam na cidade ocasionalmente, através do "Correio Elegante" ou
enviando alguma música.
Mulher
entrava em bar? Nem pensar! As mulheres daquele tempo passavam longe dos bares
e quem passava perto abaixava a cabeça. Época dos Rádios... só os ricos tinham
rádio em casa, as pessoas costumavam ir na casa de Adolfo Mendes Pai, para
escutar as Telenovelas ou noticiários. Vários cantores faziam sucesso: Nelson
Barbosa, Cascatinha, Nelson Gonçalves e muitos outros que conquistaram um
público grande.
O
"point" era a Praça da Matriz, palco de quase todos os acontecimentos
da cidade: Missa, Bares, Comércio, Política...
Outra
curiosidade, é que o Bar Azul foi o primeiro bar a ter sinuca em Itaúna. O
Automóvel Clube, foi o primeiro a vender revistas pois não existia banca. O
Automóvel recebia a alta elite, onde se discutia política e futebol, e permitia
a entrada de mulheres. O Bar do Plínio da década de 60, conhecido hoje como Bar
do Sandoval, foi o pioneiro no atendimento 24h na cidade.
E
já que o assunto gira em torno de bar e lugares que provocam saudade, entre as
décadas de 30-60, vários se destacaram: Petisqueira, Bar do Cilico, Bar do
Grilo – "Ponto dos políticos", O Século XX, o famoso Cine Rex, Matinê
10h, entre outros. Naquele tempo não existia violência, a cidade crescia
lentamente.
Por
todos esses anos Zé da Ramira tocou com paixão os bares que possuiu, e hoje seu
nome virou referência e alusão aos velhos tempos. O bar do Zé da Ramira deu um
novo sabor ao dia a dia dos itaunenses. Um empreendedor nato no comércio e na
cozinha. "O mais importante era fazer o cliente se sentir bem no bar, ser
amigo" palavras do Zé.
Foi
ele mesmo o criador do "galeto na brasa", o prato mais famoso e
gostoso, que nem precisamos detalhar muito; porque não será difícil descobrir
quem nunca saboreou o que o Sr. Zé prepara com muito carinho. Para ele uma
satisfação; para os clientes: um amigo. Ele mesmo gosta de preparar o tira
gosto de alguns clientes, outros já trazem o tira gosto pronto de casa. A
confiança é tanta que cada cliente faz o controle do seu consumo.
Um
grande homem, simples e profissional, dono de uma bagagem de conhecimentos
invejável. Um bar simples - de conteúdo raro, é a marca de Zé da Ramira em
todos esses anos. ”
Janine Lorenzo
NOTA:
Antes de postar este texto, procurei
o senhor José Gonçalves de Araújo mais conhecido por Zé da Ramira para saber sobre
quem foi o fundador do Bar Azul. Ele confirmou que fundou o Bar Azul e logo
vendeu para o Sr. Odorico Gonçalves Drumond Filho, mais conhecido como Neném
Drumond que foi proprietário até a demolição do imóvel para construção do
Edifício Benfica. Por ter sido uma conversa formal e amigável com o Zé da Ramira,
não pedi nenhum documento que possa comprovar ou ao menos gravei nossa conversa.
Charles Aquino