Viriato, magro,
alto e de sorriso fácil, era também metódico em sua simplicidade. Todos no
bairro de Santanense o conheciam como uma lenda viva, sempre preparado com uma
resposta na ponta da língua e atitudes práticas. Após uma semana intensa de
trabalho, ele decidiu levar a família para jantar no restaurante do bairro, uma
tradição na sexta-feira.
O restaurante
pertencia ao senhor Aldo, outra figura emblemática do bairro. O empresário era conhecido
também por suas respostas diretas e sem rodeios. Não havia problema que ele não
conseguisse resolver com poucas palavras e muito humor. Além de proprietário,
ele também fazia as vezes de garçom, sempre com um ar de quem já tinha visto de
tudo.
Naquela noite,
a lua cheia iluminava o restaurante com um brilho prateado quando o senhor Viriato
e sua família chegaram. Após se ajeitarem à mesa, Viriato, com a curiosidade de
quem estava prestes a descobrir uma nova iguaria, começou a ler o cardápio.
Seus olhos brilharam ao ver “sopa completa de legumes” – parecia o final
perfeito para uma semana de trabalho árduo.
Quando o
senhor Aldo chegou para anotar o pedido, a cena era de pura mineirice: uma
mistura de simplicidade e astúcia que só se encontra em cidade interiorana. Com
seu jeito peculiar, ele perguntou:
— O senhor
quer a sopa no prato raso ou no prato fundo?
Viriato, sem
pestanejar e com a mente prática e rasteira, respondeu:
— Não quero, o
senhor vai fazer o seguinte: vai jogar toda sopa no chão lá dentro e vai sair
puxando ela de rodo, que eu irei parar a boca na porta pra tomar!
A resposta
causou um momento de silêncio, seguido de gargalhadas estrondosas que ecoaram
pelo restaurante. Os outros clientes, acostumados com as peculiaridades das
figuras locais, não puderam conter e seguiram o mesmo ritmo. Seu Aldo, sem
perder a compostura, abriu um sorriso largo e, com seu jeito peculiar,
respondeu:
— Pois não,
senhor Viriato! Vou escolher o maior rodo e preparar a sopa mais rápida da
minha vida.
Enquanto os
outros clientes ainda se recuperavam do ataque de risos, Viriato e sua família
desfrutaram de uma noite agradável, com histórias e risadas que se tornaram
lenda no bairro. Naquela noite, Santanense não só testemunhou mais um capítulo
das sagas de Viriato e Aldo, mas também reforçou o espírito comunitário, onde o
humor pitoresco e a austeridade tinham o poder de transformar momentos
cotidianos em memórias inesquecíveis.
Referências:
Organização, arte e roteiro: Charles Aquino
"Estórias quase aVACAlhadas"
Narrativa do Barranqueiro Nenzinho - Professor Renderson Alves