domingo, abril 09, 2017

OLHA O PAU BENEVIDES!!!

Benevides Garcia era fotógrafo e chofer de praça de Itaúna. Naquele tempo não se usava falar em taxista. Não existia o tal taxímetro nem em cidade grande. Tampouco se nomeava alguém de motorista. Chofer era mais chique. Vinha do francês, Chauffer, língua mais elegante.
Tinha um carro de marca Ford e modelo Mercury — preto. Estacionava quase na saída da Travessa Arthur Vilaça, localizado na praça, a poucos metros de sua casa e de seu estúdio de retratista. Fazia corridas para as redondezas e as vezes, lotações para Belo Horizonte.
Em uma dessas ocasiões eu esperava o ônibus dos irmãos Lara para a Capital, quando estacionou do meu lado o Benevides com três matutos dentro do Mercury. Indagou-me: O rapaz, vai pra Belo Horizonte? Respondi que sim e ele disse-me que estava fazendo uma lotação para a Capital. Iria cobrar o mesmo preço do ônibus. Se não me interessava. Respondi assertivamente e de imediato apareceu outro interessado. Lotação completa. Pagamento adiantado e toca para BH.
A estrada até Juatuba não era muito diferente. De terra batida, passava por dentro de Azurita, de Mateus Leme e o mesmo trecho da atual MG 050, naqueles tempos, MG O7. Margeava a ferrovia. Em Juatuba, demandava caminho para Vianópolis, passando por um lugarejo de nome Ponte Nova, onde atravessava o Paraopeba. Ponte estreita, para um só veículo. Na margem esquerda um velho e pequeno cemitério.
Um pouco a frente, chegava-se a Vianópolis. Chega de chão e poeira. Começava o calçamento. Pé de moleque. Proeza de Benedito Valadares, que tentou e não conseguiu calçar a estrada de Belo Horizonte a Pará de Minas, seu reduto eleitoral.
Em Vianópolis, existiam umas casas, um bar, uma venda e um posto da polícia militar com uma cancela de madeira. Após a cancela, entrada para Esmeraldas e caminho para Betim.
Os três capiaus estavam no banco de trás do carro. Pelo visto, nunca tinham passado por ali de automóvel. Ao verem que o Benevides não diminuía a marcha, os três em coro falaram para o chofer: " Olha o pau Benevides"!
Tanto eu, quanto o outro passageiro sabíamos que a cancela permitia a passagem de veículos menores. Só impedia ônibus e caminhões. Ficamos impassíveis e o motorista continuou sua marcha. Mais trinta metros e o aviso veio de novo do banco traseiro: " Olha o pau Benevides"!!!
Benevides Garcia continuava impávido ao volante de seu Mercury. Carro robusto, de motor possante de seis cilindros. Tempo de gasolina importada, muito boa. Ao verem que o retratista chofer não atendia ao apelo os aflitos matutos gritaram a plenos pulmões: “OLHA O PAU BENEVIDES !!!!!!!
E imediatamente agacharam no chão do carro para não terem as cabeças apanhadas pela cancela. O sério retratista, de pouca conversa e de riso, teve de estacionar o carro. Ataque de riso que o impedia de dirigir.

*Urtigão (desde 1943) é pseudônimo de José Silvério Vasconcelos Miranda, que viveu em Itaúna nas décadas de 50 e 60. "Causo" enviado especialmente para o blog Itaúna Décadas em 05/04/2017.