Batismo de João Dornas Filho - Paróquia Sant'Ana de Itaúna/MG
Nascido em 7 de agosto de 1902,
no arraial de Sant'Ana do Rio São João Acima, hoje reconhecida como Itaúna em Minas
Gerais, João Dornas Filho veio a este mundo. A Igreja Matriz de Santana Itaúna
testemunhou seu batismo em 23 de setembro de 1902. Os pais de Dornas Filho eram
João Dornas dos Santos e Maria Eugênia de Mello Vianna. Crescendo em uma
família considerável com 12 irmãos, ele demonstrou desde muito jovem um
profundo amor pela literatura e uma sede de conhecimento. Sua jornada começou
como tipógrafo, permitindo-lhe envolver-se intimamente com a linguagem escrita
e alimentando ainda mais seu amor pela literatura.
O legado de João Dornas Filho
como figura de destaque no patrimônio literário de Itaúna e de Minas Gerais
perdura. Sua extensa obra, incluindo romances, contos, ensaios, relatos
históricos e biografias, serve como recurso essencial para a compreensão da rica
história de Minas Gerais e do Brasil. Além das suas contribuições como
historiador, exemplificou a honestidade intelectual e a responsabilidade,
ganhando admiração pela sua modéstia e acessibilidade.
No dia 11 de dezembro de 1962,
Dornas Filho faleceu e foi sepultado no Cemitério do Bonfim, localizado em Belo
Horizonte. Embora não esteja mais entre nós, seu impacto permanece em Santana
do Rio São João Acima, onde sua dedicação à cultura
e à educação é homenageada e valorizada. Sua memória serve de inspiração para
aspirantes a escritores e acadêmicos, motivando-os a defender a igualdade e o
reconhecimento de todos os empreendimentos literários.
As convicções resolutas e o
destemor de João Dornas Filho valeram-lhe a reputação de indivíduo de
responsabilidade inabalável e notável integridade intelectual. Como historiador
e escritor, Dornas Filho desempenhou um papel fundamental no aprimoramento da
nossa compreensão da história de Minas Gerais e do Brasil. Seu envolvimento
ativo nas discussões mostra seu comprometimento inabalável.
Suas obras são amplamente
consideradas fontes indispensáveis de conhecimento, servindo de inspiração
para futuras gerações de estudiosos e escritores. Os seus escritos não apenas
resumem a rica herança cultural da sua cidade natal (Itaúna/MG), mas também
servem como um testemunho da preservação e celebração da história e tradições
locais. Em essência, Dornas Filho se destaca como figura central na
historiografia brasileira, deixando um impacto duradouro por meio de suas
contribuições literárias e culturais.
No dia 11 de dezembro de 1962,
João Dornas Filho faleceu e foi sepultado no Cemitério do Bonfim localizado em
Belo Horizonte/MG. A influência de suas obras e seus esforços para defender a
diversidade e a inclusão na literatura e na academia permanecem como seu legado
duradouro. Sua narrativa serve como um lembrete poderoso da importância da
determinação, do autoaprendizado e de uma dedicação inabalável para descobrir
verdades históricas e defender a igualdade social. Dornas Filho continua sendo
uma figura de destaque nas crônicas culturais e literárias de Minas Gerais e do
Brasil.
Neste memorial, honramos a vida e
o legado de João Dornas Filho, uma das figuras mais proeminentes da literatura
e da história de Minas Gerais. Sua jornada de vida, marcada por uma busca
incansável pelo conhecimento e uma paixão inabalável pela escrita, continua a
inspirar e influenciar aqueles que o reconhecem como uma luz brilhante em nossa
história cultural.
Nascido no arraial de Santana do
Rio São João Acima, hoje Itaúna (MG), em 7 de agosto de 1902, João Dornas Filho emergiu como uma
luminária literária multifacetada. Seu domínio como romancista, contista,
ensaísta, historiador e biógrafo ecoa através das páginas da história, imortalizando
sua contribuição para as letras brasileiras.
Filho de João Dornas dos Santos e
Maria Eugênia de Mello Vianna, Dornas Filho carregava consigo uma herança de
luta e determinação. Sua educação limitada pela escola primária não impediu que
ele buscasse conhecimento incansavelmente, tornando-se uma figura respeitada e
admirada por sua erudição e profundidade intelectual.
