domingo, julho 21, 2019

HISTÓRIA DA SAÚDE EM ITAÚNA (PARTE II)

DOUTOR OVÍDIO
 Dr. Ovídio Nogueira Machado nasceu no dia 6 de novembro de 1888 em Sant’Anna do Rio São João Acima, hoje Itaúna, era filho do cel. Josias Nogueira Machado e dona Tereza Gonçalves Nogueira. Foi casado com Zélia de Paula Machado, com a qual teve seis filhos:

Ahmés de Paula Machado c.c. Bety Oswald Machado, Ossian de Paula Machado (Solteiro), Neda Machado de Sousa c.c. Dirceu Alves de Sousa, Yeda de Paula Machado c.c. Lauro Carneiro Borges, Glauco de Paula Machado c.c. Anália Queiroz Machado e Gláucia Machado Corradi c.c. Valdir Corradi

Fez seus estudos primários em Itaúna e sob orientação de seu tio Aureliano Nogueira Machado, preparou-se para os exames de seleção (hoje vestibular) na Faculdade Nacional de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi aprovado em primeiro lugar com “distinção e louvor” sendo distinguido por várias vezes com medalhas de “honra ao mérito”.

Diplomou-se em 1917 e montou seu consultório médico na cidade de Iconha (Espírito Santo) a pedido do Presidente do Estado (cargo que hoje se equivale a de Governador do Estado). Pela característica de cidade polo, ali atendeu doentes de dezenas de cidades, ficando conhecido na região como “pai dos pobres”, pelo seu desprendimento. Viajava léguas e léguas a cavalo para atender aos clientes mais pobres, sem nunca se preocupar com renumeração.

No Espírito Santo casou-se com Zélia Gaigher de Paula (nome de solteira), nascendo ali seu primeiro filho Ahmés de Paula Machado.

Estudioso permanente, fazia anualmente viagens de estudos ao Rio de Janeiro, onde participava de congressos médicos trocando experiências. Além da medicina, interessava-se por qualquer assunto.

Era um apaixonado pela literatura, lia correntemente obras médicas chegando a lecionar latim, francês e matemática. Há dois livros publicados sobre matemática “Estudo e Aritmética” e “Ensaio Matemático”, descobrindo a “trisseção do ângulo”, problema insolúvel até a sua época. Defendeu a tese “Novas formas logarítmicas” sendo muito elogiado pela banca examinadora.

A medicina foi sua maior paixão e seu objetivo maior era atender a todos com a mesma dedicação e profissionalismo. Com a doença de seu pai (cel. Josias Nogueira Machado) retornou a Itaúna.

A DESCOBERTA DO ENDOVAN

Até o auge de sua carreira, não havia ainda antibiótico ou sulfa, por isso, montou junto com seu irmão o dr. Lincoln Nogueira Machado um laboratório de pesquisas, onde descobriram e desenvolveram com intenso trabalho, um anti-inflamatório denominado ENDOVAN.

Com o sucesso da fórmula, os ilustres médicos Ovídio e Lincoln foram para o Rio de Janeiro para divulgação do medicamento, provendo várias palestras e entrevistas a jornais da cidade.  O jornal “A Batalha” informou que:

O dr. Ovídio Nogueira Machado que nos visitou ontem é um renomado médico em todo Estado de Minas, onde vive e se entrega a sua profissão.

Nasceu em Itaúna. E lá, naquele recanto sossegado do interior mineiro, no laboratório mais ou menos aparelhado de uma farmácia que mantém juntamente com o seu irmão, também médico, realizam pesquisas procurando lenitivo para certas enfermidades, muito comuns no seu “habitat”.

Contou-nos o distinto médico que há dez anos vinha estudando a fórmula de um medicamento capaz de atuar vantajosamente, sobre muitas doenças, tais como inflamações agudas da boca, da língua, da garganta, ulcerações internas e externas, em infecções da pele, etc. 

E chegou realmente a um resultado satisfatório com as injeções a que deu o nome de ENDOVAN. Aplica-se a todas as moléstias acima mencionada dando excelente resultado no câncer.

O dr. Ovídio, que tem interesse em lançar o seu medicamento nesta praça então esclarece:

— Já o experimentei em três casos e obtive êxito surpreendente. A ferida diminui desaparecendo a supuração, o mal cheiro e a dor. Também nas manifestações abdominais agudas dando belos resultados.  Já o tenho aplicado em mais de quinhentas pessoas. O meu irmão dr. Lincoln Nogueira Machado, auxiliou-se na descoberta do preparado.

