quarta-feira, novembro 06, 2019

BONFIM & GÊNOVA


A Capela do Bonfim foi erguida no ano de 1853, por um abastado fazendeiro, Tenente José Ribeiro de Azambuja. Seu estilo corresponde a um colonial muito simples, um “barroco” jesuítico tardio, com exterior e interior muito despojados.

Foi construída no cume do então Morro de Santa Cruz, tudo levando a crer que nele já existia um cruzeiro, como era costume nas Minas Gerais se plantarem cruzeiros nos altos dos montes, perto das povoações: isso se explica como um sinal de permanência do homem na terra e sua necessidade das bênçãos do Céu.

Era um sinal do “divino” entre os homens a recordá-los sempre das promessas e proteção do Eterno. Localizada a aproximadamente 25 km do centro da cidade de Itaúna, a Capela do Senhor do Bonfim sempre foi um local de peregrinação religiosa.

Muito concorrida era a festa de “Santa Cruz”, que antigamente se comemorava no dia 03 de maio; atualmente em 14 de setembro (Festa da Exaltação da Santa Cruz). Está situada no ponto mais alto da região de Itaúna, a 1000m de altitude.

 No séc. XIX, ao passar estas terras, os frades franciscanos capuchinhos, vindos da Itália, ditos “barbôneos” – chefiados pelo pregador apostólico Frei Eugênio Maria de Gênova - com a missão da Sagrada Propaganda “Fide” de Roma, recomendaram que se construísse no interior do cemitério (hoje EE “José Gonçalves de Melo”) a Capela de São Miguel e Almas e no alto do Morro de Santa Cruz, a Capela do Senhor do Bonfim; daí sua origem.

Precisamos sempre elucidar o valor intrínseco do nosso Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural. A pequena Capela do Bonfim é destituída de traços arquitetônicos que chamem a atenção e não contém obras sacras de valor significativo. Porém, é na sua simplicidade que reside sua beleza, que para muitos olhares, transmite aquela sensação de paz e harmonia.

Patrimônio tem a ver com nossas raízes, nossa História, nossa identidade cultural. Aquilo que nos identifica; singulariza enquanto povo das barrancas do Rio São João. Todas as cidades são dotadas de Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural.

Algumas pessoas, quando nos referimos a esses valores, pensam que Patrimônio se restringe apenas às cidades ditas históricas do Ciclo do Ouro, como logo vem à mente, Ouro Preto, Mariana, Sabará, São João del Rei e tantas outras. 

Mas, nós – itaunenses - também temos a nossa História particular e Itaúna também possuí ainda, algumas pouquíssimas edificações e sinais do nosso passado histórico. Dentre esses; o nosso marco exponencial que é a Capela do Rosário – construída praticamente cem anos ante da do Bonfim (1765).

 A Capela do Bonfim pertence à Paróquia de Nossa Senhora de Fátima do bairro Pe. Eustáquio e está dentro dos bens tombados da nossa Diocese de Divinópolis. Diferente da Igreja do Rosário, a Capela do Bonfim carece de maior documentação. 

Isto se explica porque a primeira foi erigida como a Igreja Matriz e assim possuía grande destaque e funções litúrgicas muito próprias e específicas, por exemplo, os batizados que eram realizados em sua pia batismal - este objeto litúrgico é próprio apenas das matrizes, não existindo nas capelas sufragâneas; enquanto a Capela do Bonfim era quase uma ermida de fazenda, edificada em propriedade particular.

A Capela do Bonfim passou por um terrível sinistro no dia 16 de outubro de 2014 que a reduziu a cinzas, restando de pé somente algumas paredes. Portanto, lamentavelmente a Capela original do séc. XIX já não mais existe, sendo a atual uma reconstrução. 

As chamas de um incêndio criminoso consumiram parte de nossa História e hoje a Capela ainda segue incompleta na sua reestruturação, uma vez que o altar-mor (peça sacra que a caracterizava internamente, aonde se celebravam as missas) não foi reconstruído.

A Capela do Bonfim – em sua singeleza- leva-nos a um misto de serenidade e paz e do alto do monte, podemos contemplar a cidade de Itaúna e o horizonte de montanhas a seu redor, introduzindo-nos na mineiridade da alma.



