sexta-feira, dezembro 29, 2023

RAINHA DO REINADO

 

  "Maria da Conceição Basílio de Jesus", conhecida carinhosamente como "Dona Sãozinha", nasceu em 10 de novembro de 1925, em Divinópolis, Minas Gerais. Aos treze anos, ela foi coroada Rainha da Irmandade de Santa Ifigênia, uma posição que a marcou como uma figura central no Reinado de Nossa Senhora do Rosário em Itaúna, Minas Gerais, uma celebração de profunda importância cultural e religiosa para a comunidade afro-brasileira local.

   Por 85 anos, Dona Sãozinha liderou a festa do Reinado, transformando sua casa no bairro Santo Antônio em um ponto de referência para as celebrações que ocorrem anualmente de 1º a 15 de agosto. Essa festa atrai milhares de participantes, incluindo políticos, artistas, congadeiros de outras cidades e pessoas da comunidade. Sua hospitalidade e liderança inquestionável fizeram de sua casa o “quartel-general” do Reinado, sede de três ternos ou “guardas” de congado: uma guarda de congo, um candombe e uma guarda de vilão.

   Dona Sãozinha era mais que uma líder; ela era a personificação viva da tradição do Reinado. Todos os anos, no dia 1º de agosto, ela tinha a responsabilidade de levantar a Bandeira de Santa Ifigênia, sinalizando o início das festividades. Essas celebrações eram ricas em dança, música, comida e a exibição de símbolos culturais como bandeiras e foguetes. O som de tambores, caixas, reco-recos, gungas e patangomes ecoava pela cidade, enraizando ainda mais a identidade cultural afro-brasileira na comunidade de Itaúna.

   Sua morte, aos 98 anos, em 26 de dezembro de 2023, marcou o fim de uma era. O velório de Dona Sãozinha foi um evento solene, com cada capitão de guarda prestando sua homenagem com orações e cantos. O ritual de “descoroação” foi conduzido pelo capitão-mor, Mário, acompanhado por outros capitães, num processo repleto de simbolismo e reverência. O descoroamento envolveu a retirada ritual da coroa, manto e cetro da Rainha, todos manuseados com o uso de bastões, simbolizando a passagem de sua autoridade e a reverência pela sua figura.

  O cortejo fúnebre de Dona Sãozinha percorreu locais significativos, incluindo sua casa, a capela da Irmandade das Sete Guardas e o cemitério central. Mesmo em meio à dor da perda, a comunidade celebrou sua vida e legado através de cânticos e homenagens, ressaltando sua importância como patrimônio cultural e religioso de Itaúna. 

   Dona Sãozinha deixou um legado profundo, não só em termos de liderança cultural e religiosa, mas também como uma guardiã das tradições afro-brasileiras. Sua missão agora passará para suas filhas e netas, que terão a responsabilidade de continuar as festividades do Reinado de Nossa Senhora do Rosário. A resistência cultural evidenciada pela construção da capela da Irmandade das Sete Guardas, após a proibição de entrada dos congadeiros na igreja pelo bispo D. Cabral na década de 1940, demonstra a resiliência e a determinação da comunidade em manter viva sua fé e suas tradições. 

   Em suma, Dona Sãozinha foi uma verdadeira matriarca que, através de sua vida, fé, trabalho e resiliência assegurou que as tradições e a cultura afro-brasileira continuassem a prosperar em Itaúna. Sua memória e influência perdurarão, assegurando que as futuras gerações compreendam e valorizem o rico patrimônio cultural, tangível e intangível, que a Rainha Perpétua de Santa Ifigênia, do tradicional Reinado de Nossa Senhora do Rosário de Itaúna, tanto se esforçou para preservar.




