O Projeto de Lei
Nº 56/2024, aprovado na Reunião Ordinária do dia 13 de agosto de 2024 pela
Câmara Municipal de Itaúna (MG), propôs a proibição do "vilipêndio de
dogmas e crenças relativas à religião cristã sob forma de sátira,
ridicularização ou menosprezo em ato isolado ou em grupo através de eventos,
desfiles carnavalescos, espetáculos, passeatas e marchas de ONGs, associações,
agremiações e partidos políticos e do vandalismo e pichação contra símbolos e
monumentos cristãos no âmbito do Município de Itaúna".
A análise do
documento revela questões centrais que sugerem possíveis restrições e um foco
exclusivo na proteção de uma única fé, a cristã, dentro do município. Isso
levanta sérias preocupações sobre a imparcialidade religiosa, uma vez que o
texto não menciona a proteção equivalente para outras religiões ou crenças, o
que pode ser interpretado como uma violação do princípio da laicidade do
Estado.
O Estado laico
deve garantir a igualdade de tratamento a todas as religiões, sem favorecer
nenhuma em detrimento das outras. No entanto, o projeto em questão parece ter
como objetivo a proteção exclusiva da fé cristã, desconsiderando a necessidade
de assegurar proteção equivalente a outras crenças religiosas. Isso pode ser
interpretado como uma tentativa de impor a supremacia cultural de uma religião
específica. Além disso, a justificativa do projeto parece estar baseada em
incidentes recentes envolvendo a fé cristã, o que sugere que a proposta é uma
reação a eventos específicos, e não uma política abrangente de respeito à
diversidade religiosa.
Importante
destacar que, no mesmo dia da votação do Projeto de Lei, uma vereadora propôs "fazer
uma emenda modificativa" no projeto, sugerindo a inclusão de todas as
religiões, ao invés de focar exclusivamente na religião cristã. A intenção era
garantir que o projeto protegesse as manifestações religiosas de todas as
crenças, refletindo a diversidade religiosa presente tanto na cidade quanto no
mundo. A vereadora questionou a possibilidade de manter a expressão "religião
cristã" juntamente com "demais religiões" no texto do projeto,
mas foi informada que isso não seria possível.
Diante dessas
considerações, é fundamental que os responsáveis pela aprovação deste projeto
de lei reconsiderem sua redação, buscando garantir uma verdadeira igualdade
para todas as crenças religiosas. A laicidade do Estado deve ser reafirmada,
assegurando de forma equânime a proteção de todas as religiões, sem qualquer
percepção de favorecimento ou discriminação. O projeto poderia ser aprimorado
para garantir que todas as crenças sejam protegidas igualmente, promovendo o
respeito e a convivência pacífica entre as diversas manifestações de fé, sem
comprometer a liberdade de expressão e a neutralidade estatal.
Sete dias após a
aprovação do Projeto de Lei nº 56/2024 pela Câmara Municipal de Itaúna, Minas
Gerais, o Prefeito Municipal sancionou a Lei nº 6.109 em 20 de agosto de 2024.
Durante a votação da emenda ao projeto no Plenário da Câmara, 13 vereadores
votaram contra, 1 a favor e 3 se abstiveram. Embora a emenda tenha sido
rejeitada, o projeto de lei original foi aprovado por unanimidade, consolidando
assim a “PROTEÇÃO UNIDIMENSIONAL”.
Charles
Aquino — "Shavua Tov"
Reunião Ordinária 13/08/2024 - Plenário da Câmara Municipal de Itaúna/MG
Apresentamos a
todos os leitores do blog uma verdadeira joia da literatura mineira: Sérgio
Nogueira de Araújo, mais conhecido como Sérgio Tarefa. Este versátil trovador,
herdeiro da rica tradição de contadores de histórias do interior de Minas
Gerais, nos brindará com seus famosos e irreverentes “causos”, que agora
estarão disponíveis aqui no blog.
Neto do renomado
sertanista Jove Soares Nogueira, cujo nome é eternizado em uma das mais
importantes avenidas de Itaúna, Sérgio Tarefa traz em sua prosa a autenticidade
e a vivacidade do cotidiano mineiro. Com um talento nato para capturar o
espírito do interior, ele nos convida a embarcar em uma jornada de risos,
reflexões e uma boa dose de mineiridade.
Sérgio Tarefa já
é um nome consagrado, com duas obras publicadas que refletem seu domínio da
arte de contar histórias. Em “Causos Barranqueiros”, ele nos transporta para a
antiga Sant’Ana de São João Acima, local onde ainda ressoa a presença do mestre
Guimarães Rosa. Através dos relatos reunidos ao longo dos anos, inicialmente
publicados na imprensa local de Itaúna, Tarefa reafirma sua posição como um dos
grandes guardiões da tradição popular. Com bom humor e um toque de nostalgia, o
autor oferece ao leitor uma pausa na rotina, uma oportunidade de se reconectar
com as raízes e as histórias que moldaram a identidade do interior mineiro.
