sexta-feira, agosto 23, 2024

PRATO RASO OU FUNDO?

Em um pacato bairro do interior de Minas Gerais que por muito pouco chegou virar uma cidade, havia uma loja que era a verdadeira definição: “vender de tudo”. O dono, senhor Viriato, era um comerciante astuto e conhecido pela sua habilidade de negociar qualquer coisa, desde encontrar o alpiste pra passarinho até pregos e pau pra mata-burros.

Viriato, magro, alto e de sorriso fácil, era também metódico em sua simplicidade. Todos no bairro de Santanense o conheciam como uma lenda viva, sempre preparado com uma resposta na ponta da língua e atitudes práticas. Após uma semana intensa de trabalho, ele decidiu levar a família para jantar no restaurante do bairro, uma tradição na sexta-feira.

O restaurante pertencia ao senhor Aldo, outra figura emblemática do bairro. O empresário era conhecido também por suas respostas diretas e sem rodeios. Não havia problema que ele não conseguisse resolver com poucas palavras e muito humor. Além de proprietário, ele também fazia as vezes de garçom, sempre com um ar de quem já tinha visto de tudo.

Naquela noite, a lua cheia iluminava o restaurante com um brilho prateado quando o senhor Viriato e sua família chegaram. Após se ajeitarem à mesa, Viriato, com a curiosidade de quem estava prestes a descobrir uma nova iguaria, começou a ler o cardápio. Seus olhos brilharam ao ver “sopa completa de legumes” – parecia o final perfeito para uma semana de trabalho árduo.

Quando o senhor Aldo chegou para anotar o pedido, a cena era de pura mineirice: uma mistura de simplicidade e astúcia que só se encontra em cidade interiorana. Com seu jeito peculiar, ele perguntou:

— O senhor quer a sopa no prato raso ou no prato fundo?

Viriato, sem pestanejar e com a mente prática e rasteira, respondeu:

— Não quero, o senhor vai fazer o seguinte: vai jogar toda sopa no chão lá dentro e vai sair puxando ela de rodo, que eu irei parar a boca na porta pra tomar!

A resposta causou um momento de silêncio, seguido de gargalhadas estrondosas que ecoaram pelo restaurante. Os outros clientes, acostumados com as peculiaridades das figuras locais, não puderam conter e seguiram o mesmo ritmo. Seu Aldo, sem perder a compostura, abriu um sorriso largo e, com seu jeito peculiar, respondeu:

— Pois não, senhor Viriato! Vou escolher o maior rodo e preparar a sopa mais rápida da minha vida.

Enquanto os outros clientes ainda se recuperavam do ataque de risos, Viriato e sua família desfrutaram de uma noite agradável, com histórias e risadas que se tornaram lenda no bairro. Naquela noite, Santanense não só testemunhou mais um capítulo das sagas de Viriato e Aldo, mas também reforçou o espírito comunitário, onde o humor pitoresco e a austeridade tinham o poder de transformar momentos cotidianos em memórias inesquecíveis.

Aperte o play e se encante com a simplicidade e astúcia desse encontro épico!


Referências:

Organização, arte e roteiro: Charles Aquino

"Estórias quase aVACAlhadas"

Narrativa do Barranqueiro Nenzinho - Professor Renderson Alves