A Capela do Bonfim foi erguida no ano de
1853, por um abastado fazendeiro, Tenente José Ribeiro de Azambuja. Seu estilo
corresponde a um colonial muito simples, um “barroco” jesuítico tardio, com
exterior e interior muito despojados.
Foi construída no cume do então Morro de
Santa Cruz, tudo levando a crer que nele já existia um cruzeiro, como era costume
nas Minas Gerais se plantarem cruzeiros nos altos dos montes, perto das
povoações: isso se explica como um sinal de permanência do homem na terra e sua
necessidade das bênçãos do Céu.
Era um sinal do “divino” entre os homens a
recordá-los sempre das promessas e proteção do Eterno. Localizada a
aproximadamente 25 km do centro da cidade de Itaúna, a Capela do Senhor do
Bonfim sempre foi um local de peregrinação religiosa.
Muito concorrida era a festa de “Santa Cruz”, que antigamente se comemorava no dia 03 de maio; atualmente em 14 de setembro (Festa da Exaltação da Santa Cruz). Está situada no ponto mais alto da região de Itaúna, a 1000m de altitude.
Muito concorrida era a festa de “Santa Cruz”, que antigamente se comemorava no dia 03 de maio; atualmente em 14 de setembro (Festa da Exaltação da Santa Cruz). Está situada no ponto mais alto da região de Itaúna, a 1000m de altitude.
No
séc. XIX, ao passar estas terras, os frades franciscanos capuchinhos, vindos da
Itália, ditos “barbôneos” – chefiados pelo pregador apostólico Frei Eugênio Maria de Gênova - com a
missão da Sagrada Propaganda “Fide” de Roma, recomendaram que se construísse no
interior do cemitério (hoje EE “José Gonçalves de Melo”) a Capela de São Miguel
e Almas e no alto do Morro de Santa Cruz, a Capela do Senhor do Bonfim; daí sua
origem.
Precisamos sempre elucidar o valor intrínseco
do nosso Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural. A pequena Capela do Bonfim
é destituída de traços arquitetônicos que chamem a atenção e não contém obras
sacras de valor significativo. Porém, é na sua simplicidade que reside sua
beleza, que para muitos olhares, transmite aquela sensação de paz e harmonia.
Patrimônio tem a ver com nossas raízes,
nossa História, nossa identidade cultural. Aquilo que nos identifica;
singulariza enquanto povo das barrancas do Rio São João. Todas as cidades são dotadas
de Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural.
Algumas pessoas, quando nos
referimos a esses valores, pensam que Patrimônio se restringe apenas às cidades
ditas históricas do Ciclo do Ouro, como logo vem à mente, Ouro Preto, Mariana,
Sabará, São João del Rei e tantas outras.
Mas, nós – itaunenses - também temos a nossa História particular e Itaúna também possuí ainda, algumas pouquíssimas edificações e sinais do nosso passado histórico. Dentre esses; o nosso marco exponencial que é a Capela do Rosário – construída praticamente cem anos ante da do Bonfim (1765).
Mas, nós – itaunenses - também temos a nossa História particular e Itaúna também possuí ainda, algumas pouquíssimas edificações e sinais do nosso passado histórico. Dentre esses; o nosso marco exponencial que é a Capela do Rosário – construída praticamente cem anos ante da do Bonfim (1765).
A
Capela do Bonfim pertence à Paróquia de Nossa Senhora de Fátima do bairro Pe.
Eustáquio e está dentro dos bens tombados da nossa Diocese de Divinópolis.
Diferente da Igreja do Rosário, a Capela do Bonfim carece de maior
documentação.
Isto se explica porque a primeira foi erigida como a Igreja
Matriz e assim possuía grande destaque e funções litúrgicas muito próprias e
específicas, por exemplo, os batizados que eram realizados em sua pia batismal -
este objeto litúrgico é próprio apenas das matrizes, não existindo nas capelas
sufragâneas; enquanto a Capela do Bonfim era quase uma ermida de fazenda,
edificada em propriedade particular.
A Capela do Bonfim passou por um terrível
sinistro no dia 16 de outubro de 2014 que a reduziu a cinzas, restando de pé
somente algumas paredes. Portanto, lamentavelmente a Capela original do séc.
XIX já não mais existe, sendo a atual uma reconstrução.
As chamas de um
incêndio criminoso consumiram parte de nossa História e hoje a Capela ainda
segue incompleta na sua reestruturação, uma vez que o altar-mor (peça sacra que
a caracterizava internamente, aonde se celebravam as missas) não foi
reconstruído.
A Capela do Bonfim – em sua singeleza-
leva-nos a um misto de serenidade e paz e do alto do monte, podemos contemplar
a cidade de Itaúna e o horizonte de montanhas a seu redor, introduzindo-nos na
mineiridade da alma.