FREI EUGÊNIO MARIA DE GÊNOVA


Frei Eugênio Maria de Gênova nasceu em Oneglia Província de Gênova, Itália, em 4/11/1812 e foi batizado como João Batista Maberino. Ingressou na Ordem dos Capuchinhos e tomou as ordens sacras em 1836, com o nome Frei Eugênio Maria.

Em 1843 chegou ao Brasil, a mando do Papa Gregório XVI, como missionário capuchinho. Esteve no Rio de Janeiro, Cuiabá e Pitangui catequizando as pessoas das cidades, vilas e aldeias. Em 12/08/1856 chegou a Uberaba, abriu a Santa Missão e iniciou a construção de um cemitério que ficou pronto dentro de dois anos.

Pessoa calma, de educação polida, paciente, caridoso, zeloso quanto ao cumprimento de sua missão, Frei Eugênio realizou uma brilhante missão religiosa. Pessoas de regiões distantes vinham confessar com o Frei, que era despojado, vivia como pobre, com as doações dos fiéis.

Sua biblioteca era extensa e as obras variadas: escrituras sagradas, teologia, direito canônico, direito civil, filosofia, liturgia, literatura, ciência, medicina, história e geografia. Destacava-se na oratória, possuía memória prodigiosa. Diariamente escrevia as ações do dia, confissões, comunhões, batizados, casamentos, visitas a enfermos e missas.

Pioneiro dos estudos climatológicos e um dos primeiros no Brasil, fez com que Uberaba tivesse tradição fortíssima em estudo climatológico. Anotava os fenômenos meteorológicos e fatos da cidade.

Com a chegada de Frei Eugênio a Uberaba, vieram pessoas de outras localidades, aumentando a população – e consequentemente as concessões de terras. Fizeram-se muitas casas e foram abertos mais de 17 negócios, tudo com ajuda do Frei.

Casais divorciados se juntaram, protestantes se converteram, se dissolveram mais de 80 concubinários, fizeram muitas restituições, reconciliaram-se inimigos. A Igreja em Uberaba ganhou um novo impulso. Vários oratórios e irmandades surgiram neste período.

Conhecido e chamado por “Padre Mestre”, foi considerado o maior benfeitor de Uberaba e suas ações foram sempre dirigidas para proteção e assistência aos pobres e desvalidos. Não se limitava às Missões, estabelecia melhoramentos básicos: cemitérios, hospitais, serviços de água, estradas cisternas e fossas. 

Promovia ao mesmo tempo assistência aos órfãos, aos índios e aos escravos, que assistiam à Santa Missa e depois recebiam uma bênção especial do Padre Mestre, que lhes ungia e colocavam em seus pescoços medalhinhas ou patuás com orações para se protegerem contra o mau.

UM IDEALIZADOR DE PROJETOS

Em 1856 iniciou a construção do cemitério São Miguel, situado onde hoje é a Praça Frei Eugênio, considerado o mais sólido e amplo do interior do Brasil, na época. Dentro do cemitério, Frei Eugênio construiu a Capela de São Miguel.

A maioria dos túmulos era de madeira – o mármore somente entrou em Uberaba por volta de 1880, quando passou a ser empregado na construção de residências e túmulos, inclusive o de Frei Eugênio.

O cemitério funcionou 44 anos, de 1856 a até 1900. Foram enterrados neste período cerca de 4.400 pessoas. Foi interditado depois da construção do Cemitério Municipal – na época conhecido por Cemitério do Brejinho, atual São João Batista –, e demolido em 1917.

Frei Eugênio iniciou também a construção de um novo Cemitério chamado São Francisco, no fundo da Santa Casa, porém o Frei não chegou a concluir a obra, que ficou só nos alicerces. 

Além do Cemitério e da Capela São Miguel, Frei Eugênio projetou ainda a construção de uma ponte sobre o Rio Grande, no Porto de Ponte Alta, em direção a Uberaba, no intuito de ligar o litoral a Província de São Paulo às de Minas, Goiás e Mato Grosso. Pretendia outra ponte no Rio Paranaíba. Abriu ruas, fez estudos para canalizar as águas do Rio Uberaba, para o abastecimento da cidade.

De gênio empreendedor, Frei Eugênio percebeu o progresso aumentar a população, anteviu a mendicância, a miséria e a precisão de abrigo para a pobreza enferma. Daí seus esforços para a construção de uma de suas mais grandiosas obras – a Santa Casa de Misericórdia, no terreno denominado Largo do Rancho, hoje bairro da Abadia, onde hoje está o complexo Hospital de Clínicas da UFTM, cujo prédio é preservado até hoje, como patrimônio histórico.