Descrito como uma pessoa de temperamento extrovertido adotando um estilo de vida boêmio único. Defendendo destemidamente as suas convicções, ele participou avidamente em discussões controversas, demonstrando responsabilidade inabalável e honestidade intelectual. Na década de 1920, mudou-se para Belo Horizonte, onde fez amizade com conceituados intelectuais e artistas, desempenhando papel crucial no avanço do movimento modernista na capital mineira.
Suas contribuições como historiador e escritor desempenharam um papel vital no aprofundamento de nossa compreensão da história de Minas Gerais e do Brasil. Suas obras publicadas são amplamente consideradas fontes essenciais, servindo como fonte de inspiração para futuras gerações de estudiosos e escritores. Além disso, os seus escritos incorporam ricamente a herança cultural da sua cidade natal, celebrando e salvaguardando a sua história e tradições.
Como historiador e escritor,
Dornas Filho deixou uma marca inapagável na história de Itaúna e de Minas
Gerais. Sua dedicação em preservar as tradições locais e celebrar a rica
cultura da região é evidente em suas obras, que continuam a ser fontes valiosas
de conhecimento e inspiração. Embora tenha falecido em 11 de dezembro de 1962,
o legado de João Dornas Filho perdura. Sua vida e obra servem como farol para
futuras gerações de escritores e acadêmicos, lembrando-nos da importância da
inclusão, da diversidade e do compromisso com a busca do conhecimento.
Que sua memória continue a
iluminar o caminho daqueles que buscam a verdade, a beleza e a justiça através
da palavra escrita. Em nosso coração e na história de Minas Gerais, João Dornas
Filho permanecerá como uma figura imortal, cujo legado transcende o tempo e o
espaço. Que sua jornada de busca pelo conhecimento e promoção da igualdade
inspire gerações futuras a continuarem a tradição de excelência literária e
compromisso com a justiça e a inclusão. João Dornas
Filho, sua luz continua a brilhar entre nós. Espero que este memorial capte a
essência e o legado de João Dornas Filho de uma maneira significativa.
O discurso de João Dornas Filho ao tomar posse na Academia Mineira de Letras em 1948, substituindo Carlindo Lélis na cadeira nº 12, patrono Alvarenga Peixoto, é uma reflexão profunda sobre sua trajetória intelectual e a história literária e cultural de Minas Gerais. Dornas Filho expressa humildade e um desejo sincero de ser um membro diligente da academia, apesar de considerar-se sem merecimento.
Ele contextualiza sua geração, marcada pela Primeira Guerra Mundial e suas consequências devastadoras, e como essa experiência alimentou um desejo ardente de transformação social, política e estética. Essa geração, segundo Dornas Filho, foi impulsionada pelo movimento modernista, que buscava recuperar e ajustar as esperanças e possibilidades sociais destruídas pela guerra. Ele admite que, em sua juventude, foi um crítico severo da geração anterior, acreditando que esta havia falhado em preservar o patrimônio intelectual.
Com o passar do tempo, Dornas Filho reconhece que suas críticas foram excessivas e levianas, e que as questões sociais são mais complexas do que ele havia percebido. No entanto, ele defende que o vigor e a luta de sua geração não foram em vão, resultando em uma maior consciência da supremacia do espírito humano.
No elogio ao patrono da cadeira nº 12, Inácio José de Alvarenga Peixoto, Dornas Filho traça um panorama da história literária de Minas Gerais, destacando as primeiras manifestações literárias no século XVIII e a importância da Escola Mineira. Ele menciona a relevância de Vila Rica como um centro cultural, comparando-a a Weimar na Alemanha, e enaltece Alvarenga Peixoto como um dos grandes intelectuais e inconfidentes da época.
O discurso termina com uma reflexão sobre a estética modernista e a rebeldia da geração de Dornas Filho, justificando suas ações e críticas como fruto de uma tentativa de romper com um mundo que julgavam incapaz de resolver seus problemas. Ele conclui reconhecendo a perenidade do espírito humano e a capacidade da Academia de acolher aqueles que, no passado, a criticaram, simbolizando a reconciliação e a continuidade do legado intelectual.
