O texto de João Dornas Filho não é apenas um registro
histórico, mas uma janela para compreender a paixão e o comprometimento dos
itaunenses com os ideais republicanos. Rico em detalhes, ele oferece uma visão
viva e emocionante de um momento decisivo na história brasileira, destacando o
papel singular de Itaúna nesse processo. Com gestos simples, mas de grande
impacto, os habitantes do arraial de Sant'Anna do Rio São João Acima ajudaram a
lançar as bases da República no Brasil.
No texto do historiador João Dornas Filho, você mergulhará em
um relato fascinante sobre como Itaúna se destacou no cenário político
brasileiro, marcada por um fervor que, na época da proclamação da República,
talvez a tenha tornado única em Minas por não contar com um único monarquista
em seu território.
Itaúna destacou-se como um dos primeiros redutos republicanos
em Minas Gerais, manifestando-se com fervor pela nova forma de governo antes
mesmo da Proclamação da República. Tanto era intenso esse espírito republicano
que, por volta de 1885, ainda sob a vigência da Monarquia, já não se encontrava
um monarquista sequer na região.
O entusiasmo pela causa era tamanha que o tenente-coronel
Zacharias Ribeiro de Camargos ousou nomear sua fazenda de “República”, enquanto
Aureliano Nogueira Machado, maestro da banda de música local, chegou a escrever
em letras garrafais a frase "VIVA A REPÚBLICA!!" no lombo de um
animal, em um gesto simbólico de afirmação política.
Esse engajamento tomou forma institucional em 21 de abril de
1889, quando um grupo de cidadãos ilustres, incluindo Dr. Augusto Gonçalves,
Manoel Gonçalves, Francisco Manoel Franco, João Dornas dos Santos, Josias
Nogueira Machado, João de Araújo Santiago e Cassiano Dornas dos Santos, fundou
o “Club Republicano 21 de Abril”, uma organização vinculada ao Centro
Republicano de Ouro Preto, então a capital da província. Essa iniciativa
reforçava o compromisso da cidade com os ideais republicanos e sua participação
ativa no movimento político que culminaria na deposição da Monarquia.
Quando, em 15 de novembro de 1889, a notícia da Proclamação
da República finalmente chegou ao arraial de Sant’Ana do Rio São João Acima, o
que se seguiu foi uma explosão de entusiasmo popular. Comemorou-se com grandes
festas e manifestações de regozijo.
Um dos episódios mais pitorescos dessa celebração envolve o
republicano fervoroso Cassiano Dornas dos Santos, que, tomado pelo entusiasmo,
retirou seu paletó e o estendeu no chão para que o burro que transportava as
malas do Correio passasse por cima – um gesto simbólico de deferência à
mensagem revolucionária que chegava à cidade.
A recepção calorosa ao estafeta do Correio, no entanto,
causou um breve mal-entendido: sem compreender o motivo da euforia, o
mensageiro, envolto pela multidão em festa, chegou a temer que estivesse sendo
vítima de alguma agressão. Logo, porém, entendeu que se tratava de uma
demonstração de júbilo coletivo pelo novo regime que se instaurava no Brasil.
A exaltação republicana não se limitou às festividades do dia
da proclamação. Na noite de 20 de novembro, os cidadãos organizaram uma
grandiosa passeata cívica. Um dos momentos mais marcantes foi a condução de um
andor decorado com as cores da bandeira republicana, sobre o qual foi colocada
uma criança – filha de Arthur de Mattos – vestida simbolicamente como a
personificação da República. Curiosamente, o mesmo andor, que simbolizava a
renovação política do país, acabou servindo também para um propósito mais
prático e humanitário naquela mesma noite: transportar uma parteira idosa e
debilitada, que precisava atender com urgência a um chamado.
O “Club Republicano 21 de Abril” consolidou-se, assim, como um dos primeiros clubes republicanos de Minas Gerais, demonstrando o pioneirismo de Itaúna na adesão ao novo regime e sua participação ativa na transição política do Brasil. O engajamento dos itaunenses não foi apenas um reflexo dos ventos da mudança, mas um testemunho do compromisso da cidade com os ideais republicanos muito antes que eles se tornassem realidade em todo o país.