domingo, abril 24, 2022

AMOR EM PEDRA NEGRA

Vicentina BRANT*

Minha mãe Maria Martins Vilaça, eu e meu irmão Mário, nascemos no Retiro dos Pinto, na fazenda de nossos avós maternos, onde se encontra a nascente dos Pinto, localizado em Itatiaiuçu, que na época era distrito de Itaúna. A Nascente, forma o Ribeirão dos Pinto, a Cachoeira dos Pinto e o Córrego dos Pinto, que por sua vez, forma a Cachoeira dos Chaves e deságua no Rio São João.

A minha mãe, era a penúltima filha de meus avós Ulisses Martins Pinto (família Martins Fonseca Pinto, todos dessa região, mas de origem portuguesa que se instalaram em Itatiaiuçu, nesse lugar, que veio a ganhar o nome de Retiro dos Pinto). A mãe, Verônica, nasceu em Itaguara, da família Antunes Vilela e Ferreira Teles, que mudou – se para o nosso Retiro, quando casou-se com Ulisses. Tiveram 07 filhos (04 homens e 03mulheres).

Maria, com apenas 17 anos de idade casou – se com Mário de Queiróz em junho/50, filho de João Batista de Queiroz (família Batista Guimarães e Queiroz) e Alvina Marques Pereira (os Marques de Itaúna), ela também de Itatiaiuçu.

Quando todos nós nascemos, Itatiaiuçu, era distrito da Comarca de Itaúna, que depois mais tarde veio a emancipar-se. O meu pai, nasceu na fazenda de meu avô (aquela área toda que envolve a barragem do Iate Clube e todo ao redor, inclusive toda parte de cima da rodovia, era herança de sua família. Quase um latifúndio, mas foi desapropriado em todo seu terreno para fazer a usina, recebeu na época, uns trocados apenas!

O ano de 1952 para nós foi muito difícil. Meu pai após ser picado por uma cascavel na Ponta da Serra em agosto, falecia aos 22 anos de idade, deixando minha mãe viúva com apenas 19 anos de idade, eu com um ano e quatro meses e meu irmão Mário, com apenas 4 dias de vida.

Em dezembro/52, após o trágico acidente com o meu pai, fomos eu, aminha mãe e o meu avô materno para Itaúna, onde alugou-se uma casa na rua Dr. Dorinato Lima, para hospedarmos sempre que vínhamos a essa Cidade, para fazer o tratamento médico do câncer em meu avô Ulisses.

Assim, continuamos indo/vindo de Itaúna ao Retiro, permanentemente. Nessa época, eu tinha apenas um ano e oito meses de idade, mas já servia de companhia para a minha mãe. O tratamento durou cerca de um ano, até o seu falecimento em sua casa no Retiro em dezembro/52. Nesse período ficou somente a minha avó Verônica, zelando dos serviços e trabalhadores da fazenda e cuidando de meu irmão Mário que tinha no início da enfermidade do avô, apenas 04 meses de idade.

Dias depois a minha mãe voltou em Itaúna, para fazer compras indo em direção ao centro da cidade. Caminhando em direção a Rodoviária que era ao lado do Automóvel Clube, para embarcar na “Jardineira” que fazia o transporte de Itaúna a Itatiaiuçu, avistou um salão de beleza que ficava ao lado do Cine Rex e resolveu entrar para fazer um corte em seus cabelos.

O proprietário, muito educadamente indagou porque a jovem mulher se vestia toda de preto, Maria informou que seu marido havia falecido e que o seu pai também a poucos dias os deixara. Feito o corte do cabelo, a jovem mulher despediu-se do proprietário, Antônio Vilaça e retirou-se do local, mas aquele olhar triste e inconsolável de Maria, ficou nas lembranças daquele homem.

Quinze dias se passaram e Antônio resolveu fazer uma visita àquela jovem vestida de preto que havia feito um corte de cabelo em seu salão. O cabeleireiro havia se encantado com Maria e no fim de semana foi ao Retiro, procurar a sua casa. Chamou em várias casas que também haviam marias. Mas nenhuma delas, era a Maria que esperava encontrar.

Antônio retornou ao Retiro na semana seguinte, disposto a encontrar a Maria que procurava e, que não saía de seu pensamento. O acesso a casa de Maria, era somente a pé, por carro de boi ou a cavalo, mas Antônio não se importou com as dificuldades e conseguiu chegar até o local a ele informado pelo último fazendeiro vizinho e compadre de meus avós.

Antônio ao ver Maria, logo lhe disse que sua intenção de estar lá, seria de torná-la a sua esposa. Com o sim de Maria, Antônio fez o pedido de sua “mão” à sua mãe Verônica, porque apesar de viúva, Maria ainda era menor. E disse também, que a sua intenção, era de assumir os filhos dela, que precisavam de amparo.

O pedido foi aceito. Ele com 49 anos de idade e ela com 19 anos – assim, o amor em PEDRA NEGRA acontecia entre Antônio e Maria. No ano de 1954no dia dezessete de abril, Maria Martins e Antônio Vilaça se casaram e fomos todos morar em Itaúna. Logo depois, a minha avó Verônica também foi convidada a ir, por Antônio.

Minha mãe se profissionalizou em eximia cabeleireira, com seu esposo Antônio Vilaça, que lhe ensinou tudo. Ao seu lado, ela trabalhou no Salão de Beleza Santo Antônio de propriedade dele, localizado no Largo da Matriz, hoje, Praça Dr. Augusto Gonçalves, que ficava ao lado do Cine Rex Atualmente, com a nova edificação, o espaço se tornou o edifício Benfica.

