Clube Atlético Souza Moreira 1961
EM PÉ: Zagalo, Xavante, (nome), Eurípedes, Mário da Cica, Zé dos Lima e Romeu.
AGACHADOS: Luizinho, Zé Boneco, Zuis, Nelson do Lico e Dalzinho.
Acervo Fotográfico: Dimas, Willian Douglas
A
rivalidade dos naturais de Santanense com
os itaunenses era quase centenária.
Afinal, o bairro Santanense tinha vida própria. A fábrica de tecidos era
pioneira. A luz elétrica também. Tinha Grupo Escolar, Campo Futebol, Igreja e
empregos. Promovia seus bailes nos quais as moças do lugar definitivamente não
dançavam com os rapazes de Itaúna. Aliás, era temerário os moços da sede irem à
noite em Santanense. Se ficassem muito "aprumados", era briga e
surra.
Pior
era com o futebol. Se havia jogo da "matriz" com a "
filial", podia apostar: briga na certa!!!
Dia
de domingo. Jogo em Itaúna, no campo do Zé Flávio. Chamado pomposamente de Estádio.
Naqueles tempos, não tinha sequer alambrado. A torcida assistia ao jogo em pé,
nas beiradas do campo. Também não tinha vestiário. Os atletas já vinham
"montados", prontos para a peleja. Todo mundo aboletado na carroceria
de caminhões. Time e torcida. Uma festa.
O
jogo transcorreu sem muitos incidentes. Caneladas de lado a lado. Campo sem
grama. Uma poeira danada. Um baita calor e as torcidas cada vez mais acaloradas.
Jogo empatado até quase o final. O time do Zé Flávio era aguerrido e o de
Santanense não menos. Até que um beque (naquele tempo zagueiro tinha esse nome)
aprumou o atacante do Zé Flávio em plena área.
Pênalti,
sem apelação. Confusão. Empurra, empurra, palavrões, torcida exaltada e briga
generalizada. No meio da confusão, uma facada e um morto.
De
imediato a briga parou. Os de Santanense apanharam o defunto, botaram ele
deitado na carroceria de um dos caminhões e subiram no veículo, prontos para irem
embora com o enorme prejuízo. Levavam um morto, mas, não perderam o jogo.
Antes
de se mandarem, eis que surge o Delegado. Figura ímpar. De nome Sebastião Dias
Duarte, apelidado " Tiao Secreta ". Bebia muito. Sempre de terno
escuro era delegado de "calça curta" denominação que se dava aos
delegados que não eram bacharéis e supriam a falta desses em caso de vacância.
O seu efetivo policial era minúsculo. Um cabo e dois praças. O cabo era o
"Pedro Soldado", que foi promovido e passou a ser chamado de Cabo
Pedro Soldado. O outro, magro e desajeitado tinha o apelido de Pluto. Lembrava
bem o cachorro do Pateta. Do terceiro não me lembro o nome. Sei que era um
baixinho invocado.
O
delegado, bem cheio de cana, mandou o cabo parar o caminhão e disse com autoridade,
segurando a dentadura: "Cabo: você e os praças vão apontar quem estava na
briga. Eu vou mandar descer do caminhão. Depois de identificados, vamos tocar pra
delegacia, lavrar a ocorrência, já com todos os quesitos formulados. Entendido?
"
O
diminuto contingente assentiu às ordens do chefe e começou a ladainha — "Aquele
lá tava na briga"; O delegado dizia: "Desce ". E um a um iam
descendo os de Santanense.
Tudo
ia muito bem e a turma de brigões já somava uns vinte, quando o cabo apontou para
o Tinho, exímio raspador de tacos e aplicador de sinteco, dono de um papo de
fazer inveja. — "Delegado: aquele papudo lá também tava na briga"
De
imediato, antes do delegado manda-lo descer o Tinho respondeu: " Na briga
eu tava, mas papudo é a P.Q.P.!!!!
Foi
a senha para a briga começar de novo. Por pouco não morre mais um!!!
*Urtigão
(desde 1943) é pseudônimo de José Silvério Vasconcelos Miranda, que viveu em
Itaúna nas décadas de 50 e 60. "Causo" enviado especialmente para o
blog Itaúna Décadas em 04/04/2017.