Já em “Carnaval:
uma explosão de alegria + causos”, Tarefa nos conduz por um passeio histórico
pelos carnavais de Itaúna, desde 1929 até 2023. Este livro é um tributo ao
espírito festeiro do itaunense, celebrando tanto os bailes de salão quanto os
animados desfiles de blocos e escolas de samba que tomaram as ruas da cidade.
Com uma narrativa envolvente, o autor captura a energia e o colorido do
carnaval, relembrando os dias de glória e as inesquecíveis noites em que a
cidade se transformava em um grande palco de alegria e cultura.
Convidamos todos
os leitores a se deleitarem com os causos de Sérgio Tarefa, que agora estarão
disponíveis no blog. Cada história é um convite para se perder nas memórias,
rir das situações inusitadas e se emocionar com as ricas tradições que moldam o
nosso querido interior de Minas Gerais. Não perca a oportunidade de conhecer
este contador de histórias único, cuja prosa nos faz sentir como se
estivéssemos sentados à beira de um fogão a lenha, ouvindo os relatos de um
velho amigo.
ORIGEM DO APELIDO: TAREFA
"Estudei o ginasial em um colégio interno na cidade de Cachoeira do Campo (Colégio Dom Bosco), próximo a Ouro Preto, cujos padres eram quase todos europeus onde o exercício para casa era chamado de "TAREFA". Após 3 anos no colégio interno vim cursar a 4a série ginasial no Colégio Santana. Em uma aula de matemática o Padre Francisco, um Holandês com forte sotaque solicitou que o lembrasse de passar o exercício para casa após o término da aula. Como ninguém se lembrou, após o término da aula eu me levantei e questionei o professor: Padre o Sr. vai passar a Tarefa para casa? Tarefa, que ser tarefa, ho, ho, ho...... A partir daquele dia ele me passou a me chamar de tarefa e o apelido pegou.
O poema "O
Mendigo" de Nise Campos escrito em 1937, apresenta uma reflexão profunda
sobre a condição humana, a passagem do tempo, e a fragilidade das conquistas
materiais diante das incertezas da vida. Através da figura do mendigo, a poeta
explora temas como o envelhecimento, a desilusão, a solidão, e a perda de tudo
o que um dia foi importante.
O poema é
estruturado em forma de diálogo, o que aumenta a carga emotiva da narrativa. A
repetição do pedido de esmola pelo mendigo reforça sua situação desesperadora e
a sua condição de desamparo. O uso de versos simples e diretos, em uma
linguagem acessível, contribui para a identificação imediata com a dor e a
miséria do personagem.
O mendigo é
descrito como uma figura quase espectral, alguém que carrega no corpo e na voz
os sinais do sofrimento prolongado. A "neve do tempo" que branqueara
seus cabelos e a "espessa barba" que perdeu a cor são metáforas que
sugerem não apenas a velhice, mas também a erosão da identidade e da
vitalidade. Seus olhos são comparados a um "cofre aberto", uma imagem
poderosa que sugere que tudo o que restou ao mendigo é a dor, que ele carrega
como um tesouro sombrio.
O tema da perda é
central no poema. O mendigo revela que já foi rico, poderoso, e amado, mas tudo
isso foi destruído por um "falso amigo" e um "falso norte".
Essas expressões sugerem traição e a escolha errada de caminhos, elementos que
conduzem ao fracasso e à ruína. A queda do personagem de uma posição elevada
para a mendicância é uma reflexão sobre a impermanência e a vulnerabilidade das
conquistas humanas.
O contraste entre
o passado glorioso do mendigo e sua presente miséria cria uma tensão trágica. A
ironia está presente na transformação de alguém que um dia possuía
"palácios" em alguém que agora depende da caridade para sobreviver.
Esse contraste sublinha a ideia de que a fortuna é efêmera e que o destino pode
ser cruelmente caprichoso.
O poema convida o
leitor a refletir sobre o valor real das posses materiais e a transitoriedade
da vida. A narrativa triste e melancólica do mendigo serve como um lembrete de
que o orgulho, a riqueza e o poder são frágeis e podem desaparecer com a mesma facilidade
com que surgem. Além disso, o poema sugere a importância da empatia e da
compreensão para com aqueles que a sociedade muitas vezes marginaliza e
esquece.
Assim, "O
Mendigo" é uma meditação poética sobre a decadência humana e a necessidade
de olhar além das aparências para reconhecer a dignidade e a história que cada
indivíduo carrega, independentemente de sua condição atual.
O MENDIGO
Nise Campos — 1937
— Uma esmola, moça! Era tão velho o pobre,
Que se não podia calcular-lhe os anos ...