Em 1959, após 5 anos de casados, Maria Martins Vilaça, ficou viúva inesperadamente de Antônio Vilaça. Continuamos a morar em Itaúna até1968, quando anos depois, mudamos para a Capital e por último a cidade de Contagem. Mas com muita frequência, passando fins de semana e férias em Itaúna. Depois das perdas que ocorreram em nossa família, minha mãe, levou-me ao pediatra porque estava tristinha. O saudoso e querido Dr. José Drumond que passou a acompanhar-me em check-up e emergências infantis, depois de nos mudarmos para Itaúna. Antes de nos mudarmos, ainda lá na roça, éramos cuidados pelo grande e saudoso Raimundo Faria (compadre de meu avô Ulisses).

Vicentina

Em 2008 no dia 6 de agosto, minha mãe seguiu nova jornada, sendo velada e sepultada no Cemitério Central de Itaúna. Minha mãe amou profundamente Itaúna. Em seu livro de poesias “Folhas na Cama” – página27, publicou os seguintes versos:

HOMENAGEM (Maria Martins Vilaça)

Itaúna terra querida,

Não posso te esquecer,

Os contratempos da vida

Roubaram-me de você.

Hoje tenho saudades

De suas tradições,

Seresteiros nas madrugadas

Nas janelas dos barracões

Suas ruas antigas

Becos de ilusões,

A igreja do Bonfim

Os velhos casarões.

Suas festas religiosas

Seu grande animador,

Mineirinho das barraquinhas

Cantando coisas de amor.

A praça da matriz

Aquele gramado em flor,

A fonte luminosa,

Com seus raios multicores,

Um ritmo de valsas

Testemunham grandes amores.

Itaúna, terra querida,

Não te esquecerei jamais.

Terra de gente boa,

Rainha de Minas Gerais.

……

Água

“Isso é que é exemplo da “verdadeira democracia, a da Natureza! ”: – A Água nasce em terreno dos Pinto, percorre e serve vários outros terrenos, presentei o terreno dos amigos Chaves, oferecendo-lhes a sua bela Cachoeira dos Chaves, e segue depois, abastecendo o nosso querido Rio São João! Salve a Natureza!”

Acervo: Fotografia de família registrada pelo saudoso fotógrafo Osvaldo. Esta foto foi feita, no dia da inauguração da Praça de Esportes Juscelino Kubitschek – Itaúna. Foi um dia muito festivo com a presença do homenageado, comitiva, convidados de fora e o ilustre povo itaunense.

E lá estávamos nós participando também das festividades. Na época, éramos vizinhos da Praça. Vê – se da direita para a esquerda da foto: Sra. Mariazinha – RJ (prima de meu padrasto); Sr. Antônio Vilaça (meu saudoso e queridíssimo padrasto); Maria Martins Vilaça, minha Mãe, saudosa poeta e esposa de Antônio Vilaça; Nélia – RJ (amiga de Mariazinha); as saudosas irmãs Aidée e Terezinha Vilaça (sobrinhas de meu Padrasto); Maria Verônica (minha saudosa e querida avó materna); ao colo de sua mãe, a Erlane e a sua irmã, saudosa Edna, na frente de Nelia. Eu, Vicentina Brant, na frente de meu padrasto! 

O Sr. Antônio Vilaça, foi o fundador – proprietário do Salão de Beleza Santo Antônio, situado na Praça da Matriz, ao lado do Cine Rex. Até 27/04/59, data de seu falecimento, era o único e exclusivo Salão de Beleza dessa Cidade. O Sr. Antônio, era um homem íntegro e respeitado pela sociedade itaunense. Era um exímio cabeleireiro. Atualizado e comprometido com sua profissão, com o seu negócio e com o seu público. Naquela época, o Sr.Antônio com o seu espirito empreendedor, já trabalhava com foco na qualidade do atendimento, dos serviços prestados e a satisfação de seu enorme público! Quanto orgulho tenho de ser sua enteada!

*Vicentina Brant estudou no Jardim de Infância Ana Cintra, nos anos de1956 e 1957. Trabalhou na CFLMG e depois foi transferida para a CEMIG, onde trabalhou no Serviço Social até aposentar-se por tempo de serviço.

Não teve a oportunidade de prosseguir na música, mas nunca a abandonou. Cantou por todas as escolas que passou e entre amigos da música. Para a sua mãe, sempre cantou músicas de recordações dela e de ambas.

Era uma questão de honra, pelo carinho e apreço de uma para com a outra, afagando assim, o sonho de cantar… Sonho que foi realizado com agravação do CD: “Que Bem me Faz – Um sonho de menina”, lançado na Matriz de Itaúna em 15/09/2016, à véspera do aniversário desta Cidade.

Fez na UFMG um ano e meio de Canto e hoje faz aulas com Eladio Pérez, profissional do Canto, um talento paraguaio, de 90 anos de idade. Nos ensaios, gravações, apresentações e no violão, está sob a maestria do professor, compositor, instrumentista e criador do Grupo “Quinto do Choro”, André Oliveira. 

Referências:

*Mineira de Retiro dos Pinto (Serra de Itatiaiuçu) e apaixonada pela música desde criança, canta pelo prazer de viver. Começou os estudos musicais quando se mudou para Contagem, aonde conheceu outros artistas, que possibilitaram um contato ainda maior com a música. Disponível em: https://tratore.com.br/um_cd.php?id=21410

Organização para o Blog: Charles Aquino 

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