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sexta-feira, junho 14, 2024

CIDADE DOS MORTOS

A escritora e memorialista Iracema Fernandes dá significativa contribuição ao preservar e detalhar a história dos “Nossos Cemitérios” em sua obra “Itaúna através dos tempos”. Com uma escrita de fácil compreensão, mas repleta de preciosidades, ela captura a essência e os aspectos mais íntimos do cotidiano da cidade. No texto, a autora faz uma comparação entre “o cemitério velho e o novo” de Itaúna, destacando aspectos históricos, arquitetônicos e sociais.

Em seu relato sobre os cemitérios do município, Fernandes pinta um quadro vívido do antigo cemitério, comumente chamado de “cemitério velho”, localizado próximo à Praça da Matriz (sendo este a segunda necrópole construída depois de 1853), onde cessaram os sepultamentos no primeiro cemitério, que se localizava no Adro da Capela no alto do Morro do Rosário. Através de suas palavras, somos transportados para um tempo em que o “cemitério velho” era rodeado por um sólido muro de pedras e marcado pela presença austera dos frades franciscanos capuchinhos — “barbôneos”.

Eles não apenas pregavam e construíam cemitérios, mas também exerciam uma disciplina rígida — “Esses padres eram muitos severos para pregar. Se o pecado contado em confissão fosse pesado, eles batiam no penitente com o crucifixo que traziam, no peito”.

Fernandes descreve com minúcia a “capela arredondada de piso de terra solta” (Capela de São Miguel e Almas), os poucos mausoléus, e as separações dentro do cemitério, onde pagãos e suicidas eram enterrados, como o Sr. Plácido Coutinho, um renomado professor que cometeu suicídio dentro do cemitério em 1899 (grifo nosso — o motivo deste ato, segundo “pareceristas” da época, foi pelo fato do professor ser adepto do kardecismo organizando reuniões espíritas em sua residência). Protestantes não eram enterrados ali, pois era “propriedade da igreja católica”, submetido ao poder eclesiástico.

Fernandes descreve ainda os encontros de famílias vizinhas nas escadas do cruzamento principal, onde o humor e a devoção se entrelaçavam. A chegada de Donana, esposa do Coronel Zacarias Ribeiro, com suas fervorosas orações, transformou esses encontros em momentos de profunda espiritualidade e respeito. Donana depois das orações do “Angelus e ladainha”, tirava o rosário para invocar a Virgem da Conceição por todos seus familiares — “debulhava as 150 jaculatórias do rosário”.

Um detalhe marcante era a sepultura do filho de Sidney Drumond, decorada com um retrato do menino sorrindo e uma quadrinha gravada na lousa. Uma árvore de jurubeba cresceu ao lado dessa sepultura, cujas flores lilás foram deixadas por serem consideradas poéticas pelo saudoso pai.

Ao tratar do novo cemitério (terceira necrópole do município), inaugurado em 1922, a escritora destaca as mudanças na infraestrutura e nos costumes funerários. A primeira pessoa enterrada, Anita Soares Nogueira, esposa do Dr. Lincoln Nogueira Machado, chegou a Itaúna após um difícil traslado de Vitória, Espírito Santo, em meio às celebrações pela visita do Rei Alberto da Bélgica.

É importante destacar que a construção do novo cemitério em Itaúna marcou um passo significativo na evolução social e religiosa da cidade, corrigindo práticas anteriores de intolerância religiosa e promovendo um espaço mais inclusivo para todos os cidadãos, independentemente de suas crenças.

Registra-se desde a Constituição de 1891 que os cemitérios seriam de caráter secular. Esta disposição, apesar de várias alterações e revogações até 1988, manteve-se inalterada e previa que os cemitérios deveriam ter carácter laico e estar sob a administração da autoridade municipal. Também permitiu que grupos religiosos praticassem livremente os seus rituais, desde que não violassem a moral e as leis públicas. A implementação da Constituição Republicana apenas acentuou a situação já desafiadora.

Os enterros eram limitados às instalações da Igreja Católica, resultando na exclusão de não-católicos, incluindo protestantes, pagãos e indivíduos que morriam por suicídio. Esta prática era indicativa de um período caracterizado por uma discriminação religiosa rigorosa, em que a ausência de atividades públicas e de um cemitério adequado para indivíduos de diferentes religiões poderia ser percebida como uma clara demonstração de intolerância e dominação naquela época.