Trôpego e cansado pelo mundo andava,
Vítima da dor e dos desenganos ...
A neve do tempo branqueara seus cabelos bastos.
E a espessa barba lhe roubar à cor.
Seus olhos pareceram-me, ao fitá-los,
Um cofre aberto, onde guardara a dor.
— Uma esmola, moça! Repetiu-me ele.
Uma esmola do velho sem carinho e lar ...
E a voz tremia-lhe na garganta rouca,
Sendo ela triste como seu olhar.
Tinha nas faces o palor doentio.
Dos que não tem lume, dos que não tem pão.
De que lhe serviria a moeda avara
Que lhe lançasse na rugosa mão?
Sentei-me ao lado do velhinho pobre.
Ele contou-me o drama da existência sua.
Havia lágrimas nos seus olhos tristes
Que se alongavam pela extensão da rua.
— Fui rico, moça! Fui poderoso e forte!
— Tive palácios! Tive amor até!
Um falso amigo atrapalhou-me a sorte
E um falso norte amorteceu-me a fé!
Hoje, sou trapo, pelo chão jogado!
Nem o céu da Pátria me é dado ver!...
Tenha piedade deste desterrado,
Que a Pátria ama, como ao próprio ser!...
Enxuguei-lhe as lágrimas que caiam quentes,
E tão ardentes como o ardente amor,
E, compadecida desse desgraçado,
A vivei-lhe a fé e amorteci-lhe a dor ...
Filha querida, que agora achei!
—Que nunca seja por ninguém traída,
Dizendo isso, abençoou-me crente,
Com a fé ardente que ressuscitei.
Seguiu o velho o seu caminho certo.
Escutei, atenta, os rogativos seus
Estendendo a mão e para o algo olhando:
— Uma esmola, amigo, pelo amor de Deus!
Aperte o play e se encante com a narrativa deste vídeo!
Edson D’Amato
Não irei levar ao
conhecimento dos leitores desta “Polianteia”, os dados biográficos de uma vida
dedicada quase que exclusivamente ao magistério, mas, sim, por em relevo as
qualidades de espírito e de coração dessa incansável e modelar mestra. O
magistério é um ideal, em que os espinhos são mais abundantes do que as flores.
E somente os que estão marcados pela vocação para o ensino, abraçam esse ideal,
com os olhos fixos na grandeza da Pátria.
Nise Campos é,
antes e acima de tudo, professora dedicada, que não mede sacrifícios, no
sentido de formar, intelectual e espiritualmente, os futuros responsáveis pelo
destino deste País. Nessa missão árdua e espinhosa, que vem sendo realizada,
desde longos anos, põe todo o seu entusiasmo, todo o seu devotamento e todas as
energias latentes de sua inteligência aprimorada. Incansável no seu trabalho
diuturno, não tem horário para lecionar. Se alguma criança a procura interessada
em estudar, abre os seus braços e sempre, com sorriso aos lábios, procura
encaminhá-la pelas sendas da virtude e da sabedoria.
No poema “O
Mendigo” escrito em 1937, nota-se que a poetisa escolhera um tema, que comove a
qualquer leitor. Entre os versos musicalmente cadenciados surge a figura daquele
que perambula pelas ruas da cidade maltrapilho e esfomeado, à procura de uma
esmola pelo amor de Deus.
Referências:
Elaboração, arte e análise do poema: Charles Aquino
Poema: Professora Nise Álvares da Silva Campos - Nise Campos
Comentarista: Edson D'Amato
Revista Acaiaca:O Mendigo. Nise Campos, p. 127-128. Ano: 1954, Org. Celso Brant, Belo Horizonte/MG.
O poema “O
Silêncio de Meu Pai”, escrito pelo professor Phonteboa e incluído no minilivro
“Presença Paterna” – uma obra de dimensões singulares (2,6 x 3,4 cm) e fonte no
tamanho 4,5 –, é uma peça literária cuidadosamente elaborada para
"afetar" profundamente seus leitores. Lançado em 2024, este
minilivro, apesar de seu formato diminuto, revela-se grandioso em cada palavra,
ampliando-se em significado à medida que o leitor mergulha na mensagem que o
autor pretende transmitir. Phonteboa destaca que cada um tem seu próprio jeito
de se tornar presente, e é precisamente essa presença silenciosa que o poema
captura com maestria.
O poema explora a
profundidade e a complexidade do silêncio como um meio de comunicação poderoso
e, muitas vezes, subestimado. Através do silêncio do pai, o eu lírico
experimenta uma conexão íntima e profunda que vai além das palavras. Este
silêncio é apresentado não como ausência, mas como presença repleta de
significados e sentidos, algo que ocupa "todos os espaços" do ser do
filho, desencadeando reações e reflexões profundas.
