Caro
colega e amigo Dr. Téofilo. Cordiais cumprimentos!
A
construção do novo hospital de Itaúna ainda não foi iniciada, estando já
escolhida a empresa que vai construí-lo, mas perdura entre aqueles que não
concordaram com a escolha do local, a esperança de que a Mesa Administrativa
resolva a construí-lo num outro ponto, onde não houvesse as inconveniências
daquele que foi escolhido.
Lembro-me
ainda de sua opinião, indagando se não havia outro terreno, mais próximo da
cidade, ou mesmo na cidade, que melhor se prestasse; com as respostas
negativas, mas percebendo bem que o terreno apontado não lhe satisfazia,
apontou para o terreno em frente, de propriedade de José de Cerqueira Lima, a
cavaleiro da linha férrea.
Foi
manifestada pelo Dario a impossibilidade do Cerqueira Lima cedê-lo.
Mostrei-lhe, então, outro terreno do lado oposto ao rio São João, local
magnífico, num descampado, insolado e ventilado, satisfatoriamente, no alto de
um cômoro, absolutamente plano, bem em frente à cidade, mais próximo desta,
longe da linha férrea e da estrada de automóvel.
A
Mesa Administrativa, no momento representada pelo Dario, Santiago e Drumond,
combateram todos esses alvitres, alegando que o terreno apresentado, junto ao
atual Hospital era o mais conveniente para a administração, por ser mais
próximo e por já pertencer ao Hospital, facilitando a administração do futuro
asilo em que se transformará o atual e do novo hospital.
Recordo-me
perfeitamente de sua palavra, dizendo uma vez que não me apresentam outro
terreno, você leva os dados deste único, para estudar melhor a maneira de nele
localizar o Hospital, procurando sanar-lhe os defeitos, entre muitos o de estar
muito próximo à linha férrea e à estrada de automóvel e ficar, além disso,
entre estas e o rio São João, não podendo se afastar muito daquelas por se
tornar maior o declive junto ao rio, o que sanaria em parte os outros dois
inconvenientes.
Veio-nos,
afinal, o "croquis" para receber sugestão e estas lhe foram enviadas
e obedecidas, vindo-nos, posteriormente, o projeto definitivo, magnífico em
todos os sentidos e que a todos satisfez. Na carta que V. escreveu ao Dario
sugeriu que se não desse ouvidos a opiniões de leigos que quisessem meter o
bedelho, com intuito de modificá-lo. Esse seu conselho foi exclusivamente,
quanto ao projeto e nunca ao terreno.
Nós
que sempre julgamos que a construção no outro local daria maior realce à obra,
ficamos satisfeitos também, com a verificação que o projeto pode ser
perfeitamente adaptado ao outro terreno, bastando para isso suprimir-se o
porão, oriundo do declive do terreno.
Tudo
fizemos para convencer aos Membros da Mesa para estudarem a possibilidade de
localizá-lo no terreno do Sr. Astolfo Dornas, já anteriormente descrito e de
onde se descortina magnífico panorama, visível de qualquer lado que se chegue à
cidade, seja por via férrea, seja pela rodovia, longe, portanto dos ruídos e da
poeira, com espaço suficiente para ornamentá-lo com um parque em redor, afim de
amenizar a vida dos doentes. Tudo foi em vão.
O
Dario, de princípio pareceu concordar, mas influindo-lhe demasiado no espírito
a opinião do Santiago e como esse, se tornou ferrenho adversário da mudança do
local. O Santiago faleceu, há dias, em Belo Horizonte e nós que somos
favoráveis à outra localização, queríamos agora outra opinião no caso.
Deve-se
recordar do terreno que temos em vista e que foi combatido pelo Dario porque
julgava difícil o abastecimento d'água e por ser de propriedade de terceiros.
Esses argumentos não prevalecem e nós queríamos sua opinião abalizada, mais
ainda porque os defensores da localização junto ao antigo Hospital alegam que
foi esse o maior terreno que V. achou apropriado.
De
vez que a Mesa não concordava com nenhum outro e só lhe tenha apresentado
aquele, outra não podia ser sua atitude. Alegasse mais ainda que até a opinião
de técnicos americanos fosse ouvida e que estes achavam magnífico o terreno.
Isso foi ouvido aqui de gente muito boa.... Não concordando em absoluto com
essas alegações por me recordar perfeitamente de suas palavras que ainda me
foram repetidas aí no Rio quando me indagou se a mesa ainda resistia no intento
de localizar o Hospital junto ao antigo.
Ainda
ontem conversando com o engenheiro da empresa encarregada da construção ele
alegou que no terreno escolhido ela ficará muito mais dispendiosa pela natureza
do terreno e que reconhece todos os inconvenientes do ponto de vista de nós
outros que não nos apegamos a argumentos sem base e solos para localizar a obra
num lugar que possuímos, por certo hão de censurar.
Desejaria,
pois, sua opinião definitiva sobre esse caso, para que de futuro, caso a
construção se realize no local já escolhido, nós tenhamos ressalvada a nossa
responsabilidade. Pedindo-lhe muitas desculpas pela importunação, subscrevo-me
com verdadeira estima e especial simpatia, colega e velho admirador,
A.Lima
Coutinho
Itaúna, 2-VI-46
História
de Itaúna
Referência:
Carta
manuscrita: Doutor Antônio de Lima Coutinho
Acervo
Fotográfico: Casa de Caridade Manoel Gonçalves de Souza Moreira, Prof. Marco
Elísio Chaves Coutinho.
Pesquisa
e organização: Charles Aquino