Com a construção do novo cemitério, a situação mudou significativamente. Este novo espaço, concebido como uma necrópole, permitiu que o poder público municipal assumisse um papel mais ativo na gestão dos sepultamentos, assegurando que o local fosse democraticamente laico. Este cemitério tornou-se um símbolo de progresso e modernidade, proporcionando um local de descanso final digno e respeitoso para todos os membros da comunidade, independentemente de suas afiliações religiosas.

Iracema Fernandes retrata habilmente esta mudança com descrições vívidas e comoventes, sublinhando o significado desta transformação do ponto de vista cultural e histórico. No seu retrato do intrincado processo de realocação da esposa do prefeito, que se tornou a pessoa inaugural sepultada no recém-criado cemitério, Fernandes dá grande ênfase ao novo significado deste espaço acessível e inclusivo, simbolizando as mudanças sociais e políticas que foram ocorridos naquela época.

A construção do novo cemitério de Itaúna foi um marco crucial na democratização e laicização dos espaços de sepultamento na cidade. Este avanço permitiu uma convivência mais harmoniosa entre diferentes crenças e reafirmou o compromisso da comunidade com a igualdade e o respeito a todos os seus membros. A obra de Iracema Fernandes é uma janela para o passado, oferecendo uma compreensão rica e detalhada da história local. Sua habilidade de capturar a simplicidade e a profundidade dos eventos cotidianos faz de sua escrita uma fonte valiosa para quem deseja conhecer a verdadeira essência dos habitantes do município.  

A inclusão desde os simples túmulos até os luxuosos mausoléus, simbolizando a contínua devoção dos moradores, agora, todas as famílias, independentemente de suas crenças, poderiam enterrar seus entes queridos com a dignidade que mereciam — “é lindo ver tantas flores, tantas orações subindo, como incenso suave até Deus”. Em suma, a escritora destaca a transformação dos costumes funerários e a evolução dos cemitérios do arraial de Sant’Ana do Rio São João Acima, hoje Itaúna, Minas Gerais, sublinhando aspectos religiosos e culturais que marcaram a memória da cidade e nos apresenta o novo cemitério que poderia ser justamente chamado "cidade dos mortos".

 

"Cemitério Velho" 

 PRIMEIRO CEMITÉRIO

CEMITÉRIO ANTIGO

SACRÁRIO ITAUNENSE

Veja mais: História narrada em áudio 



Referencias:

Pesquisa, arte, elaboração: Charles Aquino

Fotografia: Tirada do mausoléu do Cemitério Central de Itaúna em 20/03/2019

Acervo imagem: Instituto Cultural Maria de Castro Nogueira

Bibliografia:  SOUSA, Iracema Fernandes de. Itaúna através dos tempos, Ed. LEMI S.A., BH, 1984, págs. 32-33. 

MOREIRA, Lúcio Aparecido. As fontes do medo na educação: estudo de caso de uma Escola construída onde existiu um cemitério. Belo Horizonte, 2013, p.23-26

FONSECA, Luís Gonzaga, org.: Itaúna humana e pitoresca, 1961, p.83, 84.

Emendas à Constituição Federal de 1891. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc_anterior1988/emc%20de%203.9.26.htm#art5

Emenda Constitucional de 3 de setembro de 1926. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao91.htm

Decreto-lei nº 1.770, de 25/06/1946. Disponível em: https://www.almg.gov.br/legislacao-mineira/texto/DEL/1770/1946/

Constituição Federal de 1891. Disponível em: http://ole.uff.br/wp-content/uploads/sites/600/2019/05/18911.pdf

 Leis Constitucionais, 10 de novembro 1937. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao37.htm

Câmera do Deputados. Legislação Informatizada - Constituição de 1891 - Publicação Original. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/consti/1824-1899/constituicao-35081-24-fevereiro-1891-532699-publicacaooriginal-15017-pl.html

Itaúna Décadas. Professor Plácido Teixeira Coutinho: Atitude educativa e falência da esperança. Disponível em: https://itaunaemdecadas.blogspot.com/2016/07/o-suicidio-de-um-professor-em-itauna-no.html  

Itaúna Décadas. Bonfim e Gênova. Disponível em: https://itaunaemdecadas.blogspot.com/2019/11/bonfim-genova.html