A insistência em
falar, por parte do filho, pode ser vista como uma tentativa de preencher um
vazio que, na verdade, não existe, pois o silêncio do pai já está pleno de
significado. Isso reflete a dificuldade humana em aceitar e compreender o
silêncio como uma forma legítima e rica de comunicação, especialmente em uma
sociedade onde o falar é muitas vezes mais valorizado que o ouvir.
À medida que o
poema avança, o silêncio do pai adquire uma dimensão transcendente. Torna-se
"uma pausa no barulho do mundo", um momento de introspecção e busca
por novos significados, novos pensamentos. É neste ponto que o silêncio se
transforma em eternidade – quando o pai se vai, seu silêncio permanece como um
legado, algo que agora o filho compreende em sua totalidade.
O desfecho do
poema é especialmente tocante. O eu lírico, ao perceber a eternidade do pai no
silêncio, cala-se, indicando que finalmente compreendeu e aceitou o poder desse
silêncio. O silêncio do pai não é mais algo a ser preenchido ou rompido, mas
respeitado e honrado.
Em termos
literários, o poema utiliza a repetição do verso "O silêncio de meu
pai" para enfatizar a centralidade dessa ideia na vida do eu lírico. O uso
de paradoxos, como "o silêncio que comunica" e "o silêncio que
ocupa todos os espaços", reflete a complexidade do tema e a rica
ambiguidade do silêncio como uma forma de expressão.
No geral, o poema
é uma reflexão profunda sobre a comunicação não-verbal, o legado dos pais, e a
transformação do silêncio em um espaço de memória e conexão espiritual. É um
convite à introspecção e à valorização dos momentos de quietude, tanto na vida
quanto na morte. O professor Phonteboa, com sua obra pequena em dimensões
físicas, mas imensa em profundidade emocional, nos lembra que a presença se
manifesta de formas diversas e que o silêncio, muitas vezes, é a mais eloquente
delas.
Dimensões singulares do minilivro (2,6 x 3,4 cm) e fonte no tamanho 4,5
O SILÊNCIO DE MEU
PAI
O silêncio de meu
pai era repleto de significados ...
Estava ali ao meu
lado por um longo tempo sem pronunciar som algum
E como comunicava
...
O silêncio do meu
Pai ocupava todos os espaços de meu ser
E provocava em
mim reações descabidas
E eu insistia em
falar...
E não ouvia
plenamente o silêncio de meu pai.
O silêncio de meu
pai
Era uma pausa no
barulho no mundo
Era uma busca de
um novo sentido
De um novo
momento
De um novo
pensamento.
O silêncio de meu
pai
É, agora, eterno.
E, então, percebo
que meu pai tornou-se eterno
No próprio
silêncio que era o silêncio de meu pai.
No silêncio de
meu pai
Calo-me.
Aperte o play e se encante com a narrativa deste vídeo!
Referências:
PHONTEBOA G. Presença Paterna. O Silêncio de Meu Pai. 1ª Ed. Itaúna/MG, 2024, p.39-42.
Contato do Autor: phonteboa@gmail.com
Elaboração, arte e análise do poema: Charles Aquino
Em um pacato
bairro do interior de Minas Gerais que por muito pouco chegou virar uma cidade,
havia uma loja que era a verdadeira definição: “vender de tudo”. O dono, senhor
Viriato, era um comerciante astuto e conhecido pela sua habilidade de negociar
qualquer coisa, desde encontrar o alpiste pra passarinho até pregos e pau pra
mata-burros.
Viriato, magro,
alto e de sorriso fácil, era também metódico em sua simplicidade. Todos no
bairro de Santanense o conheciam como uma lenda viva, sempre preparado com uma
resposta na ponta da língua e atitudes práticas. Após uma semana intensa de
trabalho, ele decidiu levar a família para jantar no restaurante do bairro, uma
tradição na sexta-feira.
O restaurante
pertencia ao senhor Aldo, outra figura emblemática do bairro. O empresário era conhecido
também por suas respostas diretas e sem rodeios. Não havia problema que ele não
conseguisse resolver com poucas palavras e muito humor. Além de proprietário,
ele também fazia as vezes de garçom, sempre com um ar de quem já tinha visto de
tudo.
Naquela noite,
a lua cheia iluminava o restaurante com um brilho prateado quando o senhor Viriato
e sua família chegaram. Após se ajeitarem à mesa, Viriato, com a curiosidade de
quem estava prestes a descobrir uma nova iguaria, começou a ler o cardápio.
Seus olhos brilharam ao ver “sopa completa de legumes” – parecia o final
perfeito para uma semana de trabalho árduo.
Quando o
senhor Aldo chegou para anotar o pedido, a cena era de pura mineirice: uma
mistura de simplicidade e astúcia que só se encontra em cidade interiorana. Com
seu jeito peculiar, ele perguntou:
— O senhor
quer a sopa no prato raso ou no prato fundo?