Aqui estou para integrar-me na
fortuna do vosso convívio, as mãos vazias de merecimento, mas repleta a alma do
desejo de ser, entre os menores, o mais diligente dos confrades. Venho de uma
geração atormentada pela insânia dos homens do meu século, e trazendo na alma o
ressaibo do sofrimento e o calor da revolta. A guerra de 1914, dividindo os homens
pelo ódio e destruindo as possiblidades sociais dessa geração, plantou lhe no
espírito a esperança de recuperar essas possiblidades pela transformação
radical dos quadros sociais políticos e estéticos que, a nosso ver, eram os
responsáveis pela hecatombe.
O movimento modernista que
sacudiu todas as camadas espirituais do mundo pós-guerra, tem a sua raiz
nessa esperança de recuperação e ajustamento. Por ela, a minha geração se bateu
com bravura e convicção sem limites. O calor da refrega e a certeza da justiça
de uma causa tão bela, justificam nos moços que a lidaram o excesso em
incorreram, excesso que não invalida a grandeza da sua missão e do papel que
desempenhou na história espiritual desta primeira metade do século XX.
Fui um dos mais severos
acusadores no julgamento da geração anterior, porque estava convencido da sua
incapacidade em guardar o patrimônio mental que deveria nos ser transferido,
senão aumentado, pelo menos intacto na grandeza que o século XIX lhe fundira.
Daí o meu desdém — o desdém da inexperiência e da revolta contra a vossa Casa,
cujo espírito, fundido pelo humanitarismo do grande século anterior,
representava aos meus olhos inexpertos um estado de coisas que era urgente
modificar.
Os anos, a experiência dos homens
e das coisas que é o primeiro generoso dos cabelos brancos, mostraram-me afinal
que fui excessivo e leviano. As causas são mais complexas, são mais profundas,
são mais rebeldes à terapêutica social do que supunham a ignorância e o ódio da
minha geração.
Mas, é certo também que não foi
perdido o vigor que imprimimos à nossa luta. Dela nasceu uma consciência mais
viva da supremacia do espírito humano — e tão viva, que a maior revivescência medieval
que já subjugou os homens em todos os séculos da História, foi esmagada implacavelmente
pelas forças imponderáveis do espírito na mais sangrenta batalha que sulca de
luz os caminhos da Humanidade. Só está benemerência é bastante para situar o
movimento modernista, principalmente no Brasil, no mais destacado lugar da história
social e política do século XX.
Feita esta ligeira explicação de
penitência, proferida com a mesma sinceridade com que manejei o florete do
sarcasmo contra as instituições acadêmicas da minha terra, permiti, senhores,
que inicie a minha oração, cumprindo o dever estatutário de esboçar o elogio
crítico do patrono da cadeira número 12, o poeta inconfidente Inácio José de
Alvarenga Peixoto, que me coube ocupar pela morte de outra expressiva figura de
homem de letras que foi Carlinho Lélis, seu fundador.
Quando em meados do século XVIII
foram dadas à luz as duas primeiras manifestações literárias de Minas — “Triunfo
Eucarístico” (1734), escrito por Simão Ferreira Machado, e “Áureo Trono
Episcopal” (1749), de autor anônimo, ambas de valor literário apenas
cronológico e histórico, já a conquista do nosso território havia se firmado pela criação
das vilas de Sabará, Vila Rica e Mariana (1711) e o grande rush do ouro
havia cunhado na cera plástica do indígena os caracteres psicológicos do negro
paulista de origem lusa, fecundado o terreno de que nasceria a nossa literatura
popular consubstanciada no folclore. Ê o que podemos chamar com propriedade o início
da nossa criação literária, apesar de oral e tradicional como a dos rapsodos
medievais.
Portanto, quando, ao descambar o
século, surge a Escola Mineira, uma literatura popular já extinta por estes
grotões auríferos, sendo aquela apenas a manifestação erudita e nem sempre
vernácula da alma do nosso povo. Por este tempo já o sentido de pátria havia
provocado todas as rebeliões dos mineiros como a dos Emboabas e a de Felipe dos
Santos, para citar as mais significativas, e a maioria dos bardos da América
Mineira já eram brasileiros ilustres pela pecúnia e pelas letras. Vila Rica, no
dizer de Sílvio Romero, “era então no Brasil uma espécie de Weimar. Pequena
cidade de província, reunia em si, a um só tempo, homens como Cláudio Manuel da
Costa, Tomaz Antônio Gonzaga, Inácio José de Alvarenga Peixoto, Diogo Pereira
de Vasconcelos, Luiz Vieira da Silva Mascarenhas, Francisco Gregório Pires
Monteiro, as maiores ilustrações brasileiras da época, residentes na Colônia”.