REGISTRO DE CASAMENTO: 14/06/1947

Paróquia Sant’Ana de Itaúna


MARIA DA CONCEIÇÃO (BASÍLIO) DE JESUS

&

JOÃO FERREIRA


Aos quatorze dias do mês de junho de mil novecentos e quarenta e sete pelas dezesseis horas na Igreja Matriz de Sant’Ana de Itaúna depois de habilitados canonicamente, por palavras de presente, na forma  do Ritual em, presença do  Revmo. Pe. José Mariano Tavares e das testemunhas, José Barbosa e Sílvio Gonçalves Soares, receberam-se em matrimônio os contraentes João Ferreira e Maria da Conceição de Jesus.
    Ele com vinte e dois anos de idade, filho legítimo de Teófilo Ferreira e de Delfina Maria de Jesus, solteiro, nascido no dia quatorze de agosto de 1925, natural de Carmo do Cajuru, batizado na freguesia de nossa Senhora do Carmo do Cajurú, residente em Itaúna.
    Ela com vinte e dois anos de idade, filha legítima de Antônio Basílio e de Maria Germânia de Jesus, solteira, nascida a 10 de novembro de 1925, natural de Divinópolis, batizada na freguesia de Divinópolis, residente em Itaúna. 
E para constar lavrou-se este assentamento que assino > Pe. José Ferreira Netto. 
Livro de Matrimônio: nº 4  (1943 - 1948), ano de 1947, página 99, nº 55. 

REGISTRO DE ÓBITO: 27/12/2023


Referências:

Pesquisa e elaboração: Charles Aquino

Imagem: Adilson Nogueira

Acervo Matrimonial: Paróquia de Sant'Ana de Itaúna



quinta-feira, dezembro 28, 2023

PARQUE DAS ÁGUAS

A Prefeitura de Itaúna, através de uma nova legislação, criou três Parques das Águas, cada um com uma denominação especial: o parque na Chácara da Prefeitura chamou de "Dr. Lima Coutinho" (13º mandato como prefeito 1947-1951), o parque na Vila Mozart denominou "Dr. Lincoln Nogueira Machado" (10º mandato como prefeito 1936-1947), e o parque nas margens do Ribeirão dos Capotos entre Santanense e Garcias designou "Victor Gonçalves de Sousa" (14º mandato como prefeito 1951-1955).

Criou um cargo de "Fiscal dos Parques das Águas" para garantir a supervisão direta do prefeito sobre essas áreas. Proibiu expressamente o corte de árvores nas imediações dos parques e estabeleceu multas que variavam de Cr$ 1.000,00 (Mil cruzeiros) a Cr$ 10.000,00 (Dez mil cruzeiros) para quem violasse essa proibição. A partir de 1956, incluiu nos orçamentos municipais verbas específicas para a manutenção e serviços relacionados aos parques. A administração definiu as áreas protegidas, após consulta com o engenheiro responsável pela perfuração de poços artesianos.

As denominações dos parques homenagearam figuras importantes para o desenvolvimento do sistema de abastecimento de água de Itaúna. Dr. Lima Coutinho foi um prefeito pioneiro nesse setor, e Victor Gonçalves de Sousa contribuiu significativamente para a pesquisa e perfuração de novos mananciais. Dr. Lincoln Nogueira Machado, homenageado no parque da Vila Mozart, foi reconhecido por seu trabalho contínuo em benefício do município.

A proposta inicial de regulamentar a perfuração de poços artesianos e o uso das águas subterrâneas considerou inconstitucional, pois a matéria ultrapassava a jurisdição municipal, sendo de competência da União.  Aprovou-se esta proposta da lei pela Comissão de Legislação e Justiça e ela passou por três discussões na sala das sessões, sendo finalmente aprovada em 28 de julho de 1955. O prefeito autorizou a criar regulamentos para assegurar o cumprimento desta lei. Revogou qualquer disposição em contrário, e a lei entrou em vigor na data de sua publicação. Assim, entrou em contato com o Ministério da Agricultura para buscar uma autorização que permitisse a fiscalização do uso das águas subterrâneas em Itaúna, aguardando resposta para firmar um convênio nesse sentido.


A PREFEITURA MUNICIPAL DE ITAÚNA

Cria Parques das Águas na cidade de Itaúna, da denominação aos mesmos e indica providências para sua conservação e proteção. O povo do Município de Itaúna, por seus representantes, decreta e eu, em seu nome, sanciono a seguinte lei:
Art. 1º Ficam criado em Itaúna três Parques das Águas: Chácara da Prefeitura, com denominação de “Dr. Lima Coutinho”; Vila Mozart, com o nome de “Dr. Lincoln Nogueira Machado”; Margens do Ribeirão dos Capotos, entre Santanense e Garcias, com a designação de “Victor Gonçalves de Sousa”.
Art. 2º Fica criado, também, o cargo de “Fiscal dos Parques das Águas”, diretamente subordinado ao senhor Prefeito.
Art. 3º Proíbe-se, expressamente, o corte de qualquer árvore, nas imediações destes Parques.
Art. 4º A partir de 1956, dos Orçamentos constará verba própria para o custeio dos serviços previstos nesta lei.
Art. 5º Aquele que, sem licença, cortar árvores nas imediações dos Parques das Águas,  cará sujeito a multa de Cr$ 1.000,00 a Cr$ 10.000,00.
Art. 6º As imediações dos Parques das Águas, em que se proíbe o corte de árvores, serão delimitadas pelo senhor Prefeito, depois de ouvido o engenheiro encarregado da perfuração de poços artesianos em Itaúna.
Art. 7º Fica o senhor Prefeito autorizado a baixar regulamento para o cumprimento desta lei.
Art. 8º Revogam-se as disposições em contrário.
Art. 9º Esta lei entrará em vigor, na data de sua publicação.

