Benevides
Garcia era fotógrafo e chofer de praça de Itaúna. Naquele tempo não se usava
falar em taxista. Não existia o tal taxímetro nem em cidade grande. Tampouco se
nomeava alguém de motorista. Chofer era mais chique. Vinha do francês, Chauffer, língua mais elegante.
Tinha
um carro de marca Ford e modelo Mercury — preto. Estacionava quase na saída da Travessa Arthur
Vilaça, localizado na praça, a poucos metros de sua casa e de seu estúdio de
retratista. Fazia corridas para as redondezas e as vezes, lotações para Belo
Horizonte.
Em
uma dessas ocasiões eu esperava o ônibus dos irmãos Lara para a Capital, quando
estacionou do meu lado o Benevides com três matutos dentro do Mercury. Indagou-me:
O rapaz, vai pra Belo Horizonte? Respondi que sim e ele disse-me que estava
fazendo uma lotação para a Capital. Iria cobrar o mesmo preço do ônibus. Se não
me interessava. Respondi assertivamente e de imediato apareceu outro
interessado. Lotação completa. Pagamento adiantado e toca para BH.
A
estrada até Juatuba não era muito diferente. De terra batida, passava por
dentro de Azurita, de Mateus Leme e o mesmo trecho da atual MG 050, naqueles
tempos, MG O7. Margeava a ferrovia. Em Juatuba, demandava caminho para Vianópolis,
passando por um lugarejo de nome Ponte Nova, onde atravessava o Paraopeba.
Ponte estreita, para um só veículo. Na margem esquerda um velho e pequeno
cemitério.
Um
pouco a frente, chegava-se a Vianópolis. Chega de chão e poeira. Começava o
calçamento. Pé de moleque. Proeza de Benedito Valadares, que tentou e não conseguiu calçar a
estrada de Belo Horizonte a Pará de Minas, seu reduto eleitoral.
Em
Vianópolis, existiam umas casas, um bar, uma venda e um posto da polícia
militar com uma cancela de madeira.
Após a cancela, entrada para Esmeraldas e caminho para Betim.
Os
três capiaus estavam no banco de trás do carro. Pelo visto, nunca tinham passado
por ali de automóvel. Ao verem que o Benevides não diminuía a marcha, os três
em coro falaram para o chofer: " Olha
o pau Benevides"!
Tanto
eu, quanto o outro passageiro sabíamos que a cancela permitia a passagem de veículos
menores. Só impedia ônibus e caminhões. Ficamos impassíveis e o motorista
continuou sua marcha. Mais trinta metros e o aviso veio de novo do banco traseiro:
" Olha o pau Benevides"!!!
Benevides
Garcia continuava impávido ao volante de seu Mercury. Carro robusto, de motor
possante de seis cilindros. Tempo de gasolina importada, muito boa. Ao verem
que o retratista chofer não atendia ao apelo os aflitos matutos gritaram a
plenos pulmões: “OLHA O PAU BENEVIDES
!!!!!!!
E
imediatamente agacharam no chão do carro para não terem as cabeças apanhadas
pela cancela. O sério retratista, de pouca conversa e de riso, teve de
estacionar o carro. Ataque de riso que o impedia de dirigir.
*Urtigão
(desde 1943) é pseudônimo de José Silvério Vasconcelos Miranda, que viveu em
Itaúna nas décadas de 50 e 60. "Causo" enviado especialmente para o blog Itaúna Décadas em 05/04/2017.