É o velho axioma sociológico do
tropismo econômico, pois nas Minas Gerais estava o centro de interesses da
Coroa com o aparecimento do ouro e do diamante ... Inácio José de Alvarenga
Peixoto, patrono da acadêmica que me apontou o destino, foi um dos
inconfidentes e um desses espíritos da Cumiada Intelectual da Weimar brasileira
[...].
Senhores acadêmicos. Já vos disse
que venho de uma geração tangida pelo infortúnio do ódio e do sofrimento, e que
teve a rebeldia como solução para os seus problemas morais. É isto que explica,
em estética, o aparecimento do modernismo, O modernismo foi a maneira pela qual
rompemos com um mundo que supúnhamos apodrecido, simplesmente porque não
soubera resolver os problemas que lhe foram apresentados. Éramos muito moços e
ardentes para compreendermos a complexidade desses problemas, e daí a revolta,
o sarcasmo, a ironia, a impiedade — que foram o selo dessa geração torturada.
Os anos, os sofrimentos que se gravaram,
uma compreensão mais justa das fraquezas e uma percepção mais humana das
reservas de energia e nobreza que palpitam no fundo de todas as almas — nos
deram a consciência do nosso papel no jogo de todo esse drama formidável. Não passávamos
de um elo na imensa cadeia das gerações ...
Transmitimos a nossa mensagem,
que não podia deixar de ser escarninha revolta e trouxemos a nossa colaboração
de esperança e de fé na construção de um mundo que virá certamente — mais legal
e mais justo, e, portanto, mais belo e amável ...
E a Academia Mineira de Letras,
recebendo em seu seio mais de um desses rebeldes que a desdenhavam, nos dá a
imorredoura lição da perenidade do espírito no tumulto das paixões e na
inanidade dos punhos crispados pelo ódio ...
Pesquisa, organização e análise do texto: Charles Aquino
Texto: João
Dornas Filho (In memoriam)
Fonte impressa: FILHO,
João Dornas. Discurso de recepção (Academia Mineira de Letras), Ed.
Mantiqueira, 1952, impressa oficial de Minas Gerais, BH, p.7-12,56-57.
Denomina logradouro público. O povo do Município de Itaúna, por seus representantes decreta, e eu, em seu nome, sanciono a seguinte Lei: Art. 1 o Denominar-se-á Maria Inês Moreira a praça localizada na Zona 00, setor Centro, quadras 36 e 39 e Zona 03, setor Bairro de Lourdes, quadra 01, na confluência das ruas Péricles Gomide, Marechal Deodoro, Tiradentes e Av. Dorinato Lima. Art. 2 o Revogadas as disposições em contrário, esta lei entrará em vigor na data de sua publicação.
Prefeitura Municipal de Itaúna, 06 de setembro de 1985.
Prefeito Municipal Francisco Ramalho da Silva Filho.
JUSTIFICATIVA
Nossa proposição é no intuito de preservar a memória da professoraMaria Inês Moreira. Sua existência entre nós, foi dedicada à educação. Nasceu em a 7 de outubro de 1941, filha do casal Olímpio Moreira e Maria Geralda Moreira (proprietários da Fazenda Boa Vista que também pertenceu ao Padre Antônio Maximiano de Campos), tendo sido a segunda entre os seis filhos do referido casal. Contraiu o matrimônio em 2 de dezembro de 1967, na Capela da Fazenda Boa Vista, onde residia. Desse matrimônio, nasceram dois filhos: Juliano e Fabiano.
Cursou o primário no Grupo Escolar José Gonçalves de Melo, tendo-se tornado professora primária através da Escola Estadual de Itaúna. Colou grau em Ciências e Letras pela Faculdade de Filosofia de Itaúna. Lecionou Geografia e História no Colégio Santana bem como professora primária na Escola Dr. Lincoln Nogueira Machado e no Grupo Escolar José Gonçalves de Melo.
