quarta-feira, abril 12, 2017

ITAÚNA: AULA DE FRANCÊS



O professor Geraldo Santos meu professor de francês no curso ginasial. A língua de Victor Hugo, Moliere, Emile Zola, Balzac e outros clássicos era ensinada de imediato, assim que chegávamos ao ginásio. O inglês, que me perdoem os francófilos, sem dúvida a língua mais rica entre todas, só chegava para os ginasianos na segunda série.
O professor era paulista. De Ribeirão Preto. Contava maravilhas de sua terra e ninguém ousava contesta-lo. São Paulo era outro mundo. Lembro-me que tecia elogios inflamados a um fruto de nome tamarindo. Muitos anos depois fui apresentado a tal iguaria. Minha mulher nasceu em Uberaba e passou a maior parte de sua infância em São José do Rio Preto. Vizinha de Ribeirão. Ela também dizia adorar a tal fruta. Confesso: no meu sentir, uma bela porcaria. Azedo e com pouco proveito. Fazer o que.
Tirando a empáfia paulista, o professor Geraldo era boa gente. Nunca soube porque razão deu com os costados em Itaúna. Fincou raízes, casou-se com D. Nívea Santiago, teve filhos e creio, também netos. Era bom professor. Severo, gozador e às vezes “cáustico”. Nos dias de hoje, de tempos politicamente corretos, certamente seria processado por assédio moral. Outros tempos e outros costumes.
Do pouco que ainda sei de francês, devo a ele. Serviu até (e como) nos meus tempos de hotelaria. Dava para me virar muito bem. Os professores do meu tempo sempre tinham uma forma de atropelar os maus alunos e mesmo os " tirados " a sabichões com frases que davam a entender uma coisa e ao serem traduzidas, levavam a outro significado. Umas das preferidas de nosso saudoso professor era a seguinte:

"Je n'importe que le mulle manque, je vais vous rosetter";

Tradução do aluno: eu não me importo que a mula manque. Eu quero é rosetar!!!

Tradução correta: não me importo que faltem os mariscos, eu que e vos condecorar!!!


* Urtigão (desde 1943) é pseudônimo de José Silvério Vasconcelos Miranda, que viveu em Itaúna nas décadas de 50 e 60. Se houver alguma incorreção no francês, as minhas desculpas. Já se passaram sessenta e dois anos.
 "Causo" enviado especialmente para o blog Itaúna Décadas em 12/04/2017.

Imagem: meramente ilustrativa


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