Citou outro caso:
— Empreguei as injeções ENDOVAN em pessoas da família do ex-deputado federal e membro da Academia Mineira de Letras, o dr. Mário Mattos. Este ficou tão entusiasmado com o êxito, que me escreveu uma carta, achado que o medicamento era maravilhoso concluiu:

— Prezados amigos drs. Ovídio Nogueira Machado e Lincoln Nogueira Machado. Apresso-me a dar-vos o meu testemunho a respeito de vossa notável descoberta científica do ENDOVAN.

Para mim, não há dúvida nenhuma de que se trata de injeção, que é específica para inflamações agudas em geral. O efeito é imediato.

Tive em minha família, três casos de curas surpreendentes e rápidas, quando já os doentes estavam desatinados de dor, achando-se o processo inflamatório prestes a sutura.  
Interessado pela descoberta, presenciei a muitíssimos outros casos em conhecidos em amigos, em parentes. O resultado foi sempre o mesmo: — definitivo, pronto e insofismável.

Estou, assim, absolutamente convencido que o ENDOVAN é extraordinária descoberta que imortalizará vosso nome, constituindo permanente benefício para a humanidade.
Tenho, pois, viva satisfação em ser o primeiro itaunense, patrício vosso, a proclamar espontaneamente essa verdade, que em breve será ratificada pelos meios científicos brasileiros.  Aos incrédulos podereis dizer por enquanto: — experimentem.

Itaúna primeiro de fevereiro de mil novecentos e trina e dois.
Mário Mattos


 No jornal “A Gazeta da Pharmacia” da cidade do Rio de Janeiro de dezembro de 1932, era anunciado pelo Ministro do Trabalho, Indústria e Comércio o resultado do pedido para registro da marca do medicamento:
Dr. Ovídio Nogueira Machado, recorrendo do despacho que, exarado no processo relativo ao seu pedido do registro da marca ENDOVAN, para distinguir um produto farmacêutico, da classe 3, mandou que fossem preenchidas as formalidades do decreto 19.606 de 19 de janeiro de 1931. Nego provimento ao recurso. Dia 1º (D.O. 07/10/1932) Silva Araújo.

ZÉLIA & OVÍDIO


O casal dr. Ovídio Nogueira Machado e dona Zélia de Paula Machado, eram extremamente dedicados às crianças.  Ajudado pela dedicação de sua esposa fundou um pequeno hospital em frente à sua casa, dando-lhe o nome de “Maternidade”, para atender às mães carentes ou solteiras.  

Ovídio e Zélia faziam partos e davam toda a assistência aos recém-nascidos, fornecendo até o enxoval do bebê, sem que pagassem nada pela assistência. Além da “Maternidade” sua esposa fundou o “Lactário”, para fornecer leite diariamente às crianças carentes. Esta entidade, por várias décadas prestou inestimáveis serviços à comunidade itaunense.

Em suas pesquisas, desenvolveu um processo para a cura do tifo, epidemia que tomou conta da cidade. Mudou-se então para Santanense, onde a doença tinha feito mais vítimas, lá prestou assistência permanente evitando que se propagasse ainda mais.
Cultura inigualável, Dr. Ovídio se manteve até idade avançada atualizando-se em sua profissão, deslumbrando com a descoberta da penicilina, outros remédios e novos recursos que apareciam na medicina.   

Dr. Ovídio Nogueira Machado faleceu no dia 27 de julho de 1978 aos 90 anos de idade, sendo seu corpo sepultado no cemitério central da cidade de Itaúna junto aos seus entes queridos (Perpétua 3845).



Em homenagem aos beneméritos dr. Ovídio e dona Zélia encontra-se em Itaúna uma Clínica Médica destinada a serviços de saúde denominada Policlínica Municipal Dr. Ovídio Nogueira Machado, um Logradouro no Bairro de Lourdes denominado Rua Dr. Ovídio Nogueira Machado e um centro de danças denominado Centro Cultural de Dança Zélia de Paula Machado.





REFERÊNCIAS:
Organização e Pesquisa: Charles Aquino
Texto: Guaracy de Castro Nogueira (In Memoriam), Charles Aquino
Acervo: Yeda de Paula Machado, ICMC – Instituto Cultural Maria de Castro Nogueira.
Fonte Impressa: Jornal A Batalha, 25 de março de 1932, nº 684, 686, 698, 716.
Fonte Impressa: Jornal a Gazeta da Pharmacia, Rio de Janeiro dezembro de 1932, nº 3.