Itaúna Décadas. Cemitério Antigo. Disponível em: https://itaunaemdecadas.blogspot.com/2012/04/cemiterio.html

Itaúna Décadas. Primeiro Sepultamento. Disponível em: https://itaunaemdecadas.blogspot.com/2021/09/cemiterio-central-primeiro-sepultamento.html

Itaúna Décadas. Igreja Batista de Itaúna. Disponível em: https://itaunaemdecadas.blogspot.com/2013/02/primeira-igreja-crista-de-itauna.html

 

 

domingo, abril 14, 2024

SACRÁRIO ITAUNENSE

   Os cemitérios destacam-se entre os locais onde a história realmente ganha vida. Na narrativa histórica de uma cidade, existem determinados lugares que desempenham o papel de testemunhas silenciosas e guardiões de registros passados, encapsulando memórias e narrativas daqueles que outrora habitaram os seus espaços. Os cemitérios servem não apenas como locais de descanso definitivos, mas também como repositórios inestimáveis de legado histórico. Nestes espaços sagrados, as histórias do passado são ressuscitadas através da presença de monumentos, lápides, placas e gravuras. Estes lugares apresentam uma oportunidade incomparável de mergulhar no patrimônio material e imaterial que salvaguardam, proporcionando um vislumbre diversificado e cativante da tapeçaria rica em experiências humanas do nosso passado e da riqueza da nossa cultura.

   Os cemitérios são um testemunho real de museus ao ar livre — que demonstram tendências reais por meio de artefatos físicos neles presentes — repletos de elementos arquitetônicos e artísticos que refletem estilos em evolução de diferentes períodos ao longo dos séculos. Dentro do patrimônio arquitetônico e artístico da região, cada estrutura, seja um grande mausoléu exibindo opulência através de esculturas complexas ou uma humilde lápide marcando os séculos passados, narra silenciosamente a sua própria história. 

   No entanto, para além do patrimônio tangível, os cemitérios proporcionam uma visão daquilo que é conhecido como patrimônio imaterial: as histórias, tradições e memórias que pertencem aos lugares. Cada lápide — cada nome registrado em uma placa — contém um vislumbre das vidas e dos legados daqueles que ali jazem, como uma cápsula do tempo. As histórias não se concentram apenas em personalidades notáveis, mas também incluem registros de pessoas simples e eventos comuns que fizeram parte da comunidade ao longo do tempo, retratando aspectos comuns e extraordinários.

   Além disso, as pessoas frequentam os cemitérios como locais de oração e reflexão sobre questões universais relacionadas com a morte, a perda ou o legado — o que proporciona uma experiência emocional ou filosófica que contribui com outra camada de valor cultural intangível para a compreensão ou apreciação mais profunda do nosso patrimônio cultural. Este espaço não só nos leva de volta ao passado, mas também nos torna conscientes da importância de conservar e proteger a riqueza histórica dos nossos antepassados como membros de uma sociedade — rica ou pobre — ao mesmo tempo que nos convida a considerar a igualdade devido à mortalidade.

CEMITÉRIO SÃO MIGUEL ARCANJO SANTANENSE  ✅

CEMITÉRIO PARQUE JARDIM SANTANENSE  ✅

CEMITÉRIO CÓRREGO DO SOLDADO  ✅

CEMITÉRIO ADRO DO ROSÁRIO

CEMITÉRIO CENTRAL ✅

CEMITÉRIO VELHO  ✅


Referências:

Imagem meramente ilustrativa: Matt Botsford

Texto, arte e organização: Charles Aquino

domingo, maio 29, 2022

CÓRREGO DO SOLDADO

HISTÓRIA DO POVOADO

Família Antunes Costa/ Antunes Campos

Contaremos a origem do Povoado Córrego do Soldado através deste tronco familiar, que compraram estas terras no final do século XVIII, para isso iremos falar da origem do seu povo.

Pedro Antunes Costa, filho de Pedro Antunes Sadim e Maria da Costa de Amorim, filha de Manoel Costa Pacheco e Maria Machado Amorim. Pedro Antunes Costa se estabeleceu na Vargem do Rio Manso, na segunda metade do séc. XVIII, em sociedade com seu irmão Antônio Antunes Costa. Onde constituíram suas famílias e iniciaram o povoamento do lugar denominado Cachoeira dos Antunes, que atualmente se encontra alagado pelo sistema Rio Manso, que fornece água para maioria das cidades da Região Metropolitana de Belo Horizonte.

