quarta-feira, janeiro 09, 2019

HOSPITAL NOVO

Caro colega e amigo Dr. Téofilo. Cordiais cumprimentos!

A construção do novo hospital de Itaúna ainda não foi iniciada, estando já escolhida a empresa que vai construí-lo, mas perdura entre aqueles que não concordaram com a escolha do local, a esperança de que a Mesa Administrativa resolva a construí-lo num outro ponto, onde não houvesse as inconveniências daquele que foi escolhido.

Lembro-me ainda de sua opinião, indagando se não havia outro terreno, mais próximo da cidade, ou mesmo na cidade, que melhor se prestasse; com as respostas negativas, mas percebendo bem que o terreno apontado não lhe satisfazia, apontou para o terreno em frente, de propriedade de José de Cerqueira Lima, a cavaleiro da linha férrea.

Foi manifestada pelo Dario a impossibilidade do Cerqueira Lima cedê-lo. Mostrei-lhe, então, outro terreno do lado oposto ao rio São João, local magnífico, num descampado, insolado e ventilado, satisfatoriamente, no alto de um cômoro, absolutamente plano, bem em frente à cidade, mais próximo desta, longe da linha férrea e da estrada de automóvel.

A Mesa Administrativa, no momento representada pelo Dario, Santiago e Drumond, combateram todos esses alvitres, alegando que o terreno apresentado, junto ao atual Hospital era o mais conveniente para a administração, por ser mais próximo e por já pertencer ao Hospital, facilitando a administração do futuro asilo em que se transformará o atual e do novo hospital.

Recordo-me perfeitamente de sua palavra, dizendo uma vez que não me apresentam outro terreno, você leva os dados deste único, para estudar melhor a maneira de nele localizar o Hospital, procurando sanar-lhe os defeitos, entre muitos o de estar muito próximo à linha férrea e à estrada de automóvel e ficar, além disso, entre estas e o rio São João, não podendo se afastar muito daquelas por se tornar maior o declive junto ao rio, o que sanaria em parte os outros dois inconvenientes.

Veio-nos, afinal, o "croquis" para receber sugestão e estas lhe foram enviadas e obedecidas, vindo-nos, posteriormente, o projeto definitivo, magnífico em todos os sentidos e que a todos satisfez. Na carta que V. escreveu ao Dario sugeriu que se não desse ouvidos a opiniões de leigos que quisessem meter o bedelho, com intuito de modificá-lo. Esse seu conselho foi exclusivamente, quanto ao projeto e nunca ao terreno.

Nós que sempre julgamos que a construção no outro local daria maior realce à obra, ficamos satisfeitos também, com a verificação que o projeto pode ser perfeitamente adaptado ao outro terreno, bastando para isso suprimir-se o porão, oriundo do declive do terreno.

Tudo fizemos para convencer aos Membros da Mesa para estudarem a possibilidade de localizá-lo no terreno do Sr. Astolfo Dornas, já anteriormente descrito e de onde se descortina magnífico panorama, visível de qualquer lado que se chegue à cidade, seja por via férrea, seja pela rodovia, longe, portanto dos ruídos e da poeira, com espaço suficiente para ornamentá-lo com um parque em redor, afim de amenizar a vida dos doentes. Tudo foi em vão.

O Dario, de princípio pareceu concordar, mas influindo-lhe demasiado no espírito a opinião do Santiago e como esse, se tornou ferrenho adversário da mudança do local. O Santiago faleceu, há dias, em Belo Horizonte e nós que somos favoráveis à outra localização, queríamos agora outra opinião no caso. 

Deve-se recordar do terreno que temos em vista e que foi combatido pelo Dario porque julgava difícil o abastecimento d'água e por ser de propriedade de terceiros. Esses argumentos não prevalecem e nós queríamos sua opinião abalizada, mais ainda porque os defensores da localização junto ao antigo Hospital alegam que foi esse o maior terreno que V. achou apropriado.

De vez que a Mesa não concordava com nenhum outro e só lhe tenha apresentado aquele, outra não podia ser sua atitude. Alegasse mais ainda que até a opinião de técnicos americanos fosse ouvida e que estes achavam magnífico o terreno. Isso foi ouvido aqui de gente muito boa.... Não concordando em absoluto com essas alegações por me recordar perfeitamente de suas palavras que ainda me foram repetidas aí no Rio quando me indagou se a mesa ainda resistia no intento de localizar o Hospital junto ao antigo.

Ainda ontem conversando com o engenheiro da empresa encarregada da construção ele alegou que no terreno escolhido ela ficará muito mais dispendiosa pela natureza do terreno e que reconhece todos os inconvenientes do ponto de vista de nós outros que não nos apegamos a argumentos sem base e solos para localizar a obra num lugar que possuímos, por certo hão de censurar.

Desejaria, pois, sua opinião definitiva sobre esse caso, para que de futuro, caso a construção se realize no local já escolhido, nós tenhamos ressalvada a nossa responsabilidade. Pedindo-lhe muitas desculpas pela importunação, subscrevo-me com verdadeira estima e especial simpatia, colega e velho admirador,

A.Lima Coutinho                                               
                                                  Itaúna, 2-VI-46



História de Itaúna


Referência:
Carta manuscrita: Doutor Antônio de Lima Coutinho
Acervo Fotográfico: Casa de Caridade Manoel Gonçalves de Souza Moreira, Prof. Marco Elísio Chaves Coutinho.
Pesquisa e organização: Charles Aquino

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