CACHAÇAS
ITAUNENSE E UMA BEBIDA SINGULAR
Na
minha juventude bebi muito. Mais do que devia. Se não deixasse a
"marvada" ela teria me consumido. Acordei a tempo. Outros amigos não
fizeram o mesmo. "Viajaram antes do combinado". Uma pena.
Na
nossa época bebia-se muito. Uisque era coisa muito rara. Comum mesmo era vinho
vagabundo, de marca "Vênus", vermutes e cachaça. Era " amansada
" com limão, fernet, groselha, vermute ou coca cola. Todas as combinações
eram péssimas.
Itaúna,
se bem me lembro existiram três boas cachaças — A cachaça Cabecinha no Ombro,
produzida na Fazenda dos Chaves, um pouco acima da Barragem do Benfica.
Tinha uma bela cachoeira na qual se apanhava lambaris com a mão. Engenho e
alambique. Garapa e cachaça quente para quem se arriscasse. Dava uma lombeira!!!;
A cachaça Princesinha era
engarrafada na beira da linha num prédio que ainda existe. Dos irmãos Batista.
Hélio e Jairo. Infelizmente, já se foram; A
cachaça Marieta, era a melhor de todas. Pinga afamada, feita pelo Lázaro
Coutinho lá pelas bandas da nascente do córrego da Praia. Pinga cara e rara.
Bebi dela poucas vezes.
No
título, mencionei uma Bebida Singular.
Quando criança, via falar dela e a vi algumas vezes nas prateleiras da
Petisqueira, do Bar Azul e do Bar Sant'Ana. Garrafas quadradas, iguais às do uísque
Johnnie Walker. No rótulo amarelo, um
cachorro São Bernardo. Chamava-se Água Vida. Diziam que era feita por
um suíço, numa destilaria de nome São Bernardo. Uma alusão ao cão que salva
pessoas na neve e a terra natal do homem.
Tempos
depois, parece-me que o homem parou a produção. Não sei se morreu ou se mudou
da cidade. A bebida era na realidade uma acquavit, uma espécie, de gin ou vodka, dupla ou triplamente destilada,
sem cheiro e sem cor. Diziam que era muito forte. Muitos a bebiam misturada com
guaraná ou soda limonada. A destilaria era num prédio onde funcionou
posteriormente, muitos anos depois a Rádio Clube de Itaúna. Por ser sem gosto e
sem cheiro, a tal Água Vida caiu nas graças de muitos. Dizem as más línguas que a
danada vitimou uma geração. A ser comprovado!
*Urtigão
(desde 1943) é pseudônimo de José Silvério Vasconcelos Miranda, que viveu em
Itaúna nas décadas de 50 e 60. "Causo" enviado especialmente para o
blog Itaúna Décadas em 08/04/2017
Acervo: Shorpy