O vocabulário quimbundo, é evidentemente lacunoso e como acredito que seja a primeira tentativa feita no Brasil com o fim de recolher esse importante material etnográfico, penso que prestará algum serviço aos estudiosos do assunto e concorra para trabalho mais amplo exigido pela afrologia brasileira.
Belo Horizonte, outubro de 1942
João Dornas Filho
VOCABULÁRIO QUIMBUNDO
Parte I
Os estudos sobre o negro brasileiro têm se ressentido da falta de um conhecimento mais exato da língua que falavam os pretos importados pelo tráfico, talvez porque hoje, quando o interesse por esses assuntos cresceu à altura da sua importância, já quase não existem mais africanos ou descendentes próximos de africanos que conheçam a língua dos seus maiores.
E o conhecimento desse ramo do assunto é fundamental a uma análise perfeita, porque a língua, nas suas características, no seu gênio, nas suas formas diversas, é a chave de muitos problemas de folclore, sociologia, etnografia e outros prismas da questão.
O vocabulário que apresento aos estudiosos brasileiros é evidentemente lacunoso, mas já constitui uma contribuição aqueles que melhor aparelhados quiserem completa-lo, ampliando-lhe o número de palavras e retificando-lhe a pronuncia e a significação.
Principalmente a pronúncia que varia de pessoa a pessoa e a gente não pode fixa-la porque não tem um ponto de referência na literatura escrita, que a língua não possui.
Principalmente a pronúncia que varia de pessoa a pessoa e a gente não pode fixa-la porque não tem um ponto de referência na literatura escrita, que a língua não possui.
O quimbundo, ou “undaca de quimbundo”, que conhecemos, é um dialeto congoês que, em presença do novo meio onde se expandiu, há de ter se modificado bastante em relação à pureza original.
Mas é justamente por esse motivo que ele mais nos interessa. Por essa transformação operada com o fim de servir de expressão num ambiente estranho aquele em que se gerou, adaptando-se e vincando a língua do Brasil.
E o vocabulário que organizei, com o auxílio do preto Manuel da Cruz, e dos srs. Serjobes Augusto de Faria, de Itaúna, oeste de Minas, e José Aristides de Sales e João Justino, de Belo Horizonte, fixa justamente esse momento de transformação que a “undaca” sofreu em presença do meio brasileiro.
Mas é justamente por esse motivo que ele mais nos interessa. Por essa transformação operada com o fim de servir de expressão num ambiente estranho aquele em que se gerou, adaptando-se e vincando a língua do Brasil.
E o vocabulário que organizei, com o auxílio do preto Manuel da Cruz, e dos srs. Serjobes Augusto de Faria, de Itaúna, oeste de Minas, e José Aristides de Sales e João Justino, de Belo Horizonte, fixa justamente esse momento de transformação que a “undaca” sofreu em presença do meio brasileiro.
O município de Itaúna, sob o ponto de vista dos estudos negros, é uma região, digna de apreço, antes que desapareçam os últimos vestígios quimbundos que ali tiveram marcada importância. São comuns na toponímia do município as palavras bántus como Catumba, Calambau, Caxambú, Marimbondo, Cafuringa, etc.
Texto extraído do livro: FILHO, João Dornas. A Influência Social do Negro Brasileiro. Ed.Guaíra, São Paulo, 1942, p.71-72.
Pesquisa, organização e Arte: Charles Aquino