Junto à comunidade recolheu donativos, como peças de ouro, rosários, relicários, cordões, moedas do Império e de Portugal, peças de prata e materiais de construção, e dinheiro em espécie. Também construiu um açude nas imediações do hospital, já que no local não possuía água suficiente para a demanda da construção. O açude, além da construção, favoreceu toda a população que vivia nos arredores e sofria com a falta de água.

Ergueu uma boa casa ao lado da Santa Casa destinada à administração, onde também passou a residir. De 1921 a 1934, quando foi inaugurado o segundo prédio do Hospital da Misericórdia, esta casa serviu para internação dos pacientes. O local ficava na praça Dr. Tomas Ulhôa, esquina com a rua Frei Paulino, onde atualmente está o Centro Administrativo da UFTM e a Biblioteca, que leva seu nome.

Entre 1862 e 1863, por conta da epidemia de varíola no país, às pressas foi preparada uma ala do prédio em que a construção estava mais adiantada, para receber os doentes. Em 1865 uma ala do hospital abrigou as tropas do Corpo Expedicionário que aqui se aquartelaram a caminho de Mato Grosso para a Guerra do Paraguai durante 45 dias, cujos doentes de bexiga (varíola) ali se internaram.


OS DIVERSOS PROBLEMAS NO FIM DA VIDA

A construção da Santa Casa da Misericórdia foi agigantando-se, um grande prédio foi surgindo para os parâmetros do período. Durantes os anos de construção da Santa Casa, Frei Eugênio enfrentou diversos contratempos. Há alguns anos fora atacado por um boi ficando bastante ferido e sofrendo com sequelas.

Idade avançada, enfermidades e ainda a hostilidade e intrigas de autoridades da Comarca do Paraná (à qual pertencia Uberaba), juízes locais e outros que passaram por censuras feitas pelo missionário solicitando sua retirada da cidade, o abateram. Porém, a defesa feita pela Câmara Municipal e a população da cidade, conseguiu que ele permanecesse em Uberaba e continuasse o trabalho.

Depois de muitas turbulências, após 27 anos da morte de Frei Eugênio, foi finalmente inaugurada a Santa Casa de Misericórdia de Uberaba, no dia 14/06/1896.

Porém, Frei Eugênio morreu sem ver sua obra finalizada, vítima de angina, aos 59 anos de idade, às 23horas do dia 14/06/1871, em sua residência, ao lado do hospital. Uma hora depois os sinos anunciaram a morte do Frei, reunindo grande parte da população à sua porta. Seu sepultamento foi considerado o maior em termos de acompanhamento por aqueles tempos, cerca de 4.000 pessoas seguiram o funeral.

Todos os seus bens foram considerados patrimônio da Santa Casa, dinheiro, objetos valiosos das doações e livros. Tudo que foi arrecadado foi como donativo para a finalização da Santa Casa.

Foi sepultado no Cemitério São Miguel no outro dia e com a demolição do local em 1917, seus restos mortais foram encaminhados para o Cemitério São João Batista e em 1965 foram encaminhados para a Igreja de Santa Teresinha, em grande cortejo.

A jornalista Élvia Morais descobriu que a lápide original do túmulo do Frei Eugênio estava na Faculdade de Direito da Universidade de Uberlândia, e o Prefeito Paulo Piau e a presidente da Fundação Cultural de Uberaba, Sumayra Oliveira, conseguiram resgatá-la.

A lápide retornou a Uberaba no dia 21/05/2014 e foi colocada na Paróquia de Santa Teresinha no último dia 15, para ficar junto aos restos mortais de Frei Eugênio. Nela, o registro de seu sepultamento, 15 de junho, conforme usava na época.





Referências:
Organização para o Blog: Charles Aquino
 Autor do Primeiro Texto:  Professor Luiz Mascarenhas
Autora do segundo texto: Maria das Graças Salvador e Aparecida Manzan
Créditos para a foto: Superintendência do Arquivo Público de Uberaba.
Arquidiocese de Uberaba, Charles Aquino 

NOTA: O (a) autor(a) é responsável pelos trabalhos aqui publicados, o qual, também ficará responsável pelas suas correções.

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