Cultivou grande amizades entre alunos, colegas de trabalho como na sociedade itaunense que tiveram por ela um carinho especial. Além de amiga, era uma excelente profissional, pois sempre conseguia fazer de seus alunos, os melhores da escola.
Maria Inês era filha de fazendeiros, criada com muito amor pelos pais, adorada pelos irmãos e amigos, o que não foi suficiente para impedir a dolorosa provação de sua vida. Mesmo assim, amava a vida e sabia conservar em seu rosto um sorriso e a candura de uma criança. Faleceu no dia 25 de julho de 1984 com apenas 42 anos de idade, após suportar um sofrimento que durou um ano, deixando um grande vazio entre seus amigos e familiares, principalmente seus filhos.
São por estes motivos, que apresentamos a essa Casa a presente proposição, que na certa, essa edilidade haverá de submetê-la a apreciação e posterior votação.
Sala das Sessões, em 2 de agosto de 1985.
Presidente da Câmara – José Coelho Neto.
PRAÇA MARIA INÊS MOREIRA
Referência:
Elaboração e arte: Charles Aquino
Adaptação do texto original para o blog: Charles Aquino
Os portugueses nos legaram muita coisa boa, como o quindim e o amor à poesia, mas trouxeram pra cá alguns péssimos valores, como a violência contra populações frágeis, desumanizando-as. Fizeram isso com os negros e com os indígenas. Os nossos patrícios evoluíram, mas no Brasil continuamos a desrespeitar tanto os indígenas quanto os pretos.
Em Itaúna a memória indígena foi totalmente apagada e a africana, encontra-se em processo de dolorosa dilapidação: a importância da presença negra está sendo varrida da nossa história. Há alguns anos fui à cidade de Bomfim com o vereador Alexandre Campos, que estava procurando registros da migração dos negros pra cá. Chamados por suas habilidades na tecelagem, eles foram fundamentais para a viabilização dessa atividade essencial para a consolidação de Itaúna. São fatos que não podem ser esquecidos.
Com a sua história espalhada por aí, resta à comunidade negra itaunense, como grande símbolo da sua identidade, o Alto do Rosário. Entretanto, com a liberação da construção de edifícios altos, logo ali! a descaracterização daquele espaço é iminente. Se for perdido o domínio que se tem da paisagem, lembranças e vivencias importantes vão sumir. Parte desse prejuízo já aconteceu, quando foram doados terrenos em frente à caixa d’água, terrenos que permitiam visadas espetaculares do vale do Rio São João. Ainda dá tempo de impedir a continuidade da tragédia anunciada pelo Plano Diretor, entretanto, os vereadores são brancos e tradições alheias não interessam a eles.
Os pretos precisam construir lideranças de visão, comprometidas de fato com o coletivo, lideranças que trabalhem para fortalecer a autoestima dessa parcela da população e que compreendam a amplitude da sua história, das suas tradições, que percebam a importância da manifestação concreta dessa comunidade no espaço urbano itaunense.
Diante desta ameaça ao Morro do Rosário, o historiador Charles Aquino e eu começamos a levantar subsídios para impetrar uma ação pública contra o desvario. Mas o trabalho nos reservava uma grande surpresa. Num de seus mergulhos cuidadosos, Charles esbarrou em evidências de que existiu, junto à igreja do Rosário, um cemitério. Fotos antigas também apontavam nessa direção, mas, a consistência veio da existência de um registro nominal dos cidadãos enterrados, mais de duzentos, quase todos pretos. Como não há indícios da transferência dos corpos, supomos que eles ainda estejam lá. Debaixo do asfalto. A situação precisa ser investigada e foi o que solicitamos ao Ministério Público: a Prefeitura foi notificada e há um ano se mantém em silêncio.
Remexo nesse baú desconfortável, para lembrar que as manifestações deploráveis de racismo não estão apenas lá longe, na Espanha e nem sempre são evidentes como pendurar um boneco num viaduto: estão bem aqui, debaixo dos nossos narizes, disfarçadas de normalidade. Poucos negros têm vez na administração do município. No governo atual, nenhum secretário, nenhum diretor de departamento. Eles não são chamados de macacos, mas são tratados como inferiores. Por serem tão pouco representados, um estrangeiro poderia concluir que os pretos são menos capacitados, menos educados, menos inteligentes, o que seria um absurdo! Mas é o que os números insinuam e é o que precisamos desmentir com veemência e ações concretas.