Viriato, sem
pestanejar e com a mente prática e rasteira, respondeu:
— Não quero, o
senhor vai fazer o seguinte: vai jogar toda sopa no chão lá dentro e vai sair
puxando ela de rodo, que eu irei parar a boca na porta pra tomar!
A resposta
causou um momento de silêncio, seguido de gargalhadas estrondosas que ecoaram
pelo restaurante. Os outros clientes, acostumados com as peculiaridades das
figuras locais, não puderam conter e seguiram o mesmo ritmo. Seu Aldo, sem
perder a compostura, abriu um sorriso largo e, com seu jeito peculiar,
respondeu:
— Pois não,
senhor Viriato! Vou escolher o maior rodo e preparar a sopa mais rápida da
minha vida.
Enquanto os
outros clientes ainda se recuperavam do ataque de risos, Viriato e sua família
desfrutaram de uma noite agradável, com histórias e risadas que se tornaram
lenda no bairro. Naquela noite, Santanense não só testemunhou mais um capítulo
das sagas de Viriato e Aldo, mas também reforçou o espírito comunitário, onde o
humor pitoresco e a austeridade tinham o poder de transformar momentos
cotidianos em memórias inesquecíveis.
Aperte o play e se encante com a simplicidade e astúcia desse encontro épico!
Referências:
Organização, arte e roteiro: Charles Aquino
"Estórias quase aVACAlhadas"
Narrativa do Barranqueiro Nenzinho - Professor Renderson Alves
Nascido em 7 de
agosto de 1940, no povoado de Capão Escuro, então parte do município de Itaúna
(MG) e hoje pertencente a Carmo do Cajuru, Dom Mário Clemente Neto foi o décimo
quinto filho de uma grande família de vinte irmãos. Esses irmãos são frutos de
dois casamentos de seu pai, Antônio Clemente Neto, que primeiro se casou com
Maria Francisca de Jesus, com quem teve onze filhos, e posteriormente com Maria
Eulália Clemente, com quem teve mais nove filhos. Criado em um ambiente onde os
valores familiares e a fé desempenhavam papéis cruciais, Dom Mário teve uma
infância marcada pela simplicidade e pela vida em comunidade, fatores que
moldaram profundamente sua vocação religiosa.
Em 1953, Dom
Mário mudou-se para Itaúna para continuar seus estudos no Colégio Sant'Ana.
Durante esse período, conheceu o padre Adriano Turkenburg, da Congregação do
Espírito Santo, que foi uma figura decisiva e inspirou Mário Clemente a seguir
a vida religiosa. Em 1958, ele ingressou no Seminário do Caraça e,
posteriormente, estudou filosofia em Mariana. O noviciado ocorreu em
Teresópolis, Rio de Janeiro, seguido por estudos de teologia na Pontifícia
Universidade Gregoriana em Roma.
Ordenação Sacerdotal e Primeiros Anos de
Sacerdócio: Dom Mário foi ordenado sacerdote em 14 de agosto de 1966, na Igreja
Matriz de Sant’Ana em Itaúna, pelo Bispo Diocesano Dom Cristiano Pena. No dia
seguinte, celebrou sua primeira missa, marcando o início de uma jornada
devotada ao serviço e à evangelização. Trabalhou como sacerdote em diversas
paróquias, incluindo Itaúna, Mateus Leme, Itatiaiuçu, e São Paulo,
destacando-se por seu envolvimento com a Pastoral Rural e a formação de
Ministros Extraordinários da Sagrada Comunhão.
Missão no Amazonas, Elevação ao Episcopado
e Renúncia: A missão de Dom Mário no Amazonas começou na década de 1970,
quando ele se envolveu no projeto das igrejas-irmãs. Sua dedicação e habilidade
pastoral chamaram a atenção do bispo prelado de Tefé, Joaquim de Lange, que o
indicou como seu sucessor. Em 31 de julho de 1980, o Papa João Paulo II nomeou
Mário Clemente Neto como prelado coadjutor de Tefé. Sua ordenação episcopal
ocorreu em 19 de outubro de 1980, em Itaúna. Em 1982, ele sucedeu a Dom Joaquim
de Lange como bispo prelado de Tefé.
Durante seu
episcopado, Dom Mário Clemente Neto, CSSp, Bispo Prelado Emérito, foi um
defensor incansável das comunidades ribeirinhas e indígenas do Amazonas. Ele
trabalhou para promover a justiça social e a dignidade humana. Em 19 de outubro
de 2000, após duas décadas de serviço, ele renunciou ao cargo de bispo prelado
de Tefé devido à idade, mas continuou sua missão pastoral e espiritual.
O Legado: O itaunense Dom Mário
Clemente Neto será lembrado como um verdadeiro servo de Deus e da comunidade.
