sábado, janeiro 26, 2019

TRILHOS VAZIOS

SANTANENSE REMINISCÊNCIAS

Ramon MARRA*

Lá no horizonte já se via uma cortina de fumaça. Mamãe ela está vindo. Gritava eu! Apressadamente colocávamos um banquinho na janela e o primeiro apito enchia nossos corações de excitação.

A Maria Fumaça tinha está magia, porquê os sonhos dos passageiros se misturavam com os nossos olhares e acenos alegres, cheios de emoção. Em cada passageiro se escondiam muitas histórias de vida, que podíamos ver no rosto cansado em busca de um sentido em construção.

A estação ficava cheia dos que desciam e subiam movimentando a plataforma de recepção. Aos poucos Maria Fumaça foi se despedindo e como alguém que precisava ir, mas que não queria machucar os sonhos do cotidiano tornando-os desilusão.

Sorrateiramente desapareceu sem falar não.

Deu lugar aos modernos e robustos trens que de charmosos não tinham nada não, mais em nome do futuro transportavam não mais vidas, mas agora um vazio, cheio de coisas sem inspiração.

Sem acenos, sem sorrisos, sem alegria crescemos e fomos percebendo que as linhas férreas não contavam mais histórias e sim serviam de Norte para o Sul e do Sul para o Norte como um caminho que não tinha mais identidade e portanto, não fazia mais sentido em nosso coração.

Hoje os trilhos estão vazios como num livro que se escreveu pela metade. Ficou a nostalgia, o romantismo, e a inocência daquele tempo em que tudo parecia ser mágico.

Agora olho para os trilhos sem o banquinho, sem mamãe e sem a alegria de sentir a emoção que começava com a fumaça no horizonte e terminava com o adeus dos nossos personagens passageiros de coração



*Pós-Graduação em Psicopedagogia  
Fotografia e local: Marcos Cândido / Bairro Santanense
Organização: Charles Aquino