Sugiro, como gesto inaugural, a reurbanização do Rosário e a criação de um pequeno museu, um memorial, que contasse a história da comunidade desde que os negros se estabeleceram por aqui. Seria uma demonstração do nosso reconhecimento a esses bravos pioneiros. Os dois milhões do calçamento do Bonfim poderiam ser utilizados pra isso... nem precisaria de tanto! O memorial se constituiria num símbolo evidente do nosso compromisso em mudar a atual situação de esquecimento, podendo dar início a uma série de ações de longo prazo, visando integrar efetivamente os pretos, na sociedade itaunense.
Eu sempre me embaralho quando vou chamar os descendentes africanos de pretos ou de negros. Mas na verdade, isso é irrelevante: são pessoas comuns como quaisquer outras e ponto. É como devemos considerá-los: irmãos merecedores de toda a nossa estima e respeito.
O Quilombo da Família Rodrigues, localizado na margem esquerda do rio São João, adjacente à vila da Beira do Rio em Itaúna/MG, abrigava uma comunidade remanescente de quilombo, constituída exclusivamente por afrodescendentes. Segundo o genealogista Guaracy de Castro Nogueira, essa comunidade era autossuficiente, com diversas famílias unidas pelo sangue e por vestígios da herança africana. O patriarca Belmiro liderava o grupo, narrando histórias dos antepassados que habitaram a mesma terra.
A comunidade vivia isolada, praticando agricultura, colheita e tecelagem, e não se interessava por propriedade ou dinheiro. Em busca de preservação do seu modo de vida, Guaracy interveio comprando a Fazenda do João Alves de Morais e construindo seis casas, fornecendo escrituras oficiais e acesso à água. Cada casal também recebeu Cr$ 10.000,00 em 1956.
Apesar das festividades e confraternizações organizadas por Guaracy, a comunidade logo percebeu que a terra não era tão fértil. Muitos venderam suas propriedades para novos compradores que buscavam um refúgio à beira do lago. A integração na cidade não foi benéfica para todos, e poucos progrediram significativamente.
Guaracy também relatou episódios de auxílio a Belmiro, inclusive transportando-o ao hospital até sua morte em 1968. Belmiro, nascido por volta de 1890, era filho de Carlota, possivelmente uma ex-escravizada, o que liga a narrativa da comunidade às raízes profundas do período pós-abolição. A memória dos habitantes, descritos como pessoas de bom caráter e humildes, permanece viva, ilustrando a vida pacífica e dinâmica dos quilombolas.
A investigação sobre Belmiro confirma seu nome completo como Belmiro Severino Rodrigues, que faleceu aos 78 anos, em 17 de abril de 1968. Seu registro de óbito, categorizando-o como filho de Carlota, é um detalhe intrigante, sugerindo a possível escravização de sua mãe antes da abolição, enriquecendo ainda mais a história da comunidade quilombola da Família Rodrigues.
Segundo o itaunense
e genealogista Guaracy de Castro Nogueira, na margem esquerda do rio São João,
adjacente à vila da Beira do Rio, no município de Itaúna/MG, estendia-se uma
significativa extensão de terreno cultivado, delimitada por um “antigo muro de
pedras”. Este local abrigou a família Rodrigues, remanescente de quilombo,
constituída inteiramente por afrodescendentes. As visitas a este local
revelaram algo verdadeiramente extraordinário para a nossa região em meados do
século XX. Neste refúgio isolado residiam várias famílias, todas unidas pelo
sangue partilhado e por vestígios tênues da sua herança africana. O mais velho
deles era Belmiro, que ocupava o estimado cargo de patriarca, respeitado por
todos. O genealogista ressalta que o patriarca revelou várias histórias de
outros antepassados da mesma linhagem que outrora habitaram esta mesma terra,
embora as suas identidades permanecessem envoltas em mistério.