Sua vida e obra exemplificam o compromisso com a fé e a humanidade. Dom Mário
não só levou os bons costumes de sua cidade natal a novas fronteiras, mas
também trouxe de volta a inspiração e o orgulho de uma vida dedicada ao serviço
altruísta e ao bem comum.
Ele serviu com devoção, amor e compromisso,
inspirando futuras gerações a reconhecer a importância de servir ao próximo e à
comunidade com humildade e dedicação. Seu trabalho no Amazonas, sua dedicação
às paróquias e comunidades rurais, e sua capacidade de inspirar e liderar são
testemunhos duradouros de sua missão. Seu legado permanecerá vivo,
lembrando-nos sempre da verdadeira essência do serviço altruísta.
Dom Mário
Clemente Neto faleceu em 8 de agosto de 2024, apenas um dia após completar 84
anos. Seu corpo foi velado na Igreja Matriz de Sant’Ana, em Itaúna, e sepultado
no Cemitério Central da cidade. Sua partida gerou uma onda de comoção e
homenagens, refletindo a profunda admiração e respeito que ele conquistou ao
longo de sua vida. Com uma trajetória de vida exemplar, Dom Mário viveu
intensamente o lema "Vim para Servir", demonstrando que essa frase
não era apenas um ideal, mas o fundamento de todas as suas ações.
A Bandeira de Itaúna: Um Símbolo de História e Identidade
A bandeira de
Itaúna, símbolo marcante da cidade, foi escolhida por meio de um concurso
público, instituído pela Lei nº 328, de 10 de agosto de 1956. A iniciativa foi
do então Prefeito Municipal, Doutor Milton de Oliveira Penido, com o objetivo
de criar um emblema que representasse o espírito e a identidade do município.
Para assegurar a
transparência e a imparcialidade do concurso, uma Comissão Julgadora foi
designada pela Portaria nº 659, de 08 de setembro de 1956. Esta comissão era
composta por três membros notáveis da comunidade: o engenheiro Marcelo Dornas
de Lima, Doutor José Drumond e Doutor Lincoln Nogueira Machado. A análise das
propostas aconteceu no dia 10 de setembro de 1956, na Rádio Club de Itaúna, às
19 horas.
Após a avaliação de dezenas de propostas, a bandeira idealizada por
Eponina foi escolhida como a vencedora. A bandeira foi oficialmente instituída
pela Lei nº 330, de 11 de outubro de 1956, e posteriormente alterada pela
redação da Lei Municipal nº 4123, de 11 de outubro de 2006, que revisou as
especificações técnicas para sua confecção e apresentação.
Eponina Maria do Carmo Nogueira Gomide
Soares, mais conhecida como Maria do Carmo, nasceu em Itaúna no dia 23 de
agosto de 1927. Filha de Péricles Rodrigues Gomide, conhecido como
"Lique", e de Eponina Nogueira Gomide, Maria do Carmo era uma figura
dedicada e respeitada na comunidade. Atuou como professora e funcionária da
extinta Coletoria Estadual. Casou-se com Holmes Soares, com quem teve seis
filhos: Jerusa, Holmes Júnior, Huáscar, Naiúra, Helder e Hebert. Maria do Carmo
faleceu em 09 de maio de 1979, deixando um legado significativo para a cidade.
Eponina Maria do Carmo Nogueira Gomide Soares
Importante ressaltar que, em
1997, o Prefeito Osmando Pereira da Silva sancionou a Lei nº 3.278, que visava
garantir o conhecimento dos símbolos municipais de Itaúna. A lei tornou
obrigatório o ensino do significado dos símbolos oficiais, incluindo a Bandeira
e o Brasão, bem como o canto e a interpretação da letra do Hino Municipal, em
todos os estabelecimentos de ensino do município.
Análise das Leis Relacionadas à Bandeira
de Itaúna:
Lei Municipal nº 330 de 1956:
A Lei nº 330, de
11 de outubro de 1956, sancionada pelo Prefeito Milton de Oliveira Penido, foi
a primeira a estabelecer os detalhes específicos da bandeira de Itaúna,
definindo-a da seguinte forma:
“Estas cores serão reunidas numa bandeira
confeccionada nos moldes da técnica, dispostas num retângulo, de cor branca,
com duas faixas na diagonal no sentido de baixo para cima e da direita para
esquerda, de cores vermelho escuro e verde”.
Ainda de acordo
com o Artigo 2º dessa lei, as cores da bandeira seriam dispostas da seguinte
forma:
Disposição das Faixas: A bandeira seria
confeccionada em um retângulo de cor branca, com duas faixas na diagonal no
sentido de baixo para cima e da direita para a esquerda.
Cores das Faixas: As faixas seriam nas
cores vermelho escuro e verde.
