quarta-feira, agosto 07, 2024

O BOI MARRUCO

Nos anos de 1970, na pitoresca região dos Freitas, pertencente ao município de Itaúna, Minas Gerais, havia um salão que servia como escola. Lá, Dona Chiquinha, uma mulher de sorriso fácil e coração generoso, dava aula para quatro turmas de alunos. As crianças da região vinham a pé, enfrentando uma caminhada de duas horas pelas estradinhas de terra, apenas para estudar.

Dona Chiquinha era uma figura querida. Seu jeito maternal e suas histórias cativantes faziam com que os alunos se sentissem em casa. No entanto, havia algo mais que unia aquelas crianças além do desejo de aprender: um certo boi que morava na fazenda dos Freitas. A fazenda era propriedade de Plauto, filho de Mozart Machado, e nela vivia o famoso boi "Marruco dos Santos Reis". Esse boi, enorme e imponente, tinha um temperamento peculiar. Quando ouvia seu nome, saía em disparada atrás das crianças, que adoravam provocá-lo.

Entre os alunos, havia uma menina especial: Geralda, conhecida por todos como "Preta" — uma menina devota que tinha uma fé inabalável. Certo dia, após mais uma perseguição do boi “Marruco”, ela decidiu ensinar uma reza que, segundo ela, tornaria as crianças invisíveis aos olhos do boi.

"Jesus tá daqui, Jesus tá de lá, arreda, bicho mal, deixa eu passar. Se tiver dormindo, não há de acordar. Se tiver acordado, não há de enxergar", ensinou Preta com convicção. As crianças, apesar de céticas no início, resolveram tentar.

No dia seguinte, ao passarem pela fazenda, começaram a recitar a reza. Para surpresa de todos, o boi “Marruco”, que estava a postos para mais uma perseguição, simplesmente parou, olhou em volta confuso e voltou a pastar. As crianças atravessaram o campo sem serem vistas, como por um passe de mágica.

Essa história rapidamente se espalhou pela região. A coragem e fé de Preta se tornaram lendárias, e a reza passou a ser conhecida como "a oração do Marruco". Os alunos de Dona Chiquinha nunca mais precisaram correr do boi Marruco dos Santos Reis, e a escola dos Freitas se tornou um lugar ainda mais especial, onde até os maiores medos eram vencidos com um pouco de fé e a ajuda dos amigos.

E assim, a pequena comunidade dos Freitas continuou sua rotina de estudos e aventuras, sempre com uma boa história para contar e uma gargalhada pronta para ser compartilhada.

Imperdível a narrativa em vídeo !


Organização, Arte e Roteiro: Charles Aquino. 

Preservando e Valorizando Histórias e Causos como Tradição da Oralidade e Patrimônio Cultural de Nossa Cidade e Região: Helton Borges

Santana do Rio São João Acima, hoje Itaúna, Minas Gerais, Pedra Negra - Povoado dos Freitas.