Vicentina BRANT*
Minha mãe Maria Martins Vilaça,
eu e meu irmão Mário, nascemos no Retiro dos Pinto, na fazenda de nossos avós
maternos, onde se encontra a nascente dos Pinto, localizado em Itatiaiuçu, que
na época era distrito de Itaúna. A Nascente, forma o Ribeirão dos Pinto, a
Cachoeira dos Pinto e o Córrego dos Pinto, que por sua vez, forma a Cachoeira
dos Chaves e deságua no Rio São João.
A minha mãe, era a penúltima filha de meus avós Ulisses Martins Pinto (família
Martins Fonseca Pinto, todos dessa região, mas de origem portuguesa que se
instalaram em Itatiaiuçu, nesse lugar, que veio a ganhar o nome de Retiro dos
Pinto). A mãe, Verônica, nasceu em Itaguara, da família Antunes Vilela e
Ferreira Teles, que mudou – se para o nosso Retiro, quando casou-se com
Ulisses. Tiveram 7 filhos (4 homens e 3mulheres).
Maria, com apenas 17
anos de idade casou – se com Mário de Queiróz em junho/50, filho de João Batista de Queiroz (família Batista
Guimarães e Queiroz) e Alvina Marques Pereira (os Marques de Itaúna), ela
também de Itatiaiuçu.
Quando todos nós
nascemos, Itatiaiuçu, era distrito da Comarca de Itaúna, que depois mais tarde
veio a emancipar-se. O meu pai, nasceu na fazenda de meu avô (aquela área toda
que envolve a barragem do Iate Clube e todo ao redor, inclusive toda parte de
cima da rodovia, era herança de sua família. Quase um latifúndio, mas foi
desapropriado em todo seu terreno para fazer a usina, recebeu na época, uns
trocados apenas!
O ano de 1952 para nós
foi muito difícil. Meu pai após ser picado por uma cascavel na Ponta da Serra
em agosto, falecia aos 22 anos de idade, deixando minha mãe viúva com apenas 19
anos de idade, eu com um ano e quatro meses e meu irmão Mário, com apenas 4
dias de vida.
Em dezembro 1952, após o
trágico acidente com o meu pai, fomos eu, aminha mãe e o meu avô materno para
Itaúna, onde alugou-se uma casa na rua Dr. Dorinato Lima, para hospedarmos
sempre que vínhamos a essa Cidade, para fazer o tratamento médico do câncer em
meu avô Ulisses.
Assim, continuamos
indo/vindo de Itaúna ao Retiro, permanentemente. Nessa época, eu tinha apenas
um ano e oito meses de idade, mas já servia de companhia para a minha mãe. O
tratamento durou cerca de um ano, até o seu falecimento em sua casa no Retiro
em dezembro 1952. Nesse período ficou
somente a minha avó Verônica, zelando dos serviços e trabalhadores da fazenda e
cuidando de meu irmão Mário que tinha no início da enfermidade do avô, apenas 4 meses de idade.
Dias depois a minha mãe
voltou em Itaúna, para fazer compras indo em direção ao centro da cidade.
Caminhando em direção a Rodoviária que era ao lado do Automóvel Clube, para
embarcar na “Jardineira” que fazia o transporte de Itaúna a Itatiaiuçu, avistou
um salão de beleza que ficava ao lado do Cine
Rex e resolveu entrar para fazer um corte em seus cabelos.
O proprietário, muito
educadamente indagou porque a jovem mulher se vestia toda de preto, Maria
informou que seu marido havia falecido e que o seu pai também a poucos dias os
deixara. Feito o corte do cabelo, a jovem mulher despediu-se do proprietário,
Antônio Vilaça e retirou-se do local, mas aquele olhar triste e inconsolável de
Maria, ficou nas lembranças daquele
homem.
Quinze dias se passaram
e Antônio resolveu fazer uma visita àquela jovem vestida de preto que havia
feito um corte de cabelo em seu salão. O cabeleireiro havia se encantado com
Maria e no fim de semana foi ao Retiro,
procurar a sua casa. Chamou em várias casas que também haviam marias. Mas
nenhuma delas, era a Maria que esperava encontrar.
Antônio retornou ao
Retiro na semana seguinte, disposto a encontrar a Maria que procurava e, que
não saía de seu pensamento. O acesso a casa de Maria, era somente a pé, por
carro de boi ou a cavalo, mas Antônio não se importou com as dificuldades e conseguiu chegar até o local a ele informado
pelo último fazendeiro vizinho e compadre de meus avós.
Antônio ao ver Maria,
logo lhe disse que sua intenção de estar lá, seria de torná-la a sua esposa.
Com o sim de Maria, Antônio fez o pedido de sua “mão” à sua mãe Verônica,
porque apesar de viúva, Maria ainda era menor. E disse também, que a sua
intenção, era de assumir os filhos
dela, que precisavam de amparo.
O pedido foi aceito.
Ele com 49 anos de idade e ela com 19 anos – assim, o amor em PEDRA NEGRA
acontecia entre Antônio e Maria. No ano de 1954 no dia dezessete de abril, Maria
Martins e Antônio Vilaça se casaram e fomos todos morar em Itaúna. Logo depois,
a minha avó Verônica também foi convidada a ir, por Antônio.
Minha mãe se profissionalizou em eximia cabeleireira, com seu
esposo Antônio Vilaça, que lhe ensinou tudo. Ao seu lado, ela trabalhou no
Salão de Beleza Santo Antônio de propriedade dele, localizado no Largo da Matriz,
hoje, Praça Dr. Augusto Gonçalves, que ficava ao lado do Cine Rex Atualmente, com a nova edificação, o espaço se tornou o edifício Benfica.