Configuração:
Essa configuração inicial tinha uma orientação específica das faixas, começando
da parte inferior direita e subindo para a parte superior esquerda.
Lei Municipal nº 4.123 de 2006
A Lei Municipal
nº 4.123, sancionada pelo Prefeito Eugênio Pinto, em 11 de outubro de 2006,
alterou a redação do Artigo 2º da Lei nº 330, definindo-a da seguinte forma:
“Essas cores serão reunidas numa bandeira
confeccionada nos moldes da técnica dispostas num retângulo, de cor branca, com
duas faixas na diagonal, de cima para baixo, partindo do mastro nas cores verde
e vermelho escuro, sendo vermelho escuro a faixa de baixo".
A nova disposição
das faixas na bandeira foi especificada da seguinte forma:
Disposição das Faixas: As faixas seriam
colocadas em um retângulo de cor branca, com duas faixas na diagonal, partindo
de cima para baixo e do mastro.
Cores das Faixas: A faixa superior
seria verde e a faixa inferior seria vermelho escuro.
Configuração: Essa configuração alterou significativamente a orientação e a disposição
das faixas. Em vez de subirem da direita para a esquerda, as faixas agora
descem do mastro, com a verde acima da vermelha.
Comparação das alterações nas Bandeiras
1ª Comparação
Sobre as Faixas:
Lei nº 330 de 1956: As faixas foram
desenhadas de baixo para cima, da direita para a esquerda.
Lei nº 4.123 de 2006: As faixas passaram a
ser fixadas de cima para baixo, partindo do mastro.
2ª Comparação
Sobre a posição das Cores:
Lei nº 330 de 1956: Especifica apenas as
cores vermelho escuro e verde, sem detalhar a posição de cada uma.
Lei nº 4.123 de 2006: Determinou que a faixa
verde deve estar na parte superior e a faixa vermelho escuro na parte inferior.
Detalhes da Bandeira atual
A bandeira de
Itaúna é um exemplo de simplicidade e simbolismo, composta por três cores
principais, cada uma com um significado especial. Essas cores estão dispostas
em um retângulo branco com duas faixas diagonais, partindo do mastro, com a
faixa verde acima e a faixa vermelha abaixo.
Fundo Branco: Representa a neutralidade
e homenageia todas as bandeiras dos estados brasileiros.
Faixa Verde: Homenageia a bandeira do
Brasil, simbolizando a ligação de Itaúna com a nação.
Faixa Vermelha: Homenageia Portugal e
aqueles que colonizaram o Brasil, reconhecendo as raízes históricas e culturais
da cidade.
Regulamentação do Hasteamento
De acordo com a
legislação municipal, a bandeira do município de Itaúna deve ser hasteada entre
8 e 18 horas. Caso seja necessário mantê-la hasteada fora desse horário, ela
deve ser iluminada por holofotes, garantindo que o símbolo da cidade permaneça
sempre visível e honrado.
Considerações Finais
As alterações
introduzidas pela Lei Municipal nº 4.123 de 2006 trouxeram uma nova
configuração visual à bandeira de Itaúna. A mudança de orientação e a
especificação clara das posições das cores visam não apenas uma melhor
definição estética, mas também uma padronização que facilite a confecção e a
correta exibição da bandeira. Essas alterações garantem que a bandeira mantenha
sua integridade simbólica e sua representação apropriada da identidade
municipal.
No entanto, tendo
em conta o contexto histórico da sua concepção e o processo de seleção da
“bandeira confeccionada nos moldes da técnica” em 1956, as alterações efetuadas
em 2006, meio século depois, embora práticas, podem ter comprometido a
originalidade histórica do projeto inicial. Apesar das melhorias na
padronização provocadas pelas mudanças nas especificações de orientação e
cores, o simbolismo originalmente idealizado por Eponina Maria do Carmo
Nogueira Gomide Soares foi alterado.
Assim, embora a
bandeira de Itaúna continue a ser um símbolo rico em história e significado,
refletindo a identidade e o orgulho da comunidade, é importante lembrar,
reconhecer e preservar a autenticidade do desenho original de 1956, que capta
um momento significativo na história da cidade.
A bandeira de Itaúna, portanto, não é apenas um símbolo visual, mas
também uma rica representação de um passado que reflete a identidade, as raízes
culturais e o orgulho da comunidade itaunense.
Nota Informativa
Mesmo após a promulgação da Lei nº 4.123 de
2006, que atualizou as especificações da bandeira de Itaúna, algumas bandeiras
confeccionadas segundo a Lei nº 330 de 1956 ainda continuaram a ser hasteadas,
embora raramente, em determinadas cerimônias. Um exemplo significativo ocorreu
em uma inauguração oficial pela prefeitura em 04/06/2011, quase cinco anos após
a nova lei de 2006. Durante o evento, foi hasteada a bandeira de Itaúna
confeccionada de acordo com a antiga Lei nº 330 de 1956.