Pedro Antunes Costa casou com Mariana Rosa do Nascimento, filha de Manoel Lopes dos Santos e Ana Maria Avelar, ele faleceu em 1800 e ela em 1810, ambos na fazenda da Cachoeira, à margem do Rio Manso, do então distrito do Brumado do Paraopeba, da Freguesia do Curral del Rey, sendo ela sepultada em 12/09/1810 na Capela de Santa Luzia do Rio Manso e encomendada pelo Padre Joaquim Ferreira Pinto.

Em Sabará os genealogistas Dr. Alan Penido, o Sr. Áureo Nogueira da Silveira e Dr. Guaracy de Castro Nogueira, encontraram o inventario do Padre José Antunes Machado que também é irmão de Pedro Antunes da Costa, o Padre foi batizado em 15/05/1747 em Piedade do Paraopeba. Já Pedro Antunes da Costa, provavelmente nasceu em 1740 pouco mais ou menos, e possui quatro irmãos.

De suas núpcias com Mariana Rosa do Nascimento tiveram 11 herdeiros diretos e dos mesmo para este estudo necessitamos saber da historia de seu oitavo filho Francisco Antunes Campos, que nasceu em 23/01/1785 e foi batizado pelo Padre Francisco Borges do Rego na Capela de Santa Luzia. De acordo com a cópia de um batizado, pesquisado por Áureo da Silveira e Dr. Alan Penido.

Francisco Antunes Campos casou em primeiras núpcias com  Teodósia Maria de Jesus, filha de Manoel Pinto Brandão e Mariana Joaquina de Jesus, ela nasceu em 1785 e faleceu em 1850, como consta em seu inventario, já Francisco possui 72 anos, como constas nas folhas já amareladas deste importante documento.

Em seu segundo casamento Francisco Antunes Campos casou com Umbelina Fortunata de Jesus. Em 08 de outubro de 1856 morre Francisco Antunes  Campos  deixando  uma  grande  geração  de  herdeiros.  De  seu segundo casamento não deixou geração, mas no seu primeiro casamento deixou oito filhos, destes nos interessa, seu filho mais velho o Francisco Antunes Campos Junior.

Francisco Antunes Campos Junior casou com Joana Gomes Leite, filha do Alferes Manoel Gomes Rezende e Angélica Maria de São Camilo, desse matrimonio tiveram quatorze filhos, com sua viuvez, casou-se pela segunda vez com Balbina Umbelina Faria.

Dos quatorze filhos que gerou em seu primeiro casamento, nos interessa seu nono filho Joaquim Antunes Campos, o qual nasceu em 24 de dezembro de 1847 no povoado do Rio Manso e teve sua vida adulta na Fazenda em Lavrinhas, que pertencia a São João do Rio Acima e atualmente pertence ao município de Itatiaiuçu, na fazenda de Lavrinhas da família Antunes Campos

Joaquim Antunes Campos constituiu sua família com sua esposa Maria Constância de Jesus, filha de José Borges Ferreira e Constância Maria de Jesus. Ali criaram lavouras, negociaram escravos, zeram  negócios  e criaram seus filhos fazendo com que surgisse o atual povoado do Córrego do Soldado.



No dia 13 de abril de 2018, o pesquisador e genealogista Alexandre Campos e o historiador Charles Aquino, estiveram neste povoado e foram até o Cemitério  daquela  localidade  fazer  registros  fotográficos.  Começando  o trabalho de campo, observaram que para a construção deste local, havia fortes indícios de mão de obra escrava, sinalizando o tempo de construção do mesmo.

No mesmo local foi observado alguns túmulos muito antigos, alguns com apenas uma das hástias da cruz em madeira, outros que o tempo já levou para eternidade e outros que ainda possui identificação, o mais antigo que conseguimos identificar foi de Joaquim Antunes Campos que faleceu em 22 de outubro de 1921, e deixou seis filhos morando naquela localidade, são eles: José, Francisco, Antônio, Joana, João e Josias.