A própria terra
ostentava solo fértil e água abundante, resultando em colheitas variadas. Sob a
sábia liderança do velho Belmiro, as provisões eram distribuídas de acordo com
as necessidades individuais de cada membro da comunidade, garantindo a sua
sobrevivência coletiva. Os habitantes desta comunidade tinham interação mínima
com a cidade; eles eram quase totalmente autossuficientes. Envolvidos em
atividades como agricultura, colheita e tecelagem, não tinham interesse em
documentos de propriedade ou dinheiro. Em vez disso, o seu desejo era encontrar
uma nova terra onde pudessem manter o seu modo de vida atual.
Guaracy, em seu
caráter informativo, revela que obteve com sucesso autorização de diversas
empresas e procedeu à compra do restante da Fazenda do João Alves de Morais
(vulgo João do Aarão). Neste terreno foram construídas seis casas, cada uma com
sua área cercada e escritura oficial. Além disso, foi proporcionado
a eles acesso à água, garantindo que tivessem tudo o que desejavam. Como gesto
de compensação, cada casal também recebeu Cr$ 10.0000,00 (dez mil cruzeiros) em
26 de janeiro de 1956.
Em certas
ocasiões, o historiador atravessava o lago de barco, acompanhado de alguns
amigos, e comemorava com “foguetes, bebidas e biscoitos” junto com os
quilombolas. Estas confraternizações
festivas prolongavam-se até altas horas da manhã, com danças animadas no
terreiro ao ritmo da cabecinha de égua, acompanhadas pelos sons melodiosos dos
oito contrabaixos de Vicente Ventura. Os indivíduos expressaram profunda
gratidão, no entanto, constataram de que a terra em si não era tão fértil como
esperavam. Consequentemente, tomaram a decisão de vender suas propriedades.
Inicialmente, aqueles que procuravam um retiro à beira do lago eram os
principais compradores. Infelizmente, a cidade não se mostrou benéfica para
muitos deles e apenas alguns fizeram algum progresso significativo.
Às vezes, ainda segundo
Guaracy, recebia mensagens solicitando transporte de barco para levar Belmiro
ao hospital, pois foi um amigo fiel até sua morte. A companheira de Belmiro,
Dona Conceição, também faleceu na cidade após viver uma vida marcante e longa
ao lado do patriarca. O historiador ainda ressalta que as histórias de todos
aqueles habitantes permaneceram intacta em suas memórias, incluindo Joaquim
Rodrigues (viúvo), João Rodrigues casado com Mercês Maria Rodrigues; Marinho Rodrigues c/c Maria Severina de Jesus; Francisco Rodrigues c/c Vicentina
Rodrigues de Paula; José Rodrigues c/c Maria Alves Rodrigues;
Divino Rodrigues c/c Raimunda Vieira Rodrigues, bem como outros
indivíduos ainda menores de idade. Destaca que se tratava de pessoas de bom
caráter, honrados, humildes, indiferentes às agruras da vida, exemplificando a
natureza pacífica e vida dinâmica daqueles verdadeiros quilombolas.
Hipótese
Após realizar uma
breve investigação sobre o líder quilombola Belmiro, estou confiante de que as
informações que encontrei estão alinhadas com as conclusões do pesquisador
Guaracy. Para verificar ainda mais a veracidade, seria necessário o acesso às
escrituras de terra daquela época. Com base nos documentos que examinei posso
fornecer os seguintes dados: o nome completo do patriarca era Belmiro Severino
Rodrigues, natural de Itaúna. Faleceu em 17 de abril de 1968, aos 78 anos, no dia seguinte foi sepultado no Cemitério Central do município de Itaúna. O registro de óbito o categoriza como filho de Carlota de tal, o que é bastante
intrigante. Vale ressaltar que o nascimento de Belmiro ocorreu por volta de 1890, período pós-abolição. A partir disto, pode-se razoavelmente presumir que a sua mãe provavelmente tinha sido escravizada antes deste ato significativo de mobilização.
Referências:
Pesquisa e
organização: Charles Aquino - Historiador Registro Profissional nº 343/MG
Fonte Impressa:NOGUEIRA, Guaracy de Castro. In
Enciclopédia Ilustrada de Pesquisa: Itaúna em detalhes. Ed. Jornal Folha
do Povo, 2003, fascículo 34.
Imagem
Ilustrativa: Autor Johann Moritz Rugendas, Escravidão,Habitation
de négres, 1827.Brasiliana Iconográfica, Acervo da Pinacoteca do
Estado de São Paulo, Brasil. Coleção Brasiliana/Fundação Estudar. Doação da
Fundação Estudar, 2007. Disponível em: https://www.brasilianaiconografica.art.br/obras/19497/habitation-de-negres
LEI Nº 2.122, de 11 de maio de 1988— Denominalogradouro público.
