O
professor Geraldo Santos meu professor de francês no curso ginasial. A língua
de Victor Hugo, Moliere, Emile Zola, Balzac e outros clássicos era ensinada de imediato,
assim que chegávamos ao ginásio. O inglês, que me perdoem os francófilos, sem
dúvida a língua mais rica entre todas, só chegava para os ginasianos na segunda
série.
O
professor era paulista. De Ribeirão Preto. Contava maravilhas de sua terra e
ninguém ousava contesta-lo. São Paulo era outro mundo. Lembro-me que tecia
elogios inflamados a um fruto de nome tamarindo. Muitos anos depois fui
apresentado a tal iguaria. Minha mulher nasceu em Uberaba e passou a maior
parte de sua infância em São José do Rio Preto. Vizinha de Ribeirão. Ela também
dizia adorar a tal fruta. Confesso: no meu sentir, uma bela porcaria. Azedo e
com pouco proveito. Fazer o que.
Tirando
a empáfia paulista, o professor Geraldo era boa gente. Nunca soube porque razão
deu com os costados em Itaúna. Fincou raízes, casou-se com D. Nívea Santiago,
teve filhos e creio, também netos. Era bom professor. Severo, gozador e às
vezes “cáustico”. Nos dias de hoje, de tempos politicamente corretos,
certamente seria processado por assédio moral. Outros tempos e outros costumes.
Do
pouco que ainda sei de francês, devo a ele. Serviu até (e como) nos meus tempos
de hotelaria. Dava para me virar muito bem. Os professores do meu tempo sempre
tinham uma forma de atropelar os maus alunos e mesmo os " tirados " a
sabichões com frases que davam a entender uma coisa e ao serem traduzidas,
levavam a outro significado. Umas das preferidas de nosso saudoso professor era
a seguinte:
"Je n'importe que le
mulle manque, je vais vous rosetter";
Tradução do aluno:
eu não me importo que a mula manque. Eu quero é rosetar!!!
Tradução correta:
não me importo que faltem os mariscos, eu que e vos condecorar!!!
*
Urtigão (desde 1943) é pseudônimo de José Silvério Vasconcelos Miranda, que
viveu em Itaúna nas décadas de 50 e 60. Se
houver alguma incorreção no francês, as minhas desculpas. Já se passaram sessenta
e dois anos.
"Causo" enviado especialmente para o blog Itaúna Décadas em 12/04/2017.
Imagem: meramente ilustrativa