Seu segundo filho Francisco Antunes Campos Primo, nascido em 22 de agosto de 1879, também esta sepultado no mesmo local, ele faleceu de “Miocardite” em 18 de novembro de 1943, deixando na Fazenda da família sua esposa Custodia Antunes Gomes que era sua parenta e nasceu em 3 de agosto de 1889, filha de Manoel Gomes Rezende e Del na Antunes Gomes, do seu matrimonio tiveram doze filhos. Plagiando o Senhor Áureo da Silveira que diz a seguinte afirmação “A família Antunes Campos é meio mundo de Itaúna, Itatiaiuçu e Rio Manso”.

Um dos descendentes de Joaquim Antunes Campos é o corretor Edilenio de Carvalho que conta com orgulho que sua avó doou oito alqueires de terra para Paroquia de Sant’Ana, a região que hoje se encontra a Igreja e o Cemitério, e grande parte do arraial.

Outro tumulo antigo, é de Manoel Antunes Ribeiro, que também é descendente da Família Antunes Campos, ele é bisneto de Francisco Antunes Campos, Manoel Antunes Ribeiro é filho de Ana Gomes Leite e Miguel de Sousa Ribeiro, sua mãe foi sepultada no Córrego do Soldado em 15 de junho de 1916, aos 84 anos, sendo assim nascida em 1832.



Manoel Antunes Ribeiro, nasceu provavelmente em 1848 ou 50, já em Santa do São João Acima, em seu primeiro casamento com Maria Cassemira de Jesus Fonseca, tiveram oito filhos, ela faleceu de complicações no parto aos 36 anos em 7/03/1889, no Córrego do Soldado, muito provavelmente sepultada no mesmo tumulo, em segundas núpcias casou com Maria Rita de Jesus em 04/05/1889, em Bonfim pelo famoso Vigário Trigueiro, ela  filha de João Antônio Moreira e Maria Isidora de Jesus, neste matrimonio tiveram outros nove filhos.

Destes matrimônios relatados e de outros pesquisados, podemos observar que de fato estes antepassados deram origem a diversas famílias de Itaúna e região, estes portugueses ajudaram a colonizar as margens do Paraopeba e as do Rio São João, são exemplos de famílias que surgiram através da família Antunes Costa/Antunes Campos: Antunes Ribeiro, Antunes Moreira, Antunes Pinto, Antunes Nogueira, Dias Pereira, Bernardes da Silveira e diversos Antunes Campos casaram com outras famílias tradicionais da região como Gonçalves de Sousa, Silva Campos, Nogueira Penido e outras…


Informações Diocese de Divinópolis / Capela de Nossa Senhora de Lourdes
 
Anos mais tarde, construíram uma pequena capela para o encontro da comunidade: para recitação do terço, novenas e outras festas religiosas. Como a comunidade crescia, organizou-se um conselho local, cujo tesoureiro, Sr. Augusto, foi um dos entusiastas para a construção de uma capela maior para melhor atender aos moradores da comunidade, além de uma casa paroquial. Um dos usuários mais frequentes da casa paroquial do Córrego do Soldado foi o saudoso Cônego José Ferreira Netto, que tinha uma grande estima pelos moradores da comunidade.

Curiosidade: O porquê do nome “Córrego do Soldado”

Conta-se que anos atrás houve uma discussão séria entre duas pessoas, que culminou na morte de uma delas, no local que atualmente chama-se Santo Antônio da Serra, município de Carmo do Cajuru. Para esclarecer o crime, foram designados dois soldados. Eles foram até o local, mas o agressor não foi encontrado. Antes de iniciarem a busca do agressor em outros lugares,
 zeram uma “jacuba” (espécie de mexido) e comeram boa parte dela em Santo Antônio da Serra. Horas mais tarde, após buscas sem sucesso, comeram o que restou da jacuba – uma jacubinha, na região que atualmente é conhecida por este nome. Os soldados continuaram a busca. Porém como haviam comido muito, sentiram-se “ empanturrados” e resolveram procurar algum córrego para tentar solucionar aquele problema. Depois de muitas andanças, encontraram o córrego, beberam bastante água, mas infelizmente morreram nas margens daquele que ficou conhecido como “Córrego Soldado”.