FREI
EUGÊNIO MARIA DE GÊNOVA
Frei Eugênio Maria de
Gênova nasceu em Oneglia Província de Gênova, Itália, em 4/11/1812 e foi
batizado como João Batista Maberino. Ingressou na Ordem dos Capuchinhos e tomou
as ordens sacras em 1836, com o nome Frei Eugênio Maria.
Em 1843 chegou ao
Brasil, a mando do Papa Gregório XVI, como missionário capuchinho. Esteve no
Rio de Janeiro, Cuiabá e Pitangui catequizando as pessoas das cidades, vilas e
aldeias. Em 12/08/1856 chegou a Uberaba, abriu a Santa Missão e iniciou a
construção de um cemitério que ficou pronto dentro de dois anos.
Pessoa calma, de educação
polida, paciente, caridoso, zeloso quanto ao cumprimento de sua missão, Frei
Eugênio realizou uma brilhante missão religiosa. Pessoas de regiões distantes
vinham confessar com o Frei, que era despojado, vivia como pobre, com as
doações dos fiéis.
Sua biblioteca era
extensa e as obras variadas: escrituras sagradas, teologia, direito canônico,
direito civil, filosofia, liturgia, literatura, ciência, medicina, história e
geografia. Destacava-se na oratória, possuía memória prodigiosa. Diariamente
escrevia as ações do dia, confissões, comunhões, batizados, casamentos, visitas
a enfermos e missas.
Pioneiro dos estudos climatológicos e um dos primeiros no Brasil, fez com que Uberaba tivesse tradição fortíssima em estudo climatológico. Anotava os fenômenos meteorológicos e fatos da cidade.
Pioneiro dos estudos climatológicos e um dos primeiros no Brasil, fez com que Uberaba tivesse tradição fortíssima em estudo climatológico. Anotava os fenômenos meteorológicos e fatos da cidade.
Com a chegada de Frei
Eugênio a Uberaba, vieram pessoas de outras localidades, aumentando a população
– e consequentemente as concessões de terras. Fizeram-se muitas casas e foram
abertos mais de 17 negócios, tudo com ajuda do Frei.
Casais divorciados se
juntaram, protestantes se converteram, se dissolveram mais de 80 concubinários,
fizeram muitas restituições, reconciliaram-se inimigos. A Igreja em Uberaba
ganhou um novo impulso. Vários oratórios e irmandades surgiram neste período.
Conhecido e chamado por
“Padre Mestre”, foi considerado o maior benfeitor de Uberaba e suas ações foram
sempre dirigidas para proteção e assistência aos pobres e desvalidos. Não se
limitava às Missões, estabelecia melhoramentos básicos: cemitérios, hospitais,
serviços de água, estradas cisternas e fossas.
Promovia ao mesmo tempo
assistência aos órfãos, aos índios e aos escravos, que assistiam à Santa Missa
e depois recebiam uma bênção especial do Padre Mestre, que lhes ungia e
colocavam em seus pescoços medalhinhas ou patuás com orações para se protegerem
contra o mau.
UM
IDEALIZADOR DE PROJETOS
Em 1856 iniciou a
construção do cemitério São Miguel, situado onde hoje é a Praça Frei Eugênio,
considerado o mais sólido e amplo do interior do Brasil, na época. Dentro do
cemitério, Frei Eugênio construiu a Capela de São Miguel.
A maioria dos túmulos era de madeira – o mármore
somente entrou em Uberaba por volta de 1880, quando passou a ser empregado na
construção de residências e túmulos, inclusive o de Frei Eugênio.
O cemitério
funcionou 44 anos, de 1856 a até 1900. Foram enterrados neste período cerca de
4.400 pessoas. Foi interditado depois da construção do Cemitério Municipal – na
época conhecido por Cemitério do Brejinho, atual São João Batista –, e demolido
em 1917.
Frei Eugênio iniciou
também a construção de um novo Cemitério chamado São Francisco, no fundo da
Santa Casa, porém o Frei não chegou a concluir a obra, que ficou só nos
alicerces.
Além do Cemitério e da Capela São Miguel, Frei Eugênio projetou ainda a construção de uma ponte sobre o Rio Grande, no Porto de Ponte Alta, em direção a Uberaba, no intuito de ligar o litoral a Província de São Paulo às de Minas, Goiás e Mato Grosso. Pretendia outra ponte no Rio Paranaíba. Abriu ruas, fez estudos para canalizar as águas do Rio Uberaba, para o abastecimento da cidade.
Além do Cemitério e da Capela São Miguel, Frei Eugênio projetou ainda a construção de uma ponte sobre o Rio Grande, no Porto de Ponte Alta, em direção a Uberaba, no intuito de ligar o litoral a Província de São Paulo às de Minas, Goiás e Mato Grosso. Pretendia outra ponte no Rio Paranaíba. Abriu ruas, fez estudos para canalizar as águas do Rio Uberaba, para o abastecimento da cidade.
