SANTANENSE REMINISCÊNCIAS
Ramon
MARRA*
Lá
no horizonte já se via uma cortina de fumaça. Mamãe ela está vindo. Gritava eu!
Apressadamente colocávamos um banquinho na janela e o primeiro apito enchia
nossos corações de excitação.
A
Maria Fumaça tinha está magia, porquê os sonhos dos passageiros se misturavam
com os nossos olhares e acenos alegres, cheios de emoção. Em cada passageiro se
escondiam muitas histórias de vida, que podíamos ver no rosto cansado em busca
de um sentido em construção.
A
estação ficava cheia dos que desciam e subiam movimentando a plataforma de
recepção. Aos poucos Maria Fumaça foi se despedindo e como alguém que precisava
ir, mas que não queria machucar os sonhos do cotidiano tornando-os desilusão.
Sorrateiramente
desapareceu sem falar não.
Deu
lugar aos modernos e robustos trens que de charmosos não tinham nada não, mais
em nome do futuro transportavam não mais vidas, mas agora um vazio, cheio de
coisas sem inspiração.
Sem
acenos, sem sorrisos, sem alegria crescemos e fomos percebendo que as linhas
férreas não contavam mais histórias e sim serviam de Norte para o Sul e do Sul
para o Norte como um caminho que não tinha mais identidade e portanto, não
fazia mais sentido em nosso coração.
Hoje
os trilhos estão vazios como num livro que se escreveu pela metade. Ficou a
nostalgia, o romantismo, e a inocência daquele tempo em que tudo parecia ser
mágico.
Agora
olho para os trilhos sem o banquinho, sem mamãe e sem a alegria de sentir a
emoção que começava com a fumaça no horizonte e terminava com o adeus dos
nossos personagens passageiros de coração
*Pós-Graduação
em Psicopedagogia
Fotografia e local:
Marcos Cândido / Bairro Santanense
Organização:
Charles Aquino