Veja também: O VIGÁRIO DO CÓRREGO


Referências:

Pesquisas Genealógicas: documentações de cartórios, Family Search (certidões de nascimento, óbitos, casamentos), Arquivo Histórico Bonfim, IHP-Instituto Histórico de Pitangui. 
Pesquisa e texto: Alexandre Silva Campos
Pesquisa e colaboração:Dr. Alan Penido
Pesquisa e Colaboração: Aureo Nogueira da Silveira
Pesquisa e Colaboração: Guaracy de Castro Nogueira (In Memoriam)
Organização e Fotografia: Charles Aquino
Imagem da Diocese de Divinópolis: https://www.diocesedivinopolis.org.br


sexta-feira, setembro 10, 2021

PRIMEIRO SEPULTAMENTO

 

O Cemitério Central São José de Itaúna, ou Cemitério Central, com endereço entre às Ruas Bonfim, Cerqueira Lima e Antônio Luiz é de propriedade pública, sendo responsável pela administração a Prefeitura Municipal de Itaúna.

Ao longo da história do nosso município itaunense, antes da construção do Cemitério Central, registra-se ainda na parte central do município, a construção de dois cemitérios. O historiador João Dornas Filho informa que: “o primeiro cemitério construído em Itaúna foi o do adro da então capela de Santana, no alto do morro do Rosário. A data de sua construção, como a da capela, não é conhecida, sendo certo, entretanto, que é anterior a 1778” (DORNAS,1936).

O pesquisador e Engenheiro Osmário Soares Nogueira relembra que: em torno da igrejinha do Rosário, existia muro de pedra, com entrada junto do cavalete que sustentava o sino. Sem torre, o sino era do lado de fora. O muro de pedra, cercando a igrejinha, formava um pequeno pátio, onde os negros dançavam o reinado.  Pois bem, esse pátio, de área exígua, foi o nosso primeiro cemitério, onde estão inumados os nossos primeiros conterrâneos” (Fonseca,1961). 

No século XIX com a passagem dos frades franciscanos capuchinhos italianos em nossas terras barranqueiras (conhecidos como missionários Barboneos) e chefiados pelo Padre Frei Eugênio Maria de Gênova, inicia-se então, pelas mãos dos missionários e do povo itaunense a construção do segundo cemitério de Itaúna (DORNAS, 1936).

 

Ainda em seu livro, Dornas declara que (agora o terceiro cemitério/parte central):

Pela Lei nº 129 de 28 de janeiro de 1921, foi, então, o governo municipal autorizado a adquirir terreno e construir, até a quantia de cinco contos de réis, um novo cemitério, assim como a abrir uma rua que o ligasse ao Largo dos Passos.

Nesse terreno, que era propriedade do senhor Coronel João Nogueira Penido, e antes mesmo de serem construídos os muros de vedação, foi sepultada, em 5 de março de 1922, a senhora Anita Nogueira Machado, esposa do médico Lincoln Nogueira Machado, falecida a 28 de fevereiro daquele ano em Vitória/ES, num quarto do Hotel Continental e transportada para a sua terra natal por seu pai e esposo.

Foi esse, portanto, o primeiro sepultamento verificado no novo cemitério. Só pela Lei nº 35, de 17 de abril de 1922 é que foi dado regulamento à nova necrópole. A sua capela ou necrotério foi construída em 1929, já na administração Arthur Contagem Vilaça e os seus administradores tem sido os senhores Cordovil Nogueira e Álvaro Soares, com a gratificação mensal de quarenta mil réis.

Ana Nogueira Soares (Anita) após a celebração de seu casamento com o Dr. Lincoln Nogueira Machado, passou a se chamar Ana Nogueira Machado. O local da cerimônia ocorreu na residência da noiva em 22 de outubro de 1921 em Itaúna, sendo ela filha do Coronel Jove Soares Nogueira e Dona Augusta Gonçalves Nogueira e ele filho de Josias Nogueira Machado e Tereza Gonçalves de Souza. Não tiveram filhos.  

Em uma pesquisa in loco ao Cemitério Central de Itaúna na parte “mais antiga” dos sepultamentos, localizamos um antigo jazigo de número 4192 da Quadra 1 e Ala 16. Nesta pesquisa, descobrimos que estão enterrados os parentes de Anita e neste mesmo local se encontra um monumento com três letras maiúsculas (A N S) que concidentemente, seriam as iniciais do nome de ANA NOGUEIRA SOARES. 

No município de Itaúna existem hoje quatro cemitérios municipais: Cemitério Central, Cemitério São Miguel Arcanjo – Santanense, Cemitério Parque Jardim Santanense e Cemitério do Córrego do Soldado.

O Cemitério Central, por ser o mais antigo do centro da cidade e o Cemitério do Córrego do Soldado, além de sepultamentos, acredita-se ser um lugar com grande potencial didático para a história e a identidade cultural do nosso município.