Em 1959, após 5 anos de
casados, Maria Martins Vilaça, ficou
viúva inesperadamente de Antônio Vilaça. Continuamos a morar em Itaúna até 1968,
quando anos depois, mudamos para a Capital e por último a cidade de Contagem.
Mas com muita frequência, passando fins de semana e férias em Itaúna. Depois das perdas que ocorreram
em nossa família, minha mãe, levou-me ao pediatra porque estava tristinha. O
saudoso e querido Dr. José Drumond que passou a acompanhar-me em check-up e emergências
infantis, depois de nos mudarmos para Itaúna. Antes de nos mudarmos, ainda lá
na roça, éramos cuidados pelo grande e saudoso Raimundo Faria (compadre de meu
avô Ulisses).
Nota:
Em 2008 no dia 6 de
agosto, minha mãe seguiu nova jornada, sendo velada e sepultada no Cemitério
Central de Itaúna. Minha mãe amou profundamente Itaúna. Em seu livro de poesias
“Folhas na Cama” – página27, publicou os seguintes versos:
HOMENAGEM (Maria Martins Vilaça)
Itaúna terra querida,
Não posso te esquecer,
Os contratempos da vida
Roubaram-me de você.
Hoje tenho saudades
De suas tradições,
Seresteiros nas
madrugadas
Nas janelas dos
barracões
Suas ruas antigas
Becos de ilusões,
A igreja do Bonfim
Os velhos casarões.
Suas festas religiosas
Seu grande animador,
Mineirinho das
barraquinhas
Cantando coisas de
amor.
A praça da matriz
Aquele gramado em flor,
A fonte luminosa,
Com seus raios
multicores,
Um ritmo de valsas
Testemunham grandes
amores.
Itaúna, terra querida,
Não te esquecerei
jamais.
Terra de gente boa,
Rainha de Minas Gerais.
Agora, toda história narrada…… imperdível!!!
“Isso é que é exemplo
da “verdadeira democracia, a da Natureza! ”: – A Água nasce em terreno dos
Pinto, percorre e serve vários outros terrenos, o terreno dos amigos
Chaves, oferecendo-lhes a sua bela Cachoeira dos Chaves, e segue depois,
abastecendo o nosso querido Rio São João! Salve a Natureza!”
Acervo: Fotografia de família registrada pelo saudoso fotógrafo
Osvaldo. Esta foto foi feita, no dia da inauguração da Praça de Esportes
Juscelino Kubitschek – Itaúna. Foi um dia muito festivo com a presença do homenageado,
comitiva, convidados de fora e o ilustre povo itaunense.
E lá estávamos nós participando também das festividades. Na época, éramos vizinhos da Praça. Vê – se da direita para a esquerda da foto: Sra. Mariazinha – RJ (prima de meu padrasto); Sr. Antônio Vilaça (meu saudoso e queridíssimo padrasto); Maria Martins Vilaça, minha Mãe, saudosa poeta e esposa de Antônio Vilaça; Nélia – RJ (amiga de Mariazinha); as saudosas irmãs Aidée e Terezinha Vilaça (sobrinhas de meu Padrasto); Maria Verônica (minha saudosa e querida avó materna); ao colo de sua mãe, a Erlane e a sua irmã, saudosa Edna, na frente de Nelia. Eu, Vicentina Brant, na frente de meu padrasto!
O Sr. Antônio Vilaça,
foi o fundador – proprietário do Salão de Beleza Santo Antônio, situado na
Praça da Matriz, ao lado do Cine Rex. Até 27/04/59, data de seu falecimento,
era o único e exclusivo Salão de Beleza dessa Cidade. O Sr. Antônio, era um
homem íntegro e respeitado pela sociedade itaunense. Era um exímio
cabeleireiro. Atualizado e comprometido com sua profissão, com o seu negócio e com o seu público.
Naquela época, o Sr.Antônio com o seu espirito empreendedor, já trabalhava com
foco na qualidade do atendimento, dos serviços prestados e a satisfação de seu enorme
público! Quanto orgulho tenho de ser sua enteada!
*Vicentina Brant
estudou no Jardim de Infância Ana Cintra, nos anos de1956 e 1957. Trabalhou na
CFLMG e depois foi transferida para a CEMIG, onde trabalhou no Serviço Social
até aposentar-se por tempo de serviço.
Não teve a oportunidade
de prosseguir na música, mas nunca a abandonou. Cantou por todas as escolas que
passou e entre amigos da música. Para a sua mãe, sempre cantou músicas de
recordações dela e de ambas.
Era uma questão de
honra, pelo carinho e apreço de uma para com a outra, afagando assim, o sonho
de cantar… Sonho que foi realizado com agravação do CD: “Que Bem me Faz – Um
sonho de menina”, lançado na Matriz de Itaúna em 15/09/2016, à véspera do
aniversário desta Cidade.
Fez na UFMG um ano e meio de Canto e hoje faz aulas com Eladio Pérez, profissional do Canto, um talento paraguaio, de 90 anos de idade. Nos ensaios, gravações, apresentações e no violão, está sob a maestria do professor, compositor, instrumentista e criador do Grupo “Quinto do Choro”, André Oliveira.
Referências:
*Mineira de Retiro dos Pinto (Serra de Itatiaiuçu) e apaixonada pela música desde criança, canta pelo prazer de viver. Começou os estudos musicais quando se mudou para Contagem, aonde conheceu outros artistas, que possibilitaram um contato ainda maior com a música. Disponível em: https://tratore.com.br/um_cd.php?id=21410
Organização para o Blog: Charles Aquino