   A denominação que propomos traduz uma justa homenagem aos batalhadores do povo de novo serviço em Itaúna. Realmente, o Dr. Lima Coutinho merece esta homenagem por ter sido o Prefeito que abriu, no meio de muitas incompreensões, o caminho do novo sistema de abastecimento de água da cidade. Inegável também é a contribuição dada a este serviço pelo sr. Victor Gonçalves de Sousa, em cuja gestão teve prosseguimento os trabalhos de pesquisa e perfuração de novos mananciais, estes que serão colocados a serviço do povo o mais brevemente possível.
   E ocorreu-nos o nome do Dr. Lincoln Nogueira Machado para patrono do Parque da Vila Mozart, a ser constituído dentro de dois anos, pois, sabemos que estamos prestando com esta medida merecida homenagem ao ex-prefeito que muito trabalhou pelo município e que continua prestando assinalados serviços ao povo como vereador.
   Era nosso intento regular, também, nesta lei a perfuração de poços artesianos e aproveitamento das águas subterrâneas, em Itaúna. Consultado o senhor Advogado da Prefeitura, opinou ele no sentido da impossibilidade de tal regulamentação, pois o assunto foge a alçada dos poderes municipais.
Em seu parecer assinalou o Dr. Hélio Gonçalves de Sousa que a proibição para perfuração de poços artesianos em terrenos particulares pelos seus respectivos proprietários, corresponderia a uma restrição ao direito de propriedade e, por isso mesmo, a Lei municipal, seria frontalmente contra a Constituição e o Código Civil.
   Como, entretanto, o subsolo e consequentemente as águas subterrâneas pertencem à União e não aos particulares, em vista do que preceitua o Código de Minas, sugeriu aquele advogado e entrasse esta Prefeitura em entendimentos com o Ministério da Agricultura – Serviço da Produção Mineral – a de que fosse proibida a utilização das águas subterrâneas, por particulares, em Itaúna, sem prévio entendimento com a Prefeitura. Neste sentido, nos dirigimos, em ofício, ao Ministério citado, estando esta Prefeitura aguardando resposta. Sendo a União a pessoa capaz de legislar sobre o assunto, medida que adotamos é a mais prudente. Acreditamos que conseguiremos pela autorização em convênio, fiscalizar o uso das águas subterrâneas em Itaúna.

Itaúna, 19 de julho de 1955 Milton de Oliveira Penido Prefeito Municipal
 
Comissão de Legislação e Justiça
A Comissão opina por aprovação a proposta Aprovado em 1ª discussão: Sala das sessões, 26/07/1955 Aprovado em 2ª discussão: Sala das sessões, 27/07/1955 Aprovado em 3ª discussão: Sala das sessões, 28/07/1955.
Parque das águas inaugurado em 1956  

Referências:
Fonte e Texto: Câmara Municipal de Itaúna / Projetos de Lei nº 5/1955
Vídeo da cidade de Itaúna/Acervo Itaúna Bons Temos: 70,80,90 
Organização, arte e pesquisa: Charles Aquino. 

domingo, dezembro 24, 2023

ESCOLAS EM ITAÚNA

MEMORIAL SENÓCRIT NOGUEIRA

Memorial Senócrit Nogueira é um tributo significativo a um dos mais importantes personagens da história de Itaúna, Minas Gerais. Senócrit Nogueira, cuja vida foi marcada por uma profunda dedicação ao desenvolvimento e progresso de Itaúna, deixou um legado duradouro que ainda ressoa na cidade.