 

REFERÊNCIAS:

Pesquisa, Organização e arte: Charles Aquino

Pesquisa In Loco no Cemitério Central de Itaúna: Charles Aquino, Alexandre Campos

FILHO. João Dornas. Itaúna: Contribuição para história do município. 1936, p.30, 31, 32.

SOUZA, Miguel Augusto Gonçalves de. Capítulos da história itaunense/Miguel Augusto Gonçalves de Souza – Itaúna: Universidade de Itaúna, 2001, pg, 271, 271, 273.

Jornal O Momento, ed.19/03/1922 nº 117, pg.2 (Colaboração da pesquisadora Ana Maria Oliveira Campos / Pará de Minas/MG).

FONSECA, Luís Gonzaga, org.: Itaúna humana e pitoresca, 1961, p.83.

Acervo: Charles Aquino, Instituto Cultural Maria de Castro Nogueira

FAMILY SEARCH: "Brasil, Minas Gerais, Registros da Igreja Católica, 1706-1999," database with images, FamilySearch (https://familysearch.org/ark:/61903/3:1:939N-DS9F-L1?cc=2177275&wc=M5F8-DPR%3A370882003%2C369941902%2C370921401: 22 May 2014), Itaúna > Santana > Matrimônios 1875, Jan-1931, Dez > image 87 of 214; Paróquias Católicas (Catholic Church parishes), Minas Gerais.

segunda-feira, março 11, 2019

segunda-feira, julho 10, 2017

CEMITÉRIO SANTANENSE

Cemitério de Santanense, Itaúna, MG

A construção do cemitério público no bairro Santanense, em Itaúna, foi autorizada pela Prefeitura Municipal, representando uma medida essencial para atender à comunidade local. O terreno de 3.750 m², localizado no quarteirão nº 2, próximo à rua "A" e adjacente aos terrenos do Sr. Geniplo Dornas, foi doado pela Companhia de Tecidos Santanense, demonstrando a cooperação entre o setor privado e o poder público em prol do bem-estar da população.

O bairro de Santanense, situado a três quilômetros do centro da cidade, abrigava uma importante fábrica de tecidos que empregava cerca de 800 operários, resultando em uma comunidade de aproximadamente 2.400 pessoas, incluindo as famílias dos trabalhadores. A necessidade de um cemitério local era evidente, considerando as dificuldades logísticas enfrentadas pelas famílias no momento do falecimento de um ente querido. Naquela época, a distância até o cemitério da cidade impunha desafios significativos para o sepultamento, exacerbando a dor e o sofrimento em um momento já delicado.

A doação do terreno pela Companhia de Tecidos Santanense foi um gesto significativo, pois permitiu à Prefeitura Municipal proceder com a construção do cemitério sem incorrer em grandes despesas. Este ato não só facilitou a implementação do projeto, mas também refletiu um compromisso social da empresa com a comunidade onde estava inserida. A construção do cemitério, conforme estipulado na lei, incluiu todos os detalhes necessários, como a construção de muros ao redor do terreno, garantindo segurança e respeito aos falecidos.

A formalização deste projeto seguiu o que estava estabelecido no Código de Posturas Municipais, assegurando que todas as etapas e procedimentos fossem conduzidos de acordo com a legislação vigente. A aprovação da lei e sua entrada em vigor, datada de 30 de setembro de 1948 e apoiada pelo Vereador Cirilo Ribeiro da Silva, marcou um passo importante para a comunidade de Santanense.

No entanto, foi crucial observar que a implementação efetiva do cemitério dependeria de uma gestão eficiente e do compromisso contínuo da administração pública. A manutenção do espaço, a garantia de acessibilidade e a preservação da dignidade dos sepultamentos seriam desafios constantes que exigiriam atenção e recursos. 

Em síntese, a construção do cemitério de Santanense foi uma resposta necessária às demandas da comunidade local, facilitada pela colaboração entre a Companhia de Tecidos Santanense e a Prefeitura Municipal. Este projeto não apenas atendeu a uma necessidade prática, mas também simbolizou um esforço coletivo para melhorar a qualidade de vida dos moradores de Santanense, oferecendo um local adequado e respeitoso para o descanso final de seus entes queridos.



