domingo, abril 09, 2017

CACHAÇAS ITAUNENSE


CACHAÇAS ITAUNENSE E UMA BEBIDA SINGULAR

Na minha juventude bebi muito. Mais do que devia. Se não deixasse a "marvada" ela teria me consumido. Acordei a tempo. Outros amigos não fizeram o mesmo. "Viajaram antes do combinado". Uma pena.
Na nossa época bebia-se muito. Uisque era coisa muito rara. Comum mesmo era vinho vagabundo, de marca "Vênus", vermutes e cachaça. Era " amansada " com limão, fernet, groselha, vermute ou coca cola. Todas as combinações eram péssimas.
Itaúna, se bem me lembro existiram três boas cachaças — A cachaça Cabecinha no Ombro, produzida na Fazenda dos Chaves, um pouco acima da Barragem do Benfica. Tinha uma bela cachoeira na qual se apanhava lambaris com a mão. Engenho e alambique. Garapa e cachaça quente para quem se arriscasse. Dava uma lombeira!!!; A cachaça Princesinha era engarrafada na beira da linha num prédio que ainda existe. Dos irmãos Batista. Hélio e Jairo. Infelizmente, já se foram; A cachaça Marieta, era a melhor de todas. Pinga afamada, feita pelo Lázaro Coutinho lá pelas bandas da nascente do córrego da Praia. Pinga cara e rara. Bebi dela poucas vezes.
No título, mencionei uma Bebida Singular. Quando criança, via falar dela e a vi algumas vezes nas prateleiras da Petisqueira, do Bar Azul e do Bar Sant'Ana. Garrafas quadradas, iguais às do uísque Johnnie Walker. No rótulo amarelo, um cachorro São Bernardo. Chamava-se Água Vida. Diziam que era feita por um suíço, numa destilaria de nome São Bernardo. Uma alusão ao cão que salva pessoas na neve e a terra natal do homem.
Tempos depois, parece-me que o homem parou a produção. Não sei se morreu ou se mudou da cidade. A bebida era na realidade uma acquavit, uma espécie, de gin ou vodka, dupla ou triplamente destilada, sem cheiro e sem cor. Diziam que era muito forte. Muitos a bebiam misturada com guaraná ou soda limonada. A destilaria era num prédio onde funcionou posteriormente, muitos anos depois a Rádio Clube de Itaúna. Por ser sem gosto e sem cheiro, a tal Água Vida caiu nas graças de muitos. Dizem as más línguas que a danada vitimou uma geração. A ser comprovado!

*Urtigão (desde 1943) é pseudônimo de José Silvério Vasconcelos Miranda, que viveu em Itaúna nas décadas de 50 e 60. "Causo" enviado especialmente para o blog Itaúna Décadas em 08/04/2017

Acervo: Shorpy