De gênio empreendedor,
Frei Eugênio percebeu o progresso aumentar a população, anteviu a mendicância,
a miséria e a precisão de abrigo para a pobreza enferma. Daí seus esforços para
a construção de uma de suas mais grandiosas obras – a Santa Casa de
Misericórdia, no terreno denominado Largo do Rancho, hoje bairro da Abadia,
onde hoje está o complexo Hospital de Clínicas da UFTM, cujo prédio é
preservado até hoje, como patrimônio histórico.
Junto à comunidade
recolheu donativos, como peças de ouro, rosários, relicários, cordões, moedas
do Império e de Portugal, peças de prata e materiais de construção, e dinheiro
em espécie. Também construiu um açude nas imediações do hospital, já que no
local não possuía água suficiente para a demanda da construção. O açude, além
da construção, favoreceu toda a população que vivia nos arredores e sofria com
a falta de água.
Ergueu uma boa casa ao
lado da Santa Casa destinada à administração, onde também passou a residir. De
1921 a 1934, quando foi inaugurado o segundo prédio do Hospital da
Misericórdia, esta casa serviu para internação dos pacientes. O local ficava na
praça Dr. Tomas Ulhôa, esquina com a rua Frei Paulino, onde atualmente está o
Centro Administrativo da UFTM e a Biblioteca, que leva seu nome.
Entre 1862 e 1863, por
conta da epidemia de varíola no país, às pressas foi preparada uma ala do prédio
em que a construção estava mais adiantada, para receber os doentes. Em 1865 uma
ala do hospital abrigou as tropas do Corpo Expedicionário que aqui se
aquartelaram a caminho de Mato Grosso para a Guerra do Paraguai durante 45
dias, cujos doentes de bexiga (varíola) ali se internaram.
OS
DIVERSOS PROBLEMAS NO FIM DA VIDA
A construção da Santa
Casa da Misericórdia foi agigantando-se, um grande prédio foi surgindo para os
parâmetros do período. Durantes os anos de construção da Santa Casa, Frei
Eugênio enfrentou diversos contratempos. Há alguns anos fora atacado por um boi
ficando bastante ferido e sofrendo com sequelas.
Idade avançada, enfermidades e
ainda a hostilidade e intrigas de autoridades da Comarca do Paraná (à qual
pertencia Uberaba), juízes locais e outros que passaram por censuras feitas
pelo missionário solicitando sua retirada da cidade, o abateram. Porém, a
defesa feita pela Câmara Municipal e a população da cidade, conseguiu que ele
permanecesse em Uberaba e continuasse o trabalho.
Depois de muitas
turbulências, após 27 anos da morte de Frei Eugênio, foi finalmente inaugurada
a Santa Casa de Misericórdia de Uberaba, no dia 14/06/1896.
Porém, Frei Eugênio
morreu sem ver sua obra finalizada, vítima de angina, aos 59 anos de idade, às
23horas do dia 14/06/1871, em sua residência, ao lado do hospital. Uma hora
depois os sinos anunciaram a morte do Frei, reunindo grande parte da população
à sua porta. Seu sepultamento foi considerado o maior em termos de
acompanhamento por aqueles tempos, cerca de 4.000 pessoas seguiram o funeral.
Todos os seus bens foram considerados patrimônio da Santa Casa, dinheiro,
objetos valiosos das doações e livros. Tudo que foi arrecadado foi como
donativo para a finalização da Santa Casa.
Foi sepultado no Cemitério São Miguel no outro dia e com a demolição do local em 1917, seus restos mortais foram encaminhados para o Cemitério São João Batista e em 1965 foram encaminhados para a Igreja de Santa Teresinha, em grande cortejo.
Foi sepultado no Cemitério São Miguel no outro dia e com a demolição do local em 1917, seus restos mortais foram encaminhados para o Cemitério São João Batista e em 1965 foram encaminhados para a Igreja de Santa Teresinha, em grande cortejo.
A jornalista Élvia Morais
descobriu que a lápide original do túmulo do Frei Eugênio estava na Faculdade
de Direito da Universidade de Uberlândia, e o Prefeito Paulo Piau e a
presidente da Fundação Cultural de Uberaba, Sumayra Oliveira, conseguiram
resgatá-la.
A lápide retornou a Uberaba no dia 21/05/2014 e foi colocada na
Paróquia de Santa Teresinha no último dia 15, para ficar junto aos restos
mortais de Frei Eugênio. Nela, o registro de seu sepultamento, 15 de junho,
conforme usava na época.
Referências:
Organização para o Blog: Charles Aquino
Autor do Primeiro Texto: Professor Luiz Mascarenhas
Autora do segundo texto: Maria das Graças Salvador e Aparecida Manzan
Autora do segundo texto: Maria das Graças Salvador e Aparecida Manzan
Créditos para a foto:
Superintendência do Arquivo Público de Uberaba.
Arquidiocese de Uberaba, Charles Aquino
NOTA: O (a) autor(a) é responsável pelos trabalhos aqui publicados, o qual, também ficará responsável pelas suas correções.