Senócrit Nogueira foi um dos principais responsáveis pela elevação do distrito de Santana do São João Acima à condição de município, contribuindo para a emancipação de Itaúna. Sua atuação foi fundamental na promoção do bem-estar da comunidade, seja na política, economia ou cultura local. Ele participou ativamente da vida pública e trabalhou incessantemente para o desenvolvimento de Itaúna, o que fez com que seu nome se tornasse sinônimo de compromisso e patriotismo. A sua liderança e visão estratégica ajudaram a consolidar Itaúna como um importante centro regional.

O memorial não apenas honra a memória de Senócrit Nogueira, mas também serve como um símbolo de sua contribuição inestimável para a história da cidade. Este Memorial é um ponto de reflexão sobre o passado de Itaúna e a importância de líderes visionários na construção de um futuro melhor. A preservação da memória de Senócrit Nogueira através deste memorial é crucial para manter viva a história e os valores que ele representava. É um lembrete constante do impacto que uma única pessoa pode ter em uma comunidade, incentivando os itaunenses a seguir seu exemplo de dedicação e amor pela cidade.

O historiador João Dornas Filho destaca que para as gerações futuras, o nome de Senócrit Nogueira servirá como símbolo de compromisso inabalável, paixão e amor por Itaúna. Ao longo da rica história do município, que se estende por longos anos, o seu nome esteve entrelaçado com inúmeras iniciativas destinadas a promover e celebrar a sua querida pátria. Em todos os aspectos da trajetória de Itaúna fica a marca indelével de Senócrit Nogueira, inspirando as gerações futuras com sua dedicação e patriotismo.













Organização e pesquisa: Charles Aquino

sábado, dezembro 23, 2023

MAESTRO AZARIAS

 

Lei Municipal 1.343/76 — CEP: 35680-380

Denomina logradouro público: Rua Maestro Azarias – Cerqueira Lima

 

O Maestro Azarias Nogueira Machado pertenceu a uma família proeminente e influente que contribuiu significativamente para o crescimento econômico e desenvolvimento cultural do arraial de Sant’Ana do Rio São João Acima, hoje Itaúna/MG. Era neto materno do Tenente Coronel Manoel José de Souza Moreira e Ana Joaquina de Jesus, fundadores da Companhia de Tecidos Santanense. Além disso, era filho do Coronel Josias Nogueira Machado, um dos principais articuladores da emancipação do município, e de Tereza Gonçalves de Souza. 

Azarias teve outros onze irmãos: Augusta Gonçalves Nogueira, Dr. Ovídio Nogueira Machado, Dr. Lincoln Nogueira Machado, Rachel Nogueira Machado, Aristides Nogueira Machado, Olandim Nogueira Machado, Sady Nogueira Machado, Geny Nogueira Machado, Mozart Nogueira Machado, Alice Gonçalves Nogueira e Josias Nogueira Machado Filho.

Em sua obra, o pesquisador Padre Rodrigo destaca que o maestro Azarias, músico multifacetado conhecido por suas habilidades como pianista, organista, compositor e regente, foi o criador de inúmeras músicas profanas e sacras. Aprimorou seu ofício sob a orientação do renomado músico e compositor João Francisco da Matta. 

O legado do Maestro Azarias Nogueira Machado e de sua família em Itaúna é notável e abrangente. Proveniente de uma linhagem influente, eles desempenharam papéis fundamentais no desenvolvimento econômico e cultural do município. A homenagem à sua memória, através da Rua Maestro Azarias, é um testemunho do reconhecimento duradouro de sua contribuição para a comunidade.

 
Maestro Azarias

De acordo com a lei municipal número 1.343 de 1976, existe no município uma rua, a Rua Maestro Azarias, em sua homenagem.


Referências:

Texto, organização e arte: Charles Aquino

Acervo fotografia maestro Azarias e : Instituto Cultural Maria de Castro Nogueira

Pesquisa ao acervo da Câmara Municipal de Itaúna: Charles Aquino, Patrícia Nogueira 

Botelho, Padre Rodrigo. Memórias sonoras e afetivas de nossa gente (p. 26-49-50).