Conforme mostra a fotografia em anexo, uma autoridade do município e o senhor José
Maria de Aquino (Bigode), presentes no evento, perceberam imediatamente o equívoco.
É crucial que haja maior atenção e
cumprimento da Lei nº 4.123 de 2006 para garantir a correta representação dos
símbolos oficiais do município.
Veja a narrativa do texto em áudio! Imperdível!
Referências:
Organização, arte, pesquisa, imagem e roteiro: Historiador
Charles Aquino
Nos anos de 1970, na pitoresca
região dos Freitas, pertencente ao município de Itaúna, Minas Gerais, havia um
salão que servia como escola. Lá, Dona Chiquinha, uma mulher de sorriso fácil e
coração generoso, dava aula para quatro turmas de alunos. As crianças da região
vinham a pé, enfrentando uma caminhada de duas horas pelas estradinhas de
terra, apenas para estudar.
Dona Chiquinha era uma figura
querida. Seu jeito maternal e suas histórias cativantes faziam com que os
alunos se sentissem em casa. No entanto, havia algo mais que unia aquelas
crianças além do desejo de aprender: um certo boi que morava na fazenda dos Freitas.
A fazenda era propriedade de Plauto, filho de Mozart Machado, e nela vivia o
famoso boi "Marruco dos Santos Reis". Esse boi, enorme e imponente,
tinha um temperamento peculiar. Quando ouvia seu nome, saía em disparada atrás
das crianças, que adoravam provocá-lo.
Entre os alunos, havia uma menina
especial: Geralda, conhecida por todos como "Preta" — uma menina
devota que tinha uma fé inabalável. Certo dia, após mais uma perseguição do boi
“Marruco”, ela decidiu ensinar uma reza que, segundo ela, tornaria as crianças
invisíveis aos olhos do boi.
"Jesus tá daqui, Jesus tá de
lá, arreda, bicho mal, deixa eu passar. Se tiver dormindo, não há de acordar.
Se tiver acordado, não há de enxergar", ensinou Preta com convicção. As
crianças, apesar de céticas no início, resolveram tentar.
No dia seguinte, ao passarem pela
fazenda, começaram a recitar a reza. Para surpresa de todos, o boi “Marruco”,
que estava a postos para mais uma perseguição, simplesmente parou, olhou em
volta confuso e voltou a pastar. As crianças atravessaram o campo sem serem
vistas, como por um passe de mágica.
Essa história rapidamente se
espalhou pela região. A coragem e fé de Preta se tornaram lendárias, e a reza
passou a ser conhecida como "a oração do Marruco". Os alunos de Dona
Chiquinha nunca mais precisaram correr do boi Marruco dos Santos Reis, e a
escola dos Freitas se tornou um lugar ainda mais especial, onde até os maiores
medos eram vencidos com um pouco de fé e a ajuda dos amigos.
E assim, a pequena comunidade dos
Freitas continuou sua rotina de estudos e aventuras, sempre com uma boa
história para contar e uma gargalhada pronta para ser compartilhada.
Imperdível a narrativa em vídeo !
Organização, Arte
e Roteiro: Charles Aquino.
Preservando e
Valorizando Histórias e Causos como Tradição da Oralidade e Patrimônio Cultural
de Nossa Cidade e Região: Helton Borges
Santana do Rio
São João Acima, hoje Itaúna, Minas Gerais, Pedra Negra - Povoado dos Freitas.
Itaúna é uma
cidade acolhedora e vibrante, onde a diversidade de fé e crenças é celebrada
com respeito e harmonia. A cidade
tem um patrimônio cultural rico e uma história profundamente enraizada na
devoção religiosa. Um dos marcos mais queridos e visitados de Itaúna é a Gruta
de Nossa Senhora de Itaúna, que atrai visitantes com suas histórias
emocionantes e milagrosas.
Para compartilhar
essa jornada de fé e tradição, preparamos um vídeo imperdível que narra a
origem e o significado desse lugar sagrado. Não perca a oportunidade de se
emocionar e se inspirar com esta história única.
Hoje, a Gruta de
Nossa Senhora de Itaúna é um santuário de paz e espiritualidade, um verdadeiro
oásis no coração da cidade. Venha conhecer essa história incrível!
Assista ao
vídeo e deixe-se tocar pela espiritualidade e pela serenidade desse lugar
abençoado. Itaúna é uma cidade que acolhe a todos, independentemente de suas
crenças, e a Gruta de Nossa Senhora de Itaúna é um dos patrimônios culturais
que simbolizam essa convivência harmoniosa.
Assista a narrativa histórica do vídeo! Imperdível!
Organização e arte: Charles Aquino
Texto para a narrativa do vídeo: Professor Luiz Mascarenhas