Urtigão*
O
dr. Guaracy era uma figura admirável em todos os aspectos. Ao assumir o cargo
de diretor da Escola Normal, de imediato botou mãos à obra para modernizar o
educandário. O banheiro dos rapazes só tinha privadas. Dr. Guaracy resolveu que
o lugar tinha de ter também um mictório.
Servia
mais estudantes ao mesmo tempo, mais fácil de limpar e gastava menos água.
Coisa sem luxo. De cimento queimado, uma torneira para ser aberta de tempos em
tempos para escorrer o " xixi " e um ralo no final da instalação. Contratou
os pedreiros e só tinha uma dúvida. A altura exata mictória, em declive, que
pudesse servir a todos os estudantes.
Eu
estava na primeira série ginasial e meu irmão Antônio de Pádua, já na terceira
série. Éramos, sem nenhum favor, os dois menores alunos do ginásio. Eu media
exatos 1,29 m e meu irmão, por sinal, mais velho do que eu, 1, 27 m. Na medida
para tirar a dúvida do diretor. Meu irmão passava na porta do vetusto prédio na
rua Arthur Bernardes indo buscar carne no açougue do Juca, quando foi chamado
pelo dr. Guaracy – Padinha, (esse era
o apelido dele no ginásio) venha até aqui!
Meio
desconfiado, meu irmão foi até o diretor e se colocou ao seu dispor. De imediato foi levado até o mictório em obras
e lá atendeu ao pedido do dr. Guaracy:
Faça de conta que você vai urinar na parede. Qual é a altura ideal, sem
fazer esforço! Meu irmão atendeu o pedido e fez a simulação. Feito isso, os pedreiros marcaram
a altura. E a Escola Normal ganhou um mictório sob medida e à prova de
reclamações.
O fato é verídico e aconteceu no início de
1955. A história é verdadeira. Meu irmão é agrônomo e fará setenta e cinco anos
em maio. Era o xodó dos professores. Ele entrou no ginásio antes de fazer onze
anos. Baixinho, bom de cabeça e de briga. Depois crescemos. Não muito!!!
* Urtigão (desde 1943) é pseudônimo de José
Silvério Vasconcelos Miranda, que viveu em Itaúna nos anos cinquenta e
sessenta. Crônica escrita e enviada especialmente para o blog Itaúna Décadas em 01/04/2017
Acervo: Shorpy
Acervo: Shorpy