quinta-feira, novembro 14, 2019

REPUBLICANOS EM ITAÚNA

A República em Itaúna: Um Pioneirismo Inquestionável

O texto de João Dornas Filho não é apenas um registro histórico, mas uma janela para compreender a paixão e o comprometimento dos itaunenses com os ideais republicanos. Rico em detalhes, ele oferece uma visão viva e emocionante de um momento decisivo na história brasileira, destacando o papel singular de Itaúna nesse processo. Com gestos simples, mas de grande impacto, os habitantes do arraial de Sant'Anna do Rio São João Acima ajudaram a lançar as bases da República no Brasil. 

No texto do historiador João Dornas Filho, você mergulhará em um relato fascinante sobre como Itaúna se destacou no cenário político brasileiro, marcada por um fervor que, na época da proclamação da República, talvez a tenha tornado única em Minas por não contar com um único monarquista em seu território.

Itaúna destacou-se como um dos primeiros redutos republicanos em Minas Gerais, manifestando-se com fervor pela nova forma de governo antes mesmo da Proclamação da República. Tanto era intenso esse espírito republicano que, por volta de 1885, ainda sob a vigência da Monarquia, já não se encontrava um monarquista sequer na região. 

O entusiasmo pela causa era tamanha que o tenente-coronel Zacharias Ribeiro de Camargos ousou nomear sua fazenda de “República”, enquanto Aureliano Nogueira Machado, maestro da banda de música local, chegou a escrever em letras garrafais a frase "VIVA A REPÚBLICA!!" no lombo de um animal, em um gesto simbólico de afirmação política.

Esse engajamento tomou forma institucional em 21 de abril de 1889, quando um grupo de cidadãos ilustres, incluindo Dr. Augusto Gonçalves, Manoel Gonçalves, Francisco Manoel Franco, João Dornas dos Santos, Josias Nogueira Machado, João de Araújo Santiago e Cassiano Dornas dos Santos, fundou o “Club Republicano 21 de Abril”, uma organização vinculada ao Centro Republicano de Ouro Preto, então a capital da província. Essa iniciativa reforçava o compromisso da cidade com os ideais republicanos e sua participação ativa no movimento político que culminaria na deposição da Monarquia.

Quando, em 15 de novembro de 1889, a notícia da Proclamação da República finalmente chegou ao arraial de Sant’Ana do Rio São João Acima, o que se seguiu foi uma explosão de entusiasmo popular. Comemorou-se com grandes festas e manifestações de regozijo. 

Um dos episódios mais pitorescos dessa celebração envolve o republicano fervoroso Cassiano Dornas dos Santos, que, tomado pelo entusiasmo, retirou seu paletó e o estendeu no chão para que o burro que transportava as malas do Correio passasse por cima – um gesto simbólico de deferência à mensagem revolucionária que chegava à cidade.

A recepção calorosa ao estafeta do Correio, no entanto, causou um breve mal-entendido: sem compreender o motivo da euforia, o mensageiro, envolto pela multidão em festa, chegou a temer que estivesse sendo vítima de alguma agressão. Logo, porém, entendeu que se tratava de uma demonstração de júbilo coletivo pelo novo regime que se instaurava no Brasil.

A exaltação republicana não se limitou às festividades do dia da proclamação. Na noite de 20 de novembro, os cidadãos organizaram uma grandiosa passeata cívica. Um dos momentos mais marcantes foi a condução de um andor decorado com as cores da bandeira republicana, sobre o qual foi colocada uma criança – filha de Arthur de Mattos – vestida simbolicamente como a personificação da República. Curiosamente, o mesmo andor, que simbolizava a renovação política do país, acabou servindo também para um propósito mais prático e humanitário naquela mesma noite: transportar uma parteira idosa e debilitada, que precisava atender com urgência a um chamado.

O “Club Republicano 21 de Abril” consolidou-se, assim, como um dos primeiros clubes republicanos de Minas Gerais, demonstrando o pioneirismo de Itaúna na adesão ao novo regime e sua participação ativa na transição política do Brasil. O engajamento dos itaunenses não foi apenas um reflexo dos ventos da mudança, mas um testemunho do compromisso da cidade com os ideais republicanos muito antes que eles se tornassem realidade em todo o país. 

    

Organização e elaboração: Charles Galvão de Aquino
FONTE: FILHO, João Dornas. Itaúna: Contribuição para a História do Município.
Belo Horizonte. 1936, p.33-34.
FOTOGRAFIA ORIGINAL: Wikipédia
ACERVO:https://pt.wikipedia.org/wiki/Deodoro_da_Fonseca 

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