INTERNATO DO 1º ANO NORMAL
Ecos da Escola Estadual de Itaúna
Era o ano de
1926. Itaúna ainda se vestia de manhãs frias e de ruas poeirentas, onde o som
das carroças se misturava ao repicar distante dos sinos da Matriz. No alto da
cidade, imponente e austera, erguia-se a Escola Normal, orgulho da instrução
pública e símbolo da formação feminina de uma época em que estudar era também
um ato de coragem e distinção.
Ali, entre os
longos corredores e as salas iluminadas por janelas de guilhotina, formava-se o
grupo das normalistas do primeiro ano, jovens vindas de diversas partes do
interior mineiro. Muitas delas moravam no internato, longe das famílias, e
dedicavam-se aos estudos com disciplina e delicadeza. As batas brancas, bem
passadas, e os laços de fita no cabelo eram quase tão importantes quanto o
caderno de caligrafia ou o compêndio de pedagogia.
Os dias começavam
cedo. Às seis, o toque do sino anunciava o despertar. No refeitório, o aroma do
café com leite misturava-se ao de pão fresco — preparado com o mesmo zelo com
que se ensinava a costura e a boa postura. Depois vinham as aulas: Didática, Aritmética,
Língua Pátria, Moral e Civismo, e, para as mais dedicadas, Piano e Canto Coral
— porque ser professora, naqueles tempos, era também cultivar a harmonia da
alma.
Nas horas de
recreio, o pátio se enchia de risadas e confidências. Falava-se sobre os bailes
da cidade, as serenatas na praça, as cartas que vinham pelo correio trazidas
pelo tropeiro que passava toda semana. Algumas escreviam em diários, guardando
segredos que talvez jamais fossem lidos; outras sonhavam em lecionar em escolas
rurais, levando o saber às crianças das fazendas.
A diretora,
sempre vigilante, zelava pela compostura e pela reputação das moças — afinal,
uma normalista representava o ideal de virtude e instrução feminina. O diploma,
obtido após três anos de estudos rigorosos, não era apenas um documento: era o
passaporte para o respeito social, a chave para a autonomia em um tempo em que
poucas mulheres ousavam trilhar caminhos próprios.
Hoje, passados
quase cem anos, ainda se ouvem os ecos das vozes dessas jovens nos corredores
da Escola Estadual de Itaúna, guardiã silenciosa de uma época em que o
magistério era vocação e missão.
Os retratos
amarelados de 1926 — com "fileiras" de moças de olhar firme e semblante sereno —
revelam mais que uma turma escolar: mostram a semente de uma geração que
ensinou Itaúna a ler, escrever e sonhar.
E talvez, se
alguém se aproximar do antigo prédio em uma tarde de vento leve, possa imaginar
o rumor das saias longas, o tilintar dos tinteiros e o suave murmúrio das vozes
ensaiando a lição do dia seguinte. São as normalistas de 1926, eternas,
desfilando pela memória da cidade como páginas vivas da história da educação e
da mulher itaunense.
1) Luiza
2) Maria
Lage
3) Maria
Diniz
4) Maria
Soares
5) Lysa
6) Maria
Campos
7) Maria
Andrade
8) Edith
9) Carmem
Referências:
Acervo: Edward
Rodrigues da Silva
Colaborador:
Dr. Alan Penido
Organização, Arte e Restauração: Charles Aquino
https://orcid.org/0009-0002-8056-8407