Itaúna Décadas. Criação do Município de Itaúna. Disponível em: https://itaunaemdecadas.blogspot.com/2012/10/criacao-do-municipio.html

Ruas de Itaúna. Biografia Josias Machado. Disponível em: https://ruasdeitauna.blogspot.com/2017/05/josias-nogueira-machado.html

Calvão/Galvão Web Site: My Heritage. Genealogia da família Nogueira Machado. Organizado e gerenciado pelo genealogista Charles Aquino.

sexta-feira, dezembro 22, 2023

À LUZ DA CIRURGIA


O Dr. Antônio Augusto de Lima Coutinho demonstrou um notável profissionalismo em sua conduta durante o episódio que ocorreu na Santa Casa - Hospital Manoel Gonçalves de Souza Moreira na década de 1954. Sua prontidão em diagnosticar e tratar a apendicite supurada de Eduardo Ferreira Amaral reflete sua competência médica e dedicação ao bem-estar de seus pacientes.

A situação desafiadora devido à escassez de energia elétrica na cidade evidencia a capacidade do Dr. Coutinho de lidar com obstáculos externos de forma proativa. Sua iniciativa ao enviar um mensageiro à empresa de energia para garantir a continuidade do fornecimento durante a cirurgia demonstra seu compromisso com a excelência no cuidado médico, mesmo diante de circunstâncias adversas.

O momento mais marcante da narrativa é a cirurgia realizada à luz de uma vela, ressaltando a determinação e habilidade do Dr. Coutinho em superar desafios imprevistos. Sua decisão de envolver Maria Xavier Ferreira, esposa do paciente, no processo cirúrgico, não apenas evidencia sua confiança no apoio mútuo, mas também ressalta a importância do suporte emocional aos familiares durante momentos críticos.

O desfecho positivo da cirurgia, que resultou na sobrevida de Eduardo Ferreira Amaral por mais 47 anos, é um testemunho do talento e comprometimento do Dr. Coutinho com a sua profissão. Sua conduta exemplar não apenas salvou uma vida, mas também proporcionou anos adicionais de felicidade e convivência familiar.

Em suma, a história do Dr. Antônio Augusto de Lima Coutinho destaca não apenas sua competência técnica, mas também seu profissionalismo, compaixão e capacidade de liderança em situações desafiadoras, exemplificando o verdadeiro espírito da prática médica.


À LUZ DA CIRURGIA

Eduardo Ferreira Amaral encontrou-se na Casa de Caridade Manoel Gonçalves de Souza Moreira no ano de 1954, localizada na cidade de Itaúna, devido a intenso desconforto abdominal. O Dr. Antônio Augusto de Lima Coutinho examinou-o prontamente e constatou que seu quadro era "APENDICITE SUPURADA", necessitando de intervenção cirúrgica imediata.

Nesse período, a cidade contou com um fornecimento limitado de energia elétrica fornecida pela Companhia Industrial Itaunense. A escassez de eletricidade, especialmente no período de seca, exigiu encerramentos noturnos periódicos. Diante disso, Dr. Coutinho despachou um mensageiro à empresa, solicitando que não cortassem a energia naquela tarde devido ao procedimento cirúrgico agendado.  A cirurgia começou no final da noite, por volta das 18h30.

Maria Xavier Ferreira, a devotada esposa de Eduardo, permanecia ansiosa no corredor do hospital, aguardando ansiosamente as novidades. De repente, uma queda de energia mergulhou toda a instalação na escuridão. Em meio à escuridão, um som fraco de uma porta se abrindo ressoou, chamando a atenção de Maria. Para seu espanto, o Dr. Coutinho saiu da sala de cirurgia segurando uma vela. Tomada de preocupação, Maria, com a voz cheia de tristeza e lágrimas nos olhos, perguntou se Eduardo havia falecido. Sem hesitar, o Dr. Coutinho a tranquilizou, afirmando que Eduardo ainda estava vivo.

 Ele então solicitou a Maria que o acompanhasse até a sala de cirurgia, entregando-lhe a vela e disse: acompanhe-me e preste-me sua ajuda dentro do bloco operatório. Por favor, segure esta vela, pois estamos prestes a iniciar a operação e nosso tempo é de extremo valor. O tempo era essencial e não havia espaço para atrasos. Dr. Coutinho realizou habilmente a cirurgia à luz bruxuleante da vela, resultando em um retumbante triunfo. Após ser operado aos 46 anos, o Sr. Eduardo Ferreira Amaral teve a sorte de desfrutar mais 47 anos de vida alegre e plena com seus entes queridos, até falecer pacificamente em 2001.


Fonte Oral:  Professor Marco Elísio Chaves Coutinho & Dª Vera Coutinho

Entrevistado por: Charles Aquino

Acervo fotográfico: Shorpy (fotografia meramente ilustrativa)




quinta-feira, dezembro 21, 2023