Art. 1º — Fica a Prefeitura Municipal autorizada a construir o cemitério público de Santanense, bairro desta cidade.
Art. 2º — O terreno terá a área de 3.750 m2 (três mil setecentos e cinquenta metros quadrados e terá as confrontações, valor e localização:
Ø  Localização: quarteirão nº 2
Ø  Lote da rua “A” divisando com terrenos do sr. Geniplo Dornas
Ø  Propriedade da Companhia de Tecidos Santanense
Art. 3º — A Companhia de Tecidos Santanense fará a doação do terreno mencionado.
Parágrafo único — A prefeitura designará um técnico para o levantamento da respectiva planta, da qual constará todos pormenores, inclusive construção de muros em volta.
Art. 4º — Outras formalidades obedecerão ao que preceitua o Código de Posturas Municipais em artigos 210 a 246.
Art. 5º — Revogadas as disposições em contrário, a presente lei entrará em vigor na data de sua publicação.


JUSTIFICATIVA:
O povoado de Santanense dista três quilómetros da sede do município. Existe no povoado uma fábrica de Tecidos que emprega uma média de 800 operários, ou seja, 2.400 pessoas, tendo em vista a família dos operários.
No caso de falecimento de algum operário ou de pessoa de sua família, torna-se dificultoso o enterramento no cemitério da cidade.
Facilitada pela Companhia de Tecidos Santanense, pode a Prefeitura, sem grandes despesas, construir no subúrbio citado um cemitério.
Sala das Sessões, 30 setembro de 1948
Cirilo Ribeiro da Silva: Vereador pelo P.T.B.




REFERÊNCIAS:
Pesquisa: Charles Aquino e Patrícia Gonçalves Nogueira.
Organização: Charles Aquino
Acervo: Câmara Municipal de Itaúna
Fotografia: Charles Aquino


sexta-feira, abril 13, 2012

CEMITÉRIO VELHO

    SEGUNDO CEMITÉRIO DE ITAÚNA

O crescimento populacional do arraial de Itaúna, Minas Gerais, tornou necessária a construção de um novo cemitério, substituindo o antigo, localizado no adro da Capela de Santana, no alto do Morro do Rosário. Assim, surgiu o segundo cemitério de Itaúna, uma notável obra de alvenaria de pedra seca, erguida pelos missionários Barbôneos com o auxílio da população local.

A construção, que demandou vários meses e mobilizou centenas de pessoas, seguiu um ritmo intenso. Logo ao amanhecer, após as pregações matinais, os Barbôneos reuniam os fiéis e, em procissão, dirigiam-se ao Morro da Lage para buscar as pedras que dariam forma aos muros do cemitério.

Uma antiga lenda envolve sua inauguração. Conta-se que a primeira pessoa ali sepultada foi uma criança, filha de uma jovem solteira do arraial. Segundo a história, ao ouvir o pedido do frei Eugênio para que o povo plantasse roseiras e outras flores no cemitério, a moça, em tom jocoso, teria respondido: “A única roseira que tenho é esta” – apontando para a criança – “e essa não plantarei.” Dois dias depois, a menina faleceu, tornando-se, segundo a lenda, a primeira a ser enterrada no local.

No entanto, registros históricos indicam que o primeiro sepultamento no cemitério de Frei Eugênio ocorreu em 21 de dezembro de 1853 e foi do escravizado Fortunato, pertencente ao Capitão Felizardo Gonçalves.

Atualmente, o terreno onde funcionava o segundo cemitério abriga a Escola Estadual Dr. José Gonçalves de Melo, situada entre a Rua Tácito Nogueira e a Praça Mário Matos. A trajetória desse espaço reflete o desenvolvimento urbano e histórico de Itaúna, evidenciando como a cidade se adaptou ao crescimento populacional e às transformações estruturais ao longo dos anos.

Em 1854, os Barbôneos deixaram Itaúna e seguiram para Carmo do Cajuru, onde continuaram suas missões e ergueram uma impressionante necrópole, perpetuando seu legado religioso e arquitetônico na região.


 Segundo cemitério, hoje Escola Estadual José Gonçalves de Melo

    Vista Panorâmica de Itaúna Década: 20          


Referências

Pesquisa, Organização e arte: Charles Aquino

FILHO. João Dornas. Itaúna: Contribuição para história do município. 1936, p.30, 31, 32.

Acervo: professor Marco Elísio Chaves Coutinho