A abertura da carta destaca a
recepção do convite às 8 horas da manhã, demonstrando a formalidade e a
precisão de Senócrit em registrar o momento exato em que foi notificado. Essa
atenção aos detalhes reforça o respeito e a seriedade com que trata o convite.
A menção à impossibilidade de comparecer à reunião, marcada para o dia
seguinte, é justificada por dois motivos: o curto prazo de convocação e seu
estado de saúde. Esse ponto revela uma preocupação em manter uma comunicação
transparente e respeitosa, mesmo diante de uma negativa.
Senócrit expressa seu apreço pela
iniciativa do prefeito de celebrar o cinquentenário de Itaúna, referindo-se ao
município como "meu querido município" e enfatizando seu vínculo
afetivo e de nascença com a localidade. Ele reconhece a justa consideração que
os habitantes de Itaúna têm pelo prefeito, evidenciando a importância das
lideranças locais na construção e manutenção do espírito comunitário.
A carta também revela uma
profunda ligação emocional com o município ao lamentar a morte de seus irmãos,
Dr. Augusto Gonçalves e Josias Nogueira, que foram membros da Comissão Criadora
do Município. Esse lamento é uma expressão de saudade e de reconhecimento pelo
papel fundamental que seus irmãos desempenharam na história de Itaúna.
Ao final, Senócrit manifesta um
desejo quase premonitório, pedindo a Deus que lhe conceda vida até 2 de janeiro
de 1952, quando completará 81 anos, 8 meses e 8 dias. Essa especificidade
numérica é intrigante e sugere uma profunda reflexão sobre o tempo e a vida. A
carta encerra com uma pergunta retórica ao prefeito sobre a possibilidade de
ser atendido em seu pedido de longevidade, o que adiciona um tom de esperança e
fé ao texto.
Em termos de estilo, a carta é escrita em uma linguagem formal e respeitosa, típica da época. A escolha das palavras e a estrutura das frases refletem um alto grau de educação e consideração pelo destinatário. No geral, o texto é uma demonstração de respeito, saudade e esperança. A formalidade e o tom pessoal da carta revelam a importância das relações comunitárias e a reverência pelas figuras históricas e familiares em um contexto de celebração cívica. A análise crítica desse texto destaca a profundidade emocional e a riqueza histórica presentes na correspondência, oferecendo um vislumbre do caráter e dos valores de Senócrit Nogueira.
Meu caro A. Lima Coutinho – M.D.
Prefeito [...]
Itaún[...]
Belo Horizonte, 2-7-1949.
Saudações.
Acabo de receber agora as 8 horas do
dia o se[...] e honroso convite para fazer parte da Comissão [...] das
comemorações a serem feitas na data do ano [...] da criação deste meu querido
município – Itaúna que fará 50 anos, cuja reunião deverá se realizar amanhã 3 do corrente na Escola Normal d’ahí e não podendo comparecer não só pela escassez
do prazo como também por me achar adoentado e por isso, pedindo desculpas,
apreço-me em felicitar – lhe pela a patriótica inciativa que demonstra ter adotado
a minha terra [ao mesmo] será de nascença, cujos habitantes lhe prestam as
justas e merecidas considerações.
Escusado em dizer que estou de alma e
[coração] em acordo que a Comissão resolver. Finalizando, lamento com saudades
a morte dos meus dois irmãos companheiros - Dr. Augusto Gonçalves e Josias Nogueira,
da Comissão Criadora do Município.
Peço a Deus para me conceder mais a
vida até 2 de janeiro de 1952, data da Instalação do Município, que estarei então
com 81 anos, 8 meses e 8 dias.
Acha, Dr. Coutinho, que serei
atendido?
Disponha do [amigo e irmão] grato.
Rua Acarapé – 21 – “Carlos Prates”
Belo Horizonte.
Referências:
Organização, Arte e Pesquisa: Charles Aquino
Texto: Senócrit Nogueira (In
Memoriam)
Acervo: Professor Marco Elísio Coutinho
(In Memoriam) – Carta de Senócrit ao Dr. Coutinho
Acervo: Instituto Cultural Maria de Castro Nogueira – Fotografia Senócrit Nogueira