O povo do Município de Itaúna, por seus representantes decreta, e eu, em
Seu nome, sanciono a seguinte lei:
Art. 1 — Denominar-se-á Rua Luzia Gonçalves Nogueira, o logradouro público que tem seu início na Av. Brasília, passando pelas quadras 13, 19, 15, 21, 17, e 23 e terminando na Rua Noé A. Prado, no Bairro Universitário.
Art. — 2 A Prefeitura Municipal providenciará a colocação de placas indicativas, bem como a comunicação à Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos.
Art. 3 — Revogadas as disposições em contrário, esta lei entrará em vigor na data de sua publicação.
Prefeitura Municipal de Itaúna, 11 de maio de 1988
Francisco Ramalho da Silva Filho
Prefeito Municipal
Autoria do projeto de Lei 33/86: Pedro Paulo Pinto – Vereador
COMISSÕES:
JUSTIÇA E REDAÇÃO
FINANÇAS E ORÇAMENTO
JUSTIÇA E REDAÇÃO
Aprovado em 1ª discussão — 03/05/1988
Aprovado em 2ª discussão — 10/05/1988
Aprovado em 3ª discussão — 22/04/1988
LUZIA GONÇALVES NOGUEIRA
Luzia Gonçalves Nogueira, filha de Edgard Gonçalves de Sousa e Francisca Gonçalves Cardoso, nasceu no dia 29 de março de 1940, em Guaçuí, no Espírito Santo. Aos quatro anos veio residir em Itaúna, pois seu pai resolvera voltar para junto de seus familiares.
Luzia fez o primário no Grupo Escolar Dr. Augusto Gonçalves. Cursou o Ginasial e o Magistério na Escola Normal de Itaúna, recebendo no ano de 1958 o Diploma de Professora Primária.
No ano seguinte iniciou sua vida profissional dando aulas na Granja escola São José. Após o ato de nomeação, passou a trabalhar no Grupo Escolar João Dornas Filho.
Em 1964, casou-se com o industrial Jacy Diniz Nogueira e teve três filhos: Jacy Diniz Nogueira Filho, Cristiane Gonçalves Nogueira, Leonardo Gonçalves Nogueira.
Em 1974 parou de trabalhar como professora pois, na condição de esposa e mãe carinhosa, decidiu que seria melhor dedicar mais tempo à sua família e também prestar serviços a entidades dedicadas a obras sociais.
Luzia possuía enorme círculo de amizade em Itaúna, cidade que ela considerava como sua terra natal. Foi figura de destaque na sociedade local e representou várias vezes a beleza e simpatia da mulher itaunense.
Vítima de um acidente que deixou abalada e triste a nossa cidade, faleceu juntamente com seus filhos Leonardo e Cristiane no dia 25 de junho de 1981.
REFERÊNCIAS:
Organização e Elaboração: Charles Aquino.
Pesquisa: Charles Aquino, Patrícia Gonçalves Nogueira.
Autoria do projeto de Lei 33/86: Pedro Paulo Pinto – Vereador
A Associação
desempenhou um papel vital na salvaguarda e transmissão de costumes culturais e
tradições orais. As narrativas, melodias, segredos culinários e sabedoria
transmitida de geração em geração nesta comunidade representam um legado
intangível de valor inestimável que valoriza a essência cultural de Itaúna.
Este patrimônio vivo, que mostra a história e o papel significativo das
comunidades afrodescendentes na região, contribui para a variedade cultural do
município.
A importância da história da
Associação Santa Zita para o patrimônio imaterial de Itaúna reside na sua
capacidade de desvendar elementos essenciais da existência social e cultural da
cidade. Traz à luz a luta pelo reconhecimento e pela igualdade das trabalhadoras
domésticas e o papel indispensável das mulheres no estabelecimento e na
promoção de laços comunitários. Salvaguardar e valorizar essa história é
fundamental para compreender a complexidade e a opulência do legado cultural de
Itaúna, garantindo que as contribuições marcantes dessas mulheres nunca sejam
apagadas da memória.