"Maria da Conceição Basílio de Jesus",
conhecida carinhosamente como "Dona Sãozinha", nasceu em 10 de novembro de 1925,
em Divinópolis, Minas Gerais. Aos treze anos, ela foi coroada Rainha da
Irmandade de Santa Ifigênia, uma posição que a marcou como uma figura central
no Reinado de Nossa Senhora do Rosário em Itaúna, Minas Gerais, uma celebração
de profunda importância cultural e religiosa para a comunidade afro-brasileira
local.
Por 85 anos, Dona Sãozinha liderou a festa
do Reinado, transformando sua casa no bairro Santo Antônio em um ponto de
referência para as celebrações que ocorrem anualmente de 1º a 15 de agosto.
Essa festa atrai milhares de participantes, incluindo políticos, artistas,
congadeiros de outras cidades e pessoas da comunidade. Sua hospitalidade e
liderança inquestionável fizeram de sua casa o “quartel-general” do Reinado,
sede de três ternos ou “guardas” de congado: uma guarda de congo, um candombe e
uma guarda de vilão.
Dona Sãozinha era mais que uma líder; ela
era a personificação viva da tradição do Reinado. Todos os anos, no dia 1º de
agosto, ela tinha a responsabilidade de levantar a Bandeira de Santa Ifigênia, sinalizando o início das festividades. Essas celebrações eram
ricas em dança, música, comida e a exibição de símbolos culturais como
bandeiras e foguetes. O som de tambores, caixas, reco-recos, gungas e
patangomes ecoava pela cidade, enraizando ainda mais a identidade cultural
afro-brasileira na comunidade de Itaúna.
Sua morte, aos 98 anos, em 26 de dezembro de
2023, marcou o fim de uma era. O velório de Dona Sãozinha foi um evento solene,
com cada capitão de guarda prestando sua homenagem com orações e cantos. O
ritual de “descoroação” foi conduzido pelo capitão-mor, Mário, acompanhado por
outros capitães, num processo repleto de simbolismo e reverência. O
descoroamento envolveu a retirada ritual da coroa, manto e cetro da Rainha,
todos manuseados com o uso de bastões, simbolizando a passagem de sua
autoridade e a reverência pela sua figura.
O cortejo fúnebre de Dona Sãozinha percorreu locais significativos, incluindo sua casa, a capela da Irmandade das Sete Guardas e o cemitério central. Mesmo em meio à dor da perda, a comunidade celebrou sua vida e legado através de cânticos e homenagens, ressaltando sua importância como patrimônio cultural e religioso de Itaúna.
Dona Sãozinha deixou um legado profundo, não só em termos de liderança cultural e religiosa, mas também como uma guardiã das tradições afro-brasileiras. Sua missão agora passará para suas filhas e netas, que terão a responsabilidade de continuar as festividades do Reinado de Nossa Senhora do Rosário. A resistência cultural evidenciada pela construção da capela da Irmandade das Sete Guardas, após a proibição de entrada dos congadeiros na igreja pelo bispo D. Cabral na década de 1940, demonstra a resiliência e a determinação da comunidade em manter viva sua fé e suas tradições.
Em suma, Dona Sãozinha foi uma verdadeira matriarca que, através de sua vida, fé, trabalho e resiliência assegurou que as tradições e a cultura afro-brasileira continuassem a prosperar em Itaúna. Sua memória e influência perdurarão, assegurando que as futuras gerações compreendam e valorizem o rico patrimônio cultural, tangível e intangível, que a Rainha Perpétua de Santa Ifigênia, do tradicional Reinado de Nossa Senhora do Rosário de Itaúna, tanto se esforçou para preservar.
Paróquia Sant’Ana de Itaúna
MARIA DA CONCEIÇÃO (BASÍLIO) DE JESUS
&
JOÃO FERREIRA
Referências:
Jornal S’Passo. Disponível em: Ritual de descoroamento da Rainha Perpétua de Santa Ifigênia em Itaúna
ViuItaúna.
Disponível: https://viuitauna.com.br/2023/12/27/itauna-se-despede-de-dona-saozinha-rainha-do-reinado/
Jornal Folha do
Povo: Disponível em: https://www.folhapovoitauna.com.br/